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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Barbara Rodrix dá a cara a tapa em seu novo CD, “Eu Mesmo”

Lançamento do disco será nesta quinta, 17/11, no Itaú Cultural (SP), às 20h, com participação de Ceumar e Tuco Marcondes; a entrada é franca

Filha de Zé Rodrix se redescobre em novo trabalho (fotos: Divulgação)
A voz é quase um sussurro... Quase pueril. “Ouça o silêncio que deixa a alma livre pra cantar”, diz em “Venha”, dela e de Luiza Possi. E é isso: é um disco para se ouvir no silêncio da sala, do quarto, da casa de espetáculos... Enfim: um disco para se ouvir (e sentir) com atenção. Deixar esses quase sussurros penetrarem nos ouvidos, deixar-se envolver pelos arranjos delicados, nobres, minimalistas, intimistas...

Barbara Rodrix se redescobre em seu novo CD, “Eu Mesmo”, que é seu segundo gravado, mas o primeiro lançado efetivamente. O primeiro trabalho, “Ninguém Me Conhece”, foi gravado quando ela tinha 16 anos, com produção de seu pai, Zé Rodrix, mas não foi lançado – porém está disponível na plataforma Soundcloud.

A cantora e compositora acompanhava o pai nas gravações em estúdios desde os 3 anos de idade, mas só mais tarde teve consciência do artista que ele era. Na época, Zé Rodrix estava afastado da carreira de músico – desde a morte de Elis Regina (19/01/1982) – e se dedicava à publicidade. “Eu cantava com ele nos estúdios, mas em casa ele não cantava; mas não posso negar que meu despertar para a música veio da influência do ambiente em que eu vivia, pois cresci no meio musical”, explica Barbara.

A percepção de que música era o que queria fazer vem quando, aos 11 anos, ganha um violão. “Aí eu disse: esse é meu instrumento”, lembra. Foi estudar na Escola Livre de Música (ELM) e já começou a compor. Aos 15 anos, entrou no estúdio com o material que havia composto nesses quatro anos, sob supervisão e produção do pai, e daí saiu “Ninguém Me Conhece”.

Com o pai, que produziu seu primeiro trabalho, quando ela tinha 15 anos

Já o novo trabalho teve um processo diferente. Ela começou a se apresentar na noite, em bares como o Tom Jazz, e montando o repertório a partir de como as músicas funcionavam no palco. Foi também, como ela define, um período de redescoberta. Sem a presença do pai – que morreu em maio de 2009 -, Barbara foi se redescobrindo como compositora, como artista, tomando as rédeas da própria obra, escolhendo os parceiros, decidindo sobre os arranjos. Coisas que a experiência acompanhando Zé lhe valeu muito.

“Esse disco, para mim, tem quase um significado de dar a cara a tapa porque ele todo eu que escolhi tudo, o voto de minerva era meu”, explica, sem deixar de considerar todas as pessoas que estiveram envolvidas nele. “Por isso o nome do disco é ‘Eu Mesmo’, que, além de ser uma música do Paulo Novaes, fiz questão de deixar no masculino porque é um eu mesmo que engloba muito o eu mesma mulher, eu mesmo ser humano, todo mundo que participa do processo, o universo do que eu faço parte. Um processo muito maior e que engloba muito mais gente. Todas as músicas do disco dizem algo que eu quero dizer.”

Novo CD: testado no palco
O CD, predominantemente autoral, traz parcerias com as cantoras Bruna Caram e Luiza Possi - filha de Zizi Possi -, que participa da faixa “É, Foi Você”, além de releituras de duas canções do seu pai: “Eu Não Sei Falar de Amor” e “Olhos Abertos”. Outros parceiros são Ricardo Soares e Elder Braga, além de interpretar “Rãzinha Blues”, de Lony Rosa, e a faixa título, de Paulo Novaes. O disco foi gravado no estúdio Gargolândia e mixado na Trama.

Barbara faz o lançamento de “Eu Mesmo” na próxima quinta-feira, 17 de novembro, às 20h, no Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô -, com entrada franca (os ingressos têm de ser retirados uma hora antes do espetáculo). No show ela estará acompanhada da banda com quem gravou o disco, formada por Breno Ruiz, no piano; Igor Pimenta, no contrabaixo; Fernando Daminelli, na bateria; e Federico Puppi, no violoncelo.  Haverá ainda as participações especiais de Ceumar e Tuco Marcondes.


