O Barquinho Cultural

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Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

sábado, 14 de dezembro de 2013

DIANA MARINHO

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vila Palmares, anos 80

   Quando eu chegava lá, vindo das aulas da faculdade, encontrava a galera toda ocupada, pintando faixas, traçando estratégias, discutindo a conjuntura, reclamando dos adversários que arrancavam os cartazes colados na véspera com tanto afinco.

   Vinha com minha indefectível bolsa a tiracolo, botas de couro surradas, camiseta pintada à mão com figuras tão caras como Che, Milton, a calça jeans quase caindo, tão magro eu era. O clima era de muita alegria, de amizade, a sensação de estar fazendo algo sério, importante, querendo participar dos rumos da nossa aldeia.

   Era um bostinha de 20, 21 anos, não tinha nada de rebeldia (fora os cabelos revoltos, fruto da raiva de não ter sido jovem no tempo dos Beatles e dos hippies), não sabia beber (até hoje...) e fumava porque, afinal, todos meus colegas o faziam. Não entendia nada de política, mas gostava de ouvir, aprender e, principalmente, de conviver com aquela turma. Muitos eram meus ídolos, que falavam coisas que (eu não sabia ainda) sempre quis ouvir, porque havia uma célula de inconformismo em mim que precisava desse clima para se multiplicar.

   Depois de preparar algum material, saíamos às ruas para espalhá-lo. Pintar os muros que os proprietários permitiram de dia; esticar as faixas entre os postes; colar os cartazes... Era a panfletagem. E nos orgulhávamos de fazer tudo aquilo, com os riscos envolvidos (não raras vezes tivemos que correr da polícia e nos desfazer do material; afinal, era o regime militar que imperava), por paixão, ideal, não por uns trocados, como muitos dos que encontrávamos na madrugada disputando um muro.

   Não tínhamos um Duda Mendonça, um João Santana... Éramos nós os criadores, os realizadores, era o Hércules com seus desenhos incríveis, a Bete com sua prática no silk-screen, o Carlão Barba com sua perua, a Teresinha, o Luizinho, o Fernando com sua experiência e os debates precisos, a garotada toda muito a fim de fazer política... não para apenas chegar ao poder, mas para mudar as coisas. Eu não fazia a menor ideia de como mudar as coisas, mas confiava naqueles líderes e em sua capacidade de o fazer.

   Aqueles dias forjaram meu eu de uma forma irredutível. Ganhei amigos para toda a vida e uma visão de mundo que é até hoje a linha-mestra de meu pensamento. Deram-me alguma noção do que fazer, tanta que posso até questionar agora se o caminho é esse mesmo, ou seja, senso crítico, porque isso foi aprendido ali, naquele núcleo minúsculo, onde saboreávamos a doce sensação de participar da vida política de uma maneira ainda inédita por aqui. Sem medode ser feliz, como dizia o slogan.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A jequice da Veja e o exemplo de Machado

     O fato de Veja ter ridicularizado, em seu suplemento SP, o tal "rei dos camarotes" me leva à seguinte reflexão: será que essa revista está querendo mostrar que só respeita os ricos da gema, quatrocentões e refinados? A "jequice" dos novos-ricos, emergentes ela não tolera, então? Quem sabe, então, essa revista perca leitores nessa classe, o que seria muito bom. Afinal, a meu ver, “jequice” é ler esse semanário.

     Há muito tempo deixei de ler essa publicação, da qual fui até assinante tempos atrás. Mas não é possível ignorá-la, uma vez que correm sempre nas redes sociais comentários pouco louváveis a seu trabalho. Revista criada nos anos 60 por Mino Carta, teve em seus primórdios um papel importante, assim como tantas outras publicações que acabaram caindo no limbo do mau jornalismo e da atividade panfletária de pouca responsabilidade.

     Não aprovo o comportamento desse empresário retratado pela Vejinha, é claro, tampouco deixo de reconhecer que o assunto é notícia. O que lamento é o tratamento que a revista deu ao sujeito, tornando-o alvo de chacotas na internet. Como a demonstrar que, para os mandões da publicação da editora Abril, não basta ser muito abonado para merecer aceitação e respeito na "high society".

     É fato, porém, que atitudes como essas da tal Veja parecem menos o reconhecimento de seu posicionamento editorial e político do que tentativa de chamar a atenção e manter-se no mercado. O que também identifico no abrigo de certos colunistas de declarado condão conservador em jornais de reputação. Destacar-se nesses tempos de turbilhão de informações por toda parte não é fácil.

     Na semana que passou, os textos de alguns desses colunistas - antes mesmo, o simples fato de eles terem sido contratados - suscitaram reações coléricas de toda parte, o que, imagino, deve ter satisfeito sobremaneira o ego desses articulistas, pois conseguiram que personalidades de melhor e maior lustre acusassem o golpe.


