O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A vida como ela é

Woody Allen é engraçado. Sabe fazer filmes engraçados mesmo tratando de temas sérios e delicados. Neste Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos, não lida com nenhum grande tema caro à humanidade, apenas com dramas comuns da atualidade como a busca da felicidade, a expectativa, a frustração, as decepções, os relacionamentos complicados, a recusa em envelhecer, as ilusões (que às vezes são melhores que os remédios, diz em certo momento).

É um emaranhado de situações que vão se costurando para resultar na dissolução de duas famílias e as tentativas de se construir outras mais felizes. No final, a impressão que se tem é a de que não há uma ideia central, um fio condutor, reforçada pela frase de MacBeth (Shakespeare) que o narrador fala no começo ("A vida é cheia de som e fúria e no final não significa nada").

Acho que é isso. Muito barulho por nada. Nenhuma lição de moral, nenhum julgamento. As pessoas cometem as maiores atrocidades morais e não há punição, a não ser as próprias da vida. No fundo todos só querem ser felizes. E alguns conseguem.

É a história de dois casais ingleses, vividos por Anthony Hopkins e Gemma Jones, e a filha e genro deles, por Naomi Watts e Josh Brolin. Hopkins deixa a mulher após 40 anos de casamento ao não admitir que esteja envelhecendo e parte em busca da juventude, malhando, andando de carro esportivo e ao final se envolvendo com uma ex-prostituta (Lucy Punch, mais nova que sua filha).

A mulher (Jones), inconformada com a separação, passa a se consultar com uma vidente (Pauline Collins) pra lá de charlatã, que lhe dá em troca de seus honorários vários chavões, como o que dá título ao filme. Ela ainda reclama do genro (Brolin), um ex-médico que aventurou-se pela literatura mas não emplacou mais nenhum sucesso depois do primeiro, e vive (às suas custas) esperando pelo telefonema de uma editora que o queira publicar.

Watts obviamente não se conforma com a inatividade do marido e vai à luta, empregando-se em uma galeria de arte de Antonio Banderas, por quem irá alimentar depois uma paixão não correspondida.

Enquanto a mãe vive repetindo as "previsões" da cartomante, crendo piamente em suas realizações, Brolin vai se envolvendo com uma vizinha, que só se veste de vermelho (por que será?), vivida por Freida Pinto.

E assim a história segue, com desfechos que às vezes surpreendem (como o de Jones), às vezes enervam (como o de Brolin). Ou seja, não há linearidade, não há maniqueísmo. É a vida como ela é, sem retoques, e pintada em um tom sépia e com uma trilha jazzística que tornam o filme muito belo, com grandes interpretações e a gente sai do cinema com a sensação de que a vida, ao contrário do bardo inglês, tem, sim, algum sentido. O que damos a ela.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma graça de cantora

Vanessa da Mata é uma graça, não consigo achar adjetivo mais apropriado. Poderia dizer que ela é talentosa, excelente cantora, linda, simpática, mas esses servem a qualquer uma. Vanessa, em minha opinião, tem graciosidade, que faz com que todos os outros predicados orbitem em torno desse que elegi como meu preferido.

No show que ela apresentou em São Paulo esse fim de semana (10 e 11 de dezembro), no condenável Citibank Hall, demonstrou uma performance que me fez chegar a essa conclusão. Baseado em seu último CD, Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias, o show foi um primor para mexer com os sentidos.

Com um longo branco todo cheio de babados (não sei se o nome é esse mesmo), com uma flor da mesma cor nos belos e incríveis cabelos, a mato-grossense de voz forte e aveludada iniciou o espetáculo sentada em um praticável, à esquerda do palco, cantando As Palavras, do disco novo, composição sua, em que fala para o amado tomar cuidado com o que diz, porque as palavras, afinal, ferem ("escolha os versos para ser meu bem / e não ser meu mal / reabilite o meu coração").

Em seguida se levanta e vai de O Tal Casal, também dela e do novo CD, falando de uma reconciliação ("voltávamos a ser então o tal casal / apaixonado, apaixonado"). Ela fala de amor de uma maneira muito doce, sem ranços, não se atém a dores de cotovelo e perdas irreparáveis. Canta o amor vivido, puro, bem adequado a sua figura - esguia, mas de um romantismo latente.

Mesmo em uma canção que fala de rompimento, como , dela e de Lokua Kanza, ela coloca um traço de generosidade que a faz uma grande mulher, apesar da firmeza da decisão ("vá se descobrir / vá crescer / entender e saber").

Ela cantou várias outras canções do disco novo - que não me canso de ouvir - e outras mais antigas, como os hits Amado, Vermelho, Boa Sorte, Ai, ai, ai. E ainda uma de Roberto, que, infelizmente não me lembro o nome, revivendo o primeiro CD, quando cantou Nossa Canção, de Luiz Ayrão, mas sucesso na voz do Rei.

A nota negativa fica por conta da casa, que eu detesto, pela péssima mania de juntar o máximo de gente no espaço disponível, o que faz com que fiquemos todos espremidos, e pela plateia sem noção que insiste em fazer pedidos aos garçons no decorrer do espetáculo, atrapalhando a boa audição e visibilidade do show. Fora isso, um show belíssimo de uma artista de quem eu gosto muito.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Imagina, 30 anos sem Lennon

Ontem, 8/12, completaram-se 30 anos que um maluco de nome Mark Chapman, sem motivo aparente, disparou quatro vezes contra o ex-beatle John Lennon, que contava com meros 40 anos e um currículo respeitoso na área musical e comportamental.

Morria uma lenda, um músico que formou simplesmente o mais influente grupo de rock de todos os tempos, ultrapassando inclusive as fronteiras do rock.

Como muitos, eu me lembro muito bem o que estava fazendo e onde estava quando soube da notícia. Ouvi em casa e corri para a rua.

Encontrei Cristina na frente da igreja do bairro e ficamos a falar sobre o que acontecera. O mundo era outro, sem internet, Google, orkut, ainda nos informávamos pelos meios tradicionais: rádio, TV, jornal.

Não me lembro em qual desses veículos soube da notícia. Mas me lembro dos noticiários noturnos da TV, mostrando o choque mundial que tinha sido sua morte. Os rádios tocavam sem parar músicas antigas dele e do disco recém-lançado, Double Fantasy, como (Just Like ) Starting Over, Woman, Beautiful Boy, Watching the Wheels - minhas preferidas.

Esse álbum era seu primeiro desde 1975, quando se deu um tempo para curtir o filho que tivera com Yoko, Sean (hoje um músico que adora os Mutantes, rs), tentando reparar o erro que cometeu com o primeiro filho, Julian, com Cynthia, que praticamente não viu crescer dada a febril rotina de superstar.

Foi um momento de grande tristeza, como se tivesse perdido um ente querido, sentimento compartilhado por milhões mundo afora, tenho certeza. Acabava-se, ali, a esperança de os Beatles tocarem juntos novamente, desejo alimentado nos últimos dez anos, desde a separação do grupo.

Eu aprendi a gostar dos Beatles exatamente no ano que eles se separaram. Claro que quando pequeno ouvia as músicas, principalmente pelos serviços de alto-falantes dos parques de diversão, e pelo rádio que minha mãe mantinha o tempo todo ligado enquanto cuidava dos afazeres domésticos. Mas em 1970 tive um contato maior, quando meu pai comprou uma loja que vendia discos.

Na época, começaram a sair os compactos simples de cada um deles, todos com a maçã verde no selo Apple, o que me fez identificar de pronto que se tratavam de singles dos ex-integrantes do grupo. Eram eles Mother, de Lennon; Another Day, de McCartney; My Sweet Lord, de Harrison; e Photograph, de Starr (ou It Don't Come Easy, não me lembro muito bem).

O disco Abbey Road, o último deles a ser gravado (mas lançado antes de Let It Be, gravado antes mas lançado depois), me impressionou muito. Primeiro pela capa, aqueles quatro cabeludos atravessando uma faixa de pedrestes da rua que dá nome ao álbum. Desde então quis ter cabelos compridos, o que fiz por vários anos.

Depois as músicas, belíssimas, surpreendentes, diferentes de tudo que eu ouvira, a começar por Come Together, com aquele som surdo no início, cantada por Lennon. Impacto semelhante eu teria ao ouvir Sgt. Pepper's e por aí vai. Incrível a genialidade da dupla Lennon & McCartney.

Poucos anos depois, saíram duas coletâneas, o álbum azul e o álbum vermelho, com as músicas que só tinham saído em compactos, quando então pude conhecer mais sobre a obra do quarteto. Na verdade, só passei a comprar os discos nos anos 90, quando completei a coleção.

E depois os póstumos Past Masters, Live at BBC e  os três volumes de Anthology, depois os DVDs e os shows de Paul. Enfim, contam-se aí 40 anos de admiração a essa grande banda, que, depois da morte de Lennon, ainda viria a perder, em 2001, o guitarrista George Harrison.

É estranho a gente ver um ídolo morrer. Não vivi a época em que foram-se embora Jimy Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin, Brian Jones, ( os 4 J do rock), mas imagino que o gosto que a geração deles sentiu foi a mesma que a minha, uma sensação de amargor, como se o mundo deixasse um pouco de ser colorido.

P.S: Olha que coincidência, meu post anterior foi sobre Paul McCartney, e agora John Lennon. Mas, como dizem, nada é por acaso, não é?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Obrigado, paulistas

Foram duas horas de deslocamento no trânsito caótico da cidade, mais de uma hora de espera em uma fila quilométrica, uma hora e quarenta de demora para o início do show, tudo isso sob uma chuva inclemente que, por sorte, deu trégua durante o espetáculo. Mas a epopeia valeu.

O show de Paul McCartney, nesta segunda-feira, 22/11, foi demais. Irretocável. Perfeito é a palavra.

