O Barquinho Cultural

O Barquinho Cultural
Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Três Pontas



A cidade se desenha do cume do morro, colorida e organizadinha, com seus telhados bonitos e ruas estreitas, muitas calçadas de pedras antigas. Desço por uma alameda ladeada de palmeiras e passo pelo pequeno sambódromo. A cidade transpira música. Contorno várias igrejas e sigo por um córrego seco, mas absolutamente limpo. Aliás, a cidade é limpa. Em uma volta rápida, percebo uma tranquilidade, uma paz, um astral que me fazem falta nas cidades em que moro e trabalho. Passo em frente à casa em que morou Milton. Em frente à praça Travessia. Tem placa e tudo. A cidade cultua seu filho ilustre. Aliás, seus, porque ainda tem Wagner Tiso. Mais tarde, conheço a cidade do alto, e vejo o morro com três pontas que foi estilizado no disco Geraes. E desse altiplano a cidade é ainda mais calma. O desenho regular de suas ruas, suas casas bem cuidadas, tudo isso me dá uma nostalgia de minha cidade de muitos anos atrás. Isabela me diz que a cidade tem seus problemas e deficiências, como todas. Uma delas é não ter um cinema. Quem sabe depois do festival que em setembro homenageará os dois compositores que a puseram no mundo isso não se resolva? Conheço pessoas de muito boas cabeças, antenadas e muito musicais. A cidade respira o Festival Música do Mundo, vi no pouco que me movimentei nela e nas poucas pessoas com quem estive um frenesi por esse evento. Não podia ser diferente mesmo. Hospedo-me em uma fazenda de café, inativa, que remete minha memória aos meus pais, que foram trabalhadores em fazendas assim, como lavradores, meeiros, trabalhavam muito, sofrendo todas as intempéries, como geada, calor, chuva... Mas o aspecto da fazenda é bucólico. Muitas árvores, muito passarinho. A casa grande é um espetáculo à parte, com móveis antigos, bonitos. Assim como a casa de um rapaz que conheci, que era um galpão de café que ele, Beto, transformou em casa. E que casa! Enorme, funcional, bem planejada em seus múltiplos espaços tanto interno quanto extern0. Uma casa impensável na minha cidade, a não ser que seu dono tenha muito dinheiro. Hotel, fazenda, cidade. Três Pontas deixou em mim uma muito boa impressão. Talvez seja por isso que Milton tenha se tornado o artista que é. Inspiração com certeza não faltou.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Deliciosamente romântico

