O Barquinho Cultural

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Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Bratislava: Uma mistura de ritmos e poesia

Por: Patrícia Visconti, de O Barquinho Cultural


Quarteto mistura vários essências, mas o rock dá o tom (foto:Luisa Telles)
Sabe aquela banda que você ouve e vira fã desde o primeiro instante que escuta? Pois bem, esta é a Bratislava. Uma banda soteropaulistana que iniciou a carreira em meados de 2010, e mistura diversas essências musicais, formando um som único e autêntico.

A banda é formada pelos irmãos Victor Meira (vocais/synth) e Alexandre Meira (guitarra/vocais), e também pelos músicos Sandro Cobeleanschi (baixo) e Lucas Felipe (bateria). Um quarteto com uma sintonia ímpar que se conecta do primeiro acorde ao término do álbum.

A Bratislava já lançou três trabalhos autorais, entre eles o EP "Longe do Sono", em 2011, e o álbum "Carne", em 2012. E no último ano o grupo lançou o single "Vermelho". Atualmente, a banda está em fase de gravação de seu segundo álbum, ainda sem previsão de lançamento.

Canções que tocam a alma (foto: Arquivo Pessoal)
Em paralelo ao novo projeto, a Bratislava gravou um EP exclusivo com a banda Kiwi Qualquer, um perfeito entrosamento de ambas as bandas, reunindo letras que mesclam  a realidade com imagens figurativas, fantasias e brincadeiras com personagens que rementem à infância e à cultura pop. Somam as rimas e as poesias, criando um arranjo único e marcante, transcendendo uma musicalidade excepcional ao EP.

Em resumo, a Bratislava são músicas poetizadas, mas com letras que remetem ao cotidiano de qualquer ser humano, que ama, se apaixona, busca respostas, amigos e amores por uma grande metrópole como São Paulo, mostrando os eternos paradoxos sociais. Canções que marcam os ouvidos e tocam direto na alma, e, apesar da multi-influência dos músicos, o rock é a verdadeira essência da banda, mas sempre com ares alternativos e fugindo do convencional.

Confira abaixo o último videoclipe da banda, “Vermelho”. Canção composta em 2014 e escrita por Victor Meira:




Para conhecer mais sobre a Bratislava acesse:

Sites: www.bratislava.com.br | http://bratislava.tnb.art.br

Twitter: @bratislavabr

Facebook: www.facebook.com/bratislavabr

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC40_W7ErSpyUUYGt2PiUM7g

SoundCloud: http://soundcloud.com/bratislava/

Vimeo: http://vimeo.com/32288068


quinta-feira, 16 de abril de 2015

HL Arguments: A música sem regras e padrões!


Formada em 2011, banda quer muito mais que ser modinha (foto: Divulgação)
Essa formação da banda HL Arguments pode ser nova, mas o anseio e prospecção do líder, vocalista e guitarrista Hélio Lima, não. Um apaixonado por música desde quando era criança, seu maior sonho sempre foi difundir suas letras e poesias aos quatros cantos do mundo, independente da língua, da cultura ou da crença das pessoas, apenas pela paixão e emoção..

A HLA foi formada em julho de 2011 pelos músicos Helio Lima (vocal, guitarras), Marcos Cesar (baterias), Amanda Labruna (vocal),  Alex Ezequiel e Fernando Silvestre (guitarras) e Wesley Lima (baixos).

Uma banda de rock alternativo que possui dois álbuns lançados, "HL Arguments", com destaques para "New Direction" e "Like a Crazy Magic", e, em setembro de 2013, o segundo álbum de estúdio "HL Arguments II" foi lançado, com destaques para as canções "Hook", "#JC1" e "Naty (Physician Fake)".

A banda já excursionou por vários festivais independentes de São Paulo, sempre com intuito de proliferar seu som, e não apenas ser modinha entre uma nova tribo que vai surgir na sociedade. Porque música vai além do que as rádios transmitem, mas sim algo que vem de dentro para fora, compartilhando momentos e sensações em que cada música interpreta dentro de algum um de nós.

HL Arguments é uma banda que visa muito além da indústria fonográfica, já que seu principal foco é a música e não apenas vender discos e ser a nova revelação musical da novela das nove. Artistas que fazem música de verdade, mostram sua essência musical em cada acorde dedilhado, sem rótulos  ou "estereótipo de aceitação", como o próprio Hélio disse em um artigo publicado em seu Facebook.

HLA mostra sua essência sem rótulos (foto: FêValladares)
Mas, mesmo que um dia a HLA faça contrato com produtoras e gravadoras demandantes na indústria fonográfica no país, sua origem irá permanecer, pois para eles a autenticidade é antes de tudo revelador do caráter e não invenção de modas e estilos criados por produtores que apenas visam o lucro para si, e pouco se importam com a arte existente.

Confira abaixo “Hopes and Dreams” e sinta a emoção de uma música produzida por quem se importa com a arte:




Para conhecer mais sobre a HL Arguments acesse:




Sound Cloud: www.soundcloud.com/hl-arguments

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A música sincera e positiva de Aline Duran

A cantora e compositora paulistana Aline Duran inicia a turnê “Sente o Som” – título de seu último álbum – neste sábado, 18 de abril, em São Paulo. Será na Funarte-SP (Alameda Nothmann, 1.058, Campos Elíseos), às 18h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).


Com um trabalho sério e dedicado, Aline alçou altos voos (foto: Breno Banu)
De Aline Duran pode-se dizer muitas palavras. É uma linda mulher, tem uma voz gostosa de se ouvir, suas composições e melodias são de fácil assimilação e o som que ela e sua banda levam agrada muito aos ouvidos. Mas, tão importante quanto tudo isso, é a paz e a tranquilidade que ela passa para a gente.