Foi logo atacando de Magical Mystery Tour, do disco de mesmo nome, na fase psicodélica dos Beatles. O público veio abaixo. Marmanjos berrando a plenos pulmões. Garotos que nem eram projetos quando o quarteto se extinguiu estavam em profusão igualmente fascinados pelo artista.

Em seguida veio Jet, já da carreira solo, com o Wings. Delícia de música. Rocão. Aí vem All My Loving, do LP "With The Beatles", de 63. Eu em êxtase, os 64 mil ouvintes em coro. Letting Go é a próxima, do disco solo "Venus and Mars".

Mais Beatles, com a acelerada Got to Get You Into My Life, do excelente "Revolver", um de meus favoritos. Vem depois Highway, que eu não conheço, de um projeto eletrônico dele, Fireman, disco "Electric Arguments", de 2007. Let Me Roll, do "Band On The Run", disco ótimo, mantém o pique.

 The Long And Winding Road, de "Let It Be", abaixa a bola, com Macca mantendo o arranjo de cordas de Phil Spector, odiado por muitos, aqui sendo executado nos teclados.

1985, também de "Band On The Run", reacende a galera, seguida de Let'em In, uma canção muito gostosa do mesmo disco. My Love, feita em homenagem à primeira mulher, Linda, é momento romântico. Ele diz, em português, que a fez para sua gatinha Linda. Simpático.

Mais Beatles: I'm Looking Through You, de "Rubber Soul", início da fase psicodélica dos Fab Four, com sua capa enigmática. Aí vem Two Of Us, de "Let It Be", dueto com John, executada com maestria e para me deixar de cabelos em pé.

Blackbird, só ao violão, divino, uma das canções mais lindas dele. Na sequência, Here Today, homenagem ao amigo John Lennon; Bluebird, também do Wings; Dance Tonight, de 2007; e Mrs. Vanderbilt, ótima balada também do "Band".

Volta aos Beatles, com Eleanor Rigby, de "Revolver", arrasador. Depois vem a homenagem a George Harrison, com Something, inicialmente no ukelelê, instrumento havaiano de quatro cordas, depois com a entrada da banda em alta performance, igual à execução no excelente DVD "Concert for George", em que seus amigos lhe prestam homenagem.

Depois Sing The Changes, também do projeto "Fireman"; Band On The Run, com suas três partes distintas, de levantar defunto. Aí vem Ob-la-di Ob-la-da, do "White Album", canção simpática com um pianinho delicioso e oportunidade para a galera entoar o coro.

Mais cacetada, agora com outra do "White", Back In The USSR. Depois vem outra de minhas favoritas do "Let It Be", I've Got a Feeling, em que Paul rasga a voz e, incrível para um homem de 68 anos, não arranha.

Paperback Writer, com solo maravilhoso de guitarra, single de 1966. A Day In The Life, do fenomenal "Sgt. Pepper's", é simplesmente uma das músicas mais sensacionais que conheço; ele a emenda com Give Peace a Chance, manifesto pacifista de Lennon.

Let It Be, do álbum homônimo, é a próxima, sempre uma audição inesgotável. Aí vem o momento bombástico, com Live And Let Die, trilha de filme do 007, com direito a explosão de fogo no palco e show pirotécnico. Catarse absoluta, arrebatador, só se viam faces maravilhadas, a minha inclusive.

Hey Jude foi outro momento para a plateia, enfeitiçada, fazer coro no na-na-na-na. Neste ponto, ele se despede de mentirinha, porque vem o bis com Beatles direto na veia, sem dó: Day Triper, Lady Madonna e Get Back.

Mais uma despedida de mentira e o segundo bis, começando com Yesterday, uma das canções mais regravadas do mundo; Helter Skelter, um rock totalmente fora do padrão beatle, novamente mostrando que os anos parece que não passaram para ele; Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band, a segunda parte, e The End, com riffs de espantar. Aí foi o fim mesmo.

Um show memorável, com um Paul simpaticíssimo, arrasando no português, cantando e tocando muito. Para ficar na memória para sempre. Obrigado, Paul.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Filme leve para um sábado modorrento

Neste sábado, 20/11, assistimos Red - Aposentados e Perigosos, de Robert Schwentke, para não perder a viagem, uma vez que a opção inicial era ver Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos, de Woody Allen, mas a sessão já estava lotada quando lá chegamos. É um filme baseado em uma história em quadrinhos de mesmo nome sobre um ex-agente da CIA que se vê de repente caçado sem saber por qual motivo. O agente aposentado é Bruce Willis, que convoca para ajudá-lo os ex-colegas Morgam Freeman e John Malkovich, aos quais se junta uma atendente do serviço de previdência social, Mary-Louise Parker, e depois uma espiã anciã, Helen Mirren. Willis é caçado por um agente, Karl Urban, que não sabe por que está atrás dele. A trama é meio confusa, como em todos filmes do gênero que já assisti, mas é diversão boa, com muito tiro, muito suspense, perseguição, armadilhas, revelações surpreendentes e até humor, principalmente a cargo do sempre irretocável Malkovich. Após sofrer um atentado em casa, Willis vai atrás de saber por que motivo o perseguem e descobre que se tratam de ex-colegas seus de CIA, em uma operação tipicamente de queima de arquivo. O Red do título é a sigla para Retired Extremely Dangerous - ou aposentado extremamente perigoso, que é como o ex-agente interpretado por Willis é nomeado em seu dossiê. O desfecho não chega a ser surpreendente e o filme não passa mesmo de mera diversão, algo leve para um fim de semana de sol modorrento como foi este.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Em busca da felicidade

Assisti ao novo filme do Arnaldo Jabor, A Suprema Felicidade, seu oitavo longa-metragem após quase 25 anos de ausência na direção. É um filme nostálgico, que relembra um Rio que não existe mais - aliás, bela reconstituição cênica - e emoções que ainda persistem. Eu não posso dizer que gostei, mas também não digo que detestei. Digamos que tolerei, principalmente pela excepcional atuação do grande Marco Nannini, sem falar de Emiliano Queiroz e o sempre bom João Miguel. Devo destacar ainda Elke Maravilha, com uma interpretação correta e longe da fanfarronice que a acompanha.

Meu senão ao filme é pelo fato de ele não dizer bem a que veio, eu realmente não consegui detectar qual a mensagem que Jabor quis passar. Seria a de que a felicidade não existe, o que corresponderia ao seu conhecido sarcasmo? Porque o título não se justifica nas cenas, protagonizadas pelo menino Paulo, apontado em três fases de sua vida: menino de 8 anos, adolescente e aos 19 anos. Por meio de sua vida, vão desfilando os demais personagens: seus pais, seus avós, amigos, padres do colégio, prostitutas...

O mote é a busca da felicidade, mas são poucos os momentos em que ela se manifesta. Creio eu que a ideia é esta mesma, a de que a felicidade, seja suprema ou não, é uma ilusão, como o carnaval que irrompe sem muita explicação. Aliás, essa cena remete também à nostalgia, de um tempo em que o carnaval era essencialmente na rua, coisa que os blocos de hoje parecem querer reviver. Mostra ainda uma Lapa romântica, com Noel Rosa dando o tom, cabarés feéricos e ruas azuladas habitadas por seres há muito extintos, como o comprador de jornais e revistas velhas (será que existiram?) e o pipoqueiro desbocado.

Um filme, sim, bonito, com lindas imagens desse Rio dos anos 40 a 60, mas a sensação ao sair da sala é a de que alguma coisa não está bem  explicada. E que o longa foi longo demais.

Simplesmente Beth - Na sexta, 12, fui ver Simplesmente eu, Clarice Lispector, peça escrita, interpretada e dirigida por Beth Goulart, simplesmente esplêndida em sua atuação, com uma caracterização leve e muita força dramática.

O texto baseia-se em obras, entrevistas, correspondências e depoimentos da escritora e traz suas reflexões sobre os mais variados assuntos, com palavras fortes, que causam bastante impacto. Eu nunca li nada dela, apenas vi o filme A Hora da Estrela, que me causou grande impacto (vi também uma montagem teatral dela), mas o espetáculo incita a vontade de mergulhar em sua obra, objetivo confessado por Beth - o de fazer as pessoas lerem, e não apenas livros de Clarice.

A peça tem uma carpintaria engenhosa, apesar do cenário espartano, mas com forte trabalho de luzes e sonoplastia, além de efeitos visuais em um telão. Beth interpreta a escritora e alguns dos personagens de seus livros e demonstra segurança de arrepiar na interpretação. A força está mesmo no texto, que mostra uma mulher questionadora e que busca o conhecimento e o autoconhecimento e, quem sabe, a felicidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cinco vezes Brasil

