O Barquinho Cultural

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Estado de zumbi

Meu corpo anda me pregando peças incríveis. Tenho sono nas horas menos recomendáveis e falta dele nas necessárias. Isso já me causou constrangimentos e perdas irreparáveis. Uma delas, que me recordo com tristeza, foi ter dormindo profundamente  no teatro, em 2007, assistindo a O Avarento, com Paulo Autran, sua última atuação antes de morrer, em 12/10 daquele mesmo ano. Foi lamentável, pois era a primeira vez que via o grande Autran no teatro - e, claro, a última. Houve outros episódios semelhantes, em que dormi profundamente em espetáculos musicais, teatrais, cinema, em frente à TV, na mesa de bar, e, até, na cama... 

Deve ser algum distúrbio criado após os anos a fio em que venho invertendo o relógio biológico para trabalhar. Fiz até um exame específico, polissonografia, que, segundo o médico, não acusou nada de anormal, mas me receitou um remediozinho natural para ajudar a dormir. Mas é chato viver assim, as pessoas acabam por achar que está sendo enfadonho para mim estar ao lado delas, quando na realidade não é nada disso.

Às vezes dou pescadas inevitáveis na mesa de trabalho, chegando a quase cair da cadeira. Certa vez, dormi ao volante, indo para casa, quando ainda morava em São Bernardo. Foi apenas um cochilo rápido, mas o suficiente para perder a direção; sorte que despertei a tempo de desvir o carro, que ia direto para embaixo de um caminhão; mas a manobra rápida em pista molhada pela chuva me fez derrapar e só parar ao bater no guard-rail. Foi a gota d'água que me levou a me mudar para perto do local de trabalho poucos meses depois. Hoje, vou a pé para o serviço, mas o sono ainda me persegue.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

... e la nave va...

Vida que segue - Isto é incrível. Estamos nos aproximando de mais um fim de ano, Natal, 2012 na soleira. Hora de fazer balanço? Perspectivas para o ano que virá? Muito óbvio. Ontem (15/12), em evento no trabalho, the boss disse que 2011 parece que durou 18, 24 meses, todos doidos para logo terminar. É. Tirando as razões específicas pelas quais ele isso comentou, diria que, sob minha perspectiva, este ano passou ligeiro. Escrevi muito pouco aqui, porque fiz pouco, mas também muito. Voltei a estudar, a malhar, emagreci muito, mudei de casa e de cidade. Vi algumas convicções ruírem, incorporei outras, iludi-me e desiludi-me com a mesma velocidade. Conheci um monte de gente, e isto é uma grande dádiva. Revi pessoas, e outras nunca mais vi - acho que nem verei mais. Profissionalmente também encarei desafios interessantes, e pessoalmente outros igualmente árduos. Que esperar de mais um ano? Nada, afinal, não é o calendário que rege a vida, que segue indiferente ao dia, mês e ano que giram. Mas gosto de pensar que evolução virá, porque as cabeçadas que damos nos fazem rever procedimentos e tentar melhorar. É. Isso com certeza vai rolar. A principal creio que será ter mais cuidado para evitar dissabores vividos.

Grata surpresa - Quarta-feira, 14/12, conheci O Café. Papo ótimo, em local agradável. Pessoa interessante. Gosto de conhecer pessoas, e esta me veio de uma forma inédita e inusitada. Legal saber quem está atrás das personas criadas no mundo virtual. Isso tem me acontecido com alguma frequência. E há surpresas, e, claro, decepções. Neste caso, valeu a pena. Desde o almoço com o titular e leitores do Balaio do Kotscho que não saio tão feliz de um encontro. E a razão é que ainda há vida inteligente por aí, ao contrário do que eu vinha pensando, dados tantos infortúnios passados. A lição a tirar é que se deve escolher bem o que fazer na vida, pois o tempo é ligeiro e ela passa rápido, sem chance de retornar e consertar o que saiu errado.

