O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ganhos e perdas

     Vinte e três de outubro, quase fim de ano. Assistindo a "Profissão Repórter", que trata das dificuldades de atletas que sonham com a Olimpíada. Histórias de sacrifícios, superações... A velha ladainha de que você tem que acreditar em seus sonhos, perseguir suas metas, blá-blá-blás que enchem os bolsos dos escritores de livros de autoajuda e motivação e palestrantes sobre os mesmos assuntos.

     Acredito, sim, que a perseverança é importante e necessária, e até escrevi sobre isso aqui. Mas também sei que não há lugar no alto do pódio para todos. É importante e necessário também nos prepararmos para as derrotas, frustrações, decepções. Faz parte da luta, afinal. Não aceito que vendam ilusões de que você tudo pode se quiser. Melhor é a máxima de que o que vale é competir. Apesar da metáfora esportiva, é válida, afinal, neste país tudo se resume a metáforas esportivas, no mundo corporativo e na vida.

     Tive algumas derrotas este ano, doídas, mas não desesperadoras. Muitas delas por responsabilidade exclusivamente minha, daí ver os erros e tentar corrigi-los. É o que  se espera de processos assim. Ganhos os tive também, claro. E também episódios em que não posso resumir os resultados a ganhos ou perdas. Foram aprendizados, o que não deixa de ser um ganho. Outros fatos revelaram um nível de intolerância meu que não tinha noção de o ter. Isso me assustou.

     Enfim, estes dez meses de 2013 têm me proporcionado bons momentos de reflexão, de reavaliação, de repensar as atitudes, os pensamentos, as convicções. Confesso que o saldo não é dos mais alentadores. Mas o bom disso tudo é que esse diagnóstico tem permitido que eu clareie a mente, redefina os objetivos e redesenhe os caminhos. Dessa forma, as perdas passam a reverter-se em ganhos, no sentido de que se tornam lições e correções de rumos. O que se chama na Teoria dos Jogos de soma zero.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um domingo

Acordo cedo, compromisso logo de manhã. Vou de ônibus, porque andar de carro está cada vez mais complicado. Espero longos quarenta minutos pelo coletivo – afinal, é domingo, frota e horários reduzidos. No meio do caminho, a avenida por onde o ônibus tem que passar estava fechada – não sei por que, talvez alguma maratona, como aconteceu outro dia. Motorista reclama, não foi avisado, não houve divulgação do bloqueio. Muda o itinerário, prejudicando os que contavam com a condução naquela rota. Preocupa-me o atraso ao compromisso por causa do desvio.

Entra na avenida Paulista. Ela toda com uma faixa da pista bloqueada para uso exclusivo de bicicletas. Ao longo desta ciclofaixa, cones com a bandeira de uma seguradora delimitando o espaço para os ciclistas, e a cada esquina, um trabalhador, uniformizado com roupas das cores da tal empresa, com uma bandeirola, na ponta de um cano, que ele descia quando fechava o semáforo, para alertar o usuário de que ele deve esperar o sinal verde. Nenhum ciclista circulando por essa faixa. As pistas remanescentes ficam um tanto lentas, apesar de ser um domingo por volta de sete horas da manhã.

Chego ao meu compromisso faltando cinco minutos para o horário marcado. Tenso, em um momento em que precisava demais de tranquilidade. Pouco depois, ouço, vindo da rua, o falatório sem nexo de uma mulher, aparentemente com problemas mentais. Fala alto, para ninguém, parece-me. Incômodo. Difícil manter a concentração.

Após intermináveis trinta minutos, ela some. Aí, o alarme de algum carro começa a disparar sem dó. O som explode por alguns minutos, depois para, em seguida volta a soar, para, volta... um ritmo que não passa despercebido pela mente, que só quer algum silêncio para raciocinar.

Depois que o alarme finalmente deixa de soar, um sujeito ao meu lado abre um pacote de salgadinho, ou sei lá o que, e começa a comer, fazendo um barulho insuportável de embalagem metálica sendo amassada. Outro começa a tossir sem cessar. Difícil manter a concentração, mas consigo. Acho.

Está difícil viver em sociedade...