O Barquinho Cultural

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Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Voz em Dó: A poesia formatada em canção

Por Patrícia Visconti, de O Barquinho Cultural



Banda fala sobre amor e relacionamentos e aposta em uma pegada própria (foto: Gabriel Caprioli)
Há um pouco mais de um ano, quatro rapazes da zona leste de São Paulo se reuniram para fazer algo que ambos tinham muito em comum, e música era a peculiaridade que há entre eles. Idealizado pelo músico e compositor Kio Olivieri, que convidou os  amigos Vitor Quitano, Júlio Cezar e Gabriel Kastorsky para dar mais musicalidade às suas poesias, trazendo um novo ritmo e som ao pop-rock nacional, formando então a banda Voz em Dó.

Uma banda que fala sobre amor e relacionamentos, eles apostam numa pegada própria, compondo e escrevendo suas canções sobre sentimentos seus próprios, diretamente ao público que eles pretendem atingir. Fazendo com amor e dedicação à música, colocando-a em primeiro plano.

A Voz em Dó é mais do que garotos que cantam, mas sim um grupo de músicos que propagam a arte e expressam essa paixão 24 horas do seu dia, apesar de os músicos terem outras atividades, eles sempre mantêm o foco e não desanimam com qualquer “NÃO” gratuito, pois batalham para que a aceitação seja espontânea e verdadeira, encarando a arte e poesia como expressão de vida.






No final de 2014, a Voz em Dó realizou o show de aniversário da banda, no Espaço Alma D’Alma, onde foi gravado o primeiro DVD ao vivo do grupo, e foi eleito o Show do Ano pelo Barquinho Cultural.

E agora o vídeo ficou pronto, os garotos estão ansiosos para o lançamento, e para celebrar este feito, será realizado no mesmo espaço uma apresentação de lançamento, com canções inéditas, participações especiais, entrevistas exclusivas, um repertório totalmente autoral, além de novidades preparadas pela banda.

O concerto no Espaço Alma D’Alma contará com a participação do músico Caíque Bordão para a abertura do show dos garotos. Uma apresentação épica para a Voz em Dó, e uma revelação surpreendente para a música popular brasileira.

Conheça mais sobre a Voz em Dó nos links abaixo:

     
Voz em Dó: Espetáculo de Lançamento



Dia 21 de Junho de 2015

Local: Teatro Alma D'alma

End: R. Saturnino dos Santos, 74, Ipiranga 

(próximo ao metrô Santos/Imigrantes)

Ingresso: R$ 20,00

Classificação: Livre

Mais informações: Página de eventos no Facebook 

 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Diana Marinho traz a São Paulo sua voz poderosa e muito carisma

Descoberta por Carlinhos Brown, esta baiana jamais se rendeu ao axé e abraçou o rock como estilo e razão de vida. Por muito tempo sendo considerada a "Janis Joplin" de Salvador, ampliou seus horizontes e hoje passeia com desenvoltura por vários ritmos e aos poucos vem construindo um trabalho autoral. Após várias canjas em apresentações de amigos em São Paulo, ela estreia seu show próprio em palcos bandeirantes neste sábado, 16 de maio, no Cantinho do Ipiranga (rua da Imprensa, 310, bairro do Ipiranga), um espaço aberto para os apreciadores do bom e velho rock'n'roll. Conheça Diana Marinho. E se apaixone.

Diana Marinho desde os 15 anos segue a trilha do rock, sem se prender à onda do momento (foto:  Alexandre Huang)


Por Patricia Visconti, de O Barquinho Cultural

Essa baiana do pequeno vilarejo de Nova Ibiá é uma apaixonada por música desde que se entende por gente.

Diana Marinho, ou melhor, a Janis Joplin da Bahia, como ela é conhecida no mundo da música,  espiava o pai tocando pelo buraco da fechadura. Um coronel bravo e severo, que sempre foi alucinado por música, e um colecionador de instrumentos, aos quais apenas ele tinha acesso.

Quando Diana tinha 15 anos, ela pediu para que seus pais comprassem um violão velho que um vizinho estava vendendo, e desde então ele foi seu melhor amigo. Andava para cima e para baixo com o instrumento, tornando a música o principal intuito da vida desta artista.

Vinte anos se passaram, e ela sempre lutou e correu atrás de seu objetivo, que é propagar sua música e obra aos quatro cantos deste mundo.

Diana é uma artista independente, uma batalhadora incansável, que acredita no seu trabalho e faz de tudo para mostrar sua obra, como todos dessa classe batalham para conquistar seu propósito. Como ela mesma diz a respeito destes obreiros: “Antes o artista independente podia ser comparado a um dom Quixote, lutando contra os esquemas da indústria; hoje ele é uma pessoa que está vivendo seu tempo, surfando na onda do momento”.

Além do mais, a internet a ajudou bastante, e veio para facilitar e democratizar esses artistas, “em um momento em que a crise na indústria fonográfica dificulta aos que não têm um forte esquema por trás aparecer”, completa Diana.

Grande presença de palco (foto: Arquivo)
Uma artista que busca inspirações no cotidiano, observando a rotina do mundo, expressando a riqueza cultural de cada região e somando as manifestações artísticas mais diversas, um olhar atento e sensível, demandando uma nova nuance para a sua música.

Com uma voz forte e marcante, a artista compõe e interpreta suas canções junto com sua banda, “Os Ecléticos”, formadas por Jair Soares (guitarra) Paulo Sérgio Pastel (bateria) e Adson Silva (baixo). Uma parceria das antigas, com plena sintonia e identidade própria, focado no melhor do rock'n’roll.

Abaixo uma performance de Diana & Os Ecléticos, tocando um clássico do Pink Floyd:




Influenciada por Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Koko Taylor, AC/DC, Deep Purple, Queen, Elis Regina e muitos outros ícones da música nacional e internacional, Diana tem uma mestra ícone em sua vida: a cantora Janis Joplin. Sendo a primeira a entrar em sua vida, por intermédio de um disco que ganhou de uma amiga, desde então Diana busca seguir uma de suas características: a total liberdade em sua vida pessoal e profissional, “sem me prender a modismos, ao que é o lance do momento, pois esses passam, e o que fica é o que é verdadeiro e o público percebe isso”, observa a cantora.

A intérprete e compositora não se importa com quantidade, mas sim com a qualidade, fazendo o hoje e visando no amanhã, produzindo e compondo novidades e sendo sempre diferente e autêntica, mostrando ao público algo com o qual eles se identifiquem, e não apenas sendo mais uma nas ondas do rádio, que amanhã ninguém mais saberá por onde anda.


Sempre autêntica e livre (foto: Divulgação)

É isso que Diana Marinho espera na sua apresentação no próximo sábado, 16 de maio, no Cantinho do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, onde ela deve apresentar um repertório autoral e releituras de clássicos do rock de alto nível, com a meta de se lançar neste grande caldeirão cultural paulistano, ofertando sempre o melhor de si.

Confira abaixo a artista em uma de suas composições próprias em interpretação irreverente:




Saiba mais sobre Diana em seu perfil no Facebook
 
Sobre o Show

Diana Marinho - Única apresentação em São Paulo
Data: 16/ Maio/ 2015
Horário: 20h
Local: Cantinho do Ipiranga
End: Rua da Imprensa, 310 – Ipiranga/SP.
Reservas: (11) 3297-8305
Entrada Franca (paga somente o que consumir e o couvert artístico)

Mais info: Facebook

terça-feira, 12 de maio de 2015

Marise Marra: o rock com identidade


Depois dos dois primeiros discos focados no puro rock pesado, a guitarrista, compositora, cantora, multi-instrumentista mineira Marise Marra lança “Funny Love”, um trabalho mais pop e com outros elementos, “mais desencanado”, como ela mesma diz, mas sem deixar de lado a guitarra tocada com maestria e destreza. Ela faz o lançamento desse seu terceiro CD neste domingo, 17 de maio, na 28ª Feira de Artes da Pompeia, às 16h, no Palco Rock, acompanhada dos músicos Daniel Gohn, Raoni Passeto e a participação especial de Paulinho de Almeida. Rua Caraibas, com entrada franca.

Essa mineira decidiu, já na adolescência, ser uma guitarrista de respeito. E conseguiu (foto: Sérgio Kanazawa)

O que dizer de uma menina que decide empunhar uma guitarra e encarar esse universo predominantemente masculino no Brasil? Não estamos falando de uma moça que faz aquela guitarra base, mas de uma instrumentista que sola, que cria riffs, que tem virtuosidade, e o respeito de feras como Tony Babalu, Luiz Carlini e tantos outros? E ainda manda bem em outros instrumentos, compõe, produz e canta uma maravilha?

Esta é Marise Marra, mineira de Uberlândia, desde os 16 anos dedicada a dominar o instrumento e dar seu recado, não se sujeitando a ser mais uma imitadora de bandas consagradas, mas botando a cara para bater com seu próprio repertório. Marruda, enfim (desculpe o trocadilho).

Dez anos desde o primeiro CD gravado, agora no terceiro álbum, todos autorais, muita personalidade, domínio técnico do instrumento e sensibilidade fazem dela um destaque no meio, não apenas para os guitarristas, mas para os apreciadores do bom rock e suas vertentes.

Nesta entrevista exclusiva ao Blog por Bloga, Marise solta o verbo, conta sua trajetória, suas opiniões sobre música, o meio musical, seus projetos, anseios, em um papo de mais de meia hora que você ainda não leu em nenhum outro lugar. Uma conversa franca, espontânea, sem cartas marcadas, no espírito de independência que marca sua trajetória e é o símbolo desse blog.

A obra

Primeiro CD lançado em 2005
O trabalho de estreia, “Noite Proibida”, de 2005, já a alçou ao panteão dxs “guitar heroes”, pela virtuosidade que ela exibe. Marise responde pelas guitarras, violão de aço e voz e pega o baixo nas faixas "Você Pode Me Levar", "Vida de Louco", "Reflexo" e "Estranhos no Ninho". Nas demais, o baixo fica por conta de Róbinson Tóffoli e Cristiano Quinália fica nas baquetas.

O segundo CD, “Arrebatador”, vem mais autoral, no qual ela cuidou da produção e assumiu a gravação das linhas de baixo, violão, violão de 12 cordas e teclado, além de emprestar sua voz a quase todas as canções (e duetar com Dadá Cyrino na faixa “Luta”). Um trabalho pleno de guitarras, densas, poderosas, dando suporte e moldura a uma voz ao mesmo tempo terna e fodaça!

Segundo CD, de 2010: hard rock
“Arrebatador” tem, além da produção, os arranjos assinados por Marise. Foi gravado, mixado e masterizado por Brendan Duffey (Angra, Kiko Loureiro, Dr. Sin e Billy Sheehan, entre outros) e Adriano Daga no Norcal Studios, em São Paulo, em 2010. O disco tem as presenças de Alan Marques nas bateras e o mito Luis Sérgio Carlini comparece com a lap steel e guitarra “solo 1” em “Amarras”; Nenê Silva vem de baixo em “Luta” e Dada Cyrino põe a voz em “Luta” e “Everything”. Gravado e distribuído por Amellis Records/ Tratore.

Agora, temos “Funny Love”. Gravado em São Paulo, o trabalho foi produzido pela própria Marise (que também assina todas as músicas, letras – algumas em parcerias - e arranjos do álbum), em parceria com o produtor canadense Brendan Duffey. Desta vez, o rock avassalador forjado à base de riffs poderosos e virtuosos solos de guitarra ganhou um tempero pop com pitadas de MPB, funk, folk e até elementos da música eletrônica.


A seguir, a entrevista de Marise Marra. Se preferir, ouça o áudio clicando o play abaixo:


   
Bloga: Queria que você falasse um pouco de sua carreira, como você começou, como você se percebeu artista, música, como é que a guitarra entrou na sua vida. Você lançou o primeiro disco em 2005, mas até o primeiro disco o que aconteceu, como é que foi o seu desenvolvimento na parte de música?

Marise Marra: Eu já nasci contaminada, na verdade. Eu sou a caçula numa família de dez irmãos. Todos os irmãos ouviam música na minha casa, sempre teve muita música, todo mundo sempre ouviu música. E quando eu era criança, eles ouviam coisas muito legais; eu nasci já ouvindo Jimi Hendrix, Genesis, Yes, Emerson, Lake & Palmer, Beatles. Então foi uma coisa assim superlegal, somou muito, acho na minha formação musical. E desde criança eu estou ouvindo essas coisas, eu era fã da Rita Lee, e através deles, do que eles ouviam, já deu uma aguçada nesse sentido. Ganhei meu primeiro instrumento aos nove anos, meu primeiro violão, comecei a estudar, em conservatórios... Suportei só uns três meses, porque não queria estudar nada daquilo, comecei a estudar com professores particulares, foi bem legal, isso em Uberlândia,  minha cidade, até que eu ganhei minha primeira guitarra, eu tinha uns 15 para 16 anos, e foi muito legal, comecei a montar meus projetos.

Passei um tempo em Brasília, tive contato com o rock and roll, e foi mágico esse processo, esse tempo que eu passei em Brasília, minha irmã morava lá então eu fiquei com ela alguns meses. Então esse contato foi muito importante, porque eu me deparei com músicos muito bons, os caras tocavam muito bem, eu estava começando, mas eu era metida, me colocava como se eu já tocasse bem, metia a cara, enfim. Adorava desafios. Eu tinha já grande facilidade para tocar.

Então comecei em Brasília, fiz parte de uma banda de rock progressivo, fui convidada, me viram tocando. Fiz uma duas ou três apresentações em Brasília e voltei para Uberlândia, voltei alucinada. Montei um projeto autoral, os primeiros projetos, e comecei a participar de alguns festivais em Uberlândia e região, me renderam matérias e capas em jornais expressivos, tipo o “Estado de Minas”, e fiquei um tempo em Uberlândia tocando e estudando com professores particulares, mas eu senti uma imensa necessidade de sair dali, de buscar coisas novas.

Até que eu tinha alguns amigos que estavam vindo para São Paulo, em Campinas, e eu considerei a possibilidade de vir para Campinas ou São Paulo, tanto fazia na época, mas Campinas rolou melhor. E vim para fazer faculdade de música na Unicamp. Mas quando vim para Campinas eu vi que o curso não era aquilo que eu queria, que eu esperava, eu queria estudar guitarra e muitas matérias no curso não me interessavam.

Conheci pessoas que estavam lá cursando música na Unicamp, conheci diversos músicos em Campinas, me deparei com outro universo, de músicos muito bons. Isso aí foi muito legal para mim e já dei uma superenturmada, interagia muito bem com eles. E foi uma novidade aquilo, uma mulher  tocando guitarra, achei que fosse só lá em Uberlândia que ia chamar tanto a atenção, mas aqui não tinham muitas mulheres tocando guitarra. Quando cheguei aqui foi um a puta surpresa. E eu já tentava fazer aqueles solos e tal.

Em Campinas já conheci pessoas, músicos muito bons, já tive vários convites, já também formei alguns projetos legais para sair tocando por aí. Comecei a estudar bateria e estudar guitarra em Campinas com professores muito bons,  eram músico de jazz, guitarristas excelentes, que já tinham uma carreira legal, tinham tocado com muita gente famosa. Comecei a estudar guitarra com esses caras. Foi muito legal, não fiz a Unicamp, mas continuei estudando, fiz cursos extremamente voltados para o instrumento, que é o que me interessava na época. Tinha uma necessidade grande, uma ansiedade imensa de sair tocando, eu precisava disso. E foi o que aconteceu.

Só que aqui em Campinas eu me deparei também com um universo diferente, que era o do cover. Por exemplo: aqui eu senti que para você conseguir fazer parte de alguns espaços tinha que tocar cover. E lá em Minas, não, eu tocava músicas minhas, o que eu escrevia eu tocava, só tocava som autoral. Mas tudo bem: formei alguns projetos de releituras, nunca toquei cover, igualzinho. E essas releituras sempre foram muito legais porque eu só tocava aquilo que se identificava comigo, eu nunca pensei ‘vou tocar isso aqui para poder tocar em tal lugar’, não, isso nunca existiu.

Então eu reuni músicos legais, bons, para me acompanharem, formei algumas bandas, e fazia algumas releituras de artistas que eu adorava, tocava até Arrigo Barnabé, Rita Lee, Tutti Frutti, Mutantes, coisas que as pessoas não tocavam aqui, onde se tocava o que estava na moda, o que estava rolando na época. Então foram projetos muito legais, toquei bastante, toda semana estava tocando. Eu não tinha um projeto só, formava duas, três bandas e saía tocando.

Marise estuda o instrumento com músicos da pesada e começa a ser notada e convidada (foto: Sérgio Kanazawa)
E comecei a inserir uma música minha ou outra com o tempo, mas tinha um pouco de receio de tocar música minha, sempre pensava que as pessoas não iam gostar, e realmente é uma coisa assim: você vai tocar num bar, que é um espaço de entretenimento, as pessoas vão lá para ouvir cover... Eu tinha esse receio e não era à toa, eu via que outras bandas que tocavam músicas autorais as pessoas nem ligavam, então achei que não iam ligar para mim também.

Mas não, as pessoas deram uma resposta legal, e eu fui colocando cada vez mais, até que em 2000 gravei um EP, com cinco músicas minhas, que era um demo, na verdade. Deu até uma repercutida, tocou em algumas rádios, até, inesperadamente, na Lituânia, Patagônia argentina... O CD foi parar lá e não foi pela internet, porque ainda não existia aquela puta divulgação de internet que a gente faz hoje, alguém que comprou e levou mesmo, porque a gente vendia CDs no show.

Aí em 2005 eu resolvi gravar um disco inteiro, um CD, também autoral. Foi produzido pelo Tony Babalu, um grande produtor e guitarrista, e superamigo meu, e esse CD, “Noite Proibida”, de 2005, foi meu CD com uma característica, uma sonoridade mais ao vivo; não é um disco ao vivo, mas eu digo porque tocamos em trio, um power trio, e a gente quis manter uma sonoridade de power trio.

Então gravei muitas linhas de guitarras, overdubs, eu fiz as guitarras mais cruas, fazia uma base, o solo, poucos overdubs, pouquíssimos, mais para manter uma sonoridade de banda mesmo.  Foi legal, e começou já a abrir portas o “Noite Proibida”.

Aí em 2010 eu gravei o “Arrebatador”, lancei o “Arrebatador”, que é um disco assim que mudou minha carreira, eu acho. Eu gravei com Brendan Duffey, que é um produtor norte-americano, foi demais, gravei  no estúdio Norcal, em São Paulo. E ter conhecido do Brendan mudou muita coisa, porque ele é um cara extremamente experiente, tem um ouvido absurdo para gravar rock, gravou bandas importantíssimas, como Angra, Kiko Loureiro, enfim. Então quando ele veio para o Brasil ele tinha feito várias produções lá fora... Ele é canadense, na verdade, mas nos Estados Unidos ele fez produções maravilhosas, incríveis. Trabalhou com Dream Theater, Linkin Park...

Então trabalhar com Brendon foi muito legal. Foi um disco que eu produzi sozinha, mas eu gravei todos os instrumentos, exceto bateria, toquei baixo, guitarras, fiz as vozes, e produzi, fiz os arranjos, compus as letras também, algumas em parceria, mas todas as músicas minhas. Então foi um disco muito legal, adorei fazer, um disco de hard rock, eu quis fazer um disco de hard rock.

Terceiro CD: o mais desencanado
Agora o “Funny Love” é o meu trabalho mais desencanado, na verdade. Não é um disco de hard rock, ele não está preso a nenhum parâmetro assim, sei lá, de coerência, não é um disco conceitual também. Foi um disco que, do jeito que as músicas vieram, eu fui registrando. Desde que eu fiz “Funny Love”, que foi a primeira música, eu já senti que o disco teria uma cara diferente, seria um disco talvez mais pop, mais suingado, com outros elementos. Eu acho que ele engloba outros elementos, elementos do pop, do funk (não o funk carioca, o funk normal mesmo, o funk gringo), o folk, drum’n’bass, é um disco que tem uma característica da música brasileira também em uma faixa. Foi meu trabalho mais desencanado.

Esse disco eu produzi junto com o Brendon, também toquei todos os instrumentos, exceto bateria, mas é um disco em que eu convidei algumas pessoas também, tem a participação da Dadá Cyrino, que é uma cantora lírica; do Jonas Moncaio no violoncelo, fez uma faixa; do meu próprio baixista, Raoni Passeto, que toca comigo na banda, gravou uma música instrumental. 

Então é um disco que tem uma característica diferente mesmo, tem quatro músicas cantadas em inglês, um disco mais mesclado, e eu encerro ele com uma música instrumental, que gravei para meus fãs guitarristas, “Bird”. (assista abaixo)


 

Bloga:   Você falou que cada um de seus três discos tem uma cara. Você tem mesmo essa característica de estar diversificando, de estar explorando outros universos. Qual é a sua intenção? Você não quer se fixar com uma marca só, como que você pensa a respeito?

Marise: Eu nunca me prendo a nada. Quando estou compondo, criando um disco, eu não penso nada disso, eu tento deixar a coisa fluir naturalmente, não penso no feedback que vai ter esse disco, porque se eu for pensar nisso ele vai ficar muito restrito, não vai sair um disco tão honesto, aquela coisa tão verdadeira. Então o “Funny Love” é o mais desencanado porque se eu tivesse escrito um samba com certeza ele estaria nesse disco.

O “Arrebatador”, por exemplo, foi um disco de hard rock porque as músicas que eu fui compondo na época saíram com essa cara, com essa pegada do hard rock, não que eu tivesse pensado assim: ‘vou fazer um disco de hard rock’. Quando eu comecei a compor “Arrebatador” eu vi que estava com uma cara de hard rock e eu falei ‘legal, então que seja’, aí a coisa rolou, o disco inteiro assim.

O “Noite Proibida” foi um disco de rock, ele tem uma cara do hard também, mas foi também uma coisa que do jeito que veio eu registrei. Agora o “Funny Love”, embora ele tenha outros elementos, vai ver que ele está mais pop, mas tem uma pegada de guitarra muito forte. Eu não me prendi nisso, não pensei ‘puta, eu já fiz dois discos de hard rock, que tinham uma guitarra muito forte, pesada até em alguns deles, mas vou ter que manter isso nesse disco’, não, eu pensei em criar um disco principalmente que soasse bonito. É um trabalho mais melódico, tem outros nuances. Coloquei violoncelo, que é um instrumento com o qual eu sempre quis trabalhar e ficou bonito, tudo se encaixou perfeitamente nesse álbum eu acho.

Bloga: E ele está tendo uma boa receptividade, seu público está aceitando bem, como você está vendo?

Marise: Ah, sim, está. Bem, ele acabou de nascer, o disco chegou recentemente, a gente até agora fez um show de pré-lançamento, a gente fez um pocket na Fnac, agora a gente vai começar a sair, fazer uma turnê, divulgando, inclusive no site as datas nem estão atualizadas, os produtores estão trabalhando e em breve as datas vão estar na agenda do site. As pessoas têm gostado bastante, muita gente tem ressaltado esse tom de ele estar um pouco diferente dos outros álbuns, que eu acho que é legal até, e as pessoas têm gostado, sim, com certeza.

Até o próprio Brendan comentou que é o meu melhor disco. Eu não sei se é o melhor, mas eu estou com aquele cuidado ainda, sabe, aquele amorzinho assim, do filhinho que acaba de nascer e tal? Mas eu acho que a resposta tem sido muito boa. Ele está bem feito, fiz uns overdubs de guitarra, que acho que definem o álbum, não só as bases, mas os próprios overdubs de guitarra mesmo, são outras linhas, violão, enfim, ele está mais dançante, as letras acho que estão bem legais, a resposta tem sido bacana, sim.

Bloga: E como é que está o espaço para você se apresentar, agora que está fechando a agenda...  Tem um espaço legal para tocar rock aqui em São Paulo, Campinas?

Marise: Olha, eu estava conversando isso ontem com uma pessoa: eu acho que hoje a coisa está muito complicada para quem toca rock, principalmente para um artista solo. Eu vou dizer por quê: Uma banda diz: ‘vamos junto, a gente toca ali naquele lugar, os caras não pagam, mas a gente vai porque quer divulgar, vai estar todo mundo na onda’; agora o artista solo tem que pagar os seus músicos, é diferente. É o nome dele que está lá, enfim.

Eu acho que os espaços são muito restritos para quem faz um trabalho autoral, porque os únicos espaços legais para se tocar, não digo em São Paulo, no país, são os Sescs, é bacana, porque são o espaço que paga melhor, quer dizer, são show remunerados, com uma produção boa, em espaços legais. Hoje em dia o artista conta com Sesc e com editais, então você inscreve algum projeto em algum edital, se você for selecionado você toca, se não for, não toca.E tem uma outra questão, porque Sesc não é só para artista independente, os grandes, os famosos também estão disputando uma vaga nas unidades do Sesc. Então é megacomplicado. Eu já toquei bastante em Sesc, foi superlegal.

Para você colocar o bloco na rua, olha, é complicado. Você tem outros espaços, que são casas noturnas, os bares, blá-blá-blá, a maioria toca cover, quer contratar banda cover. Se você chega com um trabalho autoral para tocar num desses espaços pode até tocar, mas não são todos que comportam trabalhos autorais e que pagam bem. A maioria paga bilheteria, você tem que levar um puta público. 

Então a situação é essa. Acho que devia haver mais incentivo das secretarias de cultura, prefeituras, para promoverem mais shows, não uma vez ou outra, tipo Virada Cultural... Já toquei em tudo isso, já fiz Virada Cultural, já fiz Sesc, faço Sesc até hoje, edital, enfim, blá-blá-blá... Mas deveria haver um incentivo maior das secretarias, prefeituras de promoverem mais shows, mas shows remunerados porque, porra, tem que pagar seus músicos, não pode também ficar levando músico para lá e para cá para tocar, você tem um puta trabalho, grava um disco, tem gastos, enfim, está com um disco na área, e você vai ficar tocando de graça!?

Neste vídeo, Marise e Luiz Carlini



É muito complicado isso, quer dizer, tem espaço em que eu nem toco, prefiro não tocar, estão abertos para a gente tocar, eles vão divulgar, mas tem essa questão, poxa, você tem que pagar os músicos, nem todo músico está a fim de ficar tocando sem remuneração. Então eu acho que a situação é essa: se você tem um respaldo legal, tipo assim, eu tenho produtores trabalhando comigo, estão fechando as datas, e até hoje eu tive até sorte, já fiz shows muito legais, em espaços bem legais, mas é claro que eu gostaria de fazer mais e nem sempre existe essa oportunidade.

Eu acho que no Brasil é tudo muito restrito, até porque os veículos fortes acho que música boa eles não digerem muito bem, eles ficam empurrando música ruim goela abaixo das pessoas, o que a massa consome e essa galera está sempre tocando e fazendo show para todo lado, e por aí vai. No Brasil é tudo muito complicado.

Bloga: E apesar de tudo isso você vive apenas de música, ou você tem outras atividades?

Marise: Não vivo de música. Quer dizer, atualmente eu tenho dado aulas, também, mas enfim, eu não vivo só de música, seria impossível. Para viver de música... Eu já toquei cover, como eu te falei. Quando eu fazia esse trabalho, tocava na noite, eu tocava toda semana e fazia show de quarta a domingo. Era um processo extremamente cansativo, eu ficava meio exaurida. Quando eu lancei o primeiro trabalho autoral eu deixei de fazer isso; então eu tive que buscar outras possibilidades, porque realmente...

Quem toca na noite também não ganha muito, rala que nem louco e ganha pouco. Eu não quis isso para minha vida mais. Chegou um ponto que eu falei pra mim: não, pera aí, não vou ficar tocando cover, ir num bar, um monte de gente bêbada ficar ouvindo ali, depois no outro dia nem lembrar de mim, quer dizer, eu ia continuar vivendo  no anonimato e continuar ganhando mal e me acabando, chegou um ponto que eu falei: chega, já era. Não vivo só de música.



Bloga: Você teve seu primeiro disco produzido pelo Tony Babalu, que é um cara respeitado, foi da banda Made in Brazil, e você tocou com o [Luiz Sérgio]Carlini, quer dizer, pelo jeito você tem já um certo respeito no meio do pessoal de guitarra. Como é que você se sente em relação a isso? Você imaginava que chegaria a esse patamar de respeito junto ao meio?

Marise: Ah, eu acho que eu imaginava, sim. Porque na verdade eu sempre levei muito a sério tudo o que eu fiz até hoje. E quando eu comecei a tocar guitarra sempre quis tocar bem assim, pensei em me tornar uma grande guitarrista, legal, competente. Quando eu vim para cá a coisa também aconteceu supernatural. As primeiras matérias que saíram sobre meu trabalho na “GuitarPlayer” (eu tirei tudo do site, por isso que você não viu, devia ter deixado ali, me arrependi, acho que vou voltar tudo para o site), renderam matérias em revistas especializadas, aí começaram a surgir os convites para participar dos festivais da “Guitar Player”.

Conforme Marise vai se sobressaindo, a mídia falando dela, pintas convites para tocar (foto: Divulgação)
Eu fui para Frankfurt, na Alemanha, fiz um som na Musikmesse, e foi muito legal, tudo foi acontecendo naturalmente, toquei na Expo Music algumas vezes, toquei no Music Hall, na Feira (de Artes da Pompeia) duas ou três vezes, muita gente passou a me conhecer , e esses festivais da “Guitar Player”, essas matérias nessas revistas especializadas, tudo foi somando. Agora existe assim um respeito, uma coisa que é legal, mas isso para mim não que eu tivesse buscado, que eu tivesse corrido atrás, isso aconteceu naturalmente mesmo. Mas sempre tentei fazer o trabalho da melhor forma possível, para que isso um dia, de repente, acontecesse, mesmo que eu não tivesse correndo atrás, e foi assim que rolou mesmo.

Bloga: Como você vê a cena rock atual, porque tiveram aí os anos 70, 80, quando surgiu muita gente boa, e, não sei, atualmente parece que o rock é uma coisa mais restrita, até onde eu imagino. Está se fazendo um bom rock atualmente, está tendo criatividade, ou a coisa meio que ficou na mera cópia do que já foi feito, como você enxerga isso?

Marise: Cara, eu acho assim: o que rolou na década de 70 e 80 é algo assim não tem como voltar... Foram os melhores trabalhos, em minha opinião. De 90 para cá, acho que muita coisa mudou. Acho que existem bons trabalhos, até hoje, bem na cena indie, mesmo, aquela coisa mais independente que eu ainda, aquela coisa bem escondida, existem boas bandas, sim, mas não existe expressão, não existe exposição, por mais que a internet facilite esse processo de exposição, divulgação, nada se compara a um veículo forte.

Eu acho que tem muita coisa ruim na área também, e eu acho que o Brasil insiste em colocar essas coisas ruins goela abaixo das pessoas, e são essas coisas ruins que aparecem... Eu não vou ficar citando nomes, enfim. Eu sei que tem muita coisa boa também acontecendo, tem muita banda legal, mas aquele som, aquele rock que a gente gosta, esse trabalho com uma identidade legal, porque trabalho tem também que ter uma identidade, porque muita coisa que eu percebo é assim: os trabalhos que eu tenho curtido ultimamente, que eu acho legal, os que têm identidade, são super mal vistos, não aparecem de jeito nenhum.

Agora tem muita gente que toca, que forma uma banda, você ouve e fala: puta, isso aqui é cópia do Guns N’ Roses, isso aqui é cópia do não sei o quê, isso aqui é cópia não sei de quem. Eu acho que falta também essa identidade mesmo, sabe, essa coisa de o cara achar lá dentro dele, da personalidade dele, colocar uma vibe diferente no som; eu acho que poderia estar melhor, não tem tantas coisas boas acontecendo, tem bandas boas, sim, como eu mencionei, mas não são muitas que você possa dizer que ‘ouvi e adorei’, talvez eu não tenha tido oportunidade de ouvir tantas coisas, mas nada me chama tanto a atenção, não tem me chamado muito a atenção ultimamente, para dizer a verdade.

Cartaz de lançamento de 'Funny Love'
Bloga: E planos para o futuro são divulgar esse disco, fazer as apresentações... E mais pra frente, você tem ideia de fazer, sei lá, um DVD, um quarto álbum, ou você está pensando só no agora?

Marise: Ah, estou pensando só no agora, para dizer a verdade. Eu vou gravar um clipe, não sei se já falei isso pra você, a ideia é lançar esse clipe, será o videoclipe oficial da música “Funny Love”, estaremos lançando no comecinho de junho, e sair em turnê, a Tratore [http://www.tratore.com.br/ ] está distribuindo o disco físico, então o lance é divulgar. Eu já tinha pensado em gravar um disco instrumental, talvez eu até faça isso, mas nem quero pensar, eu tenho algumas composições, algumas músicas instrumentais, mas nem posso pensar nisso agora, acho que tenho que focar nesse disco que está nascendo, que acabou de pintar, e, sei lá, ver o que vai acontecer.

Bloga: E você já tem alguma data fechada para a gente divulgar?

Marise: Tenho, dia 17 de maio, na Feira de Artes da Pompeia, aliás, eu nem coloquei no site porque eles estão ainda decidindo horário,é um festival, então tem várias bandas... 17 de maio, é um domingo. (Nota do Editor: a entrevista foi feita em 29 de abril, quando o evento ainda estava sendo fechado.)

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