O show de Roberto Carlos em São Paulo, que eu assisti na sexta, 21, foi tudo o que se esperava dele, mas por incrível foi sensacional. Não sei se foi o fato de ser a primeira vez que vejo o Rei ao vivo, ou pelo grande profissionalismo e carisma do artista, o fato é que me emocionei verdadeiramente neste espetáculo no ginásio do Ibirapuera, lotado com mais de 9 mil fãs. Não vou descrever como foi o roteiro, as músicas tocadas, pois isso está em qualquer jornal, e o objetivo desse blog é refletir a vida a partir dos eventos dos quais tomo parte. Para começar, o som me surpreendeu, pois imaginava que aquele ginásio não teria acústica boa, mas estava impecável. E o cenário também estava encantador. Fui envolvido em uma atmosfera romântica que não deu para ignorar. E a presença de Roberto é também envolvente. Ele fala com seu público de uma maneira que ele quer ouvir. Apesar de sabermos que foram falas decoradas, talvez cuidadosamente elaboradas, o impacto delas na platéia é coisa que se vê em poucos espetáculos. Bem, não é à toa que ele está aí há 50 anos, com seus baixos, seus altos, mas sempre em evidência. Tocou músicas representativas de cada época sua, mas com uma leitura homogênea, de modo que as músicas da Jovem Guarda ficaram parecendo como se compostas e lançadas nos anos 80 ou 90. Mas ficou bom. A orquestra foi acrescida de cordas da Osesp, muito chique, e ele simpático e falante como todos gostam que ele seja, e eu tenho certeza de que ele é honesto em sua relação com seus fãs. Falar neles, a platéia é um show à parte: senhoras de todas as idades, gritando "Roberto eu te amo" como se adolescentes fossem, correndo sem se preocupar com as limitações atrás de uma das rosas beijadas por ele ao final do show. Achei muito engraçado. Sabia de tudo isso, mas precisava ver, tinha que ver um show do Roberto, afinal, é um cara que é artista há mais tempo que eu vivo. E que me remete a muitas épocas de minha vida. Não posso negar que cada grande sucesso do Roberto suscita uma pequena recordação de algo na minha vida. Na Jovem Guarda, eu era muito pequeno, mas sentia perfeitamente o clima e ao crescer um pouco passei a curtir muito aqueles cabeludos cantando naquelo ritmo alucinante. Depois que Roberto deixou a JG, foi a época em que meu pai comprou a discoteca. E aí passei a acompanhar sua discografia, pois todo fim de ano essa era uma compra obrigatória. Curti o disco de 1970 e o de 1971. Depois os outros fui gostando de uma música ou outra, até rarear o trabalho que me agradasse. De qualquer forma seu romantismo dos anos iniciais pós-JG puseram no imaginário muitas canções que a gente pode não saber de cor, mas com certeza lembra assim que ouve os primeiros acordes. Uma coisa curiosa: detestei quando ele começou a homenagear mulher de óculos, gordinha e tal. Mas sabe que no show Mulher Pequena saiu muito legal, acompanhada do Caminhoneiro, igualmente tocante. É, Roberto sabe fazer as coisas... Isso de uma certa maneira redime uma falha grave de Roberto. Quando eu era garotinho, todo 28 de julho era aniversário de São Caetano, onde eu morava, e a Prefeitura promovia um grande show, como músicos, palhaços, aqualoucos, e sempre vinha um pessoal da JG. E todo ano esperávamos que RC aparecesse. Mas ele nunca veio, frustrando o sonho de toda uma cidade e de um menino fã em particular. Sem graça, meu pai se desculpava: deve ter outros compromissos, ano que vem ele vem. Chega o ano seguinte, e ele não vinha. Não chegava a chorar, porque ainda não tinha essa consciência de fã, que fui desenvolver só poucos anos depois com os Beatles. Mas ficava decepcionado, pois, como todo mundo, queria ver o Rei de perto. E isso agora se deu. Apesar de ficar na tal cadeira de visão parcial. Deu para ver o cara o tempo todo, mas de costas e com alguns praticáveis na frente, mas não muito longe, mas não posso dizer que não o vi de perto. E que o menino finalmente matou sua vontade. E se fartou. (As fotos eu preciso recuperar, pois minha máquina teve um acidente; se não conseguir, posto as de minha filha.)

domingo, 9 de agosto de 2009

Samba na pick-up, DJ

Na sexta-feira, 07/08, vi o show de Germano Mathias (esq.), sambista paulista, cantando o repertório de Gordurinha (dir.), compositor baiano batizado Waldeck Artur de Macedo, radicado no Rio, onde atuou em diversas rádios. Ele é o autor de pelo menos três músicas razoavelmente conhecidas: Súplica Cearense, Chiclete com Banana e Vendedor de Caranguejo - estas duas últimas gravadas por Gilberto Gil e a primeira por Luiz Gonzaga e agora também na voz de O Rappa. Foi um show muito engraçado, o Germano tem essa característica de zoar com todo mundo e com ele mesmo, e a homenagem que ele faz a Gordurinha foi bastante oportuna. As músicas desse baiano morto há 40 anos são adequadas ao jeito malandro de cantar e de tirar um sarro do Germano. Estava acompanhado de uma quinteto bem competente, com percussão, violão, cavaquinho e sopro. Tirando as três músicas citadas, eu não conhecia nenhuma outra, mas a platéia - lotada, para minha surpresa - sabia muitas de cor. Isso me deixou muito animado, por ver que a memória ainda não está apagada.

