O Barquinho Cultural

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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Soam como trovões



Domingo, nuvens negras ameaçadoras no céu. A tarde prometia ser molhada, como têm sido esses últimos dias em Sampa. Mas isso não me preocupou. Fui determinado ao Parque da Independência, no Ipiranga, a assistir ao show de Dianne Reeves e Buddy Guy, promovido por uma operadora de telefonia. A cantora eu não tinha ouvido, ainda mas Buddy já é velho conhecido, inclusive estive em seu clube em Chicago, o Legend's, quando viajamos aos EUA com a turma do MBA, e tive direito a autógrafo no CD Damn Right I’ve Got The Blues, comprado lá mesmo, e foto - que simplesmente sumiu, alguém da turma do MBA clicou mas não achei quem foi (se é que tiraram a foto mesmo). Dianne me surpreendeu com seu repertório (recheado de temas brasileiros) e sua voz, de registro bem extenso. Veio com um guitarrista brasileiro, Romero Lubambo, excepcional. Ela começou com uma versão em inglês de Triste, de Jobim, e em seguida cantou diversas canções com tempero brazuca, inclusive com temas de candomblé, com um suíngue contagiante. A platéia delirou muito. Muita gente bastante nova, o que surpreende e anima (nem todos gostam apenas de micaretas, enfim). Cantava junto, aplaudia, sob o sol inclemente. Durou uma hora. Intervalo, troca de equipamento. E entra Buddy. Camisa branca de bolinhas pretas, boina branca, e a Fender Stratocaster cor creme pendurada no pescoço. Na hora e pouco que ele vai tocar, a guitarra passeia por seu corpo todo; ela a toca com a barriga, com os dentes, nas costas, com o braço direito debaixo dela, com uma mão só. E como toca! O público, se foi ao delírio com Dianne, com Buddy vai ao êxtase. Um mestre, que desce e toca no meio da multidão, que joga as palhetas ao público, que canta Feels Like Rain, única vez que toca com Dianne, meio que ironizando a chuva que cai grossa, meio que mostrando que isso (a chuva) nada importa. Ponto positivo na galera: alguns abriram os guarda-chuvas, tirando a visão de quem estava atrás. Mas, após protestos, fecharam, e todos tomaram a benfazeja chuva. Guy terminou com Hendrix e Cream. Demais. Espetacular. Quem não foi perdeu.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Teatros em shoppings



Ontem, indo para casa, ouvi no rádio o anúncio da inauguração de um shopping center na Vila Olímpia, e me chamou a atenção a informação de que em breve o centro de compras contaria com um teatro. Aí me lembrei de outro shopping recém-inaugurado, o Bourbon, no bairro da Pompéia. Lá tem o Teatro Bradesco; no Frei Caneca, na rua de igual nome, também tem teatro - foi onde assisti ao espetáculo O Mistério de Irma Vap. Aí pensei: será uma tendência? Fui pesquisar e o bom e velho Google deu-me outros endereços: Teatro das Artes, no Eldorado; Teatro Folha, no Pátio Higienópolis; Teatro do Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas. Deve haver mais por aí, mas fiquei com preguiça de passar da página 1. O importante é que parece mesmo se tratar de uma tendência. Como os cinemas, que invadiram os templos de consumo há pouco mais de 10 anos, espero que não pereçam os teatros de rua, como os cinemas definharam impossibilitados de competir com a praticidade do shopping. Já imaginaram o Teatro Municipal de São Paulo (foto), do Rio, o Amazonas, de Manaus, o José de Alencar, de Fortaleza, virando templos da Universal ou da Renascer? Ou passarem a exibir peças pornográficas ao vivo? Seria o fim da cultura. Eu não sei se a intenção dos empresários que constroem esses empreendimentos é difundir a cultura, apostando em montagens importantes. Ou se nesses teatros reina o besteirol (nem me preocupei em pesquisar o que está em cartaz, porque não saberia que tipo de peças são antes de assistir ou buscar referências). Um teatro costuma até se tornar uma referência, seja do local onde está seja do tipo de espetáculo que apresenta. É impossível que alguém não saiba onde é o Municipal de São Paulo, ou que não se refira a algum endereço no Centro sem falar: "Ah, é perto do Municipal". A outra referência, a do repertório, aponta a fama que a sala ganha ao longo do tempo baseada no tipo de peça que se assenta em seu palco. Durante os anos 50 e 60, o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), Major Diogo, era sinônimo de sofisticação, de textos clássicos; nos 60, queria espetáculos contundentes, revolucionários, ia-se ao Teatro Oficina, na rua Jaceguai; hoje, peças de vanguarda, humorísticas têm lugar nas salas da Praça Roosevelt, musicais da Broadway têm sempre vez no Teatro Abril, na Brigadeiro Luiz Antônio. Como será que vamos nos referir aos novos teatros nos shoppings no futuro? Será que vamos ao teatro ou fazer umas comprinhas, jantar e, se der tempo, ver a peça que estiver passando, caso a fila do cinema esteja grande demais? Nada contra, em princípio, afinal, a modernidade é assim mesmo e, com tanta violência por aí, estar protegido naqueles oásis pode até fazer o gosto pelo teatro renascer, ou aumentar. Mas eu fico pensando que teatro Zé Celso (diretor do Oficina) faria dentro de um shopping, lembrando de encenações do grupo que extrapolavam o teatro e iam à rua! E, curiosamente, há anos ele vem brigando com o grupo Silvio Santos, que quer derrubar o teatro (pois parece que a empresa é dona do quarteirão em que está o Oficina) e construir um... shopping.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Viajar é preciso

"Vai, Carlos, ser gauche na vida." Esse verso do poema de Drummond não me foi dito por nenhum anjo torto, mas por meu médico. O que ele quis dizer? Ele diz isso quando conto-lhe minhas aventuras por esse país, andando de norte a sul com meu peugeotizinho, conhecendo pessoas, me aventurando, sem limites muito definidos. Eu gosto de sair do certo quando me dá na telha, eu gosto de experimentar minhas capacidades. Eu faço, porém, coisas que não são perigosas. É que em boa parte de minha vida fui delimitado, com medo de sair do conforto do conhecido, e sempre orientado a não sair do cabresto me imposto. A busca de novos horizontes é uma forma de quebrar essas correntes, de desbravar, de crescer. Sei que muitas vezes é de uma forma meio destrambelhada, como quando dirigi 18 horas sem parar de Cascavel, no Paraná, a Rondonópolis, no Mato Grosso. Foi uma loucura. Mas eu queria, de alguma forma, testar meu limite. É errado, eu sei, mas eu estava afetado por acontecimentos que me deixaram abalado, e a forma de não pensar muito nisso foi essa sandice. O problema é que adoro dirigir. Quando pequenino, brincava de motorista de ônibus. E não sei como não segui nessa profissão, tamanho era o gosto que eu tinha nesse brinquedo. Adorava carrinhos, jipinhos, triciclos, tudo que pudesse rodar comigo em cima ou dentro. Curiosamente, só fui tirar carteira de habilitação com mais de 20 anos. Além de gostar de andar de carro, gosto de viajar, quero conhecer o Brasil todo, não me importo muito em conhecer o exterior por enquanto, quero ir para o Sul e para o Norte, que ainda não conheço. Então quando é possível eu pego a estrada e vou conhecer novas paisagens, novas pessoas, novas comidas, hábitos, músicas, novas culturas, enfim. Mas o que mais me admira e me deixa encantado são os sotaques que vou conhecendo. Como é rica a diversidade de meu país. Estou agora frequentando mais o sul de Minas por conta de minha namorada Isabela, que mora em Três Pontas. E aquele sotaque mineiro meio cantado é lindo, como gosto de ouvir o povo de lá falando. É uma verdadeira fruição. Ir semanalmente para lá, apesar de cansativo, é estimulante, pois sempre há uma localidade diferente para ir, novas cachoeiras para ver, fazendas. Recentemente estivemos em São Thomé das Letras, um lugar dado como místico, envolto em uma aura esotérica. Confesso que não senti nenhuma energia especial ali, mas o lugar é deslumbrante, com todas aquelas pedras, tão exploradas industrial e comercialmente, e cachoeiras de acesso difícil. São novas visões que superam a melancolia da retina, de sempre ver as mesmas coisas. Então o fato de eu desbravar esses rincões não pode ser considerado irresponsabilidade. Acho que é antes de qualquer coisa fome e sede de conhecimento, porque viajar é conhecer, é crescer. Claro que há maneiras digamos mais seguras de o fazer e eu costumo escolher umas um pouco mais arriscadas. Mas permitem conhecer muito mais e dão bem mais liberdade de fazer o que quero, no momento que desejo. Afinal, como canta o Walter Franco, "o mundo fica imóvel sem você".

