O Barquinho Cultural

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

"É sol, é sal, é sul"



Esse verso da canção Rio, de Menescal e Bôscoli, não me saía da cabeça, além de tantos outros trechos de tantas canções, nesta minha quarta visita à cidade maravilhosa. A diferença é que desta vez fui mesmo a passeio e pude conhecer alguns pontos muito lindos e com um astral para lá de alto. Fui no fim de semana de 27 a 29 de março e no de 4 e 5 de abril e fiquei no Formule 1, uma opção econômica no centro sem frescura. Fica ao lado da praça Tiradentes, por sua vez cercada de sebos onde vi muito livro esotérico e de autoajuda. Infelizmente. A rua da Carioca sai da praça e termina no largo da Carioca, onde há estação do metrô (e onde havia uma roleta para se jogar, conforme Pelo Telefone, de Donga, que Eduardo disse que não é dele, mas o malandro se apropriou de um samba de rua). A rua é cheia de lojas de instrumentos musicais, o que remete de imediato à Teodoro Sampaio lá de Pinheiros. Aliás, o centro do Rio lembra bastante o centro velho de São Paulo, parecem ter sido traçados pelo mesmo arquiteto. Deve ser por causa dos prédios antigos. Após uma boa caminhada por esses arredores, onde acabei adentrando locais não muito recomendáveis, pausa para uma cerveja no café Thalia, onde a Skol gelada veio em uma charmosa garrafa de 630 ml (até onde sei essa embalagem não chegou a SP ainda; o litrão de 1l que tomei na Ilha do Mel, sim, vi no Carrefour de São Bernardo e agora está tendo comercial na TV).


No dia seguinte, conheci a famosa Lapa, de tantos sambas e tantas histórias. Ao contrário do Chico, não perdi a viagem, porque pude conhecer todo o charme daquele local, pena que durante o dia, pois se sabe que é à noite que ela fervilha. Dei uma circulada por ela para ver suas coisas, como os Arcos, por cima dos quais vi circular o bondinho de Santa Tereza, o Circo Voador, a Fundição Progresso, e tantas outras casas que nem dá pra lembrar (mas se quiser ver, tem um site excelente: http://www.lanalapa.com.br/, onde há ligeira descrição dos bares, restaurantes e outros estabelecimentos do bairro e sua extensa programação cultural). Neste dia não almoçamos, fomos ao restaurante Manoel e Juaquim na intenção de traçar uma feijoada, mas o bolinho de bacalhau que pedimos de entrada para acompanhar o chope estava divino. Completamos com a batata à moda do Manoel da Lapa: com quadradinhos de calabresa e mozarela derretida por cima. Para finalizar, uma cachacinha de fabricação própria com a devida canequinha levada de lembrança (antes que pense que foi roubada, não, paga-se mais 2,60 e leva-se a simpática peça). O chope estava realmente um espetáculo: uma temperatura excelente e um colarinho perfeito, em uma tulipa cristalina.


O almoço de domingo foi no restaurante Nova Capela, onde comemos um belo cabrito com arroz de brócolis e uma Original bem gelada. Esse prato me parece que é meio tradicional no Rio, talvez nem tanto quanto a feijoada, mas a se considerar a canção Cabritada Mal Sucedida, de Geraldo Pereira e Jorge Gebara, dos anos 1950, acho que é isso mesmo. É um prato saboroso e farto, e nesse restaurante, que tem quase 80 anos, ainda tem gosto de reverência. De estômago devidamente forrado, fomos fazer um tour básico pelas praias. Parada na Praia Vermelha para ver o bondinho do Pão de Açúcar (está R$ 44 para turista e metade para os cariocas), depois de ver a bela enseada do Flamengo do Mirante do Pasmado (dá realmente pra ficar pasmado com a visão - é a da foto aí em cima). Termino o passeio, porque precisava subir para trabalhar, em Copacabana, um último chope no quiosque (ou barraca, como queira) do Bar Luiz (cuja matriz é na rua da Carioca). Copa é realmente incrível: uma aura inexplicável, um clima de boa vida que acho seja típico do carioca. Mas não dá, realmente, para se queixar da vida com um cenário daquele, e a princesinha do mar pude perceber o que significa ao ver duas pequeniníssimas crianças brincando na areia pertinho da nossa mesa. Uma singela alegria que manifesta na gente uma vontade danada de fazer o mesmo: cair com tudo na maciez das areias e tomar um abraço das águas do mar como se a vida se resumisse a isso. E assim ficar pelo tempo que o desejo quiser, todo sorriso, todo felicidade.