No sábado, fui ver um espetáculo já bem diferente. Assisti ao show do BossaCucaNova, que estava comemorando 10 anos e lançando um DVD. O show teve participação de Kátia B, a atriz bailarina, compositora e cantora (segundo o folder) Kátia Bronstein, que mistura trip hop a bossa nova, além de sons judaicos e mantras. (No domingo a participação seria de Wilson Simoninha.) Já a proposta do BossaCucaNova é pegar canções da música popular brasileira, muito de bosssa nova, e dar-lhes um verniz contemporâneo, adicionando ritmos e sons eletrônicos que dão um resultado muito interessante. Gostei, pois levantou possibilidades que essas canções escondiam e que talvez, pelo purismo, não se enxergava. Claro que é um som afeito para as pistas, mas se a galera começar a dançar Tom Jobim e Carlos Lyra nas baladas, isso é muito bom.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

De cigarro em cigarro


Vai ser engraçado observar os pobres fumantes se amontoando nas calçadas para dar suas pitadas. A realidade a partir de hoje, 7, em São Paulo será esta. Proibição total de fumo em locais fechados - exceto a casa e o carro do cidadão e outros locais específicos. Eu concordo com essa determinação. E não é por ser ex-fumante. É por entender mesmo que quem não fuma tem todo o direito de não ficar exposto à fumaça de outros. Quando eu fumava, era possível dar as tragadas em praticamente todos os lugares, menos em ônibus, cinemas e teatros. A primeira redação de jornal em que trabalhei, no Estadão, tinha muitos fumantes, e a névoa que se formava era densa o suficiente para se tocar com as mãos. Aí em seguida começaram a criar os fumódromos. Para mim foi bom, pois foi o incômodo de ir a esse local, enquanto o serviço ia acumulando, que me levou a largar o vício. Tomara que muitos façam o mesmo ao perceber o chato que é ir até sabe-se lá onde para fazer algo que, em princípio, deveria dar prazer. A partir do momento que se percebe o transtorno que é, deixa de ser prazeroso, e se percebe que não passa de um vício, e dos mais agressivos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pura emoção



A voz que me emocionou fez novamente meus sentimentos estremecerem. Monica Salmaso, desta vez acompanhada do quinteto de clarinetistas Sujeito a Guincho, apresentou-se no Sesc Vila Mariana, onde a vi sexta-feira 31 de julho. Conheci essa cantora de voz singular acompanhada do grupo Pau Brasil, cantando músicas do Chico, que gerou o CD Noites de Gala, Samba na Rua. (Obs. Conforme esclarecimentos de meu colega Eduardo, foi o disco que gerou o show, e não o contrário, como escrevi. Valeu, Edu.) Disco esse que comprei agora nesse novo show e que me fez relembrar as emoções daquela noite, especialmente com sua interpretação de Beatriz, maravilhosa. Nesse show com o Sujeito a Guincho, o repertório foi mais diversificado, indo de Gordurinha a Brahms, de Ataulfo Alves a Hermeto Paschoal. E os arranjos de clarinete são a coisa mais surpreendente que vi nos últimos tempos. Nunca imaginei que pudesse haver. E a voz de Monica sobre esses instrumentos de som tão doce forma um conjunto que, como disse, não dá para não emocionar. Fora isso, o grupo tem um bom humor que torna a apresentação mais espetacular ainda. Eles brincam com os instrumentos, improvisam, desmontam os clarinetes, criam sons, onomatopéias, enfim, tornam a apresentação uma aventura ao mesmo tempo rica em sonoridade e em aprendizado, coisa que é muito importante em um povo que é tão musical. O importante nesse show - além de todas as outras importâncias - é que cantora e instrumentistas estão ali para reverenciar a boa música, a arte maior; não se percebe neles um ranço de busca por "espaço" que se vê em tantas caras novas espalhadas pela cena atual. Eles querem fazer boa música, e querem fazer o seu melhor. E os beneficiados somos nós, ouvintes, extasiados com o que podemos chamar sem medo de nos equivocar de perfeição.