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O filho do Brasil


Invade-me grande curiosidade de assistir ao filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, que conta a história do líder sindical Luiz Inácio da Silva, o Baiano, desde sua infância em Pernambuco até a primeira prisão nos anos 70/80, com cenas adicionais de sua posse como presidente da República em 2003. O filme foi exibido no Festival de Cinema de Brasília na noite do dia 17 com bastante repercussão e grande número de presentes. Deve ser projetado no conjunto Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, no dia 28, com a presença do próprio biografado. Estreia em circuito comercial (fala-se em 500 salas) em janeiro de 2010. Por que a curiosidade? Porque, além de Lula ser uma figura singular na política brasileira, e que por isso mesmo a exposição de sua história, ainda que com forte carga dramática, como o próprio diretor admite, suscite curiosidade, há aspectos de minha própria vida que têm correlação se não com a trajetória dele, pelo menos com um certo espírito de época, pois em certos momentos bebemos da mesma fonte. Filho de operário do setor automobilístico no ABC paulista, em 1980 eu estava servindo o Exército no Tiro de Guerra de Santo André. Fazíamos treino de tiro em São Bernardo. O clima na época era quente: greves, manifestações, assembleias, piquetes... Eu não entendia daquilo e não me importava muito com o assunto não. Minhas preocupações eram outras: garotas, bailes, roupas de grife, tênis incrementados. Meu pai não era do movimento sindical, e não ia muito com a cara do Lula. Mas havia outros metalúrgicos em minha família, tios, primos, e alguns deles iam às assembleias. E um dia, indo de caminhão ao campo de tiro, passamos pelo Paço Municipal de São Bernarndo bem no momento em que havia uma assembleia. Quando o caminhão passou ao lado da peãozada, a tensão podia ser sentida no ar. E eu pensei: e se tivesse que enfrentar esses trabalhadores? Sim, porque no quartel se falava que a situação estava ficando perigosa e podíamos ser convocados a agir. Imagina eu tendo que atirar em um parente meu que ali porventura pudesse estar? Esta foi a primeira centelha de consciência social de que me lembro ser invadido. Pouco depois já estava totalmente envolvido com o que se denominava então "movimento", por meio de grupo de jovens, depois de teatro, em seguida militando em um partido político e, após muita luta, atuando em um governo municipal, senão como formulador de políticas, ao menos como um trabalhador de comunicação tentando difundir a uma população ainda desacostumada com a democracia o significado de uma gestão cidadã. Hoje não tenho mais nenhuma forma de militância, mas a semente germinou e minha cabeça funciona no sentido de defender a liberdadade e os direitos fundamentais, coisas que nos foram negadas por muito tempo, apesar de eu não ter vivido essa época para testemunhar, mas que, depois de muitas leituras e outras formas de obtenção de informação, sei que não podem retornar. Então ver esse filme será reconstituir a trajetória de quem foi um dia desligado dessas coisas, não por vontade própria, mas porque o regime militar soube ser eficiente, e despertou para a vida democrática e a luta por ela, com a diferença de que o Luiz Inácio fez da luta a sua razão de viver, enquanto eu apenas tomei essa como uma visão de mundo, da qual não me arrependo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um evento solene em Três Pontas




Minha roupa nova desfilou intrépida, acompanhada do longo vermelho de Isabela, pelo salão do Clube Literário Recreativo Trespontano, onde 85 personalidades "mineiras" foram homenageadas - Isabela inclusive. Evento glamouroso. Decoração caprichada. Rosas nas mesas. Bufê (do Pedro) generoso. Bebidas de qualidade. Valeram os cem paus do convite. Nota negativa: nossos lugares na mesa estavam ocupados, havendo apenas uma cadeira onde deveriam estar duas. Menos mal: acabamos sozinhos em uma mesa só para nós no mezanino, onde a vista era bem melhor. Comemos, bebemos, conversamos. Serviço eficiente. Chato foi esperar os homenageados seram chamados um a um para receber o certificado, um adesivo de papel que o laureado tem a opção de fazer o que quiser com ele. Por que não uma placa de aço escovado ou mesmo de acrílico? Foram outorgadas as homenagens a personalidades de diversas áreas não só de Três Pontas como de cidades vizinhas, profissionais liberais, empresários, políticos. Tudo sob a organização do colunista social Mauro Bueno, que demonstrou competência e bom gosto. Depois de todos devidamente chamados e homenageados, a Exta'z Banda Show (é, a grafia é esta mesmo, conforme me corrigiu a Renata Duarte) bota pra quebrar, tocando vários estilos, com muitas trocas de figurino e telões com vídeos dos cantores e grupos interpretados. Começam solenes, com Sinatra, Cole Porter e tais, passam por Bee Gees, Madonna e Michael Jackson e, inevitavelmente, enredam pelo pagode, axé e sertaneja. Claro, para agradar a gregos e troianos. Muita vibração. Gente de todas as idades dançando, inebriados pelo espumante Lambrusco, Red Label ou cerveja. Água e refrigerantes também (sodinha não havia). Para o jantar, quatro tipos de escondidinho. Optei pelo de camarão. Muito bom. Em resumo, festa simpática, em cidade pequena, em que todos - ou quase todos - se conhecem. Eu, por ser desconhecido, fui confundido com fotógrafo de coluna social. Saí a fotografar a banda e várias pessoas pediam para serem retratadas. Ao que atendi prontamente, sem explicar que as fotos ficariam apenas em meu computador. Ficamos no evento até as luzes começarem a ser apagadas, por volta de seis da manhã, quando o serviço já havia sido há tempo interrompido. Mas felizes e bem-humorados. Foi uma diversão boa. A roupa nova que o diga, encharcada de suor que ficou.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Minha roupa nova


Comprei um terno novo. Vou a um evento em Três Pontas (MG) sábado e precisava de uma fatiota decente. Minhas roupas sociais, da época que eu trabalhava como repórter de economia, já não servem, estão fora da moda e com um aroma de guarda-roupa que duvido que qualquer lavanderia extraia. É interessante comprar roupa social, um figurino ao qual raramente eu me enquadro, exceção aos casamentos e formaturas eventuais. Eu acho bonito, mas não tenho ambiente para usar esse tipo de roupa. Acho prática, pois não tem muita variedade: é um paletó e uma calça geralmente de mesmos tecido e cor, camisa e gravata. E sapatos, claro. O que não tolero é a pessoa, envolta num costume desses, sentir-se poderosa e prepotente. E exemplos há muitos por aí. Mas há um porquê, afinal, por exemplo, esse evento a que vou, de homenagem a figuras ilustres daquela cidade mineira: a obrigatoriedade do traje social já denota que a roupa é solene e é destinada a destacar a pessoa. Claro, se fossem todos de qualquer jeito, a cerimônia perderia seu glamour, o que é imprescindível, no entender de quem organiza coisas como essas. Aí pressupõe-se que quem usa terno tem importância social, e há muitos que fazem questão de serem tratados com esse respeito. Eu não faço questão de nada, acho a roupa bonita e elegante e prática, apesar de muito quente para nossos trópicos (se bem que há tecidos que os fabricantes prometem não esquentar no calor). E vou usar minha nova roupa com prazer e orgulho, já que uma das homenageadas no evento será Isabela, por seu trabalho como designer. Depois conto tudo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A paz necessária




Gostaria de escrever com a habilidade e informalidade da Roberta, de Homem é Tudo Palhaço e Mundo Estranho. Ela consegue imprimir aos textos sobre seu cotidiano uma intensidade que eu não consigo, se bem que nunca tentei. É que não sei se meu dia a dia interessa a alguém além de mim. É legal acompanhar o dela, porque sempre rio muito, do escracho que ela bota e do delicioso mau humor que exala às vezes. Nas duas vezes que a encontrei, uma no Rio e outra em São Paulo, não pudemos conversar muito, porque os locais não permitiam, mas deu para sacar que pessoa interessante ela é. Bem, o texto não é para puxar o saco de Roberta, sobrenome Carvalho, mas para dizer que acho meu texto quadrado demais, sem brilho, pouco criativo e até enfadonho por vezes. Muitas vezes me faltam assuntos, e aí fico semanas sem postar nada. Gosto quando vou a algum espetáculo ou lugar, porque aí dá para comentar minhas impressões, e fica o registro, para quando quiser reviver o momento. Agora estou indo sempre para o sul de Minas, e conhecendo cachoeiras e cidadezinhas bem legais. A última foi Pouso Alegre, que forçosamente lá estive porque meu carro quebrou no caminho e a concessionária mais perto era lá. Passamos o fim de semana ali e Isabela achou uma cachoeira de 15 quedas em Congonhal. Um espanto de bonito. foi lá que a tal borboleta azul de que falo aí na lateral me seguiu. Curioso que semana passada fomos em outras cachoeiras em outra cidade e também lá havia o tal inseto, igualzinho, como se fosse o mesmo, nos rodeando. Vai entender! Pouso Alegre é uma cidade relativamente grande (vejo no Wiki que, com 120 mil habitantes, é a 19ª maior do Estado e segunda maior do sul de Minas, atrás de Poços de Caldas) . Tem bastante indústrias e um comércio estabelecido. Já Congonhal tem 10 mil habitantes e é uma cidade turística, e foi lá que paramos em um boteco de beira de estrada para comer uma tilápia e beber cerveja. E tocamos violão para distrair. Um programa bem ameno. Na semana seguinte, de volta para Três Pontas, mais cachoeiras, galinhada em uma fazenda e haras, e na volta comi cigarrete, um salgado típico dali, com sodinha, um refrigerante de abacaxi em uma garrafinha do tamanho da antiga caçulinha. Deu uma nostalgia. Caçulinha era uma garrafinha de guaraná Antarctica, que existia nos anos 60 e 70. Essa sodinha é muito boa, e o cigarrete é um tipo de enroladinho de presunto e queijo, mas há outros recheios, como franco com catupiry e quatro queijos. Muito gostoso, por sinal. Os trespontanos são muito tranquilos, simpáticos, bem humorados e hospitaleiros. Estou me sentindo muito bem naquele ambiente. Estive novamente na bela casa de Beto e sua mulher Ana, onde passamos a noite cantando com ele ao violão, tomando cerveja e ouvindo os passarinhos. Conheci Eduardo, que trabalha no Rio, com quem fomos conhecer uma cachoeira em Sobradinho, nos arredores da cidade. Tomei uma ducha muito boa lá (foto acima). No outro dia fomos a uma galinhada na fazenda de tios de Isabela, com vários parentes dela lá. Fui muito bem recebido e servido, já que a comida e a bebiba estavam fartas. Essa tranquilidade toda me deixa muito bem, a gente que se estressa tanto na cidade. Volto para a metrópole renovado, e com a paciência em dia, por saber que no fim de semana seguinte posso voltar para lá e tomar mais banhos de cachoeira e de paz. Isso, como diz o comercial, não tem preço.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Adiós, La Negra



