Gil Black Gil: aquele abraço a Sampa (foto: Nathália Bernardo) |
O domingo de 14 de setembro de 2014 estava ensolarado. Bem
seco, com tem sido nos últimos tempos. Ótimo para praia, montanha, rio... Mas
uma multidão preferiu não encarar as estradas e o inevitável trânsito para ver
Gilberto Gil no Parque do Ibirapuera. Sim, teve trânsito, fila no estacionamento,
mas nada insuportável. E o parque, o enorme Ibirapuera, acolhe a todos, e é uma
opção de passeio do qual o paulistano e outros cidadãos não abdicam.
O local estava repleto, mas a dimensão do parque, com seu
mais de 1,5 milhão de metros quadrados de área, faz com que nem se sinta a lotação.
Exceto na hora do show de Gil. Horas antes das 18h30, quando o baiano subiu ao
palco externo do Auditório, já havia centenas de pessoas, sentadas em todo
canto. Muitos fazendo piquenique, toalhas abertas no gramado seco, todo tipo de
quitutes e bebidas. Famílias com bebês de colo e crianças de todas as idades,
cães de todas as raças, casais homo e hetero se curtindo numa boa.
Horas antes, Gil e os gaúchos do General Bonimores passaram
o som, e pude ficar perto do palco e fazer umas fotos mais próximas. Esse grupo
ganhou um festival promovido por uma empresa coreana e, como um dos prêmios,
pôde tocar junto com o astro tropicalista, ex-ministro, que ali fazia uma
espécie de comemoração de seus 50 anos de carreira, no parque que recentemente
completou 60 anos de inauguração.
Com os gaúchos do General Bonimore, canta "Back in Bahia", do seminal álbum Expresso 2222, de 1972 |
Os gaúchos tocaram duas músicas antes de Gil, “Dia Feliz”,
que ganhou o concurso de novos talentos promovido pela Samsung, e outra que não
me lembro do nome. Um som bacana, com sotaque sulista, acentos dos ritmos
folclóricos de sua terra na batida. Talvez se deem bem, vamos ver.
Aí entrou Gil com sua banda: Fábio Lessa (baixo), Jorginho
Gomes, irmão de Pepeu (bateria), seu filho Bem Gil (guitarra), Claudio Andrade
(teclados), Gustavo de Dalva (percussão) e Sérgio Chiavazzolli (guitarras).
Começou com “Tempo Rei”, depois “A Novidade”. Foi de Bob
Marley, com a versão “Não Chore Mais”, depois “Is This Love?” e “Three Little
Birds”.
Fez referência a comentário de Dominguinhos sobre o reggae,
que dizia ser um baião sem-vergonha, e atacou de “Esperando na Janela”. Depois “A
Paz” e “Drão”. Apresentou em seguida três sambas, mostrando que é um ritmo presente
em todo o país: “Chiclete com Banana”, de Gordurinha e Almira Castilho; “Aquele
Abraço” e “Andar com Fé”, dele.
Apresentou a banda e foi de “Palco”, que conheci antes com A
Cor do Som, lá nos anos 70. “Vamos Fugir”, com o sotaque reggae explícito até
na letra (“flores que a gente regue”, “que você me carregue”, “onde a gente
escorregue”, “outra banda de reggae”).
Aí cantou “Punk da Periferia”, que fala da Freguesia do Ó,
bairro da zona norte de São Paulo, perto de onde moro. Homenagem à cidade? Fez
o gesto obsceno já visto em outras apresentações (o dedo médio apontado em
riste no verso “aqui pra vocês!”). Emendou a temática agressiva com “Nos
Barracos da Cidade” – “gente hipócrita, gente estúpida” -, e finalizou com “Toda
Menina Baiana”, para se despedir.
Ibira ficou lotado (Foto: Manuela Scarpa/Photo Rio News) |
O bis veio logo. Com o General Bonimores – de quem, com
sinceridade, disse não se lembrar do “nome difícil” -, cantou “Back in Bahia”,
do seminal LP Expresso 2222, de 1972. Fez “Realce”, da fase disco – último da quadrilogia
“Re”, iniciada com Refazenda, Refavela e ainda Refestança, com Rita Lee -, e
terminou com “Aquele Abraço”, subvertendo o sentido original da letra e dando
um agradecimento aos que lá estávamos (“pra você que ‘não’ me esqueceu”; “todo
povo brasileiro ‘de Sampa’”).
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