O Barquinho Cultural

O Barquinho Cultural
Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Decepção

"Eu não acredito nas pessoas, eu acredito nas evidências. Pessoas mentem, evidências não!" (Francisco Cembranelli, promotor de Justiça no Estado de São Paulo)

2012 começou péssimo para mim. E eu que esperava que, por ser ano par, as coisas melhorariam um pouquinho em relação ao anterior. É que sempre me acontecem fatos bons em anos pares, não sei bem por quê,  coisas da metafísica. O fato é que o réveillon já prenunciou que este 2012 bissexto pode não ser tão alvissareiro quanto eu imaginava. De bom princípio, o que ganhei foi uma tremenda decepção, uma traição profunda, um balde de água gelada bem na moleira, uma pisada na bola inesquecível. E o pior é que ainda me pus a acreditar que eu podia estar errado e relevei os fatos. Mas a verdade sempre triunfa e o acaso trabalha para as coisas se colocarem em seus devidos lugares.

Não quero perder a fé na humanidade, como disse em mensagens de feliz ano-novo que mandei a pessoas queridas - elas, sim, que dão alento à minha vida. Mas acho que está cada vez mais difícil se acreditar nas pessoas, nas suas boas intenções, na retidão de seus caracteres, na verdade de suas ações e sentimentos. Infelizmente, há pessoas que conseguem, com ardis hábeis, iludir o mais experiente dos seres humanos (o que decididamente não sou). Artimanhas bem urdidas, argumentos irrefutáveis, estratégias bem pensadas para enganar - ou pode ser mesmo uma habilidade nata para fazer o mal parecendo estar realizando o bem.

Cuidado, alerto aos amigos. Pessoas são o diabo, sempre o interesse delas estará à frente, não nos podemos iludir com benfazejas intenções, quando no fundo o que se pretende é extirpar algo de você, de que dimensão for, não importa. A quem nada tem - ou julga merecer mais do que possui -, escrúpulo às vezes é artigo raro. Caí na armadilha, fazer o que: olhar para frente, absorver a experiência e seguir em frente, talvez se preparando para as consequências que possam vir.

Ontem (05/01), li um post no Facebook de uma colega radialista que menciona algo semelhante, sobre uma decepção sofrida apesar de sua percepção a alertar que havia algo de estranho no ar. E repito aqui o comentário que lhe fiz: precisamos sim prestar atenção à nossa intuição. A gente não é totalmente burra, é fácil juntar os pontos, conectar os indícios e chegar a uma conclusão, ou, ainda em princípio, uma suspeita. Tudo bem que a Justiça consagrou o benefício da dúvida, mas quando as evidências começam a se multiplicar, os equívocos e mentiras se somam em progressão geométrica, o sinal vermelho acende. Mas, a mente trabalha em um ritmo e o coração em outro. E essa falta de sintonia entorpece a razão e faz a emoção aflorar e se evidenciar.

Não gosto de ser um ser racional total, gosto de emoções fortes, de me arriscar às vezes, de dar algum tempero a essa vida por tantas vezes chata, insossa que somos obrigados a levar. Mas vejo que, diante dessa experiência - e de outras tantas passadas -, é necessário um pouco mais de frieza na análise, de pé atrás no relacionamento com as pessoas. É próprio da vida, desde que a Humanidade se instalou no planeta, viver o perigo, seja ele vindo da natureza, seja dos membros da mesma espécie (não sei qual o pior). O problema é quando se precisa se defender de uma ameaça velada, dissimulada, disfarçada. Porque os inimigos verdadeiros mostram suas intenções à luz do dia e assim se consegue se preparar para a defesa ou o ataque. Mas a maldade travestida de bondade é complicada de se perceber; quando se vê, já se está envolto tanto que não há mais saída, a não ser desaparecer.

Fui vítima por um bom tempo de uma pessoa sórdida que agora não teve como negar o óbvio, como tantas outras vezes fez em momentos em que a contradição, a abjeção, o aviltamento se mostraram na minha cara e eu, tolo, inepto para perceber as coisas elementares da ação vil, acreditei que meus olhos estavam enganados, minha inteligência me pregava uma peça, meu instinto de sobrevivência poderia estar exagerando. Não, desta vez esse embotamento não será possível, há prova material, pública (sinal de que mesmo as mentes mais psicóticas não são tão inteligentes assim como se crê). A máscara finalmente caiu.

A mim me resta esquecer a pessoa, não o episódio, que este deve estar sempre bem fresco na memória para que não me deixe enganar novamente, lamentavelmente vai embutir em minha mente a dúvida, a apreensão, a descrença, o ceticismo, talvez o niilismo. E confiar em alguém será um exercício mais complicado, quem sabe. 

Mas, como de tudo se tira uma lição, imagino que deste acontecimento o ensinamento é que a gente não pode se dar tanto, se doar demais; é necessário se preservar, manter uma certa margem de manobra, e ter um plano de fuga bem elaborado para a emergência que se fizer necessária. E esse plano envolve principalmente o desapego, o livrar-se daquilo que lhe é nocivo, mesmo que por vezes prazeroso. Afinal, este é o mote de tudo que vicia: a expectativa de um efêmero benefício, mas a um alto custo. 

Nenhum comentário: