O Barquinho Cultural

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sábado, 16 de outubro de 2021

Juliana Lima canta a saudade e a fé em dias melhores


Ninguém contava com isso. Não estava escrito em nenhuma profecia ou no Apocalipse - aliás, se estava, não soubemos ler. Primeiro, sobe ao poder aqui em terras tupiniquins o avesso, do avesso, do avesso, do avesso, do avesso (pra não dizer coisa pior). Aí, vem essa peste que dizima, só em território pátrio, 600 mil vidas. Não merecíamos.

Quem não embarcou na onda que varreu nossa democracia - e muitos, felizmente, a renegaram -, sentiu e está ainda a sentir um nó na garganta e uma dor aguda no peito de angústia e revolta de ter de viver algo que não poderia estar acontecendo. Afinal, que fizemos nós para ter isso? Nada fizemos, e não temos de assumir uma culpa que não nos cabe.

Enfim... A vida mudou, tudo mudou. Mas, se agora havemos de evitar contatos frequentes e nos proteger como possível, o que trazemos dentro de nós não mudou. Aquela conversa no bar ou no sofá da sala ainda é necessária, aquela ida à rua e suas maravilhas não nos abandonou... Só não podemos realizar. O que fazer? Como por para fora tudo isso que está aqui represado?

Em seu novo trabalho solo, "Esperança", Juliana Lima responde. Sete anos depois de "Aquariana", com singles e trabalhos junto ao power trio de forró pé-de-serra Trio Beijo de Moça no caminho, o novo disco resgata o clima de "O Dom", CD de 2007 que, nunca escondi, é meu xodó. Melancólico, às vezes sombrio, "Esperança" busca retratar  como o momento atual nos afeta, mas joga uma luz, tênue, mas ainda uma possibilidade, no que pode vir.

Talvez sob influência desses tempos terríveis, a obra destaca, em duas músicas, "Meus planos" e "A gente se mistura", a necessidade de se viver intensamente o momento, pois o "tempo é tão curto..."  Parceria com Analiss, "Meus planos" vai fundo na premência de aproveitar cada momento junto de seu amor, que, afinal, "é brisa e nem avisa que vai chegar".

"A gente se mistura", um reggae composto com a companheira Juliana Cranchi, não faz concessões: "Fé e certeza de que há uma força maior / que vai me guiar para onde eu estiver / para um caminho cada vez maior". Mais fé e esperança não sei... Na veia

"Que seja leve", que abre o disco, faz uma profissão de fé na arte de se fazer o que gosta: afinal, a vida é breve, então, "cultive a sua fé no que você quer e ouça seu coração". Não um pedido de desculpas, mas delicadamente dizendo que não abre mão daquilo em que acredita. Importante, em qualquer contexto.

"Temporal" canta a busca do amor tranquilo, imune às intempéries. Um apelo a um pouco de paz nesses tempos "que não são brincadeira"? Pede que o amor chegue perto dela e que diga que não vai ter fim. O aconchego também expresso em "Mãe", inequivocamente referente à impossibilidade, no começo dessa pandemia, de se ver os entes queridos e abraçar, beijar, estar junto.

"Eu vou lembrar de você" fala da perda de alguém querido, que a brisa leve das manhãs levou, retomando imagem de canção homônima que integra o CD "Aquariana", de 2013. "Mulher", na sequência, lembra de que a vida requer coragem e que o mundo pede gentileza. Força e doçura. Precisa falar mais?

"Licença", com Valéria Pisauro, é sobre saudade, a "dor que se queima sem pedir licença de mãos dadas com a solidão". Tema impossível de não se recorrer agora e sempre. Com uma sanfona (ou fole, ou acordeão) que dá um clima de rasgar os pulsos... Poxa, Juliana...

"Silêncio das Cidades", parceria com Natalia Bueno, retoma o assunto pandemia. Composta no começo disso tudo, com clipe filmado em Paranapiacaba, distrito de Santo André (SP), fala da vontade de estar juntos novamente, da casa como prisão, do mundo que adoeceu e precisamos acordar e aprender que é hora de mudar. O tempo que sobra mas sem que se o possa aproveitar. "Nossa companhia é o silêncio das cidades vazias."

O disco fecha com a canção-título, "Esperança", só voz e piano. Pinta um retrato tenebroso no início, ilustrado por um canto denso, uma penumbra envolvendo tudo, revelando que "a esperança se perdeu/ coração triste adoeceu / inverno que se demora / a voz se cala e a alma chora". Mas aí vem a esperança, que vai renascer, "coração pede pra bater/ inverno que vai embora/ vem primavera/ trás nova aurora. Obrigado, Juliana...

O disco foi gravado no  Estúdio The Village, com produção de Augusto Albuquerque, com distribuição a cargo da Trattore e está disponível, desde 15 de outubro, em todas as plataformas digitais.

Neste domingo, 17 de outubro, às 19h, haverá o lançamento de "Esperança" no canal de Juliana Lima no YouTube, em live com repertório desse e dos trabalhos anteriores da artista.