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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Minha vinilteca: "Solo", de André Geraissati

Nesta nova série, vou compartilhar minha pequena vinilteca. São apenas 123 títulos. Um nada diante de colecionadores possuidores de andares inteiros de discos. Mas é a MINHA coleção. Cada um desses vinis tem uma história, um afeto, um por quê. São 75 LPs de artistas brasileiros e 48 de fora do Brasil. Sobre cada um, vou contar coisas como quando e em que contexto os adquiri ou ganhei (se me lembrar e houver anotação), a ficha técnica (se não houver encarte, recorro à internet) e alguma curiosidade, de minhas memórias ou disponíveis em resenhas. Claro que a maioria dessas informações qualquer IA pode lhes dar em segundos (faço uso de alguma, sim, quando não tiver outro meio de pesquisa), mas a minha emoção de quando escolhi o disco na loja, o coloquei no prato e depositei a agulha isso nenhum robô pode reproduzir. E é isso que quero lhes oferecer. As postagens seguem ordem alfabética. Intercalo LPs nacionais e internacionais.


O contexto da compra


Em meados dos anos 1980, eu resolvi estudar violão, porque adorava (e adoro) música e queria aprender a tirar um som decente do Di Giorgio Bel Som 36 que comprei do Tony, colega do banco em que trabalhávamos.


Passei a frequentar a Catedral dos Músicos e das Artes e ter aulas com Fernando Deghi, mas de violão clássico, o que significava começar do zero, treinar os dedos para os arpejos, ler partituras e um dia, quem sabe, poder tirar sem passar vergonha um "Blackbird" no pinho...


Bem, acabei desistindo, mas a paixão por música e pelo violão não diminuiu, e não perdia a oportunidade de assistir a algum concerto e shows de músicos populares e de comprar discos de violonistas de todas as matizes. Assim acabei conhecendo André Geraissati, paulistano nascido em 7 de setembro de 1951 e morto em 19 de novembro de 2025.


O álbum duplo "Solo" eu comprei em 8 de agosto de 1987, depois de assistir a algum show do músico, não me recordo onde, mas certamente em algum teatro do Grande ABC, onde morei até o ano 2000. Ou vi o show depois da compra do disco, já não consigo me lembrar.



O que me surpreendeu na obra é a sonoridade singular, fruto, além da qualidade dos ótimos violões Martin, das afinações nada ortodoxas que André elaborava, na busca de tirar o instrumento do lugar comum.


Apesar do encarte mostrando as afinações e tons de cada música, evidentemente jamais consegui reproduzir de longe aquele som. Nem que fosse com a trivial afinação EADGBE (Mi, Lá, Ré, Sol, Si Mi).



Sobre o músico



André começou a carreira no Grupo D'Alma, trio de violonistas do qual fez parte de 1979 a 1985, junto de Ulisses Rocha, Ruy Saleme, Mozart Mello e Cândido Penteado (em diferentes formações).


Paralelamente às atividades com o trio, André, entre 1982 e 1985, apresentou-se com o multiinstrumentista fluminense Egberto Gismonti, com quem dividiu os palcos nas turnês "Fantasia" e "Cidade Coração".


A partir de 1985, seguiu carreira solo, tendo, contudo, lançado seu primeiro LP individual, "Entre Duas Palavras", em 1982. O segundo, "Insight",  de 1985, foi o primeiro disco gravado no Brasil em sistema Super Áudio. Em 1987 sai este álbum duplo "Solo".  Em 1988, lança "DADGAD" e em 1989, "7989", títulos que se referem a afinações e cifras harmônicas.


Esses álbuns foram lançados no Brasil e no mundo pela Warner Records, e reeditados em CD em 2000 pelo próprio André por intermédio da Tom Brasil Produções Musicais.


Em 1988, participa da “Hot Night" do Festival de Jazz de Montreux e em 1990 grava o CD “Brazilian Image” ao lado do flautista Paul Horn, álbum que concorreu ao Grammy na categoria Jazz.


De 1993 a 1998, André dedicou-se a uma série de concertos e gravações reunindo todos os artistas envolvidos com música instrumental brasileira, cercando-os da melhor tecnologia possível: o projeto Brasil Musical.


Em 2000, lança o CD “Next”, com violão, dois teclados e uma moringa de barro, usada como percussão; em 2002, sai “Canto das Águas”, o primeiro Super Áudio CD da América Latina, pelo selo Cavi Records.


Em 2007 lançou o DVD "Zimbo Trio/Egberto Gismonti/Hermeto Paschoal" e, em 2008, o DVD "André Geraissati/Violão Solo". No dois anos seguintes, fez a Euro-Arab Tour, percorrendo com seu violão dezoito países da Europa, Oriente Médio e Egito.


Em 2017 fez, em São Paulo,  três shows "Revival" do Grupo D'Alma, tocando todas as músicas de três discos com os violonistas Ulisses Rocha e Nelson Faria.


Foi diretor musical do festival de música instrumental Jazz Meeting desde a primeira edição, que teve a décima edição em abril de 2022.


Detalhes técnicos



"Solo", o primeiro álbum duplo de música instrumental brasileira, foi gravado em fevereiro de 1987 no estúdio Midi, em São Paulo, fabricado e distribuído pela BMG Ariola Discos. Lançado pela WEA, o disco foi produzido por André Geraissati, com direção artística de Liminha (Arnolpho Lima Filho).


Gravado pelo sistema PCM Digital, teve como técnico Afonso Villano Netto e corte de José Oswaldo Martins. A capa traz foto de um acrílico sobre tela de Alexandre Dacosta, com fotos de Paulo Vasconcellos e coordenação gráfica de Silvia Panella.


A capa interna traz texto de Zuza Homem de Mello, que, em determinado trecho, diz: "Depois de meses de estudo [...] ele conseguiu encontrar uma série de afinações originais, cada qual adequada a um tema seu, com as quais amplia notavelmente as possibilidades de timbres e extensões de seu violão".


André Geraissati é autor de todas as faixas, nas quais se acompanha ao violão folk Martin, com cordas de bronze do mesmo fabricante. As faixas marcadas com * têm títulos de Ana Cláudia Vasconcellos Queiroz, então sua esposa.


"Solo: A História do Primeiro Álbum Duplo de Violão no Brasil", um e-book do fotógrafo Marco André Briones, publicado em 14 de agosto de 2023, traz detalhes da criação do álbum, com depoimentos do próprio André. O trabalho também tem um ensaio fotográfico, com imagens de André e de seu violão.


As faixas


Disco 1

Lado A

1) Lobo

2) Flores De Fumaça *

3) Fogo Eterno *

4) Outono I


Lado B

1) Nana Naná (dedicada a Naná Vasconcellos)

2) Ausência * (dedicada a Marco Antônio Araújo)

3) Nogueira (dedicada a Paulinho Nogueira)

4) Lívia *


Disco 2

Lado A

1) África

2) Três Marias

3) Lenha *

4) Américas *


Lado B

1) Grãos De Areia *

2) Lâmina *

3) Pulsar *

4) Luz De Seda *

5) Outono II

6) Embrujo


Ouça a íntegra do álbum





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