     No fim do século passado XIX, o crítico literário Sílvio Romero polemizava com o escritor Machado de Assis, de uma maneira pouco elegante, ressaltando aspectos como sua gagueira e epilepsia e a cor de sua pele para atacá-lo. O que fez Machado? Nada, jamais respondeu a uma das críticas de Romero, ignorando-o totalmente. A história está aí para mostrar quem venceu a parada.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ganhos e perdas

     Vinte e três de outubro, quase fim de ano. Assistindo a "Profissão Repórter", que trata das dificuldades de atletas que sonham com a Olimpíada. Histórias de sacrifícios, superações... A velha ladainha de que você tem que acreditar em seus sonhos, perseguir suas metas, blá-blá-blás que enchem os bolsos dos escritores de livros de autoajuda e motivação e palestrantes sobre os mesmos assuntos.

     Acredito, sim, que a perseverança é importante e necessária, e até escrevi sobre isso aqui. Mas também sei que não há lugar no alto do pódio para todos. É importante e necessário também nos prepararmos para as derrotas, frustrações, decepções. Faz parte da luta, afinal. Não aceito que vendam ilusões de que você tudo pode se quiser. Melhor é a máxima de que o que vale é competir. Apesar da metáfora esportiva, é válida, afinal, neste país tudo se resume a metáforas esportivas, no mundo corporativo e na vida.

     Tive algumas derrotas este ano, doídas, mas não desesperadoras. Muitas delas por responsabilidade exclusivamente minha, daí ver os erros e tentar corrigi-los. É o que  se espera de processos assim. Ganhos os tive também, claro. E também episódios em que não posso resumir os resultados a ganhos ou perdas. Foram aprendizados, o que não deixa de ser um ganho. Outros fatos revelaram um nível de intolerância meu que não tinha noção de o ter. Isso me assustou.

     Enfim, estes dez meses de 2013 têm me proporcionado bons momentos de reflexão, de reavaliação, de repensar as atitudes, os pensamentos, as convicções. Confesso que o saldo não é dos mais alentadores. Mas o bom disso tudo é que esse diagnóstico tem permitido que eu clareie a mente, redefina os objetivos e redesenhe os caminhos. Dessa forma, as perdas passam a reverter-se em ganhos, no sentido de que se tornam lições e correções de rumos. O que se chama na Teoria dos Jogos de soma zero.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um domingo

Acordo cedo, compromisso logo de manhã. Vou de ônibus, porque andar de carro está cada vez mais complicado. Espero longos quarenta minutos pelo coletivo – afinal, é domingo, frota e horários reduzidos. No meio do caminho, a avenida por onde o ônibus tem que passar estava fechada – não sei por que, talvez alguma maratona, como aconteceu outro dia. Motorista reclama, não foi avisado, não houve divulgação do bloqueio. Muda o itinerário, prejudicando os que contavam com a condução naquela rota. Preocupa-me o atraso ao compromisso por causa do desvio.

Entra na avenida Paulista. Ela toda com uma faixa da pista bloqueada para uso exclusivo de bicicletas. Ao longo desta ciclofaixa, cones com a bandeira de uma seguradora delimitando o espaço para os ciclistas, e a cada esquina, um trabalhador, uniformizado com roupas das cores da tal empresa, com uma bandeirola, na ponta de um cano, que ele descia quando fechava o semáforo, para alertar o usuário de que ele deve esperar o sinal verde. Nenhum ciclista circulando por essa faixa. As pistas remanescentes ficam um tanto lentas, apesar de ser um domingo por volta de sete horas da manhã.

Chego ao meu compromisso faltando cinco minutos para o horário marcado. Tenso, em um momento em que precisava demais de tranquilidade. Pouco depois, ouço, vindo da rua, o falatório sem nexo de uma mulher, aparentemente com problemas mentais. Fala alto, para ninguém, parece-me. Incômodo. Difícil manter a concentração.

Após intermináveis trinta minutos, ela some. Aí, o alarme de algum carro começa a disparar sem dó. O som explode por alguns minutos, depois para, em seguida volta a soar, para, volta... um ritmo que não passa despercebido pela mente, que só quer algum silêncio para raciocinar.

Depois que o alarme finalmente deixa de soar, um sujeito ao meu lado abre um pacote de salgadinho, ou sei lá o que, e começa a comer, fazendo um barulho insuportável de embalagem metálica sendo amassada. Outro começa a tossir sem cessar. Difícil manter a concentração, mas consigo. Acho.

Está difícil viver em sociedade...


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não consumo

Fonte da ilustração: Blog da Rosana Jatobá
Uma recomendação aos amigos: não comprem! Sim, é isso mesmo: não comprem nada que não seja fundamental às necessidades básicas. Apesar de esse critério ser muito particular, há sempre como determinar o que é estritamente necessário à vida e o que é supérfluo. Sonhos de consumo todos temos, claro, afinal, para que trabalhamos tanto se não para adquirirmos aquelas coisas que nos trarão alguma felicidade e bem-estar, não é?

Nada contra isso, quero deixar claro. O problema é a falta de respeito com que fabricantes, vendedores e prestadores de serviços nos tratam. A menos que não se importe de ser maltratado pelos SACs da vida, ou tenha tempo e paciência para exigir seus direitos perante os órgãos de defesa do consumidor.

Toda vez que me interesso por algum bem material, influenciado pela publicidade, pelo status de possuir o que todos têm (ou querem ter), pela vã ideia de que aquilo vai me trazer algum benefício, paro e penso: eu realmente preciso disso? E aí me lembro de quantas vezes tive que me desgastar com serviços pós-venda de péssima ou nenhuma qualidade, com as decepções de produtos que não cumpriam o que prometiam, com os defeitos insanáveis ou consertos malfeitos, com o descaso da outra parte...

Cada um, por certo, tem suas histórias para relatar, e não são poucas. Então, por tudo isso, decidi por esse caminho: nada mais compro que não seja fundamental para mim. Não me interessam os últimos modelos de carros, celulares, computadores, equipamentos eletrônicos, roupas, lugares bacanas, pacotes de TV por assinatura atraentes, condomínios hipertransados... Sou feliz com o que tenho e não preciso de mais.

sábado, 22 de junho de 2013

A pauta necessária

Fonte da foto: http://www.bancariospb.com.br/index.php/notcias-mainmenu-138/notcias-do-sindicato-mainmenu-92/16703-cut-divulga-nota-em-defesa-da-democracia-e-repudia-acoes-violentas

Tenho 52 anos, comecei a me interessar por política - no sentido amplo, não a sua prática institucional, qual seja, a atividade partidária - tardiamente, lá pelos 18, 19 anos, ainda prestando o serviço militar. Acho que já comentei aqui, se não, vale a pena mencionar. À época, 1980, o país vivia um momento turbulento, com o último dos generais-presidentes, João Baptista Figueiredo, enfrentando uma sucessão de greves, desencadeadas dois anos antes, devido ao fracasso do tal "milagre econômico", recessão, inflação. A resposta do general foi, mesmo sob o manto da "abertura lenta, segura e gradual", iniciada por Geisel, reprimir esses movimentos, intervindo em sindicatos, destituindo diretorias e prendendo dirigentes.

Pois bem. Os metalúrgicos, com o sindicato tomado, sem receber salários por causa das paralisações, constituíram, em São Bernardo do Campo, o Fundo de Greve, que previa angariar contribuições para os trabalhadores sustentarem suas famílias durante as greves, mas acabou também se tornando um lugar para discussão e organização, uma vez que o espaço físico do sindicato havia sido subtraído da categoria. A paróquia em frente à minha casa era um desses espaços, mas, aos 18 anos, eu pouco me interessava pelo que estava acontecendo ali, apesar de meu pai e vários tios e primos serem operários das montadoras do ABC.

Estava eu uma vez por ali, à toa, quando dois sujeitos saem de um carro e me abordam. Como estava com o cabelo raspado ao estilo reco, penso que os caras, sem dúvida agentes de algum órgão policial, imaginaram que eu teria o dever cívico e patriótico de colaborar com a repressão. Fizeram-me perguntas a respeito de que tipo de movimentação eu vinha observando ali na igreja, se havia reuniões, que tipo de gente frequentava etc. Respondi que não sabia de nada, que não prestava atenção ao que acontecia ali, pois nem católico eu sou. Eles disseram para eu ficar de olho e anotar qualquer coisa, pois eles voltariam para saber. Nunca mais os vi. Mas algo ali não me cheirou bem e me deixou inquieto.

Pouco depois, com a greve dos metalúrgicos intensificada, passamos pelo Paço de São Bernardo, onde os trabalhadores faziam assembleia. Estava em um caminhão do Exército, repleto de recos, em direção ao local onde treinávamos tiro. Ao passarmos pela multidão, senti a tensão, o ar pesado, os trabalhadores temendo que estivéssemos ali para descer o pau. Não era isso, mas, no quartel, o comando avisou que a tropa deveria estar em estado de alerta, pois poderia ser requisitada a qualquer momento para agir, se a situação devida ao movimento grevista degringolasse. Isso significava, em termos práticos, ficar com a farda passadinha e as botas brilhando de lustre ao lado da cama, pois, se fôssemos convocados, era preciso ir logo.

Minha sensação era esquisita. Imaginava-me tendo de pegar o fuzil e ir para cima dos trabalhadores, o que significava reprimir a mim mesmo e a meus pares, pois a maioria de minha família, como citei, era metalúrgica. É algo complicado para a cabeça. Torci para não haver necessidade disso. E, realmente, não houve. Parece que a Polícia Militar deu conta sozinha. Mas penso que brotou desses episódios o que se convencionou chamar de consciência política.

Minha militância nunca foi acirrada, quis mais entender o mundo em que vivia sob o prisma das questões sociais, econômicas e a compreensão da nossa história sob uma ótica diferente daquela que a escola nos enfiava goela abaixo. O campo em que começamos a atuar foi a luta dos moradores de favelas por melhores condições de habitação e fim da repressão. A partir daí, várias outras atividades foram se inserindo. E minha mente mudou.

