O Barquinho Cultural

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um grande amigo, uma grata surpresa


Mencionei em um post recente minha dúvida se esse blog teria algum leitor. Recebi, com alegria, manifestações de leitores fieis, que me deixaram bastante feliz. Agora, depois disso, soube de outros tantos, minha filha Isabela inclusive, e isso dá uma felicidade e uma responsabilidade, que é a de manter a coerência e alimentar periodicamente esse site, o que tento, mas muitas vezes falta assunto, e para mim falta de assunto não é assunto. Agora, não podia imaginar que meu amigo João, que há uns dez anos mora nos States e que não vejo acho que há uns cinco, seria um desses leitores. E não é que ontem ele me encontra no MSN e, logo em seguida, me liga, dizendo que leu o blog? E, para melhorar, se emocionou com a leitura. Eu sei por quê. É que o grande João é protagonista da maioria das histórias que relato aqui, pois no começo dos anos 80 estávamos juntos em todos aqueles movimentos de que comecei a tomar parte. E ele tornou-se, como todos os demais daquela época, grande amigo meu e de todos. Éramos uma verdadeira comunidade, com ideias e ideais comuns, atitudes conjuntas, diversões em parceria. Lembro que, quando ele e Cris se casaram e foram morar em Fortaleza, fomos junto, aproveitar a lua-de-mel deles para conhecer Canoa Quebrada (na foto, ele aparece atrás de mim, sobre meu ombro direito). Foi uma viagem, para mim, triste, pois tive de interrompê-la devido à morte de minha mãe, mas a semana que passamos juntos lá foi inesquecível. João sempre foi um dos mais articulados e curiosos da turma: sua sede de aprender e de conhecer era notável. Uma pessoa determinada e que não se curvava às evidências. Metia-se onde queria e saia-se muito bem em todas as empreitadas que iniciava. Ouvi-lo, depois de tanto tempo, e saber que a nossa história ainda o comove, é um bálsamo e a certeza de que aquilo tudo que fizemos valeu a pena. Se não mudamos o mundo, como queríamos, pelo menos cultivamos amizades que vencem o tempo e o espaço e, mesmo que não nos vejamos mais com tanta frequência como naquela época, o coração está sempre aberto para lembrar de cada um deles e, de repente, pegar no telefone e dar aquele alô. Isso faz um bem!
(P.S.: a amizade com João e todos os outros do Juba, Tupi, PaJu e JOC também está fazendo 30 anos.)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Zilda Arns: imprescindível


A morte da médica Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, é um profundo choque, em meio à grande tragédia que já é a calamidade que abateu sobre o pobre Haiti e que vitimou não se sabe ainda quantas pessoas. Dona Zilda estava lá, em missão humanitária, como tantas outras que abraçou em sua vida. Não a conheci pessoalmente, mas todas as vezes que a ouvi ou li na mídia deu para perceber a sua seriedade, sua bondade e desprendimento. Uma pessoa que lutou a vida toda pelos menos favorecidos, e que por isso se torna um dos seres humanos imprescindíveis, como conceitua o poema de Bertold Brecht. O destino realmente é gozado: como que pode essa coincidência de ela estar naquele local exatamente no dia em que acontece esse terrível terremoto? Creio que é a vida, mesmo, que explica. Afinal, o Haiti é um dos países mais pobres do mundo e uma pessoa benemérita como dona Zilda não poderia estar em outro lugar nesse momento. Uma grande perda, sem dúvida.

Um fim de semana agitado

Esse fim de semana foi agitado. Fiz um monte de coisas. Tirando as férias, havia tempo não tinha um fds com tanta programação. Acho que gostei da experiência e pretendo repeti-la: não mais ficar trancado no apartamento, se bem que vez em quando é bom um resguardo, para ler, tocar o violão, ouvir discos novos e antigos, escrever, ou ficar com minha filha contando a ela as histórias que ela quer conhecer. Bem, mas esse fim de semana eu saí com a Ana Isabela. Fomos na sexta-feira ao show do Del Rey no Studio SP, na Augusta. É um pessoal de Pernambuco que toca músicas do Roberto Carlos de uma maneira muito legal, uma pegada bem rock e um ritmo mais frenético. Fica muito bom. A casa estava lotada, difícil de se movimentar lá, mas com jeitinho dava para ir ao banheiro e ao bar pegar uma cerveja (muito cara, aliás, como é nesses locais). Os caras tocaram por mais ou menos duas horas, tendo começado por volta de 2h, apesar de estar programado para a 1h. A baiana Pitty deu o ar da graça e cantou uma música com o China, o vocalista da banda. Muita gente jovem, mas eu não me senti tiozão não, apesar de o ambiente ser meio fora do que eu costumo frequentar. Mas gostei; se rolassem uns eletrônicos sem cérebro eu chiaria, mas a picape soltava só MPB de boa qualidade, coisa interessante pra caramba!