A cantora argentina Mercedes Sosa, que morreu neste domingo, 4/10, aos 74 anos, me comoveu à primeira vez que a ouvi. Foi dela o primeiro disco que comprei na vida, na verdade uma fita cassete, com a gravação de um show que ela fez no Ginásio do Ibirapuera, em 1980. Comprei porque era uma época em que o meio que eu frequentava respirava música latino-americana, no sentido de integração dos povos, por conta das inúmeras ditaduras que havia no continente. E celebrar aqueles cantores e compositores hermanos era comum entre os nossos artistas. Chico, Milton, Fagner, entre outros, tinham ligações com colegas argentinos, chilenos, cubanos e se gravavam mutuamente. E nós, lá de nossa comunidade em Santo André, bebíamos dessa fonte e ouvíamos avidamente Violeta Parra, Victor Jara, Pablo Milanés, Atahualpa Yupanqui, Tejada Gómes, compositores dos quais Mercedes Sosa era, decididamente, a intérprete definitiva. Só para se ter uma idéia, havia, nessa época, pelo menos dois grandes grupos brasileiros dedicados a interpretar canções latino-americana: Tarancón e Raíces de América. Mas Mercedes Sosa, ou La Negra como era chamada, por causa dos cabelos pretos, tinha o dom de emocionar quem a ouvisse. Bem, não sei se todos, mas eu me emocionava e ouvi aquela fita cassete sem parar, não sabendo se prestava mais atenção às letras ou à interpretação perfeita e comovida dela. Cantor de Oficio, Gracias a La Vida, Drume Negrita, Canción con Todos, Los Hermanos, La Carta, Volver a Los 17... canções que eu sabia de cor - se forçar um pouco, ainda sei. E a língua não era barreira, conseguia entender perfeitamente a mensagem por trás daquele espanhol, dada a interpretação precisa que Mercedes sabia dar. Infelizmente nunca pude assistir a um show dela, mas ela estava sempre presente, em participações em discos de brasileiros, aparecendo esporadicamente na TV. Por meio dela conhecemos compositores muito importantes para a luta contra os regimes autoritários, que tinham a palavra como arma e que por causa dela sofriam represálias. A própria Mercedes foi presa em seu país e teve de se exilar em Paris e Madri. Lembrar, agora, de Mercedes, é recordar um período, quase 30 anos atrás, que marcou profundamente minha personalidade, que edificou meu caráter e que me tornou o que sou hoje. Claro que muitos sonhos daquela época tornaram-se apenas sonhos, alguns agora, numa retrospectiva, até bastante ingênuos. Posso dizer que meu coração está mais endurecido, estou um tanto quanto cético, mesmo tendo nossa luta de então tido relativo sucesso com o governo que hoje temos, ou seja, as ilusões ficaram para trás. Mas reconheço que fazem falta aqueles sonhos, aquele vigor de fazer alguma coisa, aquela capacidade de sentir-se cidadão latino-americano e se solidarizar com os outros povos, de se emocionar ao ouvir Mercedes cantar que tem tantos irmãos que não se pode contar. Sei que ainda posso me emocionar ao ouvi-la, assim como me invade uma grande tristeza por sua perda. Sei que o tempo não volta, e nem deveria voltar. Mas as emoções de uma época a gente pode sim reviver, e quem sabe tornar-se uma pessoa melhor, porque havia sinceridade naqueles sonhos, e, como disse aí embaixo, os sonhos não envelhecem.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Olha que coisa mais linda

Um mês e pouco de aulas e já há um rebento de que se orgulhar. Aprendi a tocar uma das grandes músicas da bossa nova, a Garota de Ipanema. Claro que ainda sai capengando, os dedos não encontram às vezes a corda certa na casa correspondente, mas está lá, para aperfeiçoar. Quando vi a canção no final do livro pensei: Ih, vai levar tempo até chegar aqui. Mas foi a terceira música que nos foi desafiada, depois de A Paz, de Gil, e Meninos e Meninas, da Legião. A primeira eu toquei até sair sem muito vacilo; a segunda, não consegui. Mas depois de pegar com algum desembaraço os acordes de Garota, senti-me vingado do rock do Renato Russo. E olha que são acordes com bemóis, sustenidos, sétimas e nonas, coisa sofisticada. Mas muito simples mesmo. Claro que não se iguala a João Gilberto, mas dá para reconhecer a harmonia direitinho. Só falta agora ter a coragem de pegar o violão em alguma reunião e tascar meu belo repertório de duas músicas, mas o importante não é isso, mas o fato de que estou vendo que o esforço traz resultado. Eu andava meio esquecido disso, seja porque não tenho me esforçado muito em outras áreas, seja porque não esteja vendo resultado em outras. Assim, o curso tem valido, além de tudo, como uma terapia que se vê funcionar. Porque outra que frequento não estou vendo muita coisa não. Vai ver resolve aquilo a que você se dedica com vontade, e não orientado por outros.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os sonhos não envelhecem

Peço licença a Milton, Lô e Márcio para usar esse verso de Clube da Esquina 2 no título deste texto, mas não consigo pensar em frase mais adequada para o que vivi neste sábado, 12, em Três Pontas, Minas Gerais, durante o Festival Música do Mundo, evento que reuniu dezenas de artistas e várias atividades, tudo em prol de dois de seus filhos diletos, Milton Nascimento e Wagner Tiso. Foi realmente um sonho de muitos anos que estava lá sendo realizado, qual seja, ver juntos cantando tão perto e com tanta emoção artistas que aprendi a amar há tanto tempo, e que por circunstâncias da vida ainda não tinha tido a oportunidade de ver e ouvir ao vivo. Milton eu conheci tardiamente, assim como toda a galera do Clube da Esquina, já com 19 anos, por intermédio dos amigos de sempre Paulinho e suas irmãs Cristina e Neuza. As horas passadas na casa deles ouvindo os LPs no velho 3 em 1 habitam minha memória sempre. Nunca mais deixei de ouvir Milton. Comprava todas as fitas k7 que saíam, depois os vinis, mais tarde os CDs e hoje está no MP3 e no pen drive quase toda a coleção. Faltava ver o Bituca ao vivo. E foi uma graça divina, que eu acho mesmo, que a Isabela, agora minha namorada, cruzou o meu caminho e me fez saber desse festival, ao qual eu não podia faltar. E fui. E a jornada, para mim, começou na sexta, 11, quando em uma praça da cidade assistimos a apresentações de músicos parte das atividades do festival, que começara na véspera e foi até domingo, 13. Apresentaram-se lá, Pedrinho do Cavaco, com direito a canja de Milton, a dançarina Paula Duarte e Änïmä Minas, entre outros. De repente olho para o lado e está Wagner Tiso, assim, no meio da galera assistindo aos shows. Quando me viro, vejo o próprio Milton, sentado em uma cadeira no palanque montado para as autoridades. E o curioso é que ninguém os importunava; olhares curiosos, sim, mas nada de tietagem explícita. Maravilha. No sábado, o grande dia, que começou às 15, com show de Wilson Sideral, seguido de Lô Borges, Ark 2, Toninho Horta, Ricardo Herz e o violinista francês Didier Lockwood, Ivan Lins, Marco Lobo e galera, Wagner Tiso, Tom Zé, Lenine e a entidade Milton Nascimento, que entrou já com o relógio marcando mais de 3 da manhã. Músicas daqueles tempos e de todos os tempos, dando aos fãs o que eles (nós) queríamos e gostamos. Um sonho mesmo que mantém-se jovem e cristalino. Uma vontade de cantar junto a plenos pulmões. E que Milton, sensível, captou, oferecendo à platéia o microfone para cantar junto. Não sei se há palavras suficientes para descrever o momento e a pessoa desse artista tão especial, que essa cidade ama e respeita tanto. Aliás, como escrevi no post anterior, Três Pontas respira música e ama Milton. Ouvi pessoas de todas as idades cantarem de cor canções bem antigas, que só quem acompanha mesmo a carreira e o adora pode reconhecer. Esse ouvido musical da cidade talvez explique por que tem gerado tantos artistas, esses que conhecemos e tantos outros anônimos - por enquanto, a se considerar o talento deles logo serão conhecidos além dali. Esse festival mobilizou a cidade e reuniu por baixo umas 10 mil pessoas, parecendo em alguns pontos um verdadeiro Woodstock, com seus hippies sentados em seus sarongues - ou algo parecido - coloridos. E foi perfeito, não vi nada que pudesse suscitar má organização. Conheci pessoas maravilhosas nessa cidade e nesse evento, comi coisas incríveis, como o improvável, a nós paulistas, sanduíche de pernil no pão de queijo, o frango com coqueiro - uma espécie de palmito, o cheesburguer de filé do quiosque Sandubas. Enfim, uma cidade que me cativou e que me proporcionou, além do amor de minha adorada Isabela, esses momentos raros de boa música e simpatia singulares, de que, tenho certeza, sempre me lembrarei.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Três Pontas