Nunca fui preso, não apanhei da polícia, não respondi a inquéritos, nem depus, enfim, nossas atividades seguiam a onda de tudo aquilo que estava acontecendo no efervescente ABC dos anos 80, mas não na ponta, pelo menos a minha parte. Fizemos teatro, e depois fui cuidar de ser jornalista, enquanto o PT começava a se organizar e disputar eleições.

Participei, claro, de campanhas eleitorais, mas sempre na base, aquela coisa de distribuir “santinhos”, pintar muros, estender faixas, colar cartazes nos postes. Aí, sim, algumas vezes tivemos que correr da polícia, mas sem maiores consequências, além de ver o trabalho de uma madrugada ser desfeito pelos soldados.

Mais de trinta anos depois, o que vejo nas ruas nas últimas semanas me deixa atônito. Não posso dizer com precisão o que mobiliza tanta gente. Fora das redações compulsoriamente, sem ânimo para sair nas passeatas, sem conversar com quem está ali participando, minha análise se baseia no que tenho lido na imprensa e nas redes sociais, em comentários de várias vertentes, e o que percebo é que há uma geleia geral por aí. Um movimento denominado MPL, que, soube, está organizado há bem uns oito anos, consegue mobilizar milhares de pessoas por vários dias, a fim de reduzir a tarifa do transporte público.

Outras bandeiras são hasteadas, pois a revogação do aumento em várias cidades não interrompeu o movimento. O caldo engrossa e cada qual vem com uma palavra de ordem, uma reivindicação, desde temas específicos, como a não aprovação da PEC 37, até assuntos que requerem maior reflexão e outras formas de luta, como o fim à corrupção. Entram lemas estranhos ao móvel inicial da mobilização, como o impeachment da presidente da República, contra o aborto e por aí vai. A sensação é de que o negócio agigantou-se e tomou rumos inesperados. Sem falar nas ações criminosas, como vandalismo, saques e até um atropelamento com vítima fatal, com sinais claros de dolo.

Como disse, não posso dizer com propriedade, mas a sensação é de que a fagulha da insatisfação com a vida que vivemos foi acesa, e muitos, talvez, sem elaborar precisamente contra o que lutar, entraram para mostrar indignação, exigir que a política seja praticada em seu sentido real, que é zelar pelo bem-estar de todos, pelo bem comum. Não sei quantos dessa multidão podem dizer por que, afinal, estão na rua, mas tenho certeza de que o que pretendem é dizer que não estão felizes, que falta alguma coisa – ou muitas coisas -, que não se sentem representados pela maioria dos que estão aí governando, que querem ser ouvidos.

Tirando, evidentemente, a fração oportunista e mal-intencionada, essa juventude, que parece que percebeu que tem a força, tem condições de elaborar uma pauta, mesmo que seja a mais utópica, e fazer nascer em nossa nação aquilo que é o ideal na prática política, a democracia participativa, além da mera representativa. Como sempre fui da “base”, posso dizer, aí sim com conhecimento de causa, que prefiro ser liderado e guiado por meus ideais, conviver com o contraditório e fazer política de baixo para cima, de dentro para fora, como dizia um velho bordão revolucionário.

domingo, 19 de maio de 2013

Ainda é cedo para termos um filme definitivo sobre Russo


Thiago Mendonça e Laila Zaid (Reprodução)

Há algo de estranho no filme “Somos Tão Jovens”, de Antônio Carlos Fontoura, sobre a juventude de Renato Russo, antes de a Legião Urbana estourar no país. Apesar da advertência no início da projeção, de que a obra é baseada na vida do cantor e compositor, o que leva a concluir que houve alguma licença poética na construção do personagem, Renato aparece como uma pessoa frágil, atormentada, meio perdida sobre seu papel no mundo. Bem distante, portanto, da figura carismática, provocativa e com instinto de liderança que os depoimentos de seus amigos, dados aos jornais à época do lançamento, pintaram.

Não curti de imediato o Legião nem qualquer outra banda de rock que surgiu no início dos anos 80. Vivia uma fase bicho-grilo, pela qual Renato, de acordo com o filme, também passou antes de conhecer o punk rock, e não me liguei muito no rock brazuca que então despontava. Ouvia mais Beto Guedes, Lô Borges e Tarancón, entre outros. E achava esse som bem inferior ao dos pioneiros Raul e Mutantes dos 60/70.

Mas o clima da época, estudante de Jornalismo e nos estertores do regime militar, não permitia que ficasse imune a esse movimento. Não aderi, contudo, de cara à nova onda. Ainda estava a descobrir Chico, Caetano, Gil e Milton, e qualquer coisa abaixo de Beatles para mim era perda de tempo. Fui, mesmo, prestar atenção às bandas bem depois, só para confirmar que muitas delas ou se extinguiram por falta de assunto e de novidade, ou sofreram o desgaste próprio da aderência ao mainstream.

Voltando ao filme, o Renato vivido por Thiago Mendonça ( o Luciano apagado de “Dois Filhos de Francisco”) impressiona pela caracterização, e seu esforço em tocar e cantar ele próprio as músicas deve ser louvado. Não chega aos pés do Cazuza de Daniel Oliveira ou o Jim Morrison de Val Kilmer, mas confere credibilidade. Falar nisso, o Marcos Breda, que vive o pai de Renato, está caricato e estereotipado, bem longe da sua brilhante atuação como Marcelo Rubens Paiva em “Feliz Ano Velho”.

A história tenta mostrar um painel do surgimento das bandas brasilienses, como a pré-Legião Aborto Elétrico, Plebe Rude e Capital Inicial, assunto abordado no livro “O diário da turma: a história do rock de Brasília”, de Paulo Marchetti (2001), porém é mais centrada no próprio Aborto, e ficamos sem saber se Renato e companhia é que deram o start para o surgimento das outras ou foi um movimento espontâneo e simultâneo.

Também não ficamos sabendo se, afinal, Dinho Ouro Preto (depois vocalista do Capital) fez parte desse grupo ou não (ele sempre disse que participou, sim). Em um momento, quando Renato e turma dão entrevista ao jornalista Hermano Vianna – irmão de Herbert, do Paralamas - (ver em http://olicruz.wordpress.com/2013/05/04/hermano-viana-escreve-sobre-o-rock-de-brasilia/), ele explica a miríade de conexões que as bandas praticavam, com todos participando de todas, como uma grande comunidade musical. Coisas do rock, também. Mas fica vago.

Enfim, o Renato do filme é um cara antenado, que devorou clássicos da literatura e da música em seu exílio involuntário por causa de uma doença que o paralisou por um tempo, inconformado com as artimanhas do poder central e com a incapacidade de fazer algo revolucionário (em uma cena marcante, ele cobra dos pais alguma atitude, ao qual o pai pergunta o que ele, um mero economista do Banco do Brasil pode fazer?). 

Parece que o músico encontrou a resposta no punk rock que os amigos filhos de embaixadores lhe apresentaram ao trazer discos de Londres, e partiu para a ação via imagem e atitudes agressivas. Nada mais adolescente.

É incrível supor que uma pessoa com essa reflexão da realidade se tenha transformado em porta-voz da juventude de seu e do futuro tempo (a plateia do cinema em que assisti ao filme estava repleta de adolescentes que aparentemente pouco se importaram de consumir pipoca e refrigerante a preço de refeição completa no shopping). Há realmente algo de estranho no Renato pintado no filme. Creio que o que o diretor tentou foi traduzir em imagens algumas das letras fundamentais do compositor – o que Fontoura até ilustra de maneira pouco criativa, ao colocar versos de algumas canções em frases ditas por Renato aqui e ali.

O filme, afinal, não me emocionou muito, deixou com vontade de quero mais, e a única cena em que senti algum arrepio foi quando ele cantou “Ainda é Cedo”, construída exatamente para surtir esse efeito: a homenagem à amiga querida com quem havia se desentendido e o desenrolar de certa forma evidente. E fica também a dúvida: a tal menina que lhe ensinou quase tudo que ele sabe foi realmente uma mulher ou o famoso pó branco, que alguns insinuam ter sido a fonte inspiradora? O diretor não quis correr riscos, pelo visto. Somado ao perfil insípido que traçou do grande Renato, parece que não quis mesmo.

A colcha de retalhos de Soderbergh

Jude Law e Catherine Zeta-Jones (Reprodução)
"Terapia de risco" (Side Effects), de Steven Soderbergh, aborda males psiquiátricos, como a depressão, mas apenas como pano de fundo para uma trama policial, e passa por leve pela questão da política da medicação às vezes de maneira leviana e o poder da indústria farmacêutica. Catherine Zeta-Jones, bipolar assumida, vive uma psiquiatra envolvida em um golpe sórdido. O filme é bom, se bem que se perde um pouco no desenvolvimento dos assuntos, mudando o enfoque e deixando no ar sobre o quê, afinal, o diretor quer falar. É assunto que daria para explorar bastante. Mas a opção do diretor foi outra, e me frustrou um tanto. O filme aborda ainda a prática de fraude no mercado financeiro, mas também de maneira superficial.

Quanto à Catherine, li no começo do ano entrevista com ela dizendo que aceitou fazer o filme por ser um convite - quase uma intimação - de Sordenbergh, que a dirigiu em "Traffic" e "Doze Homens e Outro Segredo". Ela anda reclusa para cuidar dos dois filhos que teve com Michael Douglas. Mas filmou ainda "RED 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos", de Dean Parisot (inédito), com Bruce Willis, com quem atuou em "O Dobro ou Nada", uma bobagem de Stephen Frears. Depois do Oscar por "Chicago", de Rob Marshall, parece que tem errado a mão em suas escolhas. Mas é sempre um prazer vê-la na tela.

Irreparável a atuação de Rooney Mara, a protagonista, psicóloga de formação - ela que teve indicação ao Oscar ano passado pela atuação em "Os Homens Que Não Amavam as Mulheres" e foi a namoradinha do criador do Facebook antes de ele "enricar", em "A Rede Social". Consegue enganar bem o espectador, em uma trama bem à la Hitchock. Jude Law também convence como o psiquiatra endividado que se mete em uma confusão da qual sai um pouco herói, desenvolvimento também explorado de maneira vaga e inverossímil por Soderbergh. Confesso que saí do cinema sem entender muito bem o desfecho.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Nosso Pupu maior

                                                                                                                                                                 "O meu pupu querido, na noite de luar, apareceu na Neomater, junto com os passarinhos”

Há 21 anos, por volta das cinco e meia da manhã, vinha ao mundo nossa filha Isabela. Veio um pouquinho antes do combinado, o que já prenunciava seu caráter de não deixar para amanhã o que pode ser feito ontem. Pegou-nos, eu e à mãe, de surpresa. Correndo para a maternidade Neo Mater, de São Bernardo, nem combustível havia no tanque do velho Monza preto. Até hoje rimos nos lembrando da cara do frentista abastecendo o carro e vendo a mãe agonizando no banco de trás. Coisas do Boga, diriam muitas vezes até hoje.

No hospital, o doutor Gilberto Palma chamado às pressas, nem deu para preparar a filmagem  planejada. E a malinha! Não estava pronta também. Corro eu à casa pegar as primeiras roupinhas. Cato a esmo o que me vem primeiro na gaveta. E o resultado é esse pijaminha o dobro de seu tamanho, mas era o que havia para a foto do berçário. “Esse Boga, viu!”, é o que dizem... Até hoje.

Isabela nasce. A moça vem até o vidro nos mostrar – a mim e à tia Dega, sempre presente. Ao ver pela primeira vez aquele rostinho, aqueles olhinhos, aquela boquinha, foi amor à primeira vista. Senti naquele momento que minha vida mudava para sempre. Era pai. Voltemos ao tempo. A notícia da gravidez de Joana me foi dada em um evento da Prefeitura de Santo André do qual participávamos. Fiquei besta, feliz demais. E foram nove meses de curtição da gestação, montagem do enxoval, do quarto, o primeiro presentinho, da saudosa Bete, mamãe e filhinho hipopótamo amarelos. Meu primeiro presente foi um perfuminho, creio que Giovanna Baby.

O primeiro dia em casa. Cuidados extremos, os dois sem muita experiência, a ajuda preciosa das tias, o primeiro banho, dado pela mais experiente prima Nanci. Eu ainda tinha algum traquejo, obtido pela presença da primeira sobrinha, Shirley, que morou em casa de meus pais até os 4 anos. Ensaio de paternidade. Mas sem problemas. O amor nos instrui, e acho que fizemos tudo direitinho. Vide a linda e saudável moça que temos hoje, se virando sozinha em outro país, longe dos olhos, mas sempre tão perto dos nossos corações (é um clichê, sei, mas muito adequado).

Nesta data, em que nossa filha chega à maioridade, quantas cenas vêm à mente... Quantas imagens, sons, cheiros, cores... Como a vida foi carinhosa conosco ao nos trazer esse ser tão lindo, tão meigo, tão carinhoso. A gente fica assim meio estupefata ao notar que o tempo passa tão rápido, mas acredito que todos os momentos foram apreciados com intensidade, cada sorriso, choro, conquista, frustração, tudo foi vivido em plenitude, mesmo que nem sempre totalmente presente.

Poucas horas depois de Isa vir à luz, chega sua prima-irmã-melhor amiga-etc Mariana. No mesmo dia do nascimento de minha mãe Hirde, que não ficou aqui para conhecer a filha de seu único menino sobrevivente (o primeiro filho de meus pais, do sexo masculino, não resistiu e teve poucas horas de vida). Tampouco a vó Alice teve oportunidade de conhecer a filha de sua penúltima cria.

Os avôs Almindo e Francisco, contudo, puderam dar-lhe carinho e sentir o gosto de renovação da vida que um recém-nascido sempre traz. Mas, para conhecê-los, Isa teve que viajar. Primeiro à Praia Grande, depois a Cáceres (MT). E nossa filha nunca mais parou de viajar. Espírito itinerante, senso de independência e uma enorme curiosidade pela vida e vontade de tudo conhecer. É uma viajante nata, mesmo que a saudade muitas vezes a persiga, o que é também um estímulo para voltar aos amados.

Uma menina vocacionada para as artes. Como qualquer criança, praticou dança, pintou, cantou, mas foi na arte dramática que se encontrou, e nela atuou até resolver, surpreendentemente, seguir a profissão do pai. Sem esquecer, contudo, do viés herdado da mãe. Enfim, um resumo de nós dois, aperfeiçoado pelo vigor da juventude, da vontade de realizar, de conhecer, de fazer.  Porque tem metas, objetivos, coragem e atitude. Eu a mãe lhe demos a vida, e ela faz dela o melhor que pode.

