O Barquinho Cultural

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sete Estados

BR-364 - Divisa Goiás/Mato Grosso
Gosto de viajar, mas o que me encanta mesmo é dirigir. Chegar é menos importante do que o ir, para mim. Nestas férias, botei o carro na estrada dia 30/01 e voltei em 15/02. Foram quase 5.700 quilômetros rodados, passando por sete Estados. Peguei todo tipo de estrada: perfeita, razoável, esburacada, de terra; viajei de dia, de noite, e cheguei ao cúmulo de dirigir 27 horas direto, com apenas pausa de cerca de duas horas para um cochilo. Sei lá, meio que testando meus limites, mas também porque não gosto de parar. A estrada me deixa absorto. Vou dirigindo, ouvindo minhas músicas preferidas, tomando coca-cola. Nem fome me dá. Loucura, disseram-me. Mas é meu jeito de ser.

Gosto de conhecer meu país, suas diferenças regionais. Os cheiros característicos. Cada estrada tem seu aroma. O de café em Minas; laranja em São Paulo; de cana e soja no Mato Grosso. Outras têm um fedor terrível, cheiro de sujeira, de óleo diesel queimado, de asfalto derretendo. Aromas de produtos os mais diversos em zonas industriais, de vegetação as mais variadas nas áreas rurais. Pessoas de todos os tipos. Isso tudo me encanta, essa diversidade que marca nosso país. É a economia real à minha frente, o Brasil que lemos nos jornais e interpretamos nas estatísticas frias e nos enunciados dos economistas e especialistas. Viajar pelo país é vê-lo em sua verdade intestina, fora da maquiagem edulcorada dos paraísos turísticos.

Chegando a uma localidade, é guardar a bagagem e sair à rua, à praia, à praça, ir aos bares, restaurantes, comércio e conversar com as pessoas, observar, interagir. Comer a comida local, beber o que se toma ali, dançar a música que se ouve. Pena que essa "aldeia" se tornou por demais global e quase tudo se padronizou e comportamentos, hábitos, costumes típicos estejam sendo substituídos por aquilo que a televisão aponta como legal. Exemplo: em Nova Viçosa, na Bahia, onde fiquei quatro dias, me falaram de um luau na praia. Fui lá, esperando uma roda em torno de alguém com um surrado violão, cantorias iluminadas pelo brilho da lua cheia. Que nada: cheguei na praia onde se realizaria o encontro e o que vi foram carros com os porta-malas abertos e os alto-falantes enormes expostos jorravam o mais indigesto "funk carioca", e meninas de bermudas ínfimas rebolando  suas bundas em coreografias eróticas... Nem esperei a coisa começar.

Na mesma cidade, à noite a diversão era ir na pracinha do centro, cheia de barraquinhas de "artesanato", que não passavam de coisas industrializadas que se encontram em qualquer ponto do país. No sábado, uma bandinha local tocava os maiores "sucessos" de todos os tempos, coisas como o axé baiano, o tal sertanejo, universitário ou não, os telós da vida... Pelo menos em Goiânia assisti a algo interessante: em um shopping, uma cantora local, Karine Serrano, entoando chorinhos clássicos, em um pocket-show que está se tornando comum nos centros de compras espalhados por aí.

Longe de ser um tradicionalista chato, o que me dá mais tristeza é notar que o Brasil profundo está cada vez mais se tornando uma coisa só, e os assuntos acabam sendo os mesmo em qualquer lugar que se vai. Mesmo assim vale a pena sair por aí, conhecer, ver, experimentar. Trouxe, como sempre, lembranças muito boas dos lugares por onde passei e das pessoas com quem tive contato.