O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Isolamento

Insônia é algo terrível. Pior para quem trabalha à noite, como eu, imagino. Ficar o dia todo acordado, sem nada que preste na TV aberta e na paga. Na internet, ninguém online no MSN, nenhum recado no Face, no Twitter e no Orkut, nenhum e-mail nem torpedo. Nada. Hoje terminei as bolsas da Ásia - minha última tarefa no trabalho - muito cedo, 6h45, e não tenho vontade de ir para casa, já que ainda estou sem sono e temo ficar isolado apesar de toda a festejada sociabilidade que a rede mundial de computadores proporciona, dizem. Telefonema também, nenhum, apenas de uma senhora querendo fazer comigo uma pesquisa sobre investimentos na web, eu que estou longe de me enquadrar nesse perfil. Pior foi atender no domingo à noite uma ligação se dizendo da Claro, informando que uma fatura minha voltou e querendo atualizar meu endereço. Vi que o número recebido era de um celular. Apesar de estranhar esse fato, e o de estar atendendo esse tipo de telefonema em um dia não útil e à noite, e também de ter informado meu novo endereço à operadora quando me mudei para o novo apartamento, acolhi a ligação e dei as informações solicitadas. Dizia que tinha uma fatura em aberto. Não me lembrei que minhas contas caem em débito automático, logo, não haveria fatura em aberto... Não, nada disso me ocorreu naquela noite de domingo, e caí em um golpe, com toda certeza, pois até informei número de documento, além do endereço. Não sei que consequência isso terá, mas já estou me preparando para o pior. É isso. As novas tecnologias não impedem a sensação de isolamento, e ainda te pregam armadilhas que podem dar muita dor de cabeça. Além da sensação de otário que me invade, sinto que as amizades virtuais não preenchem o vazio existencial que me persegue, e que relacionamentos reais ainda são o melhor a cultivar. Sinto saudade dos meus vinte e poucos anos, quando tinha uma turma enorme com quem me relacionava e diversas atividades que ocupavam boa parte de meu tempo, além das próprias da faculdade. Depois, trabalho, casamento, filha, e as amizades foram-se esvaindo, as atividades rareando, concentrando-me em uma nova realidade que também com o passar dos anos foi mudando, para chegar aonde estou agora, isolado na madrugada e no apartamento do Limão. Confesso que me cansei de tudo isso que o mundo novo nos trouxe. Não tive vontade de postar nada novo neste blog, porque não vi nas minhas novidades nada de interessante a relatar. Também enjoei de publicar coisas sem nenhum apelo nas redes sociais. Tantos meios de comunicação com o mundo e nenhum conteúdo, essa é a verdade. Bons tempos em que reuníamos um monte de gente em uma sala e discutíamos como mudar o mundo, com a convicção de que tínhamos esse poder. Mas isso não era o mais importante, mas sim o contato humano, cara a cara, com as novidades sendo passadas de boca a boca, olho no olho. Aquele grupo que representávamos chegou ao poder, mas me sinto excluído dele, não me vejo nele, não me sinto com poder. Porque abdiquei de seguir adiante, para "militar" no jornalismo. Não queria e não quero o poder, nunca me senti atraído por isso, queria mais era discutir a realidade, fazer amigos. Quando um colega veio me comunicar das articulações para a fundação de um partido, nos idos dos anos 80, senti uma coisa estranha, como se pressentisse o fim de tudo aquilo de que eu gostava tanto, porque tudo se concentraria agora na luta institucional, na busca pelo poder oficial - que, afinal se deu. Alijei-me desse processo voluntariamente, apesar de participar dele em duas ocasiões, mas como profissional de comunicação, não como ente político tradicional. A constatação agora é de que não me dediquei a nenhum projeto em particular, fui agindo conforme a necessidade e a eventualidade. Cheguei a um bom patamar profissional, mas a vida social hoje resume-e a isso: um isolamento que dói e do qual não vejo como sair.