Fui nesta segunda-feira, 08, assistir ao filme Cinco Vezes Favela - Agora Por Nós Mesmos, composto de cinco episódos dirigidos por vários integrantes de comunidades no Rio de Janeiro, que participaram de oficinas ministradas por grandes diretores do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Daniel Filho, Walter Salles, Fernando Meirelles, João Moreira Salles e outros. O filme, coordenado por Cacá Diegues e sua mulher Renata Magalhães, retoma a ideia de montagem de mesmo nome produzida em 1962 a partir de concepção de Cacá e Leon Hirszman, entre outros, e também com vários diretores, co-produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE. O filme, muito bom, por sinal, busca retratar o dia a dia nas favelas - hoje chamadas de comunidades - e os conflitos ali estabelecidos, principalmente entre os moradores, os traficantes e a polícia. Apesar de o tema estar presente em outras produções recentes, como Cidade de Deus, Tropa de Choque 1 e 2 e Era Uma Vez, este tem a diferença de ser realizado e encenado por moradores dessas comunidades (apesar de contar com atores profissionais também), mostrando seu olhar sobre a situação que vivem, de forma que o distanciamento crítico que o cinema se impõe às vezes neste fica prejudicado, uma vez que a abordagem é mais instrínseca. O interessante é que o maniqueísmo é deixado de lado e a realidade nua e crua é exposta sem grandes arroubos sociológicos, sem muita explicação. E o filme não aborda apenas a questão do tráfico e a violência policial, mostra a vida desse pessoal de uma maneira, se não romantizada, de forma realista e com alguma carga de poesia. Fonte de renda, dirigido por Manaira Carneiro, aborda a situação de um jovem que conseguiu passar no vestibular de Direito e, agora, precisa arcar com os gastos com livros, transporte e alimentação para realizar seu sonho. As dificuldades acabam por fazê-lo envolver-se com o tráfico. O episódio, longe de justificar o crime, expõe a tênue linha que separa essas duas realidades. Arroz com feijão, de Cacau Amaral e Rodrigo Felha, conta a história de um menino que quer dar de presente ao pai um frango no dia de seu aniversário, porque a família, às voltas com os gastos da construção de um quarto para ele, tem de comer apenas esse alimento, sem mais nada. O garoto sai, então, à luta de cinco reais para realizar seu desejo e encontra muita dificuldade para tal. E acaba cometendo um roubo, do qual se reabilita no final, mostrando que a ética e a honra não são uma questão de condição social. Concerto para violino, de Luciano Vidigal, retrata a amizade de três crianças que, ao crescer, tomam caminhos diferentes. Quando pequenos, os dois meninos e a menina fazem pacto de eterna amizade. Adultos, um cai no tráfico, a garota estuda violino e se prepara para uma bolsa de estudos na Europa e o terceiro se torna policial. A vida os faz reencontrarem-se em uma situação limite que terminará em um tragédia. É o mais denso de todos, em minha opinião. Deixa voar, de Cadu Barcellos, tem como pano de fundo a rixa entre facções nas favelas, mas sem se aprofundar. Coloca mais a questão da coragem em contraste com o medo e a superação dos percalços em nome da realização de um objetivo. Um rapaz deixa voar a pipa de um amigo, que vai cair na comunidade vizinha, onde os que moram do lado de cá não vão, e vice versa - cada lado acreditando que a incursão no outro lado é arriscado. Acontece que o amigo exige que ele vá buscar o brinquedo. Acende a luz, de Luciana Bezerra, é o único que não aborda nenhuma espécie de crime, mas lida com o medo que se tem de entrar em uma comunidade dessas. A falta de luz em uma comunidade na véspera do Natal leva funcionários da companhia de eletricidade ao local para o conserto. Uma primeira equipe vai embora sem resolver o problema de uma parte mais distante e de difícil acesso. Vem então outra equipe e um dos técnicos sobe ao local. Lá, a comunidade cai matando, exigindo que ele faça o serviço. Acontece que falta uma peça, e o colega que ficou no carro vai embora. O funcionário é feito refém ali até fazer a luz voltar. O interessante é ver os moradores rirem do medo do coitado, que imagina que está em um covil de traficantes. Enfim, é um filme de forte conteúdo social e que tem o grande mérito de lançar um olhar despretensioso sobre uma realidade que não é de toda conhecida.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abaixo o preconceito

Circulou no Twitter e no Facebook logo após a vitória de Dilma posts de uma estudante de Direito chamada Mayara Petruso com ofensas ao povo nordestino, por causa da expressiva votação que a petista teve naquela região. É de lascar, viu. Na foto não dá para ver direito, mas quem se interessar pode visitar o blog de meu amigo Renato Rovai (http://www.blogdorovai.com.br/) que tem farto material, inclusive um vídeo com a "repercussão" dessa iniciativa ridícula.

Ela sugere, entre outras coisas, que se mate um nordestino afogado em favor de São Paulo. Temerário. Esse país realmente tem coisas que mostram que de evoluído e desenvolvido tem muito pouco. Eu adoro o Nordeste, tenho muitos amigos de lá, meu avô era baiano, tinha tio pernambucano, já namorei com nordestinas, os avós de minha filha eram baianos, amo músicas de gente de lá e a contribuição desse povo ao progresso paulista e de todo o Brasil é imensurável. O preconceito e a xenofobia são realmente pragas difíceis de exterminar, precisa-se de anos de boa formação educacional e cultural e de civilidade, que ainda não começou a ser efetivada, nem sei se haverá. De toda forma, fica aqui meu protesto e, acrescento, não basta ela pedir desculpas. Precisa meter-lhe um belo processo para ela deixar de ser besta. E se não quer engolir a Dilma na presidência, que se mande dessa terra. Não vai fazer falta.

DOIS FILMES - Assisti nesse fim de semana a dois filmes da 34ª Mostra Internacional de cinema, que rola até amanhã, 4, em São Paulo. Sábado, 30, vi Uma Família, de Pernille Fischer Christensen, um filme dinamarquês sobre uma família dona de uma padaria há três gerações, os Rheinwalds. O enredo é em volta da filha, Ditte, uma galerista que recebe um convite irrecusável de trabalho em Nova York. Só que ela está grávida e um filho pode inviabilizar o trabalho, já que terá de viajar muito. Então ela e o namorado, Petter, resolvem interromper a gravidez. Quando ela está se preparando para viajar, seu pai, Rikard, descobre que tem câncer no cérebro. Ela decide então - sem consultar o namorado - desistir do emprego para ficar ao lado do pai. O filme trabalha bem as emoções que se irrompem em momentos como esse. O pai é casado em segundas núpcias e há um momento de conflito com essa mulher, mãe de dois filhos com Rikard, que tem, além de Ditte, outra filha do primeiro casamento. O pai, percebendo que seu fim está próximo, quer que a filha assuma a padaria, coisa que ela não quer, pois tem sua carreira. Enfim, um filme delicado, sobre um assunto delicado. Não tem grandes viradas de mesa, apenas lida com o assunto como é cotidiano.

No domingo, assisti a Quebradeiras, documentário brasileiro de Evaldo Mocarzel. Um filme denominado etno-poético sobre mulheres que extraem amêndoas de coco de babaçu na região do Bico do Papagaio, na fronteira entre Maranhão, Tocantins e Pará. Mostra o dia a dia delas, o trabalho de quebrar o coco na floresta de babaçu, as casas em que moram, as cantorias durante o trabalho e nas festas religiosas, os banhos de rio. Um filme quase sem homens e crianças, focado nas quebradeiras mesmo. O interessante do filme é que ele é rodado inteiro com a câmera parada. Assim, o diretor liga a câmera num tripé e a cena acontece no quadro focado por ela. Se a pessoa está caminhando na floresta, aparece ela chegando, indo e sumindo. Aí corta para outra cena. Tem enquadramentos bem inusitados, com muitos closes, detalhes... E não há nenhum diálogo, nem narração. Os únicos sons que se ouve são a música, muito bem elaborada (de Thiago Cury e Marcus Siqueira) e adequada, e as cantorias, como, por exemplo, as que as quebradeiras entoam quando vão ao trabalho, quando quebram o coco (colocam-no em uma machadinha e quebram com um pau) e nas cerimônias religiosas.

É um filme realmente poético, sobre uma realidade que é pouco conhecida. Vi que há uma organização, chamada de Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, que luta contra a tentativa, de empresas estrangeiras que compram terras no Maranhão, de explorar essa força de trabalho de forma quase escrava. Acredito que esse filme seja integrante desse movimento, apesar de em nenhum momento ele colocar a questão. Mas a forma como mostra o trabalho delas, de forma totalmente livre, dá a entender que qualquer interferência capitalista sobre ele só pode ser maléfico. Um belo filme.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

É Dilma

Dilma Vana Rousseff foi eleita presidenta do Brasil com 55.752.092 votos (apurados 99,99%), ou 56% do total, conforme as pesquisas indicaram nos últimos dias de campanha. Eu votei nela nos dois turnos, apesar de concordar com muitos de que se trata de uma pessoa "fabricada" pelo PT, mais precisamente pelo Lula. Considero a nova presidenta uma grande gerente, uma mulher de operação, não de articulação, tarefa que com certeza ela vai delegar a um ou mais ministros. Mas será uma tarefa tranquila, posto que contará com uma boa maioria em suas bases na Câmara e no Senado. Acredito que ela tem condições reais de administrar, conduziu os dois ministérios para os quais foi delegada pelo presidente Lula com eficiência e tem um  perfil administrativo, de fazer as coisas andarem, que ajudará muito. Estou esperançoso de que o País será bem conduzido.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os cinco de Balibó

Assisti neste sábado, 23, ao filme Balibó, de Robert Connolly, integrante da 34ª Mostra Internacional de cinema. O filme conta a história do assassinato de cinco jornalistas - dois britânicos, um neozelandês e dois australianos, a serviço de dois canais de TV australianos - que estavam em Balibó cobrindo o conflito entre as forças do Fretilin - movimento de independência do Timor Leste - e os militares da Indonésia, que logo em seguida invadiriam e dominariam o pequeno país por 25 anos. Com o desaparecimento dos jornalistas, o então ministro de Relações Exteriores e futuro presidente e prêmio Nobel da Paz José-Ramos Horta (Oscar Isaac) contata o jornalista australiano Roger East (Anthony LaPaglia) pedindo que ele investigue o que houve com os jornalistas e conte a história de seu país. Relutante em princípio, East acaba assumindo a tarefa e se envolve na história, indo até as últimas consequências, não apenas como repórter. É um filme impactante, forte, e que aborda uma questão que não é vista com frequência nos jornais.  Impressionou-me muito, porque, apesar de que, quando trabalhava no PT, dar sempre notícias sobre o Timor, não tinha noção do alcance do conflito. Os acontecimentos narrados expõem a crueldade das forças indonésias, longe de respeitar os preceitos da Convenção de Genebra. A morte dos jornalistas foi durante todo esse tempo atribuída pelos invasores como fruto do fogo cruzado entre o Fretilin e os militares, ou seja, morreram por culpa deles mesmo. Investigações posteriores trouxeram à luz a verdade: foram barbaramente assassinados, sem razão aparente. Claro, quando se trata de guerra não podem surpreender histórias como essa, mas o filme consegue levantar a questão para que não se banalizem os crimes de guerra, assim como não se pode banalizar nenhum tipo de violência. Foi um filme difícil de se ver, que duvido que entre em circuito comercial depois da mostra.