A cidade se desenha do cume do morro, colorida e organizadinha, com seus telhados bonitos e ruas estreitas, muitas calçadas de pedras antigas. Desço por uma alameda ladeada de palmeiras e passo pelo pequeno sambódromo. A cidade transpira música. Contorno várias igrejas e sigo por um córrego seco, mas absolutamente limpo. Aliás, a cidade é limpa. Em uma volta rápida, percebo uma tranquilidade, uma paz, um astral que me fazem falta nas cidades em que moro e trabalho. Passo em frente à casa em que morou Milton. Em frente à praça Travessia. Tem placa e tudo. A cidade cultua seu filho ilustre. Aliás, seus, porque ainda tem Wagner Tiso. Mais tarde, conheço a cidade do alto, e vejo o morro com três pontas que foi estilizado no disco Geraes. E desse altiplano a cidade é ainda mais calma. O desenho regular de suas ruas, suas casas bem cuidadas, tudo isso me dá uma nostalgia de minha cidade de muitos anos atrás. Isabela me diz que a cidade tem seus problemas e deficiências, como todas. Uma delas é não ter um cinema. Quem sabe depois do festival que em setembro homenageará os dois compositores que a puseram no mundo isso não se resolva? Conheço pessoas de muito boas cabeças, antenadas e muito musicais. A cidade respira o Festival Música do Mundo, vi no pouco que me movimentei nela e nas poucas pessoas com quem estive um frenesi por esse evento. Não podia ser diferente mesmo. Hospedo-me em uma fazenda de café, inativa, que remete minha memória aos meus pais, que foram trabalhadores em fazendas assim, como lavradores, meeiros, trabalhavam muito, sofrendo todas as intempéries, como geada, calor, chuva... Mas o aspecto da fazenda é bucólico. Muitas árvores, muito passarinho. A casa grande é um espetáculo à parte, com móveis antigos, bonitos. Assim como a casa de um rapaz que conheci, que era um galpão de café que ele, Beto, transformou em casa. E que casa! Enorme, funcional, bem planejada em seus múltiplos espaços tanto interno quanto extern0. Uma casa impensável na minha cidade, a não ser que seu dono tenha muito dinheiro. Hotel, fazenda, cidade. Três Pontas deixou em mim uma muito boa impressão. Talvez seja por isso que Milton tenha se tornado o artista que é. Inspiração com certeza não faltou.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Deliciosamente romântico

O show de Roberto Carlos em São Paulo, que eu assisti na sexta, 21, foi tudo o que se esperava dele, mas por incrível foi sensacional. Não sei se foi o fato de ser a primeira vez que vejo o Rei ao vivo, ou pelo grande profissionalismo e carisma do artista, o fato é que me emocionei verdadeiramente neste espetáculo no ginásio do Ibirapuera, lotado com mais de 9 mil fãs. Não vou descrever como foi o roteiro, as músicas tocadas, pois isso está em qualquer jornal, e o objetivo desse blog é refletir a vida a partir dos eventos dos quais tomo parte. Para começar, o som me surpreendeu, pois imaginava que aquele ginásio não teria acústica boa, mas estava impecável. E o cenário também estava encantador. Fui envolvido em uma atmosfera romântica que não deu para ignorar. E a presença de Roberto é também envolvente. Ele fala com seu público de uma maneira que ele quer ouvir. Apesar de sabermos que foram falas decoradas, talvez cuidadosamente elaboradas, o impacto delas na platéia é coisa que se vê em poucos espetáculos. Bem, não é à toa que ele está aí há 50 anos, com seus baixos, seus altos, mas sempre em evidência. Tocou músicas representativas de cada época sua, mas com uma leitura homogênea, de modo que as músicas da Jovem Guarda ficaram parecendo como se compostas e lançadas nos anos 80 ou 90. Mas ficou bom. A orquestra foi acrescida de cordas da Osesp, muito chique, e ele simpático e falante como todos gostam que ele seja, e eu tenho certeza de que ele é honesto em sua relação com seus fãs. Falar neles, a platéia é um show à parte: senhoras de todas as idades, gritando "Roberto eu te amo" como se adolescentes fossem, correndo sem se preocupar com as limitações atrás de uma das rosas beijadas por ele ao final do show. Achei muito engraçado. Sabia de tudo isso, mas precisava ver, tinha que ver um show do Roberto, afinal, é um cara que é artista há mais tempo que eu vivo. E que me remete a muitas épocas de minha vida. Não posso negar que cada grande sucesso do Roberto suscita uma pequena recordação de algo na minha vida. Na Jovem Guarda, eu era muito pequeno, mas sentia perfeitamente o clima e ao crescer um pouco passei a curtir muito aqueles cabeludos cantando naquelo ritmo alucinante. Depois que Roberto deixou a JG, foi a época em que meu pai comprou a discoteca. E aí passei a acompanhar sua discografia, pois todo fim de ano essa era uma compra obrigatória. Curti o disco de 1970 e o de 1971. Depois os outros fui gostando de uma música ou outra, até rarear o trabalho que me agradasse. De qualquer forma seu romantismo dos anos iniciais pós-JG puseram no imaginário muitas canções que a gente pode não saber de cor, mas com certeza lembra assim que ouve os primeiros acordes. Uma coisa curiosa: detestei quando ele começou a homenagear mulher de óculos, gordinha e tal. Mas sabe que no show Mulher Pequena saiu muito legal, acompanhada do Caminhoneiro, igualmente tocante. É, Roberto sabe fazer as coisas... Isso de uma certa maneira redime uma falha grave de Roberto. Quando eu era garotinho, todo 28 de julho era aniversário de São Caetano, onde eu morava, e a Prefeitura promovia um grande show, como músicos, palhaços, aqualoucos, e sempre vinha um pessoal da JG. E todo ano esperávamos que RC aparecesse. Mas ele nunca veio, frustrando o sonho de toda uma cidade e de um menino fã em particular. Sem graça, meu pai se desculpava: deve ter outros compromissos, ano que vem ele vem. Chega o ano seguinte, e ele não vinha. Não chegava a chorar, porque ainda não tinha essa consciência de fã, que fui desenvolver só poucos anos depois com os Beatles. Mas ficava decepcionado, pois, como todo mundo, queria ver o Rei de perto. E isso agora se deu. Apesar de ficar na tal cadeira de visão parcial. Deu para ver o cara o tempo todo, mas de costas e com alguns praticáveis na frente, mas não muito longe, mas não posso dizer que não o vi de perto. E que o menino finalmente matou sua vontade. E se fartou. (As fotos eu preciso recuperar, pois minha máquina teve um acidente; se não conseguir, posto as de minha filha.)

domingo, 9 de agosto de 2009

Samba na pick-up, DJ

Na sexta-feira, 07/08, vi o show de Germano Mathias (esq.), sambista paulista, cantando o repertório de Gordurinha (dir.), compositor baiano batizado Waldeck Artur de Macedo, radicado no Rio, onde atuou em diversas rádios. Ele é o autor de pelo menos três músicas razoavelmente conhecidas: Súplica Cearense, Chiclete com Banana e Vendedor de Caranguejo - estas duas últimas gravadas por Gilberto Gil e a primeira por Luiz Gonzaga e agora também na voz de O Rappa. Foi um show muito engraçado, o Germano tem essa característica de zoar com todo mundo e com ele mesmo, e a homenagem que ele faz a Gordurinha foi bastante oportuna. As músicas desse baiano morto há 40 anos são adequadas ao jeito malandro de cantar e de tirar um sarro do Germano. Estava acompanhado de uma quinteto bem competente, com percussão, violão, cavaquinho e sopro. Tirando as três músicas citadas, eu não conhecia nenhuma outra, mas a platéia - lotada, para minha surpresa - sabia muitas de cor. Isso me deixou muito animado, por ver que a memória ainda não está apagada.