No sábado, uma chuva torrencial desabou sobre São Bernardo (acho que por todo o Estado também) bem na hora que íamos ao cinema. Bom que assim que estacionamos o temporal parou, e só ficou uma chuvinha fina. Depois de degustar um festival de carne em um restaurante rodízio, fomos ver o Lula, O Filho do Brasil. Há algumas coisas a se falar dessa obra de Fábio Barreto. Como cinema, é excelente. Tem uma boa história, personagens marcantes, intérpretes de altíssima qualidade, ótima carga dramática, ou seja, uma história para se assistir e sair de alma lavada. Mas não se pode resumir à discussão cinematográfica. Sem entrar no mérito das críticas que o acham eleitoreiro (só digo uma coisa, não acho; ora, desde quando Lula precisaria de um filme para se eleger para qualquer coisa, e tem ainda que ele não é candidato a nada no momento), pois bem, sem entrar nesse mérito, eu penso que o filme romanceou demais a vida do homem que se tornou o presidente do Brasil e deixou a política um pouco de lado. Eu, sinceramente, preferiria que se fizesse um bom documentário sobre o fenônemo Lula, porque justificaria, afinal, raros são os homens que tiveram ou têm a trajetória dele. As gerações atuais, pessoal na casa dos 20 a 30 anos, talvez não compreendam bem o que significa essa figura, e um bom documentário ajudaria a entender não só o homem, mas também o país. Não é o momento certo? Ora, para cinema, o momento é o da vontade e da oportunidade de seu realizador. Acho que nesse ano final de mandato, quando o correto seria se fazer um bom balanço dos dois mandatos de Lula, o filme vem a calhar, mas, insisto, seria muito melhor um documentário, não uma ficção "baseada em fatos e personagens reais". Mas gostei do filme, porque ele dá uma mostra pequena dos fatos que forjaram esse homem singular. Como não poderia deixar de acontecer, emocionei-me muito com as cenas de fábrica, de greve, as assembléias, passeatas. Lembrei-me, inevitavelmente, das coisas que já mencionei quando falei pela primeira vez do filme: meu tempo de milico, o medo de ter de enfrentar a peãozada, considerando minha família ser constituída por operários, muitos de montadoras e outras metalúrgicas. Aí depois veio à lembrança o período posterior, quando eu já estava metido nesses movimentos, apesar de não ser metalúrgico, mas bancário. Mas participávamos do fundo de greve, que visava arrecadar grana para o pessoal poder comer enquanto estava em greve e o salário não era depositado. Até aprendi, porque quando chegou minha vez, fiz greve com convicção no banco, aliás, uma greve de nove dias vitoriosa, que ganhou até apoio da população, que não imaginava que nós éramos tão explorados (vai ver o pessoal via a gente lá de gravatinha e as meninas todas pintadinhas e bem-vestidas e achava que ganhávamos muito bem!). O chato foi que na segunda greve eu já era cargo de confiança e dancei, mas esta é outra história. Eu vi diversas vezes o Lula nas assembléias da Vila Euclides, e o ator Rui Ricardo Diaz representa direitinho a voz e os trejeitos do líder sindical. Só ficou mal aquela mão  meio virada para simular o mindinho decepado. Agora o Lula marido eu sei lá, não posso acreditar em um Lula tão romântico daquele jeito, tão doce com as esposas... Sei lá, a impressão que tenho, das vezes que tive contado pessoal com ele, é de que ele é não grosso, mas um machão como muitos homens de sua geração. E há ainda a omissão de seu envolvimento com a Miriam Cordeiro, aquela usada por Collor em 1989 para desacreditá-lo. Miriam é mãe de Lurian e disse que Lula sugeriu que abortasse, depoimento dado em horário eleitoral que abalou muito a candidatura do Lula. É mesmo incompreensível essa omissão. Quanto ao Lula doce, bem, acho que quiseram mostrar que, diante de um pai como o dele, decidiu ter um comportamento diametralmente oposto com as mulheres. Faz sentido, mas não vejo verosimilhança. Mas faltou explorar mais o lado político, expor a formação política do Lula, porque lá limitou-se a apontar cenas de injustiça que ele presenciou e a gente tem que supor que foi isso que trouxe-lhe a consciência política. Ora, todos sabem que ele era um quase alienado antes de assumir uma diretoria no sindicato, que seu ingresso nesse mundo foi por meio de seu irmão Frei Chico. Ou seja, o filme não explica o fenômeno. Será que é porque não há explicação? Mas é um bom filme, repito, que vale a pena ver e que valeu a pena ter sido feito.