Paul, a maratona - Poxa, como tem gente com dinheiro neste país! Os shows do Paul McCartney, dias 7 de novembro em Porto Alegre e 21 e 22 em São Paulo, tiveram os ingressos esgotados praticamente no mesmo dia em que foram postos à venda na internet e nas bilheterias. Eu entrei no site do ingresso.com à 0h38 do dia 15 de outubro e, apesar de as vendas terem começado à meia-noite, já não havia mais bilhetes para a pista premium, que custava R$ 700! Tentei de manhã pelo telefone, e só caía a ligação em todas as tentativas. A compra no site era para quem possui cartões Visa e American Express, porque o Bradesco está patrocinando o evento. Então na segunda, 18, fui na porta do estádio do Pacaembu, onde estava havendo a venda geral. Mas havia uma fila que ia da praça Charles Miler à bilheteria do tobogã, mais de um quilômetro adiante, acho, pode até ser mais. Desisti, pois não podia perder horas de sono ali, e ouvi no rádio relatos de gente que estava na fila havia oito horas e nem estava perto do guichê. À noite, soube que haveria show também no dia 22 - até então era certo que haveria apresentação apenas no domingo. Fui correndo ao site e, surpresa, não tinha mais disponibilidade de pista premium, de R$ 700!! Como tem gente abonada nesse mundo, viu. Acabei optando pela pista comum, sujeito a ser espremido por hordas de fãs alucinados como eu. Bem, pelo menos estarei nessa terceira visita do Paul, já que, por sei lá que motivos, não me lembro mais, não fui na segunda. A primeira, claro, foi inesquecível. Confesso que Macca não é meu beatle preferido, antes dele vêm, nessa ordem, John Lennon e George Harrison, mas é um beatle, e é um cara muito eficiente, bom melodista e, bem, vai tocar muitas músicas dos Fab Four, o que me garante a diversão.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Anos de ouro do rádio

Estou me deliciando com a leitura de Minhas Duas Estrelas, de Pery Ribeiro e Ana Duarte, que comecei a ler neste feriado da Padroeira e dia das crianças.

O livro trata da vida de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, pais do autor, um cantor em quem nunca prestei muita atenção. Soube, pela leitura, o motivo: ele fez uma carreira mais internacional, morando dez anos em Miami.

Já sobre seus pais não sou totalmente ignorante, conhecendo um punhado de músicas de Herivelto e canções interpretadas pela Estrela Dalva, rainha do rádio de 1951. O que mais me está surpreendendo é conhecer a força do rádio nas décadas de 30 a 50. Como não havia TV no período, o rádio era mesmo o principal veículo de divulgação dos artistas e arregimentava multidões.

Claro que eu sabia disso, afinal estudei rádio na faculdade, mas esse relato do Pery e Ana, com pormenores de como funcionava essa indústria, é muito oportuno. Depois a TV veio ocupar esse papel, e é interessante observar como ela, de certa forma, copiou muito os sucessos do rádio. Novelas e programas humorísticos estão aí para comprovar. O livro de Ruy Castro sobre Carmem Miranda também é prolixo em retratar esse assunto, assim como o Café na Cama, de Marcos Rey, que li ainda adolescente e que me encantou.

Mas a história desse casal é por si só muito interessante. Abordada em minissérie recentemente na Globo, a vida de Herivelto e Dalva é destrinchada sem meias palavras pelo filho e sua esposa. Claro que ele aproveita para falar também de si, o que é inevitável.

Eu me lembro de que, quando bem pequeno, 5 ou 6 anos, minha mãe gostava de passar roupa na edícula de nossa casa com o rádio ligado. Membro do coral da igreja, onde meu pai era tocador de bombardino e escrevia as partituras da banda, minha mãe era fascinada por música e vivia com o rádio ligado. E essas músicas abundavam, e bem mais tarde, ao ouvi-las, me lembrava de conhecê-las do radinho da mãe.

Lendo o livro, agora, que traz várias letras das músicas que o Trio de Ouro (Nilo Chagas, Herivelto e Dalva, na foto) cantava, essas imagens me vêm  à lembrança, e fico chateado por não ter prestado atenção nelas antes, talvez por ser criado em um ambiente em que proliferaram outros estilos.

Revendo-as agora, não posso negar que são belíssimas canções, de gente do quilate, além de Herivelto, de Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Pixinguinha, Davi Nasser (um escroto como jornalista, mas letrista de respeito, apesar da campanha sórdida contra Dalva), e outros que até hoje são consagrados.

E as desavenças do casal, que se separou em um tempo em que isso era objeto de férreo preconceito, são muito tristes. É uma bela história mesmo, em um livro muito bem escrito e prazeroso de ler.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O céu e o inferno

Assisti a três filmes no cinema nessas últimas duas semanas. No sábado, 1, vi Nosso Lar, dirigido por Wagner de Assis, baseado em livro de Chico Xavier, pelo espírito de André Luiz, que é o personagem principal da fita. É um filme bonito, bem realizado, e, até onde me lembro, respeita o livro, que li há uns 20 anos. O trabalho, até onde eu possa perceber, não tem o objetivo de fazer cabeças, e aborda um tema que mais de uma novela da Globo já tratou. Se dissociarmos a história da doutrina espírita, podemos encarar a obra como fantasiosa, e nesse aspecto é muito bem feita. Eu gostei, sim, achei um bom trabalho e que até deixa na cabeça um certo questionamento sobre se isso é verídico. Nesta sexta, 8, fui assistir a Tropa de Elite 2, um filme bastante violento e que, no entanto, causou em mim menor impacto que o primeiro - talvez por já estar sabendo do que se tratava. Este entra na questão da corrupção no seio da polícia e da política e trata das milícias armadas que atemorizam as comunidades exigindo dinheiro em troca de proteção e achacando os traficantes para que possam agir em paz. Aborda também a imprensa, tanto a sensacionalista como a séria, aqui reproduzindo o caso Tim Lopes indiretamente. O Nascimento agora é coronel, comandante do Bope, e, por conta de divergências com a cúpula da polícia após rebelião no complexo Bangu 1, acaba em um cargo na Secretaria de Segurança, onde passa a combater a banda podre da corporação. Gostei do filme, apesar de não me surpreender tanto. Destaque para as atuações de Irandhir Santos, como um professor de história militante dos direitos humanos, que acaba enveredando pela política. Seu Jorge também tem ótima atuação, apesar de curta. Gostei ainda do André Mattos, o eterno Dom João VI da minissérie O Quinto dos Infernos, que vive um desses apresentadores metidos a porta-vozes da justiça, tipo Wagner Montes e Datena, que se enreda pelos meandros da política e da corrupção. No sábado, 9, assisti Comer Rezar Amar, de Ryan Murphy, com Julia Roberts, que faz uma escritora, Liz Gilbert, que, entediada com sua vida e sem rumo, resolve se divorciar e ganhar o mundo à busca de si mesma. Assim, na Itália ela se depara com a rica gastronomia (Comer), na Índia aprende os segredos da meditação (Rezar) e em Bali conhece um brasileiro (Javier Bardem, de Mar Adentro, entre outros - mas foi apenas esse que assisti), por quem se apaixona (Amar). Confesso que me cansei um pouco, achei o filme muito longo, mas é bom sim, com belas paisagens. Mas faltou, em minha opinião, um pouco de surpresas, ficou um tanto quanto previsível. Quanto às leituras, comecei na sexta a leitura de Os Ásperos Tempos, primeira parte da trilogia Os Subterrâneos da Liberdade, de Jorge Amado, que trata da ditadura Vargas nos anos 30 e a perseguição ao pessoal do antigo PCB. É um livro muito gostoso de ler, sem proselitismo. Será muito bom ler a respeito desse período que eu conheço bem pouco, porque dediquei muito de minhas leituras ao período do golpe de 64 e suas consequências. Leio ainda O Cão dos Baskervilles, de Conan Doyle, com as aventuras do detetive Sherlock Holmes e seu fiel assistente Dr. Watson.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O prazer da leitura