A seguir, principais trechos da entrevista concedida por Barbara ao Blog por Bloga:

Influências e o despertar para a música:

“Quando nasci, meu pai estava longe da carreira, ele se afastou logo depois que a Elis [Regina] morreu, mas continuava com produções, inclusive com publicidade, e desde criancinha eu cantava com ele em estúdio de publicidade. Difícil dizer se tive influência dele ou não, porque era o meio em que eu vivia, de alguma maneira era o meio artístico, ouvia as músicas dele, mas não via ele cantar em casa, era uma coisa do passado dele; quando ele voltou a compor, foi quando eu comecei, meio que começamos juntos, aos 11 anos, um influenciando o outro. Sempre vivi nesse meio artístico, com os amigos dele, houve uma influência, claro. O despertar foi natural, sempre foi uma criança afinada, a diversão da minha vida era ir ver meu pai gravar, cantar, saía da escola e ia direto para o estúdio e amava aquilo. Sempre tive muita influência em casa, sentava no piano, foi acontecendo aos poucos. Descobri de fato que queria fazer isso da vida quando ganhei um violão, aos 11 anos, e disse: ‘esse é meu instrumento’. Comecei a tocar, fazer as primeiras músicas, meu pai ajudava no violão (que também tocava um pouco). As primeiras músicas eram bem mais infantis, a primeira tinha um refrão que falava: ‘eu quero ser aquilo que ninguém foi/ não quero ser só mais um/ quero simplesmente ser diferente/ incomum’. Existia em mim essa força gigantesca de ser uma compositora, tinha todo esse romantismo de ser artista. Depois comecei a compor mais e são essas que compus dos 11 aos 15 que fazem parte desse meu primeiro disco. Estudava violão na ELM, depois fui estudar canto com a Tatiana Parra, cuja mãe era amiga de meu pai, fomos crianças próximas, apesar de ela ser um pouco mais velha, e hoje estudo canto popular no Emesp [ Escola de Música do Estado de São Paulo].”

Sobre o novo disco:

“Esse disco foi um pouco diferente o processo dele. Começou o disco com shows, fazendo o repertório, vendo o que funcionava, descobrindo de fato o que a gente queria falar, como a gente queria falar. Coincidiu com uma fase de minha vida de redescobrimento. O primeiro disco foi produzido pelo meu pai e a minha carreira artística sempre teve o aval de meu pai, artisticamente, era uma pessoa para quem eu sempre perguntava o que eu poderia fazer, para onde eu poderia ir. Foi um redescobrimento porque agora tenho eu que saber o que faço, como faço, do que eu gosto. Foi um processo longo, que, vendo agora, vejo que começou desde a morte de meu pai. Um processo de composições, de encontrar novos parceiros, porque até então os meus parceiros eram os mesmos de meu pai. Agora era encontrar novos parceiros, o que eu queria dizer, saber se eu achava aquilo bom. Começamos a fazer esses shows e comecei a sentir a segurança de que eu estava no caminho certo, de que era aquilo que eu queria dizer mesmo, com todas as parcerias. Porque eu não faço letras, eu gosto de fazer música. Ou eu faço a música e a mando para alguém que eu acho que tem a cara dela ou eu musico letras. O desafio é encontrar esses parceiros, encontrar essas pessoas, que é muito difícil você encontrar alguém que diga aquilo que você quer dizer, é um encontro de fato, um encontro de mundo, então foi esse o processo.”

Sobre a proposta do disco:

“O nome do disco Eu Mesmo, que, além de ser uma música do Paulo Novais, que é um superparceiro, irmão, e dar nome ao disco, eu fiz questão de deixar no masculino porque é um Eu Mesmo que engloba muito o eu mesma mulher, eu mesmo ser humano, todo mundo que participa do processo, o universo do que eu faço parte. Um processo muito maior e que engloba muito mais gente. Todas as músicas do disco dizem algo que eu quero dizer. Regravei uma música de meu pai, ‘Olhos Abertos’, que a Elis gravou no mesmo disco que tem ‘Casa no Campo’, e poucas pessoas conhecem essa música; eu fiz questão de a gravar porque o recado dela é tão lindo, fala de algo que as pessoas precisam tanto hoje em dia, de amor, de amar umas às outras, independente do amor romântico, amor pelo ser. Foi uma decisão muito difícil de a regravar, porque a Elis a gravou, acho que só tive essa coragem porque é de meu pai.”