Polêmicas - O livro A Privataria Tucana tem dado o que falar. A mulher que espancou o cachorrinho até a morte também. A doença do Lula gerou reações incríveis. O metrô em Higienópolis, a greve na USP, a morte de bin Laden e de Kadafi, a primavera árabe, queda de ministros de Dilma/Lula, crise europeia, aperto fiscal americano, Rafinha Bastos e muitos outros fatos... As redes sociais serviram como um termômetro do que anda na cabeça das pessoas, cumprindo um papel que os meios tradicionais de comunicação não têm condição de abraçar, mas pincelam, ao gosto do critério editorial. Todos têm o direito de expressar sua opinião, seja ela qual for. E encarar as repercussões - mesmo que não haja nenhuma (caso de algumas que tenho exposto). O legal é que podemos fazê-lo. Lembrei-me, na conversa, com O Café, de quando no então ginásio as coisas eram diferentes, não se podia abrir a boca e exprimir pensamento diverso do aceito pelos fardados que comandavam este país e seus habitantes como a recrutas relapsos. Porém, o que observo, é que parece que o espírito censório e ditatorial ficou impregnado nas mentes e contaminou as gerações seguintes, tamanhas as tentativas de calar a boca de quem anda desviando um tanto do senso comum. Isso é perigoso: revela o quanto de ódio existe na sociedade e que a famosa cordialidade do povo brasileiro, se existiu, anda esquecida.

Lição - Aprendi na marra uma coisa neste ano: quando alguém não se empenha por você, não adianta esperar muito deste. Atenção e dedicação não se obtém de quem não está à disposição. E, como dizia um velho gerente do banco em que trabalhei, não se deve gastar vela com mau defunto. Enterrei.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um dia politicamente correto e incorreto

Cheguei ao North Beer, zona norte de SP, por volta de 14h de sábado, 10/09/11. Mesa reservada, poucas pessoas ainda. Kotscho já lá estava, vi-o entrando quando estava ainda na calçada. Entrei de mansinho, procurei uma cadeira, coincidentemente em frente à do homenageado, ao lado de Ênio. Tímido, me sentindo um estranho no ninho; algumas pessoas me olhando, outras perguntando meu nome, de onde eu era. Marisa, que me avisara do evento e me convidara, ainda não tinha chegado, e fiquei naquelas de imaginar o que estavam pensando de mim ("mas quem será esse cara?").

Foi o terceiro encontro dos leitores do Balaio do Kotscho, blogue do veterano jornalista Ricardo Kotscho, hoje abrigado no portal R7, depois de pouco mais de 3 anos no iG. Aos poucos, mais leitores chegando, puxadas de papo, me soltando, conhecendo as pessoas. Audálio Dantas, outro veterano da imprensa, me cumprimenta. Outras pessoas também. Receptivas. Ouvindo as conversas, reconheço o Ênio ao meu lado, de ler sobre ele no blogue do Renato Rovai. Fazemos os pedidos: a maioria chope, caipirinha (de vodca, mas também pinga), Ênio pede Seleta e discorre sobre a qualidade da cana de Salinas, região mineira produtora das melhores cachaças brasileiras. Diz-se cachacista, apreciador e estudioso da aguardente, uma vez que cachaceiro é o fabricante, explica. Vou de Brahma Black, mas logo depois emendo com uma Seleta também, maravilhado com a cor amarelada observada no copo de meu vizinho de mesa. Saborosa, leve.

Kotscho levanta-se e volta com um prato recheado de tentações e, como diz uma amiga minha, gordices: torresmo, bacon, cupim, costela. Claro, não resisto. Belisco e logo depois pego minha porção também no bufê, acompanhado de um grosso caldinho de feijão. O evento é organizado pelo pessoal do Boteco do Balaio, site criado por pessoas que acompanham o blogue do Kotscho e lá costumam postar comentários e se tornou uma espécie de fórum de discussão. Mais à vontade, vamos conversando. Muito papo à toa, mas também política, claro, cultura, história, jornalismo. Agora começo a me sentir um peixe no aquário, integrado, pessoas com histórias parecidas com a minha, vivências similares, modos de pensar semelhantes.

Precisava disso, contaminado que ando por ambientes pouco a ver comigo, mas que por necessidade preciso frequentar. Nada contra, não podemos nos isolar em nossos feudos. O interessante foi constatar que são pessoas que mantêm o senso crítico, não babam ovo para o povo que está aí no poder, que muitos ajudaram a lá estar. Como mencionei em um post anterior, não me sinto parte deste governo, porque nunca quis isso, e, com esse necessário distanciamento, posso até discordar de algumas coisas que aconteceram nesses oito anos e nove meses de PT no Planalto.