Ontem, 7, terminei de ler A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água, de Jorge Amado, que baixei. Na comparação com o filme assistido em maio e que comentei aqui, há a adição de algumas cenas e a colocação do personagem  principal como narrador do filme. No livro Quincas não cumpre esse papel, mas há nesse um conteúdo fantasioso, fazendo com que o morto fale, mexa os olhos e a cabeça e até fique de pé no barco e de lá se lance para o mar. No filme ainda há uma maior peregrinação pelas ruas de Salvador, quando no livro há apenas uma parada em um botequim antes de o quarteto de amigos carregando o morto ir até o cais, onde se deliciaria com uma moqueca no saveiro de um pescador. Mas na essência o filme é fiel ao texto do livro, por sinal muito bom, como todos os escritos de Jorge Amado. Aliás, desde Tocaia Grande não lia nada do baiano. E agora baixei os três volumes de Subterrâneos da Liberdade, em que ele relata os duros anos da ditadura Vargas e a luta do PCB. Com isso, fico deixando para trás o Economia em Contexto e o Felicidade Autêntica, mas logo os pego. Ainda continuo a ler O Cão dos Baskevilles, de Conan Doyle, que narra aventura de Sherlock Holmes e que também baixei. Li esse livro há muito tempo, ainda na época do colegial. Era sócio da Biblioteca Malba Tahan, em São Bernardo do Campo, e devorava livros de lá. De Sherlock Holmes li todos, pois havia lá a coleção. Eu lia muito quando adolescente, porque não tinha uma turma com quem passar as horas - até tinha, mas não era sempre que me aventura a sair com eles, apreciadores de atividades não muito lícitas. O certo é que lia bastante. Era sócio também do Círculo do Livro, e comprava várias publicações, a um preço honesto. Pena que o que eu lia não era assim de qualidade muito superior. Lia muito livros policiais, de espionagem e faroeste. Os clássicos só os lia por obrigação escolar, mas gostava muito do que era colocado para leitura e futuro trabalho. Jorge Amado eu gostava muito de ler, por causa da enormidade de palavrões, o que para um adolescente é coisa de muito valor. Mas o que me deixou perplexo, nesse particular, foram os livros de Plínio Marcos. O primeiro que li dele, lá pelos 17 anos, foi Querô, Uma Reportagem Maldita, sobre um menino, filho de uma prostituta, que perdeu a mãe assassinada e foi criado na zona, antes de ganhar as ruas e se tornar mais um dos moleques sem-teto que ainda hoje habitam as calçadas. Apesar de gostar do livro pelos palavrões, o texto me incutiu um tanto de consciência social. Alguns anos depois passei a assistir peças dele,  no Teatro São Pedro, após as quais havia um debate com o autor. Eram momentos de grande regozijo. Na época do grupo de teatro Tupi, cogitamos de convidá-lo a dar uma palestra a nós, mas ele não pôde vir por problemas de agenda. Cheguei a vê-lo na faculdade, vendendos seus livros. Li muito Plínio Marcos e acho que isso veio a despertar em mim a sede por justiça social que fui saciar nos anos 80 junto à comunidade da igreja de Vila Palmares, de onde saiu o Tupi. São recordações boas, não nostálgicas, que faço lembrar para não esquecer o que sou e manter em mente o objetivo de mudar algo aí, e não apenas pelo voto. Então, voltemos ao Amado. 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tiririca da silva

Estou indignado com o resultado das eleições. Segundo turno para presidente e vitória no primeiro do Alckmin não estavam no cenário que eu montei na cabeça. Claro, não vou ser avestruz e não considerar que essa finalização vinha sendo desenhada nas pesquisas. Mas achei mesmo que o Mercadante pudesse avançar mais um pouco e, somados os votos dos demais candidatos, poderia haver a decisão em 31 de outubro. O petista tinha condições de vencer, tinha que bater mais nos governos tucanos em São Paulo, e não ficar apenas criticando a aprovação automáticas das escolas. Além disso, aquela cara carrancuda não ajudava em nada. Achei legal, no horário eleitoral, ele por as promessas não cumpridas do tucano, mas não foi suficiente. Não vi na postura do Mercadante a de um petista da gema, aguerrido, convicto, argumentativo. Nos debates ele só reclamava que Alckmin não o fazia de interlocutor. Sei lá, acho que tinha condições de haver um segundo turno, mas, enfim, paciência. No caso de Dilma, além do que a imprensa chama de fator Marina, pesaram as denúncias dos últimos dias sobre a quebra de sigilos na Receita e o tráfico de influência na Casa Civil. Penso que o PT se embananou nisso, demitir algumas pessoas não foi o suficiente, acho que ficaram devendo uma explicação mais contundente. É isso que acontece quando o PT se vê envolvo em denúncias, fica todo atrapalhado e acusa o golpe. O resultado do Senado não me surpreendeu. Vi os programas de Aloysio e achei muito bons, o candidato bem articulado, apresentando propostas e com uma história, até onde se sabe, limpa. Eu até pensei em votar nele, porque não me apetecia escolher o Netinho. Para o Legislativo, surpreendeu-me os mais de 126 mil votos do Grana. Sabia que ele tinha condições de vencer, mas não esperava essa votação estupenda, o 20º mais votado no Estado e o quinto no partido. Quanto ao federal, para mim tanto faz, não o conheço e só votei por indicação. O curioso foi o clima. Pelo menos nos locais em que passei  e na escola em que votei, não vi aquela agitação que via em tempos outrora. Será que a fiscalização estava mais firme? Não sei, mas, por exemplo, antes de entrar no colégio, recebi apenas dois santinhos! Dois! Em outros tempos, era cercado por boqueiros ávidos para ganhar meu voto para o candidato deles. Acho que isso é falta de militância aguerrida, porque hoje, parece, esse pessoal vai trabalhar na eleição por dinheiro. Bem, foi mais uma eleição, foi legal, eu gosto de votar, acho que é uma forma de manifestação e de participação, mas não a melhor, claro, porque a política deveria ser um assunto cotidiano, com as pessoas realmente exigindo de seus eleitos a prestação de contas. E acho que isso é culpa também dos políticos. Falta essa classe arrumar um jeito de politizar a população, as secretarias de formação política dos partidos deveriam fazer mais do que formar quadros, deveriam ir à rua ajudar a dar educação política à população. Assim, Tiriricas não seriam surpresas a cada eleição.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Macca no Brasil; eu vou

Paul McCartney, o baixista e compositor dos Beatles, volta ao Brasil em novembro. Estão previstos dois shows, dias 21 e 22, no estádio do Morumbi. Eu vou. Não poderia deixar de ir, como quando ele esteve pela segunda vez e tocou em São Paulo e Curitiba e não fui. Estive no Maracanã em abril de 1990 e me esbaldei. Foi uma grande aventura ir a esse show. Pegamos - fui com amigos da revisão do Diário Popular - um ônibus na sexta à noite e de manhã chegávamos ao Rio. Demos uma volta por lá, almoçamos no Estácio e fomos para a frente do estádio esperar abrir os portões. Estava apinhado de gente. O povo ficou impaciente e começou a bater nos portões, querendo abri-los. Quando eles finalmente foram abertos, pareceu um estouro de boiada, quase fui pisoteado. Mas valeu a pena. Consegui chegar bem perto do palco e me deliciei. A cada canção dos Beatles que ele entoava eu ficava em êxtase. A sequência que ele fez do album Abbey Road foi de deixar qualquer um emocionado, e eu não fui exceção, Terminado o show, na madrugada de domingo, fomos de volta para casa, caminhando pela avenida, até que um taxista parou e pediu para entrarmos, porque era perigoso ficar caminhando naquele local àquela hora da noite. Não sei se era verdade ou esperteza dele para angariar clientes. O certo é que pegamos o táxi até a rodoviária. Depois das seis horas de viagem, fui trabalhar, pois era meu plantão no Dipo. Espero que desta vez não haja tamanho sacrifício. A se basear pela sua atual turnê, Up and Coming, serão executadas 36 músicas,  das quais 23 da era Beatle. Um deleite.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Leituras

O curso da Fipe miou, não sei por quê, mas não recebi nenhum comunicado para efetuar a matrícula. Penso que não conseguiram o número mínimo de participantes. Desta forma, resolvi estudar em casa enquanto não aparece outro curso do qual me interesse. Já li um livro de economia do Cláudio Securato, que foi meu professor no MBA que cursei na FIA, e iniciei a leitura do Economia em Contexto, de Peter Kennedy. É um livro difícil, mas estou dando conta - apenas os exercícios ainda não tentei resolver, mas porque fiz de início uma leitura rápida. Estou retomando as leituras, o que tem me deixado contente. Para espairecer um pouco, li uma série de livros de Darren Shan, chamado O Circo dos Horrores, sobre um menino meio vampiro. É literatura juvenil, mas é bom para passar o tempo e retomar o hábito da leitura. Achei na internet e baixei (trata-se de e-book). Também achei um site que tem a obra completa do Machado de Assis e já li o conto Missa do Galo, que achei muito bom. Aliás, Machado é irrepreensível. Li quase nada dele e pretendo reparar essa falta. Como se diz por aí, Machado é imprescindível para quem tem o escrever como ofício. Eu concordo. Só jornal que estou achando um saco ler, e isso é um grande erro, pois se trata de meu instrumento de trabalho. É que estou achando os jornais muito fracos, pobres de texto e de intenções, ainda mais agora nesse período eleitoral. Vai longe os tempos em que eu lia os jornais com gosto. Mas aos poucos estou readquirindo esse hábito. Fiquei muito tempo sem nada ler por questões de desânimo, mas já estou melhor e meu ânimo está bem superior ao de antes. Estou ainda nos estudos bíblicos, o que tem me agradado muito, se bem que é um estudo bem introdutório, pois a Bíblia é bem difícil de entender, mas é uma lacuna que quero preencher. Bem, este é meu estado atual, e estou gostando muito desse momento.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Inverno das paixões

Quadrilha, Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história


Esse poema de Drummond é citado nos comentários a respeito da peça Inverno da Luz Vermelha, dirigida por Mônica Gardenberg, e que assisti, junto de minha filha e Joana, no teatro Faap. Porque, à semelhança do poema, os personagens da peça de Adam Rapp experimentam as impossibilidades do amor. No texto, dois amigos, David (André Frateschi) e Matheus (Rafael Primot) estão em Amsterdã. O primeiro é um insensível bon vivant, enquanto o outro, roteirista de cinema,  amarga  uma desilusão amorosa (provocada pelo próprio amigo, sabe-se depois). Talvez para tentar amenizar um pouco a traição, David contrata a prostituta francesa Christine (Marjorie Estiano) para que o amigo se divirta. Acontece que Matheus não tem o menor jeito com as mulheres e prefere estabelecer um diálogo com a moça, que acaba tendo que tomar a iniciativa e resolver o assunto. Um ano depois, em São Paulo, a cena se passa no apartamento de Matheus, que recebe a visita de Christine (na verdade a paulista Ana). O rapaz desmaia quando vê a moça, por quem nutriu esse tempo todo uma paixão ao mesmo tempo platônica e fetichista, já que ficou com um casaco que ela esqueceu no apartamento deles na Holanda e transfere ao objeto a paixão pela prostituta. Ela veio no endereço atrás de David, que informou o do amigo quando ela pediu para enviar um CD. Esse pedido - do endereço - já antecipa que Christine/Ana envolveu-se com o cliente mais do que para um simples programa. De fato, na segunda parte vê-se a quadrilha: Matheus que amava Christine que amava David que não amava ninguém. O texto tem grande carga dramática, mas também bastante comicidade. E marca meu retorno às plateias teatrais, que não consigo me lembrar a data em que fui pela última vez. Fui na semana anterior ver o musical Zorro, mas saímos no meio da peça porque a Joana caiu e estava sentindo dores. Gosto muito de teatro, apesar da dificuldade de se encontrar boas peças por aí. Gosto de textos que trazem leveza à alma e fazem refletir. Esse Inverno provocou os dois efeitos, e a boa atuação dos atores, direção segura e cenário adequado, além de iluminação e trilha sonora de grande efeito, levam à conclusão de que se trata de um bom espetáculo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sinais de esperança