Semana seguinte voltei, desta vez vim pela Rio-Santos. Uma beleza de viagem, que passa por paisagens deslumbrantes, mas muito demorada, porque entra em várias cidades e os trechos urbanos atrasam a corrida. Levei oito horas para chegar ao centro, ao passo que pela Dutra gasta-se de quatro a seis, dependendo do trânsito na zona leste de Sampa e na avenida Brasil, no Rio. Ao chegar, suado, outra cerveja no café Thalia. Mas desta vez só havia Itaipava. Paciência. Estava gelada o suficiente para eu manter meu humor, apesar do desgaste de tantas horas para uma viagem que se faz pela metade do tempo. Meu objetivo era ir no sábado ao show do Jorge Ben Jor no Circo Voador, mas o cansaço me impediu de acordar e dormi até a hora do café. Antes, porém, passada na rua do Lavradio, onde estava sendo realizada a Feira Rio Antigo, com peças as mais variadas. Comprei uma escultura das máscaras de teatro para minha filha e um perfil feminino para Joana. O local estava apinhado e rolavam performance teatral e roda de samba. O almoço foi novamente no Nova Capela e mais uma vez o cabrito com arroz de brócolis. Coisa boa é para se repetir mesmo. Em seguida um passeio pela Lapa, onde conheci a Escadaria Selarón, obra de um chileno radicado no Brasil desde 1983. O sujeito arranjou azulejos de diversas partes do mundo e montou na escadaria que liga os bairros da Lapa e Santa Tereza diversos mosaicos, com desenhos singulares, que, inclusive, chegam a revestir também as paredes dessa passagem, também conhecida como Escadaria do Convento de Santa Tereza. Curioso que nos mosaicos das paredes e floreiras predomina o vermelho e, na escada, o verde e amarelo. O artista estava lá, pintando algo, mas na hora não sabia que era ele, imaginei alguém aproveitando o local para se inspirar. Assim como um sujeito sentou-se na escada e começou a verborrar uma falatório político para uma câmera de vídeo operada por um rapaz.


A parada seguinte foi o bairro de Santa Tereza, mas subimos de carro mesmo, e não deu para ver o bondinho, apenas uma de suas paradas, a de Curvelo. Conhecemos o Parque das Ruínas, que foi outrora o Palacete Murtinho Nobre, onde morava Laurinda Santos Lobo, uma espécie de agitadora cultural da Santa Tereza do início do século XX. O local abriga sala de exposições, auditório e café, mas no domingo estava fechado, restando subir ao mirante de onde se tem uma visão deslumbrante da orla carioca, avistando-se o centro, a catedral metropolitana, o aeroporto Santos Dumont, os Arcos da Lapa, a marina da Glória, a Urca e até o Cristo Redentor, se apurando a vista. Com o céu anil e o sol que fazia naquele domingo, a visão era realmente de perder o fôlego.


Almoçamos no Dom Galeto, no bairro de Fátima, aos pés de Santa Tereza, onde comemos um galeto com batatas divino. E, claro, com uma bela acompanhante loira e gelada. De sobremesa, um Chicabon! Desde que li Nelson Rodrigues pela primeira vez tenho vontade de chupar um Chicabon no Rio. Pronto! Vontade satisfeita. Rumamos para Ipanema, onde fui conhecer o famoso prédio na Nascimento Silva 107, onde Tom Jobim morou nos anos 1950/60 e onde ele e Vinícius ensinaram a Elizete Cardoso as canções da Canção do Amor Demais. Dizem que Garota de Ipanema também foi escrita lá. Corcovado foi composta lá, devido a paisagem que se via da janela do apartamento, visão que pouco depois da gravação deixou de existir, com as construções que se ergueram. Olhando o prédio não se pode imaginar o que ele já abrigou e que foi cenário de tanta maravilha. É um edificiozinho bem simples, adequado ao padrão de vida do maestro naquela época, creio. A foto que ilustra aqui eu peguei da internet, porque não consegui achar lugar para estacionar e fazer o meu registro, mas é só para mostrar o quão simples é esse prédio que abrigou nosso Antônio Brasileiro. A Lagoa Rodrigo de Freitas foi a próxima parada, onde tomei água de coco. Não tão boa como as de Salvador, mas valeu.

Depois, passada pelo Jardim Botânico, onde fomos tomar uma Brahma Black no Boteco Belmonte, que tem seis filiais espalhadas pelo Rio, com matriz no Flamengo. O chope escuro da Brahma realmente é muito gostoso. Acompanhou-o uns pasteizinhos bem apetitosos, se bem que pequenos demais para o preço cobrado. Lugar aconchegante, sofisticado, mas com um clima de botequim mesmo que deixa a gente bem à vontade. Detalhe interessante: eu deixei o carro estacionado em um canal um pouco afastado do bar, mas não o travei nem liguei alarme, por esquecimento. Ao voltar, o veículo estava intacto. Depois dizem que o Rio é perigoso.

Bem, claro que há muito a se conhecer no Rio, e essa minha aventura de dois fins de semana não contemplou quase nada. Mas foi o suficiente para eu entendesse por que tantas músicas cantam tanto a beleza dessa cidade verdadeiramente maravilhosa. E acho que eleger um verso dessa música para titular esse post foi realmente uma excelente escolha, dado que o Rio

"É sol, é sal, é sul
São mãos se descobrindo em tanto azul
Por isso é que meu Rio da mulher beleza
Acaba num instante com qualquer tristeza
Meu Rio que não dorme porque não se cansa
Meu Rio que balança
sorrio, sorrio, sorrio, sorrio, sorrio"

Um comentário:

Sandra Evangelista disse...

Oi Carlos, parabéns pela riquesa de detalhes que você descreveu o Rio.É incrível como você valoriza cada detalhe e enriquesse as coisas mais simples.Tudo fica muito mais bonito quando se tem olhos assim como os seus.Em todas as minhas viagens faço questão de chupar um chicabom, em homenagem ao lugar, e achei o máximo quando vi seu comentário, rsrs.O trecho da música, que vc colocou no final,fechou com chave de ouro.
Viva a cidade maravilhosa!