Mas não é sobre isso que quero falar. É sobre a lufada de ar puro que lá respirei, o estar em um ambiente do qual me isolei já há algum tempo e estava me fazendo falta. Sempre falo que os jornalistas hoje estão um tanto caretas. Pelo menos em relação aos da época em que comecei. Não fumam, não tomam pinga, não comem porcarias de botequim... muito politicamente corretos para meu gosto. Muitos nem saem da  redação mais, tudo na base do telefone, e-mail, MSN e outras tecnologias que permitem o cumprimento de vinte pautas em um dia. E lá estavam Kotscho e Audálio, entre outros, de grandes reportagens, de fôlego, como se dizia antes. Quando você podia mandar o repórter para longe e deixá-lo uma semana para voltar com uma grande matéria. O Kotscho, entre tantas outras, veio com uma que popularizou o termo "mordomia". O Audálio descobriu no Canindé a Carolina Maria de Jesus, catadora de lixo, cuja história foi eternizada no livro Quarto de Despejo, que li lá pelos meus vinte anos de idade e me marcou muito.

Sei lá, há ainda grandes reportagens nos meios de comunicação, nada de nostalgia do tipo "no meu tempo era melhor". Apenas os tempos mudaram. E ponto. Digamos que, por vivermos em um período de trevas (outra expressão bem datada), a realidade era meio escondida, e os jornalistas se esforçavam para quebrar esse bloqueio e trazer à luz que o tal milagre brasileiro era coisa para inglês (americano?) ver. Sim. Delfim fez o bolo crescer um pouco, mas já dividir... Lembra uma música que cantávamos no coral da igreja, de uma das Campanhas da Fraternidade da CNBB: "Meu irmão eu vi plantar/ meu irmão nos deu o pão/ mas na hora de jantar/ não chamaram meu irmão" (Esta mesa nos ensina). Comparações com os dias atuais ficam em aberto.

Lá, no almoço, foram feitas muitas, contadas histórias incríveis; eu ouvinte, pouco a contar, deslumbrado? Um pouco, mas mais reverente e respeitoso que aparvalhado. Afinal, em meus 23 anos de profissão, convivi com muitas feras e me orgulho disso; a gente aprende vivendo com os bambambans (e com os babacas também). Mas nem tudo lá era nostalgia, afinal, a gente vive o presente e nosso ofício exige estar sempre atualizado. O bom disso foi eu sair um pouco da toca que me impus, e voltar à rua me deu novo ânimo, vontade de escrever, de fazer coisas. Isso já se desenhou há pouco tempo, quando resolvi voltar a estudar, um curso básico de economia, na Fipe, nada que eu não já tenha visto, mas importante para desembaraçar certos conceitos e, melhor ainda, conviver com colegas e professores. Ouvir pontos de vista diferentes dos meus, discutir, aprender, sonhar com voos mais altos - meu projeto de cursar um mestrado ainda está de pé, quem sabe não consiga ano que vem...

Foi um belo sábado, concluído com a ida ao teatro, ver Trair e Coçar É Só Começar, que imagino ser um dos poucos brasileiros que ainda não a tinha visto, 25 anos que está em cartaz esse texto do global Marcos Caruso. Pena que dormi tanto na apresentação que nem acompanhei adequadamente os quiproquós em cena, mas ao final, já desperto, o ritmo estava mais agitado e permiti-me rir um pouco. Interessante foi ver um grupo de portadores da Síndrome de Down na plateia. Acho que algum instituto ou algo assim os trouxe. São adoráveis. Coincidência, quando me dirigia ao restaurante, ouvi no rádio entrevista com o criador do blogue Mano Down, Leonardo Gontijo, que conta suas experiências com o irmão mais novo, o Dudu. É. As coisas se intercalam, dizem que coincidências não existem, se conectam. O fato é que adorei este sábado. E de quebra ainda descolei uma bela dedicatória do Kotscho em seu livro Do Golpe ao Planalto, que darei de presente a minha filha Isabela, futura colega.