Nesta data, minha filha, eu e sua mãe deixamos testemunhado, de público, todo o grande amor que temos por você, a saudade que sentimos, você tão longe, mas algo importante para que prossiga enfrentando a vida sem temor e com o preparo necessário para brilhar, como temos certeza de que o fará. Siga seu destino com calma e tranquilidade, com a certeza de que você é muito amada por todos nós e que, quaisquer que sejam as decisões que for tomar na vida, terá sempre nosso apoio e confiança.

Com amor,

Seus pais


Our Pupu major

"My dear Pupu, in moonlight night, in Neomater appeared, along with the little birds"

Twenty one years ago, around half past five, our daughter Isabela came to us. She arrived a little before agreed, which was a harbinger of her character: never leave for tomorrow what can be done yesterday. This took us, me and her mother, by surprise. We rushed to NeoMater, the maternity hospital in São Bernardo, running out of fuel in the old black Monza. Even nowadays, we laugh when we remember the face of the employee of the gas station, fueling the car while her mother “agonized” in the back seat. Boga’s stuff, as people say even nowadays.

In the hospital, Dr. Gilberto Palma was recruited hastily and it was not possible to run the planned shooting. And the little suitcase! This wasn’t ready either and I run home to pick up the first little clothes. I picked at random the things which first appeared in the drawer. And the result is these little pajamas, twice as big as you, but that was what we had for the nursery picture. Oh, Boga… this is what people say, up to now.

Isabela is born. The woman comes to the glass window to show us – to me and to her aunt Dega, always present. The first time I saw that little face, those little eyes, that little mouth... it was love at first sight. At that moment, I felt my life was changing forever. I was a father. Let’s come back in time. The news of Joana’s pregnancy was broken to me in an event of Santo André City Hall in which we were taking part. I was dizzy, really happy. Then, nine months tanning the gestation, preparing the outfit, the bedroom, the first gift - from the dear Bete, mom and son yellow hypo. My first gift was a little perfume, Giovanna Baby I guess.

First day at home. Extreme care, both naive, the precious help of the aunts, the first bath was given by Nancy, the most experienced cousin. I had some ability, developed with my niece, Shirley, who lived at my parent’s place until she was four. Paternity rehearsal. But, no problem. Love instructs us, and I think we’ve done everything properly. The proof is the healthy, pretty girl we have today, finding her way on her own in another country, out of sight, but always so close to our heart (I know this is a cliche, but very adequate).

Today, when our daughter reaches adulthood, so many scenes come to mind… So many images, sounds, smells, colors… Life was lovely to us, bringing us this being so beautiful, so sweet, so affectionate. We feel a bit thunderstruck when we notice the time passes so fast, but I believe all the moments were enjoyed intensely, each smile, cry, achievement, frustration, everything was lived fully, even if not always present.

Few hours after Isa coming, Mariana - her cousin-sister-best friend-etc. - arrives. In the same day my mother Hirde had been born, but she couldn’t stay to meet the daughter of her only boy who survived (the first son of my parents didn’t resist and lived only a few hours). Neither her grandma Alice had the opportunity to meet the daughter of her penultimate child.

The grandfathers Almindo and Francisco, however, could give her affection and feel the taste of life renovation a newborn always brings. But, to meet them, Isa had to travel. First to Praia Grande, afterwards to Cáceres (MT). After that, our daughter never stopped travelling. Itinerant spirit, sense of independence, a huge curiosity about life and a desire to know everything. She’s a native traveler. Sometimes the nostalgia pursues her; however, this is a stimulus to come back to her beloved.

A girl with a way with the arts. As any kid, she danced, painted, sang, but it was with acting that she identified, and acted up to deciding, unexpectedly, to follow her father’s footsteps. Without forgetting, however, the bias inherited from her mother. Ultimately, an abstract of both of us, perfected by the vigor of the youth, the willingness to perform, to know, to do. For she has aims, objectives, courage and attitude. Her mother and I gave her life, and she has made of this life the best she could.

On this date, my daughter, your mother and I testimony, publicly, the enormous love we feel for you, how much we miss you. You’re so far away, but it is important that you keep facing life fearlessly and preparing yourself to shine, as we are sure you’ll do. Follow your destiny calm and quietly, being sure that you’re truly loved by all of us and that no matter the decisions you have to take in life, you’ll always have our support and trust.

Love,

Your parents

quarta-feira, 27 de março de 2013

Limites são para serem superados


Gaby Andersen, Olimpíada de LA, 1984

Coincidência – ou não -, assisti recentemente a três filmes que abordam pessoas acometidas de males que lhes impedem de, por conta própria, se locomover, comer, se limpar, enfim, qualquer atividade que normalmente fazemos sozinhos. “Amor” (“Amour”, de Michael Haneke), “Intocáveis” (“Intouchables”, de Eric Toledano e Olivier Nakache) e “As Sessões” (“The Sessions”, de Ben Lewin). Em todos os três, as pessoas incapacitadas mantêm a dignidade, não querem ser vistas com pena nem tratadas como seres sem inteligência e discernimento.