A quase meia hora que conversamos para esta entrevista transcorreu na mais perfeita harmonia, com respostas precisas, uma convicção total de suas propostas, e uma carga de otimismo e alto astral que faz a gente acreditar que somos capazes de tudo alcançar, se houver fé e muito trabalho, além de um plano bem traçado sobre aonde se quer chegar.

Ela conseguiu. Chegou aonde se propôs, mas, com humildade, diz que ainda está em crescimento, há muito a fazer, a aperfeiçoar... Fico imaginando onde esta menina estará daqui a algum tempo.

Em pouco mais de dez anos de carreira, Aline alcançou o respeito e a admiração do público e de músicos de peso. Cantou com Bunny Rugs, falecido em fevereiro de 2014, da lendária banda jamaicana Third World – uma das quatro mais importantes da cena reggae à época de Bob Marley; dividiu os microfones também com Andrew Tosh, filho do igualmente célebre Peter Tosh.
Já em seu primeiro álbum (Novo Dia), contou com a participação de Bi Ribeiro e João Fera, do Paralamas do Sucesso; do DJ Marcelinho da Lua, produtor e muitas outras coisas, da prestigiada galera carioca Bossacucanova; do rapper fluminense Black Alien, que tocou no PlanetHemp e com muitos outros feras.

Bunny Rugs, morto em 2014

Antes de lançar esse primeiro CD, já se apresentara na Argentina, representando o Brasil no Dynamic Reggae Soundclash; com um disco demo nas mãos, participou de diversos festivais de reggae pelo país, como o Grito de Carnaval Reggae, em São Paulo, teve seu trabalho difundido por rádios importantes.

Com o primeiro disco lançado, pela Deckdisc, e em seguida o single “Sorrir pra Mim”, produzido por Alberto Vaz, segue uma trajetória meteórica que a coloca em palcos importantes, como a Virada Cultural de São Paulo, o Festival de Inverno de Campos do Jordão, mais apresentações em Buenos Aires, sai em turnê com os jamaicanos Don Carlos e Apple Gabriel, toca com a banda americana S.O.J.A (Soldiers of Jah Army).

Em 2012, a convite do portal Uol, grava “Love is Strong”, música do disco Voodoo Lounge, em comemoração dos 50 anos da banda britânica Rolling Stones promovida pelo portal. Em 2013, faz o dueto com Andrew Tosh na música “Can’t Buy me Love”, para um álbum-tributo aos também britânicos Beatles.




Lança o segundo trabalho, Sente o Som, em 2014, colabora com a banda porto-riquenha La Quilombera e participa das filmagens do longa “Um Salve Doutor”, dirigido por Rodrigo Sousa & Sousa e produzido em forma colaborativa, lançado em novembro de 2014. Ufa! Um currículo de responsa.


Um Salve Doutor - Teaser from mundoemfoco on Vimeo.

O trabalho de Aline é baseado no reggae, com o qual se identifica e vê como o ritmo mais adequado ao recado de positividade que quer transmitir. Mas não se enclausura no estilo, acrescentando a suas composições pegadas dos outros universos sonoros que ouve e frequenta, como o hip hop, o blues e, mais recentemente, o jazz.

Nesta entrevista ao Blog por Bloga, concedida por telefone em 10 de abril de 2015, Aline fala de sua trajetória, influências, propostas, visão de mundo, objetivos, do fato de ser uma das poucas mulheres na cena reggae, entre outros assuntos. O áudio da entrevista está disponível abaixo:



Blog por Bloga: Vamos começar falando um pouco de sua história, como você começou, de onde você é, como é que você chegou até a música?

Aline Duran: Vou começar a falar da parte profissional. Com 19 anos mais ou menos eu decidi que ia deixar o diploma de Turismo e investir na música, e acabei entrando e fiquei um ano em uma banda de reggae na zona leste e saí e fui montar meu projeto. Já era 2004, mais ou menos, para 2005, quando eu comecei a produzir minha primeira demo, com o Wagner Bagão, que tinha trabalhado com a Tribo de Jah. A gente começou a trabalhar e acho que em um ano e meio chamamos a atenção da gravadora, a Deckdisc e a gente gravou o disco de estreia [Novo Dia], a gente trabalhou por uns anos com a gravadora e quando eu saí e continuei, já estava com planos para o segundo disco; levou um tempo a mais do que eu gostaria, tentei trabalhar com um produtor e não deu certo, não ficou bom, aquela coisa toda. Então encontrei o Francys [Silva], que é um amigo de longa data, e ele me ajudou a produzir, os arranjos e tudo e aí agora em 2014 a gente lançou em formato digital e voltando agora para poder continuar... shows...

Bloga: Você diz o Novo Dia, que foi o primeiro...

Aline: Isso, Novo Dia, o primeiro, que eu fiz pela Deckdisc. Eu fiz a demo em 2006...

Demo lançada em 2006

Bloga: 2006 foi a demo...

Aline: Isso, a demo em 2006. Aquela banda da zona lesta era em 2004; em 2006 eu já lancei a demo e, em 2008, lancei pela Deckdisc e, em 2010, 2011, mais ou menos, eu lancei um single ["Sorrir Pra Mim"] que produzi com um produtor da Som Livre [Alberto Vaz] e a gente fez essa música, que entrou nesse disco agora [Sente o Som]. Fora outros convites que tive a oportunidade de fazer; gravei com Andrew Tosh ["Can't Buy Me Love", de Lennon/McCartney]; no próprio disco novo a gente gravou com Bunny Rugs, que é um cara do nível de Bob Marley, do nível de importância no reggae do Bob Marley. Na real, na época do Bob eram quatro bandas: Burning Spear, Wailers, Third World e o Peter Tosh, que já estava solo. Então eram os quatro grandes artista. O Bunny Rigs, que era do Third World, era um desses grandes cantores da época e eu tive a oportunidade de gravar, acabei colocando, é a última faixa do disco. A música é em parceria com ele[“I Believe in You”, de Kwame Heshimu]. A gente acabou colocando, foi uma coisa meio de surpresa, não estava nem nos planos.