No domingo, novamente no cinema, para ver Avatar, de James Cameron. Vimos a versão em 3D. Uma perfeição, diversão garantida. Um roteiro convencional, a eterna luta dos fracos contra os poderosos gananciosos que querem explorar as riquezas minerais de um planetinha perdido no espaço. Mas os efeitos visuais são de tirar o fôlego. O filme mistura atores com animação e o resultado é de cair o queixo. É diversão pura, cinema hollywoodiano na essência, e um campeão de arrecadação, conforme dizem os jornais. Os efeitos de terceira dimensão também são perfeitos. Ele lembra um pouco do Era do Gelo 3, ao misturar dois mundos, no caso deste, a selva é habitada por seres vindos diretos da nossa (da Terra) pré-história e ETs e seres estranhos, como cavalos com cabeça de tamanduá e seis patas. Aves com quatro olhos.. É engraçado. Valeu o preço do ingresso, e também é altamente recomendável.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A crise dos 30

É estranho, mas aos 48 anos, que completei em maio passado, os 30 anos são constantes em várias coisas na vida. São quase 30 anos que comecei a faculdade de jornalismo, 30 que comecei a trabalhar com constância, 30 que servi à Pátria como soldado, 30 que conheci uma galera e uma ideologia que mudaram minha maneira de ver o mundo, 30 que tive a primeira namorada que se pode chamar disso, quase 30 que perdi minha mãe, 30 que fui tio pela segunda vez, 30 que comprei o primeiro carro. Nossa, quanta coisa a gente faz por volta dos 18 anos! Por isso essa data dizem que é o ingresso na vida adulta. E a garotada parece que resolve tirar o atraso e fazer tudo de uma vez (estou falando de meu tempo; hoje as coisas são bem mais ligeiras). E ao olhar para trás me dá uma certa coisa, não sei explicar. É como se dar-se conta da passagem desse tempo fosse algo que a gente evita. Mas não há mesmo como evitar. O que procuro é não ficar pensando muito nisso. Porque se pensasse ia começar a fazer um balanço, achar que fiz coisas que não deveria, e coisas que deveria e não fiz. Ou seja, a reflexão que todos fazem. Tenho a favor disso que a experiência que se ganha é algo que não há paralelo. E a gente pode compartilhar isso com os mais novos, não para guiá-los, mas para orientar, mostrar se estão indo bem, mas sem impedir que voem com suas próprias asas. Errei muito, claro, e é por isso que posso ensinar. Aliás, é para isso que quis - e ainda quero - fazer mestrado. Acho que ensinar é uma obrigação de qualquer um que aprende algo, que vive uma experiência. Saber guardado é saber perdido. E o saber também se alimenta da retroalimentação (o tal feed back), daquilo que o ensino traz ao próprindo professor (ou mestre, ou orientador, qualquer coisa). Eu quando era vice-coordenador do grupo de jovens da igreja de meu bairro gostava de pegar algum trecho da Bíblia e discutir com o pessoal, para a gente entender junto, não eu vir com meu entendimento pronto e fechado. Sempre gostei de discussão, de debate, de troca de idéias. E acho que assim todos se nutrem do saber. Detesto quem vem com as ideias prontas e não aceitam visões divergentes. Tive muitos professores assim. Acho que dar aula é uma sequência natural de minha carreira. Não que eu saiba muito de jornalismo, mas 30 anos de vida profissional dá uma retaguarda que quem gosta de aprender pode usufruir. O problema é a timidez, mas isso se resolve. Então penso que essa crise dos 30 pode ser melhor resolvida se aproveitar esse tempo de estrada para tornar o fardo das novas gerações mais leve - ou mais pesado, dependendo do que a pessoa, pessoas forem fazer com isso. Espero que em 2011 eu possa estar fazendo aqui  um balanço de minha experiência como professor, ou ao menos como aluno de um curso de mestrado. Ou, pelo menos, como escritor, porque essa também é uma forma de expandir o conhecimento. Escrever um livro é um projeto antigo, mas ainda não cheguei a um consenso sobre o tema. Aceito sugestões (sem sacanagem).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2009: um balanço