P.S. Por sugestão do leitor Rafael Campos, paragrafei o texto para ficar mais fácil de ler...Agradeço a sugestão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O ofício de escrever

"Hoje os anos correm muito mais / e as noites já não têm calor / E uma saudade imensa é tudo / quanto resta ao velho trovador"
(Alberto Marino Júnior)
Alguém disse certa vez que escrever é cortar palavras, dizem que é obra de Drummond, mas ele negava. Em tempos de Twitter, com o limite de seus cento e tantos toques - mas nunca respeitados, por causa dos links -, a concisão é regra. Afinal, com a profusão de meios de informação que temos hoje, ninguém tem paciência para ler textos muito longos. De modo que procurarei, nessa retomada de meus escritos, ser econômico. Como eu dizia tempo atrás, sem "nariz de cera de Pinóquio". Pra quem não é do ramo, nariz de cera era (e ainda é por aí) um texto introdutório de uma matéria jornalística sem nenhuma informação relevante.

O motivo de eu voltar a escrever é que ganhei uma nova leitora e por ter encontrado um escrito meu de 30 anos atrás, quando me metia a poeta, mas sem nenhuma técnica, apenas pensamentos livres postos no papel, no afã de expressar o que a mente inquieta elaborava. O texto é enorme, quatro páginas de caderno universitário, em letra de forma. Não me lembro do contexto em que o escrevi, mas era um tempo em que vivia angustiado, conhecendo a realidade do mundo e me indignando com as coisas além dos limites do lar.

Tinha muita vontade de me manifestar, mas a timidez me podava a desenvoltura, e o veículo certo para isso era a escrita, daí ter optado pelo jornalismo, na esperança de pôr meu texto a serviço de alguma causa. Sei lá, passados 23 anos de profissão, se o que escrevi até hoje mexeu com a cabeça de alguém, mas percebi que aquela ideia inicial era fantasiosa, afinal, a imprensa tem um papel bem delimitado na sociedade e, enfim, sempre reflete o pensamento do dono do veículo, não de seus artífices. Como não me tornei nenhuma referência no jornalismo, não tenho o privilégio de escrever, profissionalmente, sobre o que me der na telha.

Mas é o ofício, afinal. Para o resto, esse blogue dá conta do recado (em termos, como disse à minha nova leitora). Mas o texto daquele 7 de agosto de 1981 é caudoloso porque tinha muito o que falar, e pouca coragem de dizer. Tinha um ambiente propício, amizades fortes, mas nem tudo a gente consegue expressar falando. Então escrevia, mas poucos liam. Angústia de quem escreve é a falta de leitor. Exercício solitário.

Imagino que tenha sido uma das minhas últimas tentativas de escrever livremente, a partir de lá, o escrever tornou-se ofício e, pior, muitas vezes reescrever o trabalho dos outros, ou os corrigir, que foi por onde comecei. Mas rever esse texto e outros papeis que encontrei em minhas arrumações de apartamento novo me remeteu àquele tempo de 20 anos de idade. Nelson Rodrigues escreveu que o homem guarda o menino dentro de si. Concordo, mas ando procurando esse jovem dentro de mim e o vejo muito distante.

Nunca senti muito o avanço dos anos, sempre me mantive jovial, com uma alegria de viver e conhecer que não percebia o tempo passar. Só quando se depara com coisas como esta que se dá conta de que o menino acabou ficando lá dentro mesmo, escondido em algum canto do ser. Se naquele tempo escrever solitariamente era meu modo de botar para fora o que me assombrava, hoje o que me assombra é ter visto tanta coisa que a indignação foi substituída por uma sensação de indiferença, de imobilismo, diria até de um certo niilismo, em sua concepção mais ordinária. O escrever tornou-se meio de subsistência, a revolta virou complacência, as relações humanas cada vez mais virtuais, o convívio trocado pela solidão.