Bloga: Aí ele acabou falecendo...

Aline: Sim, infelizmente ele estava numa luta contra o câncer e acabou perdendo. E, imagina, a gente ia fazer clipe com ele e tudo, mas infelizmente aconteceu isso. A gente vai fazer uns lançamentos paralelos dessa música. Tem um cara chamado Ranking Joe, que acho que é o DJ mais importante da Jamaica, da história do reggae, ele fez uma versão e a gente vai fazer isso logo mais. O cara que produziu [Ziggy Coltrane], em Nova York, vai trabalhar a música lá fora, e enquanto isso aqui no Brasil a gente vai fazer um clipe da música e vai seguir a carreira mesmo, seguir com os shows.

Novo Dia saiu em 2008, pela Deckdisc
Bloga: Quer dizer, você conseguiu se projetar nesse meio, até internacionalmente... A que você atribui isso? É a galera que está envolvida, ou é mesmo uma questão de oportunidade, de sorte...

Aline: Não sei se eu acredito muito em sorte, acredito no trabalho sério e sonho, quando você tem assim determinação para realizar alguma coisa; não acho que a questão seja sorte, não. O que eu fiz, acho que qualquer um poderia ter feito, é só você traçar um plano, ver aonde quer chegar, traçar um plano e ser persistente. Graças a Deus eu tive reconhecimento desse esforço, desse trabalho, ao ponto de as pessoas gostarem, então foi algo sincero, nunca tive que pagar jabá para rádio, demo... Quando a gravadora chegou para gravar o disco com a gente, já tínhamos a música na cena underground trabalhada, até na Argentina, eu fui pra fora antes de ter gravadora e tudo. A projeção maior se deu aqui no Brasil por conta da gravadora porque teve assessoria de imprensa, é óbvio, tem todo um respaldo, os caras que ajudam, foi importante, eu acho, mas o trabalho de base já estava feito. Com a gravadora ficou melhor ainda. Mas assim, por exemplo, eu saí da gravadora e agora a gente fez um disco de qualidade tão boa quanto e estamos saindo agora, voltando para a estrada para trabalhar ele.

Bloga: Esse Sente o Som então é independente?

Aline: Sim, esse é 100% independente.

Bloga: A opção de ser independente foi uma escolha fundamentada em quê? Tem mais espaço, a coisa dá mais liberdade, por que a escolha da independência? Como é que está o acesso hoje às grandes gravadoras?

Aline: Acho que o artista não depende da gravadora, ela que depende da gente hoje em dia. Então, na real, já vem de uma crise fonográfica, de, sei lá, uns anos pra cá, ao ponto de, hoje em dia, a maioria das gravadoras chegou num nível que elas próprias assinam contrato com um artista que já chega com um trabalho pronto, produz lá... Alanis Morissette está gravando um disco na casa dela... Ela deve ter uma gravadora que vai fazer o quê? Possivelmente a distribuição. Então, hoje em dia essa independência que democratizou a música se dá primeiro pelo acesso ao conhecimento, à informação, aos softwares que você vai lá e resolve, faz, não precisa ter um puta de um estúdio para fazer uma coisa. Você tem o conhecimento, vai num estúdio bom e faz um trabalho bom, vendável. Isso e a questão da internet, para download, tudo, isso quebrou onde eles mais ganhavam que era na venda do disco, mas o artista sempre ganhou com show. Então, mesmo antes, o artista ganhava com show. Então eu acho que a questão ser ou não independente... A gravadora que eu estava, a Deckdisc, é uma gravadora independente, é a maior independente do Brasil, mas é independente também, foi um selo que me ajudou muito, que investiu no meu trabalho, num nível que talvez eu sozinha não conseguiria na época, mas assim, tudo bem, fez o trabalho, deu o prazo do contrato. Se tivesse uma outra gravadora, uma Sony, os caras investem nervoso também. Isso não é a garantia de nada, seu trabalho tem que ser sincero, bem feito e as pessoas que vão dizer se gostam ou não. O reconhecimento que eu tive foi sincero desde o início, desde antes de tudo. E agora é manter, investir para crescer cada vez mais. Isso não depende de gravadora.

Sente o Som, de 2014: independente
Bloga: Como é que está o espaço para você tocar, se apresentar? Está bom, acessível, ou tem que batalhar muito, como é que está o cenário hoje para vocês apresentarem o que estão fazendo, além da internet, para tocar mesmo, shows...

Aline: Eu tenho sentido até uma coisa de todos, todos os artistas que eu conheço, não só do reggae, eles têm falado que agora o apoio à cultura está muito mais nessa coisa de [Lei] Rouanet, as oportunidades estão vindo muito mais a partir dessa forma, de governo...

Bloga: Incentivo cultural...

Aline: Isso, desses incentivos culturais, muito mais do que da iniciativa privada, talvez porque ela esteja necessitando de um apoio nesse aspecto. Os caras de casas também estão investindo menos, eu acho. Não sei se isso é uma questão de imposto, enfim, falta de incentivo para eles, mas o que eu vejo são grandes artistas atrás da Lei Rouanet, por exemplo, a Vanessa da Mata, você vê gente que é nome de peso mesmo, Bebel Gilberto, é um pessoal que não está atrás de fazer o próprio disco em casa, não. Estão atrás de incentivo cultural. Eu,  no caso,  não tive nada disso, a gente fez independente mesmo, por uma questão de não ter outra opção também: é isso ou isso,  então vamos. O importante é fazer, nunca parar.

