O Barquinho Cultural

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sexta-feira, 6 de março de 2015

Para entender o colorido rock brazuca dos anos 80

Testemunha e protagonista de uma época

Os anos 1980 foram um barato para quem era jovem à época e gostava de música jovem. A barra ainda era pesada – o fim da ditadura só veio em 1985, mas o presidente ainda foi eleito indiretamente, e nem tomou posse: o mineiro Tancredo Neves, avô daquele aí, morreu antes de pegar a faixa presidencial do general Figueiredo (aquele que preferia o cheiro de estábulo ao do povo).

Contextualizando, para quem não viveu aquela época (vou relatando de memória, que pode falhar, mas é melhor que recorrer aos livros – ou ao Wiki – para falar sobre um período que eu testemunhei, né?): o Brasil musical vinha de um período de entressafra; os grandes nomes da MPB ou estavam lá fora, exilados ou autoexilados, ou aqui enfrentavam a tesoura da censura.

O bom rock dos anos 70 era meio marginal (no sentido de não figurar na mídia), e nas rádios e TVs o que se escutava eram grupos brasileiros cantando em inglês e as breguices de sempre; novos nomes do Nordeste apareciam em festivais de música promovidos pelas TVs, que não tiveram a importância daqueles da Record dos anos 1960, mas revelaram gente boa que está aí até agora. Tínhamos Raul, Mutantes (sem Rita), rock rural, progressivo, algum projeto de punk, um metal resistente, enfim, uma cena que buscava quebrar a grossa mordaça imposta pelos militares à criação.

Aí, nos 1980, na onda dos gritos pela democratização que começaram a pipocar, que culminaram – mas não terminaram ali – com o movimento pelas Diretas Já, eis que começam a surgir de toda a parte bandas de rock que vinham com uma linguagem nova, com influências variadas, nutridas pelas novidades que apareciam na Inglaterra, nos EUA, na Jamaica e pelo mundo afora.

Vinham com uma postura que, se não se podia chamar de revolucionária ou militante, ao menos trazia um comportamento rebelde, moderno, para acabar com a caretice chata que os anos duros impuseram à sociedade. Vieram de todos os cantos, mesmo: São Paulo, Rio, Porto Alegre, Salvador, Brasília e até de Belo Horizonte. E os estilos também foram os mais variados: do nascente new wave ao hard rock mais cru, passando pelo punk rock, heavy metal e outros sem classificação visível.

A sensação era de que o importante era se divertir: nada de música de protesto, de levantar bandeira, seguir passeata. Os nascidos no período da distensão lenta, gradual e segura, iniciada com Geisel em 1974, não pareciam querer embarcar na onda da luta contra o regime e a cultura pop vinha com tudo na onda da globalização. Programas de TV, cinema, videogames, as discotecas, a soul music brazuca, fanzines, um certo comportamento libertário herdado dos hippies e também dos movimentos estudantis e uma sociedade de consumo que os anos de chumbo conseguiram assentar em nossas terras.

É nesse caldo de cultura que surge a música jovem dos anos 1980. E um, entre muitos outros caras, captava todo esse momento e irradiava pelos meios de que dispunha – em gravadoras de discos, no rádio, na TV, em jornais, revistas, e bandas – o universo que se espalhava pelo Brasil e pelo mundo.
Antonio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, funcionava como uma antena parabólica, absorvendo o máximo que pudesse do que se criava pelo mundo, e percebia como essa nova onda irradiava aqui e levava garotos imberbes e garotas ainda adolescentes a empunharem instrumentos e saírem tocando nas garagens, porões, clubes e onde mais fosse possível.

O que Kid Vinil viu, ouviu, viveu e passou para frente agora pode ser conferido no livro que o jornalista Ricardo Gozzi e o músico Duca Belintani escreveram: "Kid Vinil, Um Herói do Brasil – Biografia Autorizada" (Edições Ideal, 160 páginas, R$ 39,90), será bem-sucedido se conseguiu retratar o turbilhão que foi aquele período, fundamental para o que se fez depois – tanto que nas baladas de hoje não raro há o momento retrô, em que DJs (como o próprio Vinil o é) botam pra rodar hits oitentistas. E muitas dessas bandas ainda estão na ativa.

O livro está em pré-venda pelo site Ideal Shop, e vem junto com o 60º aniversário do Kid, a completar dia 10 de março. O background dos autores: Gozzi é autor de uma biografia dos 18 anos dos hilários Velhas Virgens e de um livro sobre a Democracia Corintiana, escrito junto com  ex-jogador Sócrates, e coeditor do site Roque Reverso; Belantini foi guitarrista de Vinil – e quem teve a ideia de fazer o livro.

Enquanto isso, vamos relembrar algumas das bandas formadas por Kid Vinil e músicas que chegaram a alcançar sucesso nos programas de auditório e até entrar na abertura de uma novela da Globo (“A Gata Comeu”, de Ivani Ribeiro, direção geral de Herval Rossano, exibida de abril a outubro de 1985 às 18h, com a música “Comeu”, de Caetano Veloso):

Verminose: misto de punk rock e rockabilly, formada, à época, por Kid Vinil, Lu Stopa, Fábio Gas, Trinkão e Jean Trad. Aqui, o clipe “Tô Sabendo”, gravado no teatro Lira Paulistana, palco da vanguarda da cidade, nos anos 1980:



 

Magazine: já na sintonia do new wave, com remanescentes do Verminose Ted Gaz, Lu Stopa e Trinkão. Aqui, o hit “Sou Boy”, videoclipe oficial:



  

Kid Vinil e os Heróis do Brasil: projeto mais blues, rockabilly e rockão. Eram André Christovam (guitarra), Kuki (bateria) Raska (ou Newton) no baixo e Ari Holland (teclados). Sem Vinil, a banda atacava do mais puro blues de Chicago, com o nome de Oldsmoblues. Aqui, “A fila do INPS”, em uma gravação amadora feita no Masp, em 1987 (a qualidade é péssima, mas é o que tem pra hoje):


  

Kid Vinil Xperience: após anos atuando como jornalista e apresentador em várias emissoras de rádio e TV e engrenar uma carreira de DJ, Kid volta aos palcos com a banda de apoio Xperiente: Carlos Nishimiya, na guitarra; Fábio McCoy, na bateria, e Marcello Morettoni, no baixo. Aqui, o hit do Magazine “Tic Tic Nervoso”, em apresentação do Sesc Sorocaba, em 2013:







(Fontes:  site oficial de Kid Vinil, Roque Reverso, algo de Google e o resto da cachola desse velho blogueiro)

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