Acabei de ler Sinais de Esperança,  de Alejandro Bullón, uma obra adventista a mim dada pelo sobrinho de minha irmã (por parte do meu cunhado). É um livro que trata de provar que tudo o que vem acontecendo nos dias de hoje - intempéries, violência, problemas mentais, desamor - são sinais de que a vinda de Cristo está próxima. A cada capítulo ele termina com uma pergunta e a afirmação de que a resposta é somente sua. Claro, por tratar-se de uma obra ligada a uma igreja, é óbvio que a finalidade é evangelizadora. Não gostei do estilo, achei vagas as justificativas e não me responde a minha questão inicial: por que estamos aqui e por que temos que morrer - muitas vezes com sofrimento - para ter uma vida eterna de ventura. Por isso estou fazendo os estudos bíblicos com esse rapaz. Espero tê-las ou ao menos alguma luz em minhas dúvidas. Quem sabe a fé me leve a certo conforto com relação a isso. Vamos ver. Mas até o momento não decidi me converter, não é essa minha intenção. Acho as regras das igrejas meio castradoras.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Militância

Fui a um comício do PT sábado em Mauá. Fazia tempo não participava de um. Veio à lembrança, claro, meus tempos de militância, quando saía da faculdade e corria para o núcleo do partido de meu bairro, em Santo André, onde organizávamos a campanha. Isso foi em 1982, há muito tempo. Éramos, a maioria, estreantes na atividade política e muito românticos em nossa atuação. Nossos recursos eram escassos. Lembro que, para fazer santinhos, tínhamos uma espécie de carimbo com os  nomes dos candidatos. Carimbávamos folhas de papel e distribuíamos nas feiras e de casa em casa. Para pintar muros, a gente tinha o Hércules, rapaz de grande talento e excelente traço, que fazia cartazes e pinturas diferentes nos muros, todos com autorização dos donos. Lula concorria ao governo do Estado. Ficou em terceiro lugar, sendo eleito Franco Montoro, com Orestes Quércia de vice. Mas emplacamos o Fernando Galvanese como vereador, aliás, duas vezes, mas na segunda ele foi ser secretário de Saúde de Celso Daniel. Naquela eleição, o voto era vinculado, ou seja, o eleitor tinha que escolher todos os candidatos do mesmo partido, o que dificultava as coligações. Ainda não se votava para presidente nem para prefeito de capitais e outros municípios estratégicos. Ainda havia ditadura e a gente às vezes tinha que correr da polícia, porque atividades como panfletagem, pintura de muros, colagem de cartazes eras proibidas. Mesmo assim a gente dava um jeito, e fazíamos as atividades à noite. Por isso saía da faculdade e ia à luta. Fui a muitos outros comícios nessa minha militância. Mas este me surpreendeu pela qualidade do material. É, em 30 anos o partido cresceu, é governo há dois mandatos, governa inúmeras cidades e alguns Estados, e o dinheiro pelo jeito está farto. Um dos amigos da época da primeira campanha hoje é candidato a deputado estadual, o Carlos Grana, que, por uma dessas coisas do destino, fazia na peça A Invasão, que montamos com o grupo Tupi em 1981, o papel de um deputado, mas, na peça, um grande sacana aproveitador e corrupto. Grana não será como ele, sem dúvida. Foi bom ter ido ao comício, e até me dá vontade de militar novamente, entregar panfleto, falar com as pessoas. Vamos ver se me animo a fazer isso.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De volta à carteira escolar

Resolvi voltar a estudar. Na verdade, essa decisão não é de agora. Tentei três vezes ser aceito como aluno especial no mestrado da USP, mas não consegui. Agora, me matriculei no curso O Pensamento Econômico: Conceitos e Evolução Histórica, na Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), ligada à Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da mesma USP; é um curso rápido, de duas semanas, mas servirá para um melhor embasamento intelectual que me permitirá elaborar um bom projeto para nova tentativa no mestrado. Tenho interesse no jornalismo econômico, a base do noticiário onde trabalho. Estou motivado a fazer o mestrado, porque quero futuramente ingressar em uma carreira acadêmica, e acho que vou gostar e me dar  bem nessa atividade.

O jornalão deu hoje em manchete que o Serra acusou o PT de tentar intimidar e manipular a imprensa. Referia-se a seminários organizados pelo partido sobre comunicação e direitos humanos e por pontos inseridos no programa de Dilma que depois foram retirados, além de um projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo. A falação do candidato tucano foi feita em evento da Associação Nacional de Jornais. Não entendo por que isso deu manchete. Quer dizer, entendo perfeitamente. Mas me causa entranheza, pois a petista também estava no evento e não foi dada uma linha à sua participação. Claro, ouviram-na a respeito das falas do Serra. Entendo que, por tratar-se de algo que, em seu entender, o partido almeja, ou seja, o controle dos meios de comunicação, mas não exerce nem tem-se notícias de que queira implementar não valeria manchete. Até porque ele não falou nada de novo, esse assunto vem sendo explorado pela imprensa há meses. Então. por que tanto destaque? Para piorar o jornalão deu em  um quadro na mesma matéria que está sob censura há 300 e tantos dias. Quem não está ao par do assunto pode fazer a associação e imaginar que o governo censura o jornalão. Lamentável.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Fim de semana tranquilo

Não fui ao Rio nem assisti a A Origem. Fui ao cinema, em São Paulo mesmo, mas vi Reflexões de Um Liquidificador, de André Klotzel, diretor do ótimo A Marvada Carne. Reflexões é um filme policial com tons de humor negro, em que o eletrodoméstico cria vida e passa a dialogar com a dona de casa Elvira, papel de Ana Lúcia Torre. A voz do liquidificador é de Selton Mello, que tece reflexões, como diz o título, a respeito da vida e dos homens e, apesar do absurdo, torna-se confidente da dona da casa, que o chama de caco velho, por ser um liquidificador bem antigo. Logo de cara reparei que minha mãe teve um daquele, há muito tempo. O filme é muito bom, se bem que meio arrastado às vezes. Antes, teve um curta sobre um repentista chamado Divino, que proclama seus versos velozmente e nem dá para entender tudo o que ele fala. O filme é o seguinte. Elvira vai na polícia dar queixa do desaparecimento do marido Onofre (Germano Haiut). Ela sai de lá como principal suspeita, sendo perseguida pelo investigador Fuinha (Aramis Trindade). O filme então se desenrola nas reflexões do liquidificador, seus diálogos com Elvira, a visita da vizinha (Fabiula Nascimento, de Estômago, e na investidas de Fuinha, crente de que ela assassinou o marido. Depois da ida à delegacia, o filme faz um flash back para mostrar os antecedentes do desaparecimento. O liquidificador, que seria vendido pelo marido, escapa da troca de lar e comete uma inconfidência: conta que viu o mar e, aí, nasce a dúvida na cabeça de Elvira, que estava estranhando o excesso de horas extras diurnas do marido vigia noturno. Ela descobre, então, que Onofre tem uma amante, a Gorete Milagres (aquela atriz que fazia Oh Coitado na televisão, no papel de uma empregada doméstica). O desfecho é surpreendente, mas não de todo imprevisível. É uma boa diversão, pena que está apenas em uma sala, no Espaço Unibanco da rua Augusta.

Falar em rua Augusta, este sábado resolvi fazer o que tinha resolvido: andar pela avenida Paulista. Desci do metrô na Brigadeiro e fui à Fnac, olhar livros. CDs e DVDs, um ótimo passatempo. Acabei não comprando nada, porque tenho muitos livros em casa sem  ler e quero pôr tudo em dia. Discos e filmes também não estou muito a fim de comprar não, apesar de ter me encantado por uma caixa com a série completa de O Poderoso Chefão, que eu gosto muito. Quem sabe um dia... Também me interessei por Meu Tempo É Agora, um documentário sobre o Paulinho da Viola, que não vi quando estava nos cinemas. Também posso resolver levar algum dia. Quanto a CDs, tirando a reedição dos Beatles, não vi nada que me interessasse.

Antes do cinema, desci até a lanchonete Estadão e comi uma ótima feijoada, nada melhor nesse frio que um prato bem gordo como esse. Estava uma delícia, tracei tudo, não sobrando nada. Fazia muito tempo que não comia no Estadão, que era onde fazia meu lanche quando trabalhava no Diário Popular, de 1989 a 1996. Depois do filme, fui para casa e passei o resto da noite embrulhado em edredon e vendo TV, tomando vinho e comendo queijos. No domingo, acordei tarde, às 14h. Fui depois para a casa de minha irmã mais velha, Vilma, e a acompanhei, junto com a mais nova, Sonia, à igreja adventista. Foi legal, é um ambiente onde a gente se sente muito bem e ouve uma pregação que faz refletir sobre as coisas da vida. Foi um fim de semana tranquilo, que faz com que a semana role na boa, é o que espero.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cotidiano, que chatice

Tive um péssimo dia de sono anteontem. Fui dormir às 10h, mas às 13h perdi o sono e fui para a sala ver TV. Vi até Malhação e depois dormi, só acordando às 20h para desligar o despertador do rádio-relógio e voltar a dormir. Aí acordei mais de meia-noite, atrasado para o trabalho. Me vesti e penteei de qualquer jeito e fui para a agência. Tive sono durante o trabalho. Ontem foi diferente. Dormi das 10h às 23h30, com algumas interrupções (celular, perda de sono), mas passei a noite bem, com algum sono. Teve pizza pelo aniversário de Beto (explico, sempre que há aniversário de alguém da equipe, nos cotizamos e compramos pizza, é o pizzalelê).