Sobre o processo de criação do CD:

“A gente se apresentou bastante antes de gravar, em 2014, no Tom Jazz, e em 2015 entramos em estúdio e gravamos ao vivo, como se fosse um show, todo mundo junto, cada um numa sala, a gente quis se aproximar muito de como o disco foi concebido no palco; como ele tinha sido concebido todo ao vivo, a gente queria que ainda existisse esse frescor, porque de fato o que eu mais gosto na música é o show, porque a música é um ser vivo, está em mutação o tempo inteiro; então cada vez que eu canto uma música ela se ressignifica; o que mais me deixa ansiosa com esse trabalho é subir num palco e fazer ele e fazer, fazer.”

Abaixo, clipe de “É, Foi Você”, dela e Luiza Possi:



Sobre as diferenças entre os dois discos:

“Esse disco, para mim, tem quase um significado de dar a cara a tapa, porque o disco inteiro eu que escolhi tudo, o voto de minerva era meu. Chamei o Breno Ruiz para produzir comigo, as ideias de arranjos eram minhas e ele me ajudou a organizar isso, com seu olhar supercompetente, então não tem nada no disco que eu desgoste ou que eu não tenha escolhido; mesmo sendo ao vivo, tem muitas ideias de arranjo de todo mundo da banda, mas não tem nada que eu não tenha aprovado e que não seja eu. Então para mim é muito dar a cara a tapa: se você não gostou, lamento, é isso que eu tenho para dizer. É um disco que eu fiz exatamente como eu queria. É tudo eu. Lógico que a experiência de ter entrado em estúdio com meu pai sete anos atrás colaborou muito, inclusive profissionalmente, realizar aquilo que está em nossa cabeça de artista, que a gente viaja muito na maionese, fica um negócio. Muito importante para mim, que sou independente, termo de que nem gosto muito, porque a gente é que mais dependente de todos, depende de todo mundo. Mas tem coisas ali que a gente quer, imagina, tipo uma orquestra, o que é impossível, financeiramente, aí você busca chegar ao mesmo lugar de um outro jeito, esse olhar mais prático. E ver também meu pai produzindo valeu muito a experiência. Gravei as vozes ao vivo, não tem nenhuma edição. Então, a experiência de ter estado em um estúdio esse tempo todo, desde os meus 3 anos gravando, com certeza ajudou a fazer isso.”

Sobre sucesso, aceitação:

“Uma coisa que eu ouvi sempre de meu pai: a única maneira de você não agradar ninguém é querer agradar todo mundo. É muito mais fácil você se agradar e eu tenho muito essa consciência. Tenho uma visão de que em algum momento meu público e eu vamos nos encontrar. Eu me agradando, fazendo o que eu gosto, as pessoas que gostam disso vão me encontrar em algum momento, talvez seja mais demorado do que se eu tivesse tocando na Globo, na Nova. Mas acredito que isso vá acontecer em algum momento.”

Como Barbara Rodrix se define:

“Me defino como uma pessoa que não tem mais medo da opinião dos outros. Importante que você acredite e agrade a você mesmo, sem agredir ninguém, sem fazer mal, mas é obvio que a resposta do público alimenta também o lado artístico, não tem ninguém que não goste de elogio, mas prefiro me alimentar de ouvir um elogio de uma pessoa que amou aquilo que eu também amo a ouvir um milhão de elogios de algo que eu não ame.”

Como vê o atual cenário musical:

“Muita gente reclama da cena musical de hoje em dia, mas tenho a sorte de circular num meio musical em que conheço muita gente fazendo coisa muito boa; hoje a internet possibilita isso: a gente conhecer pessoas que não se limitam à grande mídia, pode ir atrás de muita gente que tem feito muita coisa boa; gosto muito de procurar novas coisas e se procurar você acha; tem quem faça coisas ruins, mas que pode ser boa para alguém, é a democracia, o que é ruim para mim pode ser bom para o outro; temos que encontrar outros meios de divulgar o trabalho das pessoas que não se encaixam no quadrado da grande mídia.”


"Eu Mesmo" está disponível na íntegra no YouTube:


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