Foi um ano estranho, cheio de reviravoltas, de cair em profundo desânimo e fazer altas loucuras. Rompi um relacionamento longo, iniciei outros, não fiquei sozinho, mas me senti muito solitário. Trabalhei bem, mas estudei pouco; tentei por duas vezes ingressar no mestrado da USP, mas não deu. Mas tive a felicidade de ver minha filha ser aprovada em dois vestibulares e passar para a segunda fase da Fuvest. Viajei muito, muitas vezes de forma até irresponsável, gastei muito mais do que podia, mas me dei conta a tempo da besteira que fazia. Conheci um monte de gente, mas os amigos antigos quase não os vi. Ouvi muita música nova, e ouvi de novo muitas que não canso de ouvir (Beatles e Frank Zappa, principalmente). Fui bastante ao cinema e a shows, mas muito pouco a teatros. Voltei a estudar violão e relaxei bastante na atividade física. Troquei de bicicleta planejando andar mais, mas que nada... Questionei muito meu terapeuta, mas ainda não consegui abandonar o tratamento (??). Dei-me conta de que não sou tão péssimo como sempre achei que era, talvez por perceber que se fosse assim tão ruim algo maligno já teria me acontecido. Mas posso até me considerar abençoado. Sei lá, não sei se no geral o ano 2009 foi bom ou ruim, depende do momento; posso dizer que ele começou muito ruim, tive péssimos momentos e consegui reverter e ter momentos de extrema felicidade, ou pelo menos de fortes emoções, que elevaram minha autoestima e me fizeram sorrir. No balanço geral considero que fiz muitas besteiras, mas não por maldade, talvez por imaturidade ou necessidade de sair do marasmo.

Para este 2010, não faço planos, mas sei que haverá mudanças radicais, porque, em minha vida, todo começo de década marcou uma reviravolta. Foi assim em 1970, quando a mudança para a capital abriu minha cabeça para um mundo novo, para o bem e para o mal. Em 1980, tive uma tomada de consciência e mudança de pensamento que moldaram minha cabeça até hoje. Em 1990, conheci aquela com quem me casaria e com ela seríamos pais de minha adorada Isabela. Em 2000, veio a morte de meu pai e minha separação, e pouco depois nova jornada profissional. Portanto, creio que em 2010 algo haverá, e não faço a mínima ideia do que seja. Ainda bem. Como não sou supersticioso, apenas considero isso coincidências...

A todos os que eu conheci neste ano que passou, e que depois por circunstâncias da vida não vi mais, gostaria de dizer que foram e são pessoas importantes para mim, que marcaram uma etapa de minha vida e que por isso - e por ser quem são - ficarão marcadas na minha mente e no meu coração. Aos amigos que deixei de visitar, alguns há bem mais que um ano, espero revê-los em breve. Aos que porventura eu tenha magoado, peço desculpas e que reconheçam que a gente às vezes comete erros sem estar se dando conta de que o faz. Quero a todos muito bem e gostaria muito mesmo de poder estar sempre rodeado de amigos e pessoas queridas. Pena que isso nem sempre é possível. E, se há uma promessa a ser feita para este ano que está iniciando, diria que é o de cultivar os amigos e não deixá-los no esquecimento. Senti muito falta deles nesse ano terminado, mas não foi culpa deles, claro, mas minha. E esse erro não quero voltar a cometer. E pretendo também escrever mais nesse blogue, mesmo que ninguém o leia.

E feliz ano-novo.