Vocês viram: outro acidente com avião, desta vez um táxi aéreo que ia levar Xuxa para o Recife tem problemas e cai no mar perto do aeroporto Santos Dumont. Ainda bem que caiu na água, nenhum dos três ocupantes se feriu e a Xuxa não estava nele (ia ser pega no Galeão). É impressionante como tem havido acidentes de avião. Só este blog já relatou uns cinco, acho. É muito. Dá para ter medo de pegar um voo, mas eu por enquanto não estou com paranoia. Melhor. Mas fico com receio, sempre. Estou morando perto de Congonhas, e passa avião toda hora sobre minha cabeça. Fico sempre lembrando do acidente da TAM e de outros em plena cidade. A Globo está dando muita importância a essa queda do LearJet, talvez por ser o que ia transportar a Xuxa, ou então querem questionar a segurança do aeroporto.

Neste fim de semana devo ir assistir A Origem, que parece estar sendo muito bem recebido pela crítica. Vou porque meu terapeuta disse que vale a pena, tem uns questionamentos sobre a mente e sei lá, vamos ver. Depois conto como foi. Ou então vou ao Rio, onde terá chope com os leitores do blog Homem é Tudo Palhaço, de Roberta Carvalho, Ana Paula Mattos e Nara Franco, do Rio. As meninas escreveram um livro baseado no blog e estão bombando, já foram no Jô, na Ana Maria Braga e em várias publicações. Estão ficando conhecidas em nível nacional, o que me deixa feliz, porque elas merecem, o site é muito divertido. Sei lá, até o meio da tarde decido o que fazer,

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma noite em 67

O filme Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, que assisti neste sábado, tem a grata qualidade de trazer na íntegra a execução dos cinco primeiros colocados no Festival da Música Popular Brasileira, levado pela TV Record em 21 de outubro de 1967, além do destempero de Sérgio Ricardo, que arrebentou seu violão e o jogou para a plateia por não resistir às vaias ininterruptas que levou enquanto tentava defender sua canção. Eu vi essas apresentações inúmeras vezes desde o ano de sua aparição, mas nunca tinha visto todas em sua totalidade. O filme resgata essas apresentações, além de entrevistas da época e atuais. É muito interessante ver a sinceridade dos compositores e intérpretes ao puxar da memória o evento e até, em alguns casos, dar pouca importância a ele. As canções são, pela ordem crescente de classificação, Maria Carnaval e Cinzas, de Luiz Carlos Paraná, defendida por Roberto Carlos; Roda Viva, de Chico Buarque, com ele e MPB4; Alegria Alegria, de Caetano Veloso, por ele mesmo e Beat Boys; Domingo no Parque, de e com Gilberto Gil e Mutantes; e Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, com Edu e Maria Medalha. Eu li muito sobre os festivais, e o filme veio adicionar, além das exibições na íntegra, os depoimentos de seus principais participantes que de certa forma tentam desmistificar a importância daquilo. Caramba: os festivais foram, em certa medida, uma tomada de posição, um grito em um tempo em que a ditadura estava brava, e viria a engrossar ainda mais menos de um ano depois. Havia canções ingênuas, sim, havia, mas ali certas posturas eram um claro confronto ao regime, mesmo que não fosse essa a intenção. Mas eu cresci considerando os festivais - e este em particular ficou mais explícito - uma baforada de oxigênio novo sobre o que existia, um divisor de águas, e isso se percebe na richa que houve entre os defensores de uma MPB pura (sem guitarras, ou seja, anti-ianque) e os que buscavam novas linguagens, uma reformulação na música brasileira, com a aglutinação do que havia lá fora e o nascimento de uma coisa diferente - o que o Tropicalismo, que ali nasceu, faria depois. De qualquer forma estava tudo ali. Eu gosto muito de Roda Viva, acho uma obra-prima do Chico, mas ganhou Ponteio, que não deixa de ser uma bela canção. É um excelente documentário que com certeza eu pretendo ter quando sair em DVD.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Despejo na favela

Hoje comemora-se o centenário de nascimento de Adoniram Barbosa, nome artístico de João Rubinato, que nasceu em Valinhos (SP) e morreu em 23 de novembro de 1982 em São Paulo. Tenho uma história singela com esse grande compositor e cronista da cidade de São Paulo. Em 1982, quando montamos a peça A Invasão, de Dias Gomes, precisávamos de uma música para tocar em um dos momentos chave da obra. Joãozinho sugeriu Súplica Cearense, mas não conseguimos encontrar o disco (naquele tempo o mp3 era coisa de filme futurista). Então o Tim, do grupo Forja (grupo de teatro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema), veio com Despejo na Favela, de Adoniram. Fui atrás e encontrei um LP homenagem, e a música era interpretada por ele e por Gonzaguinha (um de nossos ícones, qualquer dia falo do show que ele fez em São Bernardo contratado pela Associação de Compras Comunitárias do ABC). A canção ilustrou as cenas finais da peça, quando os invasores de um prédio do governo são expulsos pela polícia. Ela serviu direitinho. Melhor reproduzir a letra do que escrever qualquer coisa. Só digo que, se já gostava dele, fiquei mais vidrado depois de ouvir todas aquelas canções tão simples e tão complexas. Adoniram foi um grande poeta dos desvalidos, do amor puro, do cotidiano. Vai a letra:
Quando o oficial de Justiça chegou
Lá na favela
E contra o seu desejo
Entregou pra seu Narciso
Um aviso, uma ordem de despejo
Assinada "Seu Doutor"
Assim dizia a petição:
"Dentro de dez dias quero a favela vazia
E os barracos todos no chão"
É uma ordem superior
ô, ô, ô, ô, meu senhor
É uma ordem superior
Não tem nada não, seu doutor
Não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não
Vou sair daqui
Pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema
Em qualquer canto eu me arrume
De qualquer jeito eu me ajeito
Depois, o que eu tenho é tão pouco
Minha mudança é tão pequena
Que cabe no bolso de trás
Mas essa gente aí
Como é que faz?
ô, ô, ô, ô, meu senhor
Essa gente aí
Como é que faz?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A inépcia do Inep

Erro dos mais grosseiros esse do vazamento dos dados de 12 milhões de estudantes que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos três anos. Minha filha prestou o exame, e não gosto de pensar que dados dela andaram por aí nas mãos de sabe-se lá quem. O aplicador do teste, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), admitiu que o sistema tem fragilidades, corroborando sua inépcia para tratar do certame, que já deu trabalho no começo do ano ao vazar o gabarito das provas. Realmente, a educação não é levada a sério neste País.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os garotos de Liverpool

Vi no cine Reserva Cultural, onde assisti a A Flor do Deserto (post abaixo), trailer do filme O Garoto de Liverpool, uma cinebiografia de John Lennon, com estreia prevista aqui em 1º de outubro. Vou assistir, com certeza, mesmo que não se revele um bom filme. Desde Os Cinco Rapazes de Liverpool (Backbeat, 1994) e Imagine (idem, 1988) não via no cinema algo sobre os Fab Four, minha banda preferida e ponto final. Os Cinco trata dos primeiros anos dos Beatles, ainda sem Ringo, com Pete Best na batera e Stu Stucliff no baixo, e para exatamente quando o grupo experimenta o primeiro sucesso. Imagine é um filme em homenagem a Lennon. Tem bastante cenas históricas, mas se concentra na carreira solo dele e se encerra, claro, com seu assassinato. Espero que esse novo filme seja mais completo e dê mais informações sobre a carreira da banda. Eu estava com 19 anos quando Mark Chapman matou Lennon, conversava com a amiga Cristina no saguão da igreja de meu bairro quando não me lembro quem falou da morte dele. Naquela época, apesar de gostar dos Beatles - uma paixão cultivada já na infância -, estava meio assim com a música estrangeira, influência do padre antiamericano, e não tinha nada de Beatles nem de nenhum de seus membros. Mas o rádio tocava toda hora músicas do disco Double Fantasy, último de Lennon e o primeiro após autorreclusão de cinco anos. Eu gostei muito das principais músicas do álbum, em especial de Woman e (Just Like) Starting Over. Anos depois fui ver Imagine, já com todos os discos da banda comprados. O filme é muito bom, um documentário bem interessante. Mas o melhor mesmo é The Complete Beatles, que achava o  máximo até conhecer Anthology, uma coleção de três CDs duplos e oito fitas de vídeo (depois seis DVDs) que passou na Globo e aos quais eu gravei - depois comprei os DVDs, claro. Ali está um material realmente inédito, mas não completo, porque sempre haverá algo mais a ser lançado. Minha relação com os Beatles é de idolatria pura, sem nenhum ranço de crítica. Ouços as músicas deles o tempo todo, comprei dois exemplares da nova edição de seus discos oficiais (acho que vou comprar todos, sei lá). Leio e vejo o que posso sobre e fui ao show do Paul McCartney no Maracanã em 1990. Não sou um beatlemaníaco fanático, portanto não faço loucuras, mas acho que gosto da banda pela qualidade de seu trabalho, pela musicalidade e pela beleza das melodias. Espero que o filme faça justiça à grande pessoa que foi Lennon.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Flor do Deserto

Assisti ao filme Flor do Deserto (Desert Flower), de Sherry Horman, baseado em livro da somali Waris Dirie, e sobre sua trajetória e luta. Muito bem interpretado pela atriz e modelo de origem etíope Liya Kebede, o filme comove ao mostrar a vida e depois a batalha de Waris contra a mutilação genital de meninas, um traço da cultura de seu povo. Nisso reside boa parte do diferencial da fita, que não se resume a, à la Hollywood, contar a trajetória de uma africana pobre que conseguiu vencer na vida,  tornando-se top model.