No sábado, fui ver um espetáculo já bem diferente. Assisti ao show do BossaCucaNova, que estava comemorando 10 anos e lançando um DVD. O show teve participação de Kátia B, a atriz bailarina, compositora e cantora (segundo o folder) Kátia Bronstein, que mistura trip hop a bossa nova, além de sons judaicos e mantras. (No domingo a participação seria de Wilson Simoninha.) Já a proposta do BossaCucaNova é pegar canções da música popular brasileira, muito de bosssa nova, e dar-lhes um verniz contemporâneo, adicionando ritmos e sons eletrônicos que dão um resultado muito interessante. Gostei, pois levantou possibilidades que essas canções escondiam e que talvez, pelo purismo, não se enxergava. Claro que é um som afeito para as pistas, mas se a galera começar a dançar Tom Jobim e Carlos Lyra nas baladas, isso é muito bom.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

De cigarro em cigarro


Vai ser engraçado observar os pobres fumantes se amontoando nas calçadas para dar suas pitadas. A realidade a partir de hoje, 7, em São Paulo será esta. Proibição total de fumo em locais fechados - exceto a casa e o carro do cidadão e outros locais específicos. Eu concordo com essa determinação. E não é por ser ex-fumante. É por entender mesmo que quem não fuma tem todo o direito de não ficar exposto à fumaça de outros. Quando eu fumava, era possível dar as tragadas em praticamente todos os lugares, menos em ônibus, cinemas e teatros. A primeira redação de jornal em que trabalhei, no Estadão, tinha muitos fumantes, e a névoa que se formava era densa o suficiente para se tocar com as mãos. Aí em seguida começaram a criar os fumódromos. Para mim foi bom, pois foi o incômodo de ir a esse local, enquanto o serviço ia acumulando, que me levou a largar o vício. Tomara que muitos façam o mesmo ao perceber o chato que é ir até sabe-se lá onde para fazer algo que, em princípio, deveria dar prazer. A partir do momento que se percebe o transtorno que é, deixa de ser prazeroso, e se percebe que não passa de um vício, e dos mais agressivos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pura emoção



A voz que me emocionou fez novamente meus sentimentos estremecerem. Monica Salmaso, desta vez acompanhada do quinteto de clarinetistas Sujeito a Guincho, apresentou-se no Sesc Vila Mariana, onde a vi sexta-feira 31 de julho. Conheci essa cantora de voz singular acompanhada do grupo Pau Brasil, cantando músicas do Chico, que gerou o CD Noites de Gala, Samba na Rua. (Obs. Conforme esclarecimentos de meu colega Eduardo, foi o disco que gerou o show, e não o contrário, como escrevi. Valeu, Edu.) Disco esse que comprei agora nesse novo show e que me fez relembrar as emoções daquela noite, especialmente com sua interpretação de Beatriz, maravilhosa. Nesse show com o Sujeito a Guincho, o repertório foi mais diversificado, indo de Gordurinha a Brahms, de Ataulfo Alves a Hermeto Paschoal. E os arranjos de clarinete são a coisa mais surpreendente que vi nos últimos tempos. Nunca imaginei que pudesse haver. E a voz de Monica sobre esses instrumentos de som tão doce forma um conjunto que, como disse, não dá para não emocionar. Fora isso, o grupo tem um bom humor que torna a apresentação mais espetacular ainda. Eles brincam com os instrumentos, improvisam, desmontam os clarinetes, criam sons, onomatopéias, enfim, tornam a apresentação uma aventura ao mesmo tempo rica em sonoridade e em aprendizado, coisa que é muito importante em um povo que é tão musical. O importante nesse show - além de todas as outras importâncias - é que cantora e instrumentistas estão ali para reverenciar a boa música, a arte maior; não se percebe neles um ranço de busca por "espaço" que se vê em tantas caras novas espalhadas pela cena atual. Eles querem fazer boa música, e querem fazer o seu melhor. E os beneficiados somos nós, ouvintes, extasiados com o que podemos chamar sem medo de nos equivocar de perfeição.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Dois filhos do Brasil


Fui ver dois documentários sexta-feira, 24/07. Um sobre Patativa do Assaré e outro abordando Mestre Verequete. O primeiro a passar foi "Chama Verequete," sobre o Rei do Carimbó lá na Ilha de Marajó, no Pará., dirigido por Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira. Batizado Augusto Gomes Rodrigues, Verequete é uma das maiores expressões desse ritmo creio que tão pouco conhecido no Sul/Sudeste. Lembro que uma vez a Eliana Pittman cantou alguma coisa de carimbó e fez até algum sucesso. Não sei se a Fafá de Belém divulgou o ritmo, mas a banda Calypso me parece que sim, antes de se render ao que mais vende. É um ritmo bem contagiante, acompanhado de instrumentos típicos, como um tambor específico para o carimbó. O curta, "Chama Verequete", é importante para difundir esse ritmo tão brasileiro e um de seus maiores mestres.

Já o longa que conta a vida do poeta cearense Patativa do Assaré joga luzes sobre uma personalidade que tem a dimensão de um mito. "Patativa do Assaré, ave poesia", dirigido por Rosemberg Cariry, foi feito em homenagem ao centenário de nascimento de Antonio Gonçalves da Silva, que ganhou esse nome por cantar semelhante ao passarinho e por causa da cidade em que nasceu, na região do Cariri. Joga os holofotes sobre um personagem de tamanha importância à cultura nordestina e brasileira. Eu confesso que apenas conhecia Patativa por conta das canções "A Triste Partida", gravada por Luiz Gonzaga, um épico sobre os retirantes nordestinos, e "Vaca Estrela e Boi Fubá", levada ao vinil por Fagner e Pena Branca e Xavantinho (que eu saiba), bela canção a respeito da vida pastoril. No filme dá para se conhecer aspectos da vida desse cearense que permite chamá-lo de o verdadeiro artista popular. Cego de um olho logo cedo, com alfabetização irregular (só estudou seis meses), Patativa se autoeducou, aprendendo a ler e a ampliar o vocabulário por conta própria. E sempre viveu em sua roça, com sua companheira de quase 60 anos e seus nove filhos. É um filme que comove e faz a gente questionar: o que é realmente popular? Esses que se dizem porta-voz do povo sem sofrer suas agruras, bem, há de se desconfiar. Patativa, uma grande surpresa.

Ver esses filmes foi possível graças à iniciativa de alunos dos cursos de Cinema e de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, aqui em São Bernardo. Esse pessoal tem projeto de montar no campus um cineclube e, a se considerar esses dois exemplares, tem tudo para se tornar uma grande ideia. E, muito importante, eles querem abrir esse espaço à comunidade local, não restringir ao público universitário, o que acho plenamente louvável. Parabéns, gente.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sofrimento que nos é imposto

Não desejo a ninguém viver a experiência pela qual passei na última terça-feira, 21. Fui ao laboratório para fazer uma ultrassonografia do abdomen e da próstata. O orientação era fazer jejum de 8 horas e, uma hora antes, beber 6 copos de água e manter a bexiga cheia. Pois bem, como na semana anterior tentei fazer o mesmo exame, mas tomei a água e só então fui ao laboratório e não aguentei segurar, resolvi desta vez chegar uma hora antes lá e lá tomar a água. Meia hora antes do exame já estava que não me aguentava. Apertadíssimo. Apresentei-me para eles encaminharem a ficha e toda a burocracia. A chamada demorou e nisso minha agonia aumentava. Despachado, fui ao corredor especificado esperar a chamada. O exame estava marcado para as 10h24. Eram 10h40 e nada de ser chamado. Minha necessidade de ir ao banheiro era algo que eu nunca havia sentido. Tudo bem que o atraso era pequeno, mas para quem está há uma hora apertado cada segundo é sofrível. No dia que tomei toda a água antes de ir ao laboratório, cada semáforo era um sacrifício. E a dor crescia e nada de me chamarem. Pior é que eu tinha certeza de que, quando o médico passasse o tal scanner em minha barriga, aí que não seguraria mesmo. Resultado: não aguentei. Desisti do exame e corri ao banheiro. Atrapalhado em abrir a braguilha, o jato escorreu livre e molhou boa parte de minha calça. Aliviado e envergonhado, fui para casa sem dar baixa no exame ou remarcá-lo. O pior é esse é um exame que, dada a minha idade, terei de repetir todo ano. Mas lhes digo: a enfrentar novamente uma tortura dessa, prefiro o exame de toque.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Um grande passo

Ontem, 20, completaram-se 40 anos em que a missão espacial norte-americana Apollo 11 pousou na Lua. Na foto da Efe, os astronautas que ocuparam aquela nave, Edwin Aldrin, Michael Collins e Neil Armstrong, com Barack Obama, presidente dos EUA (da esq. para a dir.). O nome de Armstrong me é mais familiar, e a memória mais remota que tenho desse dia são imagens na televisão em preto e branco e toda uma mítica criada em torno, já que a conquista do espaço vinha de tempos, e o russo Yuri Gagarin já tinha visto oito anos antes que a Terra era azul. Lembro-me de desenhos de astronaves e astronautas nos livros escolares, recordo-me da música "O Astronauta" do Roberto Carlos, no disco de 1970 dele, tive um foguete de brinquedo, que subia de verdade, acionado por pressão d'água (o único problema foi que, depois do primeiro lançamento, o brinquedo simplestemente sumiu no mato e nunca mais o encontrei). Havia coisas que lembravam astronaves por toda parte. Em dois parques infantis que eu frequentava tinham foguetes em que se subia por escadas e rampas para, lá do alto, descer em um delicioso escorregador. A frase "Um passo pequeno para o homem, mas um grande salto para a Humanidade", de Armstrong, era lida e ouvida em toda parte. Eu, garoto de 8 anos, me extasiava com tudo aquilo, me imaginando pisando o solo lunar, andando em jatos como os dos Jetsons, que eu assistia freneticamente. Aqueles saltos sem a incidência da gravidade que víamos na TV me causavam inveja: eu queria também flutuar no espaço. Mas, surpreendentemente, ao contrário de meus coleguinhas, não queria ser astronauta. Não me lembro agora os motivos, mas meu desejo na época era um pouco mais modesto: queria ser bombeiro, talvez influenciado pelo jipinho imitando os da corporação que eu tinha. Mas ao crescer mais um pouco minhas fantasias foram se ampliando, e a conquista espacial passou a figurar entre meus delírios. Que delírio! Saber que só fui viajar de avião aos 22 anos. Mas eu queria viajar pelo Cosmos, ainda mais quando comecei a aprender geografia na escola. Porém, com o amadurecimento, meu interesse pela aventura espacial foi ficando para trás. Mas não esqueço a sensação que tinha de viver em um tempo em que algo de muito importante fora feito. Poder testemunhar aquilo, mesmo que com olhos incompreensíveis, é realmente uma grande sensação.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Afinal, ele é o Rei