Bloga: Você já frequentava esse meio? Por que você optou pelo reggae, quais são as suas influências. Quando você se tocou que queria ser cantora foi pelo reggae mesmo, direto?

Aline: Quando eu comecei a escrever minhas músicas, eu percebia que elas tinham sempre essa característica mais positiva, toda uma linguagem que cabia, eu já estava curtindo [o estilo], sempre ouvia desde 13, 14 anos reggae, hip hop, ouvia muito blues também, mas, por exemplo, o blues precisa, para ser bom, tem que ter uma dor verdadeira e eu não tinha, eu tinha mais alegria a passar e a dizer às pessoas...

Bloga: Uma coisa mais iluminada...

Aline: Né? De superar, encarar os desafios e vencer, esse tipo de mensagem positiva. Eu achei que era muito mais cabível a minha música dentro desse universo que sempre foi minha paixão também. O reggae me escolheu, eu escolhi o reggae. Foi uma escolha mútua na parte criativa, mas eu não me restringi a isso. Como eu sempre ouvi muitas outras coisas, desde pequena, não me limitei a fazer só isso aqui. Imagina, a música é rica e a liberdade criativa é o mais importante. Eu sempre deixei o reggae se misturar com outras influências que eu tinha, de R&B, de hip hop, jazz...  Mas agora o jazz é algo relativamente novo na minha vida musical. Tem acho que cinco anos que eu esteja ouvindo e consumindo mesmo [o jazz]. Até então era muito mais reggae, hip hop, R&B e blues muito. Agora tenho essa nova informação que acaba caindo um pouquinho, aí eu fui lá e temperei um pouquinho o segundo disco.

Bloga: Você está fazendo então uma mescla, você quer criar a sua própria linguagem...

Aline: Eu acho importante a gente se desenvolver, crescer, porque eu não faço música de forma mecânica, industrial... Realmente tem minha alma, meu coração ali, tem que ser sincero, vai partir da minha vida, das minhas experiências, do que eu estou consumindo de verdade.

Bloga: E nessa linha mesmo: você é compositora, que recado você quer dar com a sua arte, com suas músicas, o que você quer transmitir com as suas letras?

Aline: Emocionar as pessoas. Acho que tem música que é para dançar, tem música que é para pensar, mas acima de qualquer coisa acho que é emocionar as pessoas para que elas sintam a própria dimensão... Eu sinto a minha dimensão enquanto um ser humano, eu sinto ela profunda e, se através da minha vivência, da minha música eu puder fazer com que as pessoas se aprofundem nela, nos sentimentos, nas emoções que elas cresçam, ganhem alguma coisa, levem alguma coisa de positivo com isso... Sempre positivo, jamais faria uma música para deixar uma pessoa mal, que passasse uma mensagem negativa qualquer, em relação a ela ou ao mundo. Não, sempre com o olhar otimista, eu acho. Otimista, profundo e que as pessoas levem alguma coisa de emocionante para elas na vida.

Lance de Aline é emocionar as pessoas  (foto: Allan Oliveira)

Bloga: Como é que você está vendo o momento atual, a gente está aí numa situação política e econômica um pouco conturbada, tiveram os vários protestos em 2013, a coisa que está se dando na sequência... Você acha que está tendo um espaço para você vir com esse recado mais positivo, de sensibilizar as pessoas. Acha que é possível você esquecer um pouco a vida comum e pensar em coisas mais positivas?

Aline: Eu acho que cada um fala do ponto de vista, acho que, em meio ao caos a gente pode escolher tanto uma visão pessimista quanto uma otimista e não é porque a gente tem uma visão otimista que a gente deixa de lutar pelos direitos, se aliena... Jamais. Inclusive tem muita gente que acha que faz uma música de protesto e está se alienando, não está com profundidade naquilo que diz. Mas eu sou terminantemente contra qualquer discurso de ódio, começa por aí. Estou dizendo isso em relação a toda essa situação política que a gente está vivendo. Nunca acho que o discurso de ódio vai levar a alguma coisa boa, definitivamente. Acho que a gente tem que encarar, sim, a realidade, modificar o que está ruim, mas sempre com essa visão otimista, sempre com respeito, sempre com amor, é uma resistência pacífica, jamais algo agressivo; não acredito nessas coisas de ódio que alguns estão pregando, seja em entrevista, seja em música, não é, definitivamente, a minha posição. Talvez hoje, especificamente, com esse disco, eu não queira comprometê-lo com nenhuma situação neste momento, quero deixar a obra livre para ser o que ela é, mas nada me impede, inclusive, eu estou vivendo isso, é possível que isso ecoe dentro de mim a ponto que, criativamente eu vá falar sobre, como eu falei no primeiro disco; esse clima de revolta já previ no primeiro disco. Vai ter uma hora que as pessoas vão se mobilizar diante de tanta impunidade, de tanta desonestidade, eu já falei isso em “Bem-vindo à Selva”, primeira música do primeiro disco, cinco, seis anos atrás. E agora eu defini... passei por um momento que quis deixar isso um pouco livre. Mas eu estou vivendo isso, estou vendo tudo isso, é muito possível, uma vez que eu falo da minha vida, das minhas experiências nas minhas músicas, eu não estou de olhos fechados a tudo isso que está acontecendo, então é possível que no próximo disco a gente tenha alguma coisa um pouco mais politizada, talvez. Mas não como regra, eu posso me expressar de ‘n’ formas, mesmo que não seja através da minha música, talvez seja mais efetivo eu ir numa manifestação atrás daqueles direitos. A música tem um poder, é claro, mas talvez em não tenha que a usar nesse momento.