Não. O livro (eu não o li, mas presumo baseado no filme) ela escreveu para denunciar essa atrocidade cometida contra as meninas de seu país, quer por cultura ou por religião, e acabou tornando-se embaixadora honorária da ONU para essa causa. O filme é muito bom e joga luzes a essa questão que a gente só ouve falar de vez em quando e atribui à ignorância de certos povos.

Segundo informa o site da Fundação Waris Dirie, cerca de 150 milhões de meninas sofrem esta mutilação no mundo, em todos os continentes. O importante é que o filme traz essa realidade a nós em um material de grande qualidade. A intérprete de Waris adulta, Liya, tem uma atuação perfeita, em todos os aspectos, e guarda alguma semelhança da somali (foto).

É importante destacar que a questão da mutilação genital é levantada pela própria Waris, que, em entrevista à Marie Claire londrina, diz que cansou de contar a história da retirante que saiu do deserto para as passarelas e capas da principais revistas. Não, ela quer falar da circuncisão que sofrem as meninas em seu país e a história, segundo o filme, comove a editora da revista. Pena que o filme termine aí, sem explorar a luta dela contra tal hábito. Mas não compromete a obra, que leva à vontade de conhecer melhor Waris. Pena que o livro está esgotado.

P.S. A propósito do tema, causa indignação também o caso da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento em seu país por ter cometido adultério. O meio, além de absurdo, é cruel. As mulheres são enterradas até o busto e homens atiram pedras pequenas, para que ela não morra logo e tenha seu sofrimento prolongado. Os homens são enterrados até a cintura e ficam com os braços livres para poderem se defender. Por que essa diferenciação? Casos da Somália e do Irã, além de muitos outros mais, mostram o quanto a mulher é desrespeitada e desvalorizada por esse mundo afora.

Assista ao filme:

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O bem escrachado

Assisti a O Bem Amado sábado, filme de Guel Arraes baseado na obra de Dias Gomes. Como na novela, que passou nos anos 1970 na TV Globo, o roteiro baseou-se em duas peças de Dias Gomes: Zeca Diabo e O Bem-Amado. Tenho uma simpatia antiga por José Alfredo de Dias Gomes, de quem montamos, nos tempos do Tupi, teatro amador de que participei, em Santo André, a peça A Invasão. Tenho um livro com várias peças dele, e penetrar em seu universo me abriu a mente para as mazelas deste país. O filme é bom, grandes atuações do elenco, mas para quem viu a novela é inevitável as comparações. Achei o Nanini meio caricato demais, bem distante da naturalidade de Paulo Gracindo. Aliás o filme todo parece que optou pelo escracho, pelo exagero, quase pantomima. Isso não é defeito, é escolha. Como disse para minha filha, quem não teve oportunidade de ver a novela ou a minissérie tem a vantagem de não fazer a comparação. Claro que as exibições antigas são outra coisa, não dá para comparar novela com filme, assim como não dá para fazer o mesmo entre peça e filme. Mas eu gostei do filme, apesar de achar um tanto arrastado às vezes, muito centrado no núcleo do Odorico e com poucas cenas paralelas. Acho que se se explorasse um pouco mais os outros núcleos o filme ganharia em agilidade. Por exemplo: o "romance" entre a filha de Odorico, Violeta, e Neco, interpretados por Maria Flor e Caio Blat, poderia ser mais abordado. Senti que ficou vazio, não gerou o conflito que seria de esperar. O personagem de Tonico Pereira, Vladimir, dono do jornal A Trombeta, ficou por demais caricato, o mesmo a dizer das irmãs Cajazeiras, muito bem levadas por Zezé Polessa, Drica Moraes e Andréa Beltrão, que na novela eram mais sutis. Dou o desconto de que, no curto espaço de um filme, fica difícil explorar melhor a complexidade de todos os personagens e que talvez o caricato foi opção para fazer um filme engraçado sem muito compromisso com as entrelinhas do texto de Dias Gomes. O filme ainda busca relacionar o enredo da trama com acontecimentos do país, como o golpe de 64 e depois a luta pelas Diretas, em 84. Ficou meio estranho, parece que só serviu para mostrar que o jornalista Neco (Blat) seguiu na profissão. O Dirceu Borboleta de Matheus Nachtergaele está impagável, mas bem distante do vivido na telinha por Emiliano Queiroz; só uma obervação importante: em nenhum momento ele é mostrado caçando suas borboletas, e sua consciência política é mais ressaltada no filme do que na novela, em que, ao que me lembro, ele é bem mais ingênuo e totalmente subserviente. O Zeca Diabo de José Wilker está irretocável, e é uma atuação que não lembra a de Lima Duarte, no que em minha opinião lhe rende muitos pontos em originalidade. Enfim, o filme, apesar de fiel na maior parte do tempo aos textos de Gomes, consegue se distanciar da novela, o que é muito bom. E, outro ponto a favor, mantém o tom político, sem proselitismo, que o autor imprimiu, atualizando e contextualizando, se bem que de uma forma ligeira sem aprofundamento, talvez para alcançar um público bem maior.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Paulistano

Estou na capital, depois de quase 50 anos no ABC, com curto período anterior em que morei no Ipiranga. Acho que não regressarei, pelo menos o que me motivou a ir morar em São Paulo prossegue. Nada é definitivo, claro, mas vir morar bem perto do trabalho foi uma decisão refletida, que veio da reclamação do corpo em se deslocar todos os dias úteis mais de 70 quilômetros. Agora estou alojado um pouco mais perto, mas ainda não no meu endereço definitivo aqui em Sampa, que este será resolvido em  poucos meses, espero. Estou perto do metrô, o que implica não precisar do carro para ir ao trabalho. Ainda não o utilizei, servindo-me do meu veículo mesmo, mas é minha intenção mudar de meio de transporte, porque o trânsito mesmo não anima. Se bem que no horário de pico a estação da Sé vira um formigueiro, mas, como é minha volta para casa, tudo bem esperar passar uns três ou quatro carros antes de embarcar. Ou encarar o aperto. Este próximo será meu primeiro final de semana que poderei curtir a capital. Pegar o metrô, descer na Paulista e curtir um cineminha, ver as novidades na Fnac, tomar um chopinho no Frevo, ou comer um bauru no Ponto Chic, quem saber ir finalmente ver as obras no Masp (vergonha, nunca fui). A cidade é bonita e sem a dependência do carro ela fica mais acessível. Pretendo usufruir. Quem quiser vir comigo ou convidar será bem-vindo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago, um desafio

Em  1997, eu trabalhava no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, onde iniciara um ano antes como assessor de comunicação no Grupo de Trabalho Eleitoral para o pleito municipal. Foi nessa época que tive a incubência de divulgar o projeto "Terra", que reunia um livro com textos de José Saramago, fotos de Sebastião Salgado e um CD com músicas de Chico Buarque. Os três estiveram em São Paulo para divulgar o projeto, que tinha vínculo com o MST. Foi o primeiro contato que tive com o escritor português morto sexta-feira, 18, aos 87 anos. Dele só li "O Evangelho segundo Jesus Cristo", um texto que me surpreendeu pelo estilo e pela ousadia. Não li mais nada desde então, afora alguns escritos na imprensa esporádicos. Tenho em minha estante "Ensaio Sobre a Cegueira", e também o DVD com o filme dirigido pelo Fernando Meirelles, mas ainda não os apreciei. Confesso que a leitura é complicada, é preciso às vezes reler os imensos parágrafos para se ter ideia do conteúdo, mas achei o "Evangelho" espetacular. Fica o desafio de mergulhar no universo desse escritor tão peculiar para, no mínimo, entender sua ótica do mundo e, quem sabe, apreender sua importância, que, pela repercussão de sua morte, era enorme.

A seguir, um texto de Saramago:

A mentalidade antiga se formou em uma grande superfície que se chamava catedral;
agora se forma em outra grande superfície que se chama Centro Comercial.
O Centro Comercial não é só a nova igreja, a nova catedral, é também a nova Universidade.
O Centro Comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana.
Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio.
O Centro Comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade.
Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras.
E agora o que temos? A crise.
Será que vamos voltar a praça ou a Universidade? A filosofia?

José Saramago

Sobre Copa - Não costumo escrever sobre esportes, porque não é minha atividade predileta na vida, todos que me conhecem sabem. Mas estou, por falta mesmo do que fazer, assistindo a vários jogos e, mesmo não entendendo nada do que está rolando ali, tenho me divertido. Copa é legal por isso: até quem não entende e não gosta de futebol acaba entrando no clima e quiçá torcendo. Vou fazer uma confissão: torci mais para ver meu palpite nos bolões acertados do que para a vitória do time do Dunga. Rá, rá, rá! Deu certo, mas tenho a meu favor que torci pelas vitórias até agora havidas, ao passo que muita gente vem torcendo contra. Tudo bem, direito delas. Acho que a seleção terá uma boa campanha e até aposto que traz o caneco. Pelo menos é o que diz minha intuição, já que de táticas e quetais não entendo nadinha. A única coisa chata é a baderna que se faz antes, durante e depois dos jogos. Fico até com medo de sair às ruas. E a tal corneta, que insistem em chamar de vuvuzela, tem me tirado o sono dia após dia, como era previsível. Fazer o quê! Parece que o cidadão precisa de um estímulo desses para extravasar suas angústias que o cotidiano traz, uma alegria fugaz, como diria Chico a respeito do carnaval, outra festa de imensa falta de respeito ao próximo. Posso parecer chato, mas acho que sou mesmo. Pão que é bom...