Não estou defendendo a resignação, mas creio que enfrentar as adversidades da vida com coragem e determinação é uma boa dica para quem acha que é um coitado total e que o mundo todo conspira contra ele. Conheço pessoas que o tempo todo lamentam a má sorte, vivem às turras com tudo e todos, achando que as coisas ruins só acontecem com elas. Como menciona o palestrante Mauricio Louzada em seu livro “Pra Valer” (editora All Print, 2011, 3ª edição), “os problemas fazem parte da vida, mas ser vítima deles é uma questão de escolha”.

Impossível não se lembrar do físico britânico StephenHawking, portador, desde os 21 anos, de esclerose lateral amiotrófica, que lhe paralisa os movimentos do corpo, mas não as atividades cerebrais. É autor da frase: “Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”, o que encerra uma grande lição. Também podemos nos referir ao paralama Herbert Vianna, que há 12 anos ficou paraplégico e, após quase dois meses em coma, sobreviveu e sua recuperação foi tamanha que lhe permitiu voltar à atividade artística, apesar das limitações que adquiriu.

Mas há outros anônimos por aí que nos dão sempre uma lição de vida. Mostram que a força de vontade – a de viver, em primeiro lugar – supera os obstáculos que possam aparecer. E que, antes de se queixar, é bom avaliar se está dando o melhor de si. Não quero dar lição de moral, mas acho que uma atitude positiva diante da vida ajuda bastante, que o pão de hoje é uma dádiva e o de amanhã depende de nosso esforço e crença em nossa capacidade de obtê-lo.

A esses conhecidos que vivem rabugentos e se achando os mais injustiçados dos humanos, vivo dizendo que se lamentar não resolve os problemas, que o que conta é a maneira como os enfrentamos, sem perder o vigor. Mas uma hora cansa ver que minhas palavras de nada aliviam sua lástima. O que acontece é que mais dia menos dia acabarei me afastando deles, pois negativismo pega, e não quero ser um radar de energias ruins. Parece cruel, mas é assim.

sábado, 16 de março de 2013

A importância das atitudes

Com as amigas Cris, Eliana, Angélica e Lize (Century Flat Hotel)

Sempre disse que atitudes valem mais que palavras, estas porque se não acompanhadas daquelas pouco valor podem possuir. Mas ontem (15/03), ouvindo uma palestra sobre motivação, de Mauricio Louzada, entendi a verdade disso: de que adianta dizer aos seus queridos que os ama e não compartilhar com eles a vida, os momentos, não estar presente em episódios importantes da vida?

Coincidência – ou não -, nesses últimos dias tenho revisto amigos de muito tempo, que as circunstâncias da vida nos fizeram afastar-nos. Foi lindo, como já mencionei em posts anteriores. Dizer nas redes sociais ou por meio de um torpedo que estamos com saudade é bom, mas reencontrá-los é muito mais gostoso, faz a gente sentir que aquilo que foi construído durante anos de amizade continua dentro de nós.

O palestrante falou da importância de se reprogramar mentalmente para o sucesso, de questionar seus próprios pensamentos negativos para torná-los positivos, de estabelecer metas plausíveis e ir à luta, focado nesse objetivo. Mas o interessante é que, segundo suas palavras, sucesso não quer dizer, necessariamente, alcançar os bens materiais desejados, o status social cobiçado. Sucesso, na concepção do palestrante, é estar feliz, alcançar a felicidade.

Concordo com ele. E ser feliz, para mim, tem mais a ver com estar bem com as pessoas queridas, poder desfrutar de momentos com elas, de saber que não se está sozinho nesse mundo imenso e obscuro. Muitas celebridades, reconhecidas por multidões, talvez se sintam solitárias; filmes diversos tratam disso. Multimilionários  há que não têm tempo de ver os filhos crescerem, aprenderem as letras, descobrirem o mundo; enfim, não se trata da velha máxima de que dinheiro e fama não trazem a felicidade, mas de perceber que uns sem a outra não faz muito sentido.

Após a palestra fomos a um bar para prolongar o momento gostoso de estar junto. Quando a gente convivia mais frequentemente, o bar era um ponto de relax, quando podíamos deixar as discussões sobre o que fazer para mudar o mundo de lado e nos entregarmos a assuntos mais amenos, como o último disco do Chico, o filme que entrou em cartaz e tínhamos que ver, os amores frustrados que vivíamos, os planos para o futuro, as encrencas com os pais, enfim, os papos próprios de jovens na casa do 15 aos 20.

Mas este bar escolhido não permite essa interação. Uma banda tocando no volume máximo, depois, no intervalo, um som na mesma intensidade. Impossível conversar se não aos gritos, o que impede qualquer diálogo sensato. Bem, é um lugar para isso mesmo, ouvir música alta, tomar drinques, paquerar, beijar e... Sei lá. É diversão, e é importante nos divertirmos, claro. Mas o mais importante é que os contatos foram refeitos e não faltarão oportunidades de novos encontros, papos intensos e desfrutar da felicidade que muitas palavras não conseguem exprimir.