Bloga: Há poucas mulheres nessa cena de reggae. Como é que você se vê, teve alguma dificuldade de se colocar. Acha que isso aí pesou ou foi tranquilo, não sentiu nada de preconceito, resistência do meio?

Aline: Preconceito sempre há. Acho que a forma como a gente lida com ele, se você se vitimizar diante do preconceito que você for receber... Você viu que passa a vida toda sofrendo preconceitos. Na hora que você ignora ele e simplesmente continua focada no crescimento,  no que você acredita, isso não te afeta mais; não que não te afete... Não te segura, pode até te atingir, mas não vai te impedir de crescimento algum. Eu acredito nisso. Em alguns momentos acho que isso foi um grande diferencial – o fato de ter poucas mulheres – e, em alguns momentos, só no começo, acho que as pessoas não estavam acostumadas. Acho que tem muitas artistas mulheres em todos os estilos de música. Então não teria por que ter uma restrição do publico. No reggae talvez os mais ortodoxos possam ter alguma restrição, mas nem é meu foco, nem é meu público alvo, então não precisei me preocupar com isso, não me intimidei. Acho que para mim, na verdade, foi muito mais positivo o fato de ter poucas mulheres porque isso foi um diferencial, mas é porque a minha visão é otimista.

Bloga: Fazendo um balanço de sua carreira, desse tempo todo, os discos, como é que você avalia sua trajetória até agora e o que está projetando daqui para a frente?

Aline: A minha visão é de que eu sou uma artista em crescimento. Eu tenho pelo menos o respeito e o reconhecimento do meu trabalho no meio em que eu atuo, graças a Deus eu tenho. Então é continuar trabalhando para manter isso e cada vez mais ampliar o meu trabalho, ampliar o reconhecimento das pessoas diante dele, enfim, conquistar cada vez mais fãs, acho que até fora do meu meio... Eu me vejo como uma artista em crescimento.

Bloga: Você imaginava que teria essa projeção, porque você está cercada de pessoas de peso, até o pessoal do Paralamas, o Bunny...

Aline: Eu acredito muito nos sonhos, em torná-los realidade, acredito muito nisso, e foi no momento em que eu acreditei que eu poderia ter o Black Alien cantando uma música minha [“Pra Quem Jah Olha”], na demo! E eu fiz o que estava ao meu alcance para conquistar aquilo e chegou que ele participou mesmo de meu disco e ainda de quebra ainda Paralamas e um monte de gente maneira. Acho que é você acreditar no teu sonho e ter um plano e uma estratégia para isso. Fé, você tem uma estratégia, mas acima de tudo é fé, em você e em Deus, as duas coisas que acho que são primordiais e eu sempre tive isso, talvez eu sempre soubesse que eu fosse chegar aonde eu queria chegar. Fé no meu trabalho, nas pessoas que estavam ao meu lado, porque sempre procuro trabalhar com as melhores pessoas, os melhores músicos, procuro ser o meu melhor. Sempre acreditei em mim, em minha equipe e, acima de tudo, em Deus. Então tive meu sonho, segui em frente e as coisas aconteceram até um pouco mais do que eu tinha previsto, mas aconteceram porque em algum momento eu as concebi em minha mente.



Bloga: Jah está olhando para você, fazendo um trocadilho com a sua música, “Pra Quem Jah Olha”...

Aline: É.

Links

Página de Aline Duran no Facebook

Site oficial de Aline Duran

Clipe de "Sente o Som":




   

terça-feira, 7 de abril de 2015

O Segundo Sexo de Vanessa Bumagny


Vanessa começou a cantar em coral nos EUA (foto:  Alessandra Fratus)
“A Vanessa é uma das melhores autoras surgidas nos últimos anos.
Faz melodias muito originais e é uma poeta inspirada.
Neste terceiro CD, ela chega ao seu auge criativo, com canções que poderiam ser hits radiofônicos.”  (Zeca Baleiro, especial para o Blog por Bloga)

Neste texto, vou tentar mostrar que o grande compositor maranhense não está exagerando.

Vanessa Bumagny, paulistana, três CDs lançados, vem ganhando o respeito e a admiração do público e de pessoas insuspeitas do meio musical. Sua voz e o jeito de cantar não deixam dúvidas: ela nasceu para isso.

A voz é límpida, suave (até falando a gente se encanta com seu timbre). Às vezes, lembra Flora Purim; às vezes, Ná Ozzetti, Marisa Monte, mas tem personalidade própria, exala emoção na medida certa, sem arroubos perfeccionistas... Agradável.

As letras são delicadas como a voz. Melodias nada óbvias, arranjos criativos e produções caprichadas. Uma artista que tece com carinho sua obra, com respeito ao público e aos profissionais envolvidos.

Quando não faz ela própria a letra, entrega a parceiros de grande quilate, como Zeca Baleiro, Chico César, Luiz Tatit, ou põe melodia em poemas de Fernando Pessoa, Federico Garcia Lorca, João Cabral de Melo Neto...

Começou a cantar no coral da escola em que fazia intercâmbio na Califórnia (EUA), aos 17 anos e se descobriu cantora, música. De volta ao Brasil, foi estudar canto lírico, montou uma banda de forró, foi vocalista de Chico César, atuou como atriz do grupo teatral Os Satyros.

Em busca de novos horizontes, foi a Barcelona (Espanha), onde viveu quatro anos. Lá, formou bandas, cantou, se apresentou em Paris, participou de um disco com outros artistas brasileiros e começou a gravar seu próprio CD, que não chegou a finalizar.

Quando regressou mais uma vez ao nosso país, já bastante amadurecida como artista, gravou, em 2003, seu primeiro disco, “De Papel”, uma brincadeira com seu sobrenome. São 14 faixas, seis delas composições suas, quatro com parceiros, três poemas (de Adélia Prado, Fernando Pessoa e Garcia Lorca) musicados por ela e uma de Chico Buarque (“Flor da Idade”).
O primeiro CD: personalidade

Sobre “De Papel”, escreveu o músico, linguista e professor universitário Luiz Tatit (Grupo Rumo):

“Vanessa Bumagny prefere esbanjar maturidade e personalidade já no primeiro disco: assina todas as composições, algumas em parceria, trabalha com músicos de excelente qualidade, investe no visual da capa e do encarte e ainda recebe convidados do naipe de Zeca Baleiro e Chico César. Logo na primeira audição de ‘De Papel’, temos vontade de perguntar onde estavam essas canções antes do lançamento do disco. Como podem ser originais e familiares ao mesmo tempo?
Vanessa soube calibrar o ímpeto criador na direção de um repertório acima de tudo atraente. Não há dúvida de que, para isso, contou com o auxílio imprescindível de Alê Siqueira e Dante Ozzetti, músicos e produtores especialistas em extrair boa sonoridade das canções, mas essa atitude da intérprete manifesta-se desde o estágio da composição.
Não há como não admirar a realização bem-sucedida da difícil arte de musicar poesias consagradas.
Por fim, ela dispõe de um belo timbre de voz associado a uma afinação muito precisa.”

Segundo disco: melancólico
Em 2009, grava o segundo trabalho, “Pétala por Pétala”, produção de Zeca Baleiro, que assina com ela duas faixas. Chico César escreveu com ela a canção que dá título ao álbum. O disco conta com a participação linda de Dominguinhos. As demais músicas, à exceção de mais dois poemas por ela musicados (da galega Rosália de Castro e do português Sidônio Muralha), são dela. Este é um trabalho mais melancólico, um clima intimista. Um ótimo disco (pena que esteja esgotado).

“O Segundo Sexo” saiu em 2014. Inspirado na leitura da obra homônima de Simone de Beauvoir, nele ela assina sozinha seis faixas, quatro com parceiros (Zeca Baleiro - que também canta um rap incidental na faixa-título, dela e LuizPinheiro -; Heloiza Ribeiro e Luiz Tatit) e pôs melodia a um poema de João Cabral de Melo Neto, em que o pernambucano homenageia o mineiro Carlos Drummond de Andrade.

Este terceiro trabalho tem um colorido diferente, dançante em alguns momentos, mais alegre que o “Pétala” (não que este seja triste), e no qual ela, sob sugestão de Zeca Baleiro, diversificou os produtores: Fernando Nunes, Érico Theobaldo (6), Zeca Loureiro e Rogério Bastos (3) e Tuco Marcondes, o que imprime climas diferentes.

Sobre ele, também escreveu Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB-4:

Terceiro álbum: dançante
“’O Segundo Sexo’ é um CD que deve ser ouvido, pois traz à tona uma artista de indiscutíveis predicados. Cantora e compositora de bons recursos, seu trabalho, pleno de musicalidade e personalidade, sem dúvida deve ser apreciado.”

Show e novos projetos

A agenda de Vanessa Bumagny está agora tomada por dois projetos: a gravação de seu primeiro DVD e a produção de um espetáculo infantil. Sobre o DVD, Vanessa diz que quer fazer algo diferente, não limitado ao registro de um show (até pode ser), mas algo como uma história contada em episódios. O espetáculo infantil ela pretende levantar poemas e musicá-los, na linha do “Crianceiras”, projeto de Marcio de Camillo com poesias de Manoel de Barros.

Mas, quem quiser conferir – ou rever – o trabalho de Vanessa, tem a oportunidade no próximo dia 30 de abril. Ela vai se apresentar no projeto Quintas Musicais da Sala Itaú Cultural (avenida Paulista, 149, São Paulo), às 20h, com entrada franca (ingressos distribuídos meia hora antes do show).

No dia 1º de abril, Vanessa concedeu uma entrevista ao Blog por Bloga, em um agradável café e restaurante na Vila Madalena. A seguir, a íntegra:

Ou, se preferir, ouça:


Bloga: Como você começou a cantar, o que lhe influenciou, o que você ouvia. Como foi seu universo até você se tornar cantora e compositora?

Vanessa: Meu universo musical era bem variado, meu pai gostava muito de música, minha mãe também, então em casa tinha Luiz Gonzaga, tinha Chico, Caetano, Gilberto Gil, Bethânia, mas tinha também Jackson do Pandeiro, tinha esse universo mais nordestino, tinha música clássica. Então acho que foi misturado... Beatles, fui descobrindo os discos deles, fui escutando, acho que já comecei com um leque grande de coisas para escutar. E aí quando fui morar nos Estados Unidos, quando era adolescente, para um intercâmbio, cheguei lá e na escola tinha coral, fui cantar no coral e foi aí que eu percebi que eu realmente queria trabalhar com música.

Bloga: Que tipo de música que se cantava lá?

Vanessa: Coisas assim tipo Mozart, tinha alguma coisa de golpel, spirituals, mas era basicamente isso, não tinha música popular, no sentido de, sei lá, Bob Dylan, rock, pop. Spiritual você até pode dizer que é música popular, mas...

Bloga: Quer dizer que era uma coisa mais lírica?

Vanessa: Sim. Aí quando eu voltei para o Brasil fui fazer canto lírico. É o que mais tinha na época: para estudar música era canto lírico, hoje até você acha aula de canto popular.

Bloga: Você acha que isso lhe deu uma sustentação em termos de técnica, de estilo, respiração...  Essas coisas que são apropriadas para quem canta, dá uma boa base?