No sábado 11, dia do início das vendas dos ingressos para os shows de Roberto Carlos em São Paulo, compareci ao ginásio do Ibirapuera, para comprar as entradas direto na bilheteria. Eram 14h e a fila já estava enorme, e a chuva não parava de cair. As conversas na fila giravam em torno das dificuldades que as pessoas tiveram para comprar pela Internet e pelo telefone que a empresa Ingresso Rápido (?) pôs à disposição. Elas estavam naquela fila embaixo daquela chuva porque esses meios estavam congestionados. Fica, óbvio, a pergunta: como pode a empresa, sabendo da repercussão de um show de um artista desse porte, com toda a publicidade que vem sendo feita, via Rede Globo, da efeméride dos 50 anos de carreira completados este ano, não reforçar seus sistemas para atender com um pouco mais de conforto - e eu acrescento dignidade - aos fãs do artista? Continuando a história, estava eu na fila já havia 20 minutos quando aparece um sujeito dizendo que acabaram todos os ingressos, à exceção dos de um determinado setor, mas que pela dimensão da fila ele supunha que não seriam suficientes a todos. Sugeriu que tentássemos comprar pelo telefone da empresa. Eu havia tentado pelo celular e não conseguia. Desisti e fui embora. Em casa, tentei inutilmente pela Internet boa parte do dia e da madrugada, até deixar para lá. No domingo, consegui finalmente comprar os ingressos, mas só havia lugares na arquibancada e numa inacreditável cadeira de visão parcial! Fiquei com a primeira opção, apesar de a outra ser o dobro do preço mas ter uma jóia do marketing que é essa tal de visão parcial. Pelo mapa dos assentos, ela fica à diagonal do palco. Provavelmente vai dar para ver o Roberto de costas e meio de lado, e torcer para que ele vire-se para pegar uma água e, assim, talvez, ver uma nesga de seu rosto. Não, preferi arquibancada, porque sei que não vou ao show para ver, mas para ouvir e para estar nesse evento único, que será a minha primeira vez que assistirei a um show do Rei em minha vida. Acho que vai valer a pena, apesar do sacrifício que empresas como esse Ingresso Rápido nos faz passar, mesmo cobrando absurdas taxas de conveniência e de entrega.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sem medo de ser feliz

Esta foto na coluna aí do lado, do Collor de Mello abraçando o Lula, me fez recordar aquele período, da campanha presidencial de 1989. Eu era um jornalista recém-formado e estava trabalhando no Diário Popular (hoje Diário de São Paulo), depois de um breve período no Estadão. O clima era de festa: a real possibilidade de um operário chegar ao poder - aliás, o fato de ele ser candidato já era motivo de comemoração, recém-saídos de uma série de governos militares que éramos. E Collor representava os oligarcas nordestinos, um ser que ninguém sabia de onde tinha saído, uma esperança, sim, mas uma incógnita. Bem, o que importava é que tinha que eleger o Lula, o operário de nove dedos nas mãos. Eu, nessa época, depois de uma militância mais ou menos firme em entidades consideradas à época de esquerda, sentia-me na obrigação de fazer a campanha e de torcer pelo Lula. Tudo bem, eu realmente achava que seria muito bom para o país essa guinada. Mas confesso que não tinha bem claro qual era o programa do PT para o país. Imaginava que seria uma ampliação dos projetos que vinham sendo tocados nas administrações municipais que o partido abraçou, sendo o caso de São Paulo, com Luiza Erundina, o mais emblemático então. Também não me importava em entender o que seria um programa de governo, pois confiava naqueles homens e sabia que a gestão seria popular, voltada às camadas mais pobres da população e muito melhor que qualquer governo militar ou do Sarney. Mas aconteceu tudo que a gente sabe, o Lula perdeu esta e outras três eleições antes de chegar lá e eu vejo com um certa ar de nostalgia essa foto. Antes da foto, vimos a aproximação desta administração com aqueles que no passado recente eram combatidos pelos atuais governantes. Apesar da militância, não posso dizer que entendo muito de política, ou pelo menos da práxis política ou do mero pragmatismo. Mas aprendi que a política e a administração pública se fazem com alianças e que não há inimigos nessa seara, apenas adversários, que o de hoje pode ser seu aliado amanhã. E isso não creio que seja errado. Faz parte do jogo democrático. E permite que a convivência seja cordial na medida do possível, senão seria um tal de se matar inimigos que acabaríamos vivendo numa barbárie, ou numa ditadura. Portanto, se o afago de Collor a Lula de um lado choca, de outro mostra que esse Brasil é justo. E cínico.

domingo, 12 de julho de 2009

Em busca da Rosa

Tive uma grande amiga no primeiro ano do então segundo grau, há mais de 30 anos. Era amiga e confidente, cada um de nós, em sua doce e tenra adolescência, relatando ao outro as paixões e as dificuldades de as expressar e exercer. Eu gostava de uma menina da classe, mas a timidez não deixava eu fazê-la saber disso. Já minha amiga, de nome Rosa, tinha uma veneração mais, digamos, impossível: ela era doida por um cantor de sucesso à época, Glen Michael. Creio que poucos se lembrem dele, um brasileiro que tinha nome artístico e cantava em inglês, comum na época. Tem o áudio de seus principais sucessos no Youtube (imagem não). Além de falarmos sobre nossos amores, conversávamos sobre a vida, nossa visão tão espinhosa da vida. Tímidos ambos, a gente meio que se solidarizava um com o outro e éramos cúmplices recíprocos dos vacilos que cometíamos. Um dia Rosa deixou a classe da tarde, pois precisou trabalhar e transferiu-se para a noite. Deixamos de nos ver, mas passamos a nos corresponder com frequência. Cartas longas, com reflexões sobre o mundo e juras de amizade eterna. Em uma dessas cartas, a menina perguntou se nossa amizade venceria o tempo e o espaço. Não sei. Deixamos de nos escrever depois de algum tempo, não me lembro por quê. Mas eu jamais a esqueci. E neste domingo, lembrando dela, resolvi pegar as cartas, que guardo até hoje, e li algumas. E meu deu vontade de fazer algo que há tempos venho adiando. Um dia, procurei por seu nome no Google. Encontrei um de minha cidade, mas que tinha um sobrenome a mais. Julguei que se tratava do nome de casada que ela estaria adotando. Anotei esse número mas nunca tive coragem de ligar. Pois liguei neste domingo. Uma voz grave de homem atendeu. Depois de confirmar que ali residia uma Rosa, quis saber de quem e do que se tratava. Expliquei e ela chamou a esposa. A voz lembrou-me a dela, mas não posso ter certeza. Depois de explicar meu propósito, perguntei se ela havia estudado em tal escola em 1977. Frustração: ela disse que não se lembrava, fazia muito tempo. Estranhei: como alguém pode se esquecer onde estudou o colegial? Achei que ela não quis estender o papo para o marido não arrumar encrenca. Bem, vendo a pouca disposição dela, acreditei que não se trata da mesma Rosa. Estaca zero. Mas eu não pretendo desistir. Quero encontrar essa Rosa, porque uma amizade como a nossa não deveria sucumbir. E também gostaria muito de resgatar um pouco do jovem que eu fui, porque lá está a raiz de muito do que sou hoje e que tento compreender. Portanto, amiga, eu vou lhe encontrar.
PS.: Localizei outra amiga da classe, essa foi fácil. Liguei. A moça não se lembra de mim. Chato. Será que só eu guardo esse tipo de recordação?


No sábado fui ao cinema assistir a A Era do Gelo 3 em 3D. Diverti-me muito, principalmente porque a tecnologia 3D surpreendeu-me já na primeira vez que vi, lá pelos meus 17, 18 anos. A animação faz uma mistura de eras, a do gelo propriamente e a dos dinos, estes habitando o subterrâneo do mundo dos nossos heróis. Apesar de engraçado, o filme peca por exceder em algumas situações, como fazer o esquilo, agora às voltas com uma fêmea disputando seu avelã, aparecer em cena o tempo todo e com traquinagens que beiram o exagero. Fora isso, há beleza demais nos desenhos, o que o 3D ressalta e engrandece. Há bastante ação, clímax bem elaborados e perfeição em tudo. É uma superprodução que vale a pena, sim, ver.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A dor possível



O funeral de Michael Jackson, dizem, foi visto por mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, devido à transmissão global da cerimônia pela TV. É bem possível que esse número seja real, dada a projeção que 0 artista tinha. É o resultado da comunicação de massa, e lembra, com as devidas proporções e diferenças, a difusão pela BBC, para 26 países, em 1967, da execução da música All You Need Is Love, pelos Beatles. A canção foi ouvida, segundo se diz, por 400 milhões de pessoas e foi a primeira transmissão via satélite da história. E a mensagem, que prega o amor entre os povos, se assemelha à de We Are The World, que Jackson e Lionel Ritchie compuseram e gravaram em 1985 com outros 44 artistas. Imagino que uma audiência dessas tenha sido batida pelos funerais do papa João Paulo II, em 2005, e Lady Diana, em 1997. No Brasil, tivemos momentos de comoção nas mortes de Ayrton Senna, em 1994, Elis Regina, em 1982, e Getúlio Vargas, em 1954, amplamente divulgados pela mídia e acompanhados pela população. Houve ainda John Lennon (1980), Elvis Presley (1977), John F. Kennedy (1963) e Evita Peron (1952), entre outros. Por que certas personalidades atraem tanta comoção, a ponto de as pessoas prantearem sua morte como se parentes delas fossem? O mundo chorou junto com a filha de Jackson, Paris, e cantou junto todas as canções que seus parentes e amigos entoaram na cerimônia. Não sei explicar, mas a mitificação, a idolatria devem ser uma maneira que o homem encontra de compensar suas debilidades e projetar em outro, mais poderoso, aquilo que ele queria fazer. E quando o ídolo morre, não deveria o fã rejeitá-lo, uma vez que o herói retorna à condição ordinariamente humana, como a de qualquer um, afinal, morrer todos podemos? Penso que nessa hora o homem comum se solidariza com o super-homem, exatamente por agora ter a condição de estar perto dele em uma dor que lhe é acessível.Mas penso que o fenômeno Michael Jackson deva ser o último da contemporaneidade. Não sei se vai aparecer outro ídolo que vai arrebanhar tantos fãs pelo mundo todo. Creio que a comunicação de massa hoje se expandiu tanto, com novas mídias e novas formas de divulgação, que vai se fragmentar muito mais, possibilitando que cada aldeia crie seus ídolos, e o conceito de aldeia global de McLuhan talvez tenha que ser revisto. Pode ser. É um assunto a ser estudado.

domingo, 28 de junho de 2009

Cês tão pensando que ele é loki?

Neste sábado assisti ao filme "Loki", documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, produção do Canal Brasil, que conta a vida, a obra e as loucuras do mutante Arnaldo Dias Baptista, cérebro e líder do Mutantes, para mim o primeiro grupo autêntico de rock brasileiro. Tive contato com o grupo em 1971, quando eles lançaram o ótimo A Divina Comédia ou... Ando Meio Desligado. Foi um disco que me pegou na jugular. Acho que ali eu dei os primeiros passos para o gosto musical que tenho hoje. Adorava jovem guarda e músicas que hoje seriam tachadas de populares ou bregas. Mas foi ouvir Mutantes, mais até do que Beatles, que também conheci à época, se bem que já os singles de cada um dos quatro individualmente, que me levou a gostar de um som mais elaborado, cheio de detalhes, de interpretações alucinadas, de distorções, de instrumentações inusitadas e, principalmente, harmonias nada óbvias. Enfim, esse disco fez minha cabeça. Tanto que ele desgastou de tanto que ouvimos - ou tão pouco cuidados tivemos com ele. Aí quando pude comprei outro vinil. Depois com o tempo fui revê-los no festival da Record de 1967 cantando Domingo no Parque, de Gilberto Gil, e comprei outros discos deles. Tinha uma idéia da vida do Arnaldo, coisas pescadas aqui e ali nos jornais, revistas especializadas, mas o filme mostra a história dele com muitos detalhes, e a incrível recuperação dele. Coisa que só iríamos ver novamente com o Herbert Viana. O cara pulou do quarto andar de um hospital psiquiátrico e sobreviveu, com sequelas, claro, mas incrivelmente recuperou sua capacidade cognitiva, tanto que pinta, voltou a tocar e hoje, apesar de ter pulado fora do revival dos Mutantes (com Zélia Duncan), segundo ele porque o pessoal não usa guitarras Gibson nem amplificadores valvulados (o que mostra que está, sim, lúcido), deve estar em plena atividade. Antes disso, em 2004, gravou, com produção do John Ulhoa (Patu Fu) e distribuição pela revista Outracoisa, de Lobão, o ótimo Let It Bed. O filme é excelente, mesmo, com imagens de arquivo surpreendentes, depoimentos sinceros - só faltou o de Rita Lee, o que é incompreensível, passado tanto tempo, mas nos créditos vê-se que ela deu sua contribuição, talvez com material de arquivo que tenha, não sei. Mas a separação da ruivinha, somada ao consumo contumaz de LSD, conforme depreende-se do filme, levou o cara à destruição. Há um trecho muito engraçado em que o artista plástico Antonio Peticov diz que estava na Europa e o Arnaldo o encontra lá, não se sabe como, e vai visitá-lo. Lá, diz que queria contratá-lo como motorista da nave espacial que ele estava construindo... Isso foi antes da primeira internação. Agora, depoimento incrível é do Sean Lennon, filho do beatle John, com quem, aliás, ele tocou num Free Jazz. O garoto é tão fã dele e dos Mutantes que participou da produção de Technicolor, que eles gravaram em Paris nos anos 70 e só foi lançado 20 anos depois. Eu fico imaginando a cabeça do cara: ele, que é fá dos Beatles, ser admirado pelo filho de um deles. E ainda tem Kurt Cobain, do Nirvana, que quando esteve no Brasil quis porque quis se encontrar com Arnaldo. É um filme que realmente emociona, mesmo se o espectador nunca ouviu falar de Mutantes ou Arnaldo. À medida que o filme transcorre, Arnaldo vai pintando um quadro, um mosaico de trechos da história que vai sendo contada. E pode-se perceber ali uma honestidade e um sofrimento comoventes. Acho que o filme vem confirmar que o Mutantes foi realmente a maior banda de rock brasileira de todos os tempos. E esse revival, sinto muito, não tinha porque acontecer, principalmente, e não apenas, pela ausência de Rita Lee, que, compreende-se, com a carreira consolidada, não teria muito o que fazer ali.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dois mitos que se vão


Hoje morreram dois dos principais ícones de minha adolescência. Michael Jackson ainda tem outro significado, o de estar em meu processo de metropolização. Explico. Até os 9 anos de idade, eu vivi na região do ABC, onde nasci, e, naquela época, isso era quase interior. Não tinha conhecimento de nem acesso a símbolos da "civilização", como coca-cola, hambúrguer, trânsito, apartamento. Em 1970, com a mudança para o bairro do Ipiranga, na capital paulista, porque meu pai comprou uma loja, passei a conhecer esse universo. A loja de meu pai vendia artigos de papelaria e também discos e, assim, conheci o Jackson Five (foto, da AE), do qual a voz era o Michael, um piralho só 3 anos mais velho que eu. Não vou negar: adorava, e, sabe como são essas coisas, me sentia capaz de tornar-me também um ídolo, já que ele, tão pequeno quanto eu, o era. Essa fase do Michael é muito legal. Ele tão pequeno, cantando e dançando muito mais que seus irmãos grandões. Foi também por meio deles que tomei conhecimento da música black (era um termo genérico para música feita por negros, geralmente da gravadora americana Motown) - Tim Maia eu só viria a conhecer bem depois, em 1975. Depois, voltamos para Santo André, a loja foi passada para a frente, e a carreira do Michael e dos Jacksons só acompanhava esporadicamente, se via na TV ou ouvia no rádio. Até que em 1979, aos meus 18 anos, ele aparece com Off The Wall e a canção Don't Stop 'til You Get Enough, uma roupagem diferente para o soul, e fora o figurino, copiado à exaustão por dez entre dez negros nas danceterias. E em 1982 Thriller arrebentou. Aí só dava ele. Eu nunca comprei um disco dele. Na loja de meu pai tinham uns compactos de Ben, I'll Be There e outros que trouxemos para casa quando ela foi vendida e cujo destino não sei. E recentemente baixei uma coletânea na internet, mas ouço pouco. Isso porque não fui necessariamente um fã da fase adulta dele, mas veja que é um cara que fez um estrondoso barulho em uma fase de minha vida que a gente cultiva mitos, e certamente o sucesso que ele fazia mexia com a nossa imaginação. E ver o cara ir embora assim, depois de tudo que se falou sobre ele, de tudo que aconteceu com seu corpo, derruba um pouco o mito, que é tão normal e cheio de defeitos como qualquer outro.




Agora, falar em imaginário, a atriz Farrah Fawcett, que também morreu hoje, essa povoava a minha mente, na época de meus 14, 15 anos, de maneira diferente. Uma das integrantes do trio do seriado As Panteras, Farraw era a loira, olhos azuis, cabelão armado... Nem era minha pantera preferida, eu gostava mais da Kate Jackson, à da direita aí na foto da Reuters. Mas é claro que a loira mexia com minha cabecinha púbere. O seriado era muito chato, como todas as séries daquela época (exceto a do Kung fu, que, por sinal, o ator principal morreu também recentemente): muita marmelada, enredos cheios de buracos, efeitos especiais risíveis. Mas ver as três beldades em situações de perigo, se safando às vezes no minuto final, instigava a imaginação, porque a gente se colocava na cena e ficava querendo ajudá-las, ao mesmo tempo que queria estar em perigo para ser socorrido por elas. Enfim vão-se dois ícones de minha adolescência, e isso me preocupa, porque daqui a pouco vou ficar sem ídolos. Mas será que ainda preciso de um?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Teatro e chope com a blogstar

Fim de semana legal. Vou começar pelo final. Fomos ver sábado a peça O Sétimo Selo, baseado na obra-prima de Ingmar Bergman, pelo Teatro Singular, grupo do qual Isabela minha filha faz parte, com direção de Marcelo Gianini. A montagem trouxe o enredo para os anos 80 do século XX (no filme e peça originais, se passa no século XIV, época das Cruzadas) e a peste do filme é substituída pela aids, troca oportuna, a se lembrar que a doença foi estigmatizada na época como peste gay. A trilha sonora é constituída em sua maioria de canções de Cazuza, a primeira figura pública a expor a doença no país. O jovem grupo mostrou maturidade na montagem, que apresentou ritmo correto e elementos cênicos bem adequados. Falar mais pode parecer que estou lambendo demais a cria, mas posso garantir que o grupo, que há tantos anos acompanho, cresceu e está aparecendo.
Na sexta-feira, estivemos no encontro dos leitores do site Homem É Tudo Palhaço (link aí do lado direito; foto à esq.) com uma de suas criadoras, a carioca Roberta Carvalho, em um bar na Vila Madalena, em São Paulo. Ela promove encontros desses no Rio toda primeira quinta-feira do mês. Aqui em Sampa foi o primeiro. O site, para quem não conhece, foi criado há mais de sete anos por Roberta e outras três amigas para descrever as palhaçadas que os rapazes cometem com as mulheres. Tudo com muito bom humor e sem dedurar ninguém. Ao que sei, o sítio ganhou várias admiradoras - e também admiradores, aos quais me incluo - e foi tema de algumas reportagens de jornais e até na televisão. Roberta é uma jornalista e pesquisadora de cultura popular que se comunica facilmente e o encontro foi bem concorrido.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Nascida para cantar

A cantora paulista Bruna Caram fez a pré-estreia de seu segundo disco, Feriado Pessoal, nesta quarta-feira, véspera de feriado, no Teatro das Artes, dentro do Shopping Eldorado, em São Paulo. Foi um dia terrível para a capital paulista, com quase 300 quilômetros de congestionamento, chuva. E o shopping fica às margens da marginal Pinheiros. Foi terrível chegar. Mas valeu a pena. O show foi ótimo, à exceção do som, que estava abafado, impedindo ouvir as letras com clareza e escondendo timbres. Mas a menina como sempre foi perfeita. Voz, expressões, figurino, simpatia. E as canções do novo álbum, que chega às lojas dia 15, são bem diferentes das do primeiro CD, Essa Menina. O trabalho atual vem mais pop, mais guitarra, baixo, ela arrisca até um folk. Eu gostei. O teatro não estava lotado, talvez por causa da chuva e do trânsito. E, coisa chata, algumas pessoas saíram no meio da apresentação. Pior para elas. Perderam um show que teve momentos de bastante intimismo, principalmente quando cantou algumas músicas do primeiro disco (Essa Menina, Sensações; Palavras do Coração, Um Blues). Incrível como a platéia a acompanhou nessas canções. Ou seja, é uma cantora que tem uma audiência cativa e que tem tudo para crescer. Ela é uma artista que tem domínio de palco, até porque tem experiência quase de berço, pois foi dos Trovadores Mirins e depois dos Trovadores Urbanos, grupo musical do qual participam tios seus e do qual ela fez parte dos 15 aos 19 anos. O novo disco tem, segundo ela, vários parceiros, ao contrário do primeiro, cujas composições todas são de Otávio Toledo e algumas em parceria com José Carlos Costa Netto, o advogado dos artistas, especialista em direito autoral e parceiro de Walter Franco. A faixa título é a única composição dela no trabalho, por conta de seu senso crítico, conforme suas palavras, ou, talvez, a modéstia. Esperemos que ela não fique mascarada quando se tornar mais conhecida. Por enquanto, a vejo como se fosse uma irmã mais nova cantando bem à beça.


Na sexta-feira, 05, fui ver o Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, em show no Sesc Pompéia - Choperia com outra banda, com participação de Paulo Ricardo (ex-RPM). Foi um show em que ele mostrou suas outras vertentes, tocando outros ritmos além do rock pesadão de sua banda original. Tocou até música clássica. É um cara competente, que domina o instrumento e escolheu ótimos músicos para o acompanhar. Nunca ouvi o Sepultura com atenção, mas reconheço sua importância e vou procurar algo deles para conhecer melhor.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A volta dos bons e velhos LPs



Muitos artistas têm lançado seus discos também em vinil. Em algumas lojas, é comum encontrar uma seção com as bolachonas - a preços exorbitantes, registre-se. Numa dela, vi o Yellow Submarine, dos Beatles, a mais de R$ 120! Eu acho, porém, ótima a redescoberta do vinil. E principalmente porque os lançamentos são em 180 gramas, o que dá uma densidade de som bem melhor.

Geralmente o vinil comum já tem uma profundidade maior que os CDs. Mesmo em um aparelho simples como o meu, já dá para perceber. Os graves são bem mais musculosos, dá para sentir as paredes tremendo.

Não sei por que se dá tanto valor aos agudos. É incrível, mas eu gosto dos sons bem equilibrados, para sentir o timbre perfeito de cada instrumento. Se se privilegia um timbre mais que os outros, fica um som artificial. E é essa a maior queixa que se tem contra o som dos CDs. Claro que o disquinho a laser tem suas vantagens. Por exemplo, não tem chiados, não precisa virar, cabem muito mais músicas (e agora com mp3 então dá para pôr a discografia de um artista inteira), ocupa menos espaço...

Mas o vinil tem um charme especial. Sei lá, deve ser porque cresci com eles, então a gente cria mesmo uma relação com as coisas de nossa infância. Os discos de vinil requerem um ritual todo especial, pelo menos eu sou assim: tirar o envelope plástico, que eu sempre deixei para conservar a capa; olhar atentamente as fotos da capa, ou desenhos, ler tudo que está escrito nela, aí tirar o outro envelope plástico com o disco e pegá-lo cuidadosamente, evitando meter os dedos, pegando pela borda; olhar os nomes das músicas, os compositores, o tempo de duração da canção, e outras informações que houver; ligar o toca-discos, pôr o disco com carinho no prato, descer bem devagar a tampa do aparelho e ligar o automático; ver o braço subir verticalmente, caminhar até o início da primeira faixa, descer e aí ouvir aquele barulhinho de coisa sendo delicadamente riscada que eu adoro. Depois começa a sair a música das caixas.

Eu sempre gostei de ouvir a música sentado no chão, em frente às caixas acústicas, para perceber detalhadamente cada instrumento, a voz, as pausas (quando o barulhinho aparece de novo). Se houver encarte com as letras, acompanho, para não perder uma palavra. Vejo quem toca o quê (desde que haja a informação, é claro), procuro me lembrar onde vi aquele nome novamente, que outras músicas ele tocou e de quais participou, aí vou formando minha memória musical. Já quis ser mais metódico nisso, fazer anotações, para ter um catálogo, algo assim. Mas sempre esqueço, tenho preguiça, deixo para depois e nunca fiz. Tudo fica no que a memória registra.

Eu não me desfiz de meus discos de vinil quando comprei meu primeiro aparelho de som com toca-CD. Não, fui à Santa Ifigênia (rua no centro de São Paulo com lojas só de eletroeletrônicos e suprimentos de informática) e procurei uma pick-up (não o carro, mas é como a gente também chamava os toca-discos antes). Achei uma por um bom preço (porque havia diversas para DJs profissionais muito, mas muito caras mesmo) e levei.

Em seguida, como estava no centro mesmo, fui à Discomania, na rua Augusta, procurar uns discos usados. Acabei trazendo, se não me engano, um da Grace Jones, um do Muddy Waters e outro da Nara Leão. Bem baratos e conservados. Talvez agora, com esse revival, possam estar bem mais caros. Qualquer dia passo lá e verifico.

Mas também quero comprar um desses novos vinis para ver se o som é mais bojudo mesmo. Como são caros, terei de escolher bem. E ainda tem o problema da conservação; precisarei rever o local onde deixo meus cento e poucos (apenas) discos. Eles ficam meio inclinados, o que não é recomendável, porque podem empenar. Um dia, quem sabe, criarei coragem e limparei um por um, porque estão meio esquecidos, já que quase nunca os ouço.

Gosto de tê-los, mas quando quero ouvir música pego um CD, ou ouço as que tenho gravadas no computador, ou no iPod. E eu ainda tenho muitas fitas K7 gravadas, do tempo em que CD era caro e então alugava na locadora de videocassete no centro de Santo André e gravava em casa, o que fazia também com empréstimos de amigos e programas de rádio. Essas fitas estão sofríveis, péssima qualidade de som, mas de vez em quando ouço alguma para matar a saudade.

Isso me faz lembrar os discos de 45 e 78 rotações que meu pai tinha. Eram a maioria de músicas instrumentais, de bandas marciais e de igreja, uma vez que ele tocava bombardino (ou baixo tuba) na banda da sua igreja. Ele colocava os discos na horizontal no guarda-roupas, e uma vez eu sentei-me em cima. Resultado: vários discos quebrados e uma bronca que felizmente esqueci como foi.

Hoje temos muitas opções para ouvir música, e até mesmo sem necessidade de pagar por elas, o que provoca muita polêmica. Não se sabe o futuro das mídias e formatos de se produzir e ouvir música, mas com certeza ela sempre haverá, mas, pela facilidade que há para se fazer canções hoje, o filtro terá de ser bem mais forte.