Como dizem os versos ali em cima, do pai de minha nova amiga/leitora, a vida hoje está muito acelerada, os valores que prezávamos são postos ao chão a toda hora, e nem sempre conseguimos incorporar os novos. Se fosse reescrever esse texto de 30 anos atrás, talvez muito pouco se aproveitasse, mas o importante é que permanece como retrato de um momento da vida que é sempre bom relembrar, para não me deixar dominar pelo homem mais frio que, se deixar, não reconhece mais o menino de ontem. E gosto dele, apesar de sua tamanha ingenuidade.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Isolamento

Insônia é algo terrível. Pior para quem trabalha à noite, como eu, imagino. Ficar o dia todo acordado, sem nada que preste na TV aberta e na paga. Na internet, ninguém online no MSN, nenhum recado no Face, no Twitter e no Orkut, nenhum e-mail nem torpedo. Nada. Hoje terminei as bolsas da Ásia - minha última tarefa no trabalho - muito cedo, 6h45, e não tenho vontade de ir para casa, já que ainda estou sem sono e temo ficar isolado apesar de toda a festejada sociabilidade que a rede mundial de computadores proporciona, dizem. Telefonema também, nenhum, apenas de uma senhora querendo fazer comigo uma pesquisa sobre investimentos na web, eu que estou longe de me enquadrar nesse perfil. Pior foi atender no domingo à noite uma ligação se dizendo da Claro, informando que uma fatura minha voltou e querendo atualizar meu endereço. Vi que o número recebido era de um celular. Apesar de estranhar esse fato, e o de estar atendendo esse tipo de telefonema em um dia não útil e à noite, e também de ter informado meu novo endereço à operadora quando me mudei para o novo apartamento, acolhi a ligação e dei as informações solicitadas. Dizia que tinha uma fatura em aberto. Não me lembrei que minhas contas caem em débito automático, logo, não haveria fatura em aberto... Não, nada disso me ocorreu naquela noite de domingo, e caí em um golpe, com toda certeza, pois até informei número de documento, além do endereço. Não sei que consequência isso terá, mas já estou me preparando para o pior. É isso. As novas tecnologias não impedem a sensação de isolamento, e ainda te pregam armadilhas que podem dar muita dor de cabeça. Além da sensação de otário que me invade, sinto que as amizades virtuais não preenchem o vazio existencial que me persegue, e que relacionamentos reais ainda são o melhor a cultivar. Sinto saudade dos meus vinte e poucos anos, quando tinha uma turma enorme com quem me relacionava e diversas atividades que ocupavam boa parte de meu tempo, além das próprias da faculdade. Depois, trabalho, casamento, filha, e as amizades foram-se esvaindo, as atividades rareando, concentrando-me em uma nova realidade que também com o passar dos anos foi mudando, para chegar aonde estou agora, isolado na madrugada e no apartamento do Limão. Confesso que me cansei de tudo isso que o mundo novo nos trouxe. Não tive vontade de postar nada novo neste blog, porque não vi nas minhas novidades nada de interessante a relatar. Também enjoei de publicar coisas sem nenhum apelo nas redes sociais. Tantos meios de comunicação com o mundo e nenhum conteúdo, essa é a verdade. Bons tempos em que reuníamos um monte de gente em uma sala e discutíamos como mudar o mundo, com a convicção de que tínhamos esse poder. Mas isso não era o mais importante, mas sim o contato humano, cara a cara, com as novidades sendo passadas de boca a boca, olho no olho. Aquele grupo que representávamos chegou ao poder, mas me sinto excluído dele, não me vejo nele, não me sinto com poder. Porque abdiquei de seguir adiante, para "militar" no jornalismo. Não queria e não quero o poder, nunca me senti atraído por isso, queria mais era discutir a realidade, fazer amigos. Quando um colega veio me comunicar das articulações para a fundação de um partido, nos idos dos anos 80, senti uma coisa estranha, como se pressentisse o fim de tudo aquilo de que eu gostava tanto, porque tudo se concentraria agora na luta institucional, na busca pelo poder oficial - que, afinal se deu. Alijei-me desse processo voluntariamente, apesar de participar dele em duas ocasiões, mas como profissional de comunicação, não como ente político tradicional. A constatação agora é de que não me dediquei a nenhum projeto em particular, fui agindo conforme a necessidade e a eventualidade. Cheguei a um bom patamar profissional, mas a vida social hoje resume-e a isso: um isolamento que dói e do qual não vejo como sair.