Vanessa: Dá uma boa base, é essencial, para mim foi essencial. Eu não tinha isso natural, não era uma coisa fácil para mim, então eu precisei fazer aula para aprender realmente a usar as cordas vocais, a respiração...

Bloga: Aí você foi cantar forró...

Vanessa: Pois é, porque tinha essa coisa desde a infância de ouvir bastante forró, aí resolvi que queria fazer uma banda de forró e achei uns loucos que toparam a ideia e a gente teve uma banda de forró em 92, a Segura Essa.

Bloga: E tocavam em casas, onde?

Vanessa: Era bem difícil na verdade; a gente tocava em lugares meio absurdos, como uma casa que tinha no Brooklin, que nem sei se ainda existe, a Inverno e Verão... Mas fiz no Sanja, e um lugar que não lembro o nome... A gente fez bastante shows lá, o Chico César, o Zeca, era Café...

Bloga: Seria O Canto da Ema?

Vanessa: Não, acho que o Canto da Ema nem existia nessa época... Era Café Maravilha. E a gente fazia uns shows em Osasco, também... Não tinha muita facilidade para tocar forró. Até para cantar no Café Maravilha foi bem difícil, porque eles falavam: ‘Ai, forró!’...

Bloga: É na época não tinha essa coisa de forró universitário...

Vanessa: É, não existia...

Bloga: Era naquela formação básica: sanfona, zabumba e triângulo?

Vanessa: Não, a gente tinha baixo, bateria...

Bloga: Então vocês foram meio que precursores do forró universitário...

Vanessa: É, acho que fui mesmo, porque naquela época não tinha nem lugar para tocar. Era muito esquisito tocar forró, era estranho mesmo.

Bloga: Aí depois você foi para a Espanha, Barcelona, fazer o quê lá?

Vanessa: Eu queria viver essa experiência de morar fora do Brasil, já mais velha, com uma ideia de carreira, ver como era o mercado musical em outro lugar sem ser São Paulo, que eu achava muito cheio de panelinha, muito difícil de você ter a oportunidade de mostrar o trabalho e ser reconhecido pela qualidade do trabalho. Eu achava que tinha mais a ver você ser amigo de alguém, que é amigo de alguém... Então fui embora, fiquei quatro anos fora e foi muito bacana. Fiz minha banda  lá...

Bloga: Banda com músicos de lá?

Vanessa: Tinha de tudo era, misturado... Às vezes tinha um brasileiro, às vezes dois, às vezes não tinha nenhum. Fiquei quatro anos e foi muito bacana. Fiz bastante shows na Espanha, em Paris, e aí achei que era melhor voltar para o Brasil.
Decisão de gravar veio na Espanha, mas realizou-se quando voltou ao Brasil

Bloga: E a ideia do disco nasceu lá então? Você já compunha na Espanha, tinha coisa própria que você apresentava?

Vanessa: Comecei a compor mais na Espanha mesmo. A ideia do disco nem surgiu de mim. Na verdade estava fazendo um show e um fã espanhol [NE: esse fã prefere ficar no anonimato] veio pedir para comprar um disco. E eu falei que não tinha disco e ela falou que eu precisava ter e ele mesmo que arrecadou entre os amigos dele uma grana para patrocinar meu primeiro disco.

Bloga; Foi assim outra precursora, a do crowdfunding...

Vanessa: Eu não sei, talvez já existisse, mas não foi um crowdfunding na verdade, porque ele pegou e apareceu com o dinheiro para fazer o disco. Eu nem sabia como fazer um disco... O Chico César estava lá na época, foi fazer um show lá e eu perguntei a ele o que se faz para fazer um disco. E aí ele me disse para conversar com o Mario Manga...Aí, de volta ao Brasil, eu comecei a produzir com o Mario Manga...

Bloga: Mario Manga do Premê...

Vanessa: É, Aí acabou que esse disco eu nem terminei, parei no meio. E aí depois eu comecei a fazer com outro patrocínio, com outra história, que foi realmente meu primeiro disco, o “De Papel”

Bloga: “De Papel” que tem a ver com seu sobrenome...

Vanessa: É, a tradução de meu sobrenome em russo.

Bloga: Mas teve um disco de que você participou quando estava lá na Espanha...

Vanessa: Sim, teve um disco, que foi um projeto de um brasileiro, que aliás acho que até mora lá ainda, Danilo Pinheiro, e ele fez um projeto de pegar cinco brasileiros, cada um gravava duas músicas, e a gente resolveu chamar o projeto de “Pau de Sebo” [NE: Vitrine Brasil, lançado em 1998 pelo selo Regent Music], porque era muito difícil fazer música, como subir num pau de sebo. Eu gravei uma música minha, chamada “Mito”, e uma música da Rita Lee, “Coisas da Vida”.

Bloga: “Coisas da Vida”? Maravilhosa...

Vanessa: Maravilhosa, maravilhosa...

Bloga: E esse disco existe?.

Vanessa: Existe, quer dizer, não sei se ele existe em catálogo. Eu tenho um, mas não sei se ele existe, como está de tiragem atualmente, não faço ideia.

Bloga: Mas foi lançado em Barcelona?

Vanessa: Foi lançado lá, com shows, foi uma coisa muito legal, de começar a juntar pessoas para fazer coisas juntos   ...

Bloga: E quem mais que participou desse disco?

Vanessa: Não lembro agora. Preciso dar uma olhada, isso faz muitos anos. [NE: Além dela e do guitarrista e idealizador do projeto, Danilo Pinheiro, o CD teve a participação de Norberto Farina, Cogumelo Brasil, João Niterói e Nema Plá.]
CD com brasileiros na Espanha

Bloga: Você tem muita parceria com Zeca Baleiro, Chico César, tem uma com Luiz Tatit agora. Como é que você chegou a esse pessoal, como é que eles chegaram até você?

Vanessa: Conheci o Chico César no show da Virginia Rosa, no Sanja, e ele me apresentou para o Zeca e o Luiz Tatit eu conheci muito depois, dez anos depois, quando eu lancei meu primeiro disco. Eu sempre fui muito fã dele e pedi para ele escrever uma resenha sobre o disco para apresentar o disco. E foi assim que eu o conheci.

Bloga: O “De Papel”. E ele escreveu uma resenha...

Vanessa: Escreveu um texto de apresentação.

Bloga: Você já tinha tido aula com ele?

Vanessa: Não, depois disso que eu resolvi ser ouvinte no curso dele na USP.

Bloga: Mas então você arriscou: ‘vou mandar e ver no que dá’...

Vanessa: Eu arrisquei, mandei, ou tinha alguém que conhecia ele e mandou... Não lembro mais como foi. Eu mandei o disco, ele gostou, o convidei para escrever e ele topou.

Bloga: E como é que você compõe, tem as músicas com Zeca, você manda a música para ele ou a letra, vocês se encontram. Como é que são suas parcerias, não só com o Zeca, como é seu processo de composição, de produção?

Vanessa: Eu não tenho muito um método, na verdade, cada música tem uma história meio única. O Zeca, por exemplo, eu já compus de várias maneiras, compus junto, fazendo tudo junto – letra e música, já compus mandando letra para ele; Chico também, mandando letra; Luiz Tatit foi o contrário, eu mandei a música para ele; às vezes eu musico poemas, mas não tenho um método, cada coisa acontece de um jeito.

Bloga: Sobre o último disco, “Segundo Sexo”, no qual você se refere ao trabalho de Simone de Beauvoir... Como você vê esta questão do gênero, do feminismo, do machismo. Você disse que a leitura do livro lhe modificou. Como é que você passa a enxergar essas coisas agora, por que Simone de Beauvoir lhe despertou tanto assim?
Leitura de Simone de Beauvoir transformou sua vida

Vanessa: Eu tinha um professor no colegial que falava que eu tinha que ler esse livro, que ele é incrível e eu sempre pensei que um dia eu ia ler, porque é enorme e aí um dia eu li e achei que me respondeu muitas coisas em relação a ser mulher hoje. Achei um livro revolucionário. E, apesar de ter sido escrito nos anos 1940, 1949, é um livro muito atual e eu achei que esse livro precisava ser discutido, ser homenageado, citado, observado, encomendado e eu percebi que tudo que eu faço, na verdade, tem a ver com isso, com esse lugar, porque você não pode ser mulher assim de uma forma neutra, não existe isso: você é mulher e tudo que você faz, tudo que te afeta no mundo te afeta a partir desse lugar. Então eu pensei que tudo que eu componho, as músicas que eu faço, minha carreira... toda minha vida tem a ver com eu ser mulher. Por isso que o disco chama “Segundo Sexo”.

Bloga: Você diz que o disco tem que ser um objeto que cutuca, que desperta, que instiga. Qual é o papel do artista, ao seu ver, nessa questão de instigar, de provocar, de fazer refletir?

Vanessa: Acho que o artista... Não sei o artista, não vou falar dos outros, cada um tem a sua motivação de fazer o que faz. A minha é essa ânsia de realmente me comunicar, mas me comunicar não de um jeito, digamos, comum, corriqueiro, gostaria que eu trouxesse alguma coisa que fizesse as pessoas pensarem, a partir da sensação, do sentimento, da emoção. Acho que você faz o que você faz para... Eu faço o que eu faço para me comunicar, mas de uma forma profunda, não superficial, não banal. É uma busca minha. Na verdade eu acho que eu só gravo músicas que eu acho que tem esse potencial de instigar; se é uma música que eu acho que não vai mudar nada, não vai tocar em ninguém eu não gravo, não toco.

Bloga: E a resposta, o que você recebe de feedback, as pessoas conversam com você a respeito de suas músicas, como você vê o retorno de seu recado?

Vanessa: Acho o retorno incrível. Ele não tem uma... Ele tem fases diferentes... Agora, por exemplo, o “Segundo Sexo” é um disco que eu acho que não atingiu tantas pessoas, o “De Papel” e o “Pétala por Pétala” atingiram bem mais.

Bloga: Como você vê a cena hoje, concorda com o Luiz Tatit (que disse em entrevista ao 'Gafieirasque hoje o músico tem mais facilidades para fazer seu trabalho do que antes, mas a concorrência também é maior)?


Vanessa: Tem uma questão que eu acho que, apesar de os meios estarem mais democráticos,  está tudo muito pulverizado, as pessoas precisam cada vez mais de curadoria, de alguém que ouça e fale ‘olha, isso é legal’, porque as pessoas não vão parar para ouvir tudo. Há algumas exceções de gente que tem essa tendência para garimpar, ir atrás, mas a maioria ouve o que cai no colo. Então precisa de alguém que diga o que é legal e o que é lixo e não precisa escutar, senão você vai cair no risco de ficar nas mãos de outra pessoa que vai escolher por você.

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O canal de Vanessa no Soundcloud

Alguns vídeos de Vanessa no Youtube:


“O Segundo Sexo”, do disco homônimo, dela e Luiz Pinheiro:





“Tristeza Só”, dela, do álbum “O Segundo Sexo”:





“Pétala por Pétala”, dela e Chico César, do CD homônimo:





“Ciúme não Mata”, dela e Zeca Baleiro, do disco “Pétala por Pétala”:






“Árido”, dela, do primeiro CD, “De Papel”:






“Radiografia”, dela e Zeca Baleiro, do disco “De Papel”: