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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Quartabê relê Moacir Santos com alegria

Quartabê: Ana Karina Sebastião, Mariá Portugal, Maria Beraldo Bastos, Joana Queiroz e Chicão (esq. p/ dir)
O jovem quinteto Quartabê faz nesta quinta-feira, 17 de setembro, show de lançamento do CD Lição #1: Moacir. Será no Centro Cultural São Paulo -  rua Vergueiro, 1.000, às 20h30, com entrada franca. O disco traz releituras da obra do mestre Moacir Santos, importante instrumentista, compositor e arranjador brasileiro, morto nos EUA (para onde se mudou em 1967) em 2006.

O Quartabê (nome que faz alusão à quarta série do ensino fundamental, época em que se aprende brincando, ou vice-versa) é: Ana Karina Sebastião (baixo), Joana Queiroz, (sax, clarinete e clarone), Maria Beraldo Bastos  (clarinete e clarone), Mariá Portugal (bateria) e Rafael Montorfano, o Chicão (piano e teclados). O grupo foi montado por convite da flautista Andrea Ernst Dias para a segunda edição do Festival Moacir Santos, ano passado, no Rio.

Andrea – a Deda – é a idealizadora do festival, e vem pesquisando e divulgando há anos a obra de Moacir, sobre quem escreveu, a partir de sua tese de doutorado em Interpretação Musical na Universidade Federal da Bahia, a biografia do músico - “Moacir Santos — Ou os caminhos de um músico brasileiro” (Folha Seca). Ela também integra o Trio 3-63, com o percussionista Marcos Suzano e o pianista Paulo Braga.

Em busca de um grupo com uma pegada mais moderna para se apresentar no festival, Deda assistiu a uma apresentação do espetáculo “Claras e Crocodilos”, de Arrigo Barnabé e banda, no Áudio Rebel, no Rio. Na apresentação, Arrigo dava nova roupagem ao clássico “Clara Crocodilo”, álbum de 1980 e era acompanhado pelas quatro meninas do Quartabê, mais Mario Manga na guitarra e Paulo Braga no piano. O projeto nasceu de um convite para um festival no Chile, 2013.

Encontrando o que buscava no vigor, energia e alegria que as meninas emanavam tocando com Arrigo, Deda “encomendou” a elas uma banda para tocar Moacir no festival. “Ela queria um grupo mais irreverente, mais pop, feminino, jovem”, explica Joana. Elas então chamaram Chicão e o Quartabê estava formado.

A apresentação no festival, que elas esperavam que ia ficar por ali, rendeu a ideia de seguir adiante com o projeto. Inscreveram-no no Programa de Ação Cultural (ProAC), por meio do qual a Secretaria de Cultura do governo do Estado de São Paulo procura promover e incentivar a produção artística. Os recursos foram para a produção do CD e a realização de workshops para músicos e não músicos sobre o trabalho de Moacir.

Não foi, contudo, a primeira vez que as meninas do Quartabê tiveram contato com Arrigo. Três delas (menos Joana) integram com o músico paranaense, mais a guitarrista Anna Tréa, o grupo Neurótico e as Histéricas, formado em 2013 para o espetáculo “Pô, Amar é Importante”, com composições de Hermelino Neder, um dos expoentes da chamada Vanguarda Paulistana surgida no início dos anos 1980.

Agora, o trabalho integra o resgate da obra de Moacir Santos, iniciada com o lançamento do projeto “Ouro  Negro”, em 2001, idealizado pelo maestro Mario Adnet e o saxofonista Zé Nogueira. O projeto, do qual Moacir fez parte, rendeu um CD duplo, em 2001, e um DVD, de 2005. O Trio 3-63, de Deda, Marcos Suzano e Paulo Braga, gravou dois CDs com a obra do mestre e, desde então, diversos eventos buscam mostrar às novas (e velhas gerações) o trabalho e a importância de Moacir.

Moacir Santos

Considerado, nas palavras das meninas do Quartabê, “um dos compositores que ajudou a formar o que a gente chama de música instrumental brasileira”, o pernambucano Moacir Santos causou espanto já em seu primeiro trabalho autoral, o LP “Coisas”, lançado em 1965. Citado no “Samba da Bênção”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell (“A benção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos, tantos como meu Brasil de todos os santos”), o mestre partiu para os Estados Unidos em 1967, onde gravou quatro álbuns e estabeleceu uma carreira sólida, convivendo e tocando com os grandes nomes do jazz americano.

Abaixo, a íntegra do álbum “Coisas”, de Moacir Santos (1965): 




Antes, ainda no Brasil, após uma infância e adolescência pontuada de grandes privações e descobertas, aprimorou o inato talento musical, despertado ao ter contato com bandas no interior de Pernambuco e circos pelo Nordeste afora, onde aprendeu a tocar vários instrumentos. Estudou com o maestro Guerra-Peixe e, mais tarde, com o maestro alemão Hans-Joachim Koellreuter.

No começo dos anos 1960, dedicou-se a dar aulas. Entre seus discípulos, Nara Leão, João Donato, Paulo Moura, Baden Powell, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Dom Um Romão, Flora Purim, Airto Moreira, Maurício Einhorn, Raul de Souza e Sergio Mendes – a fina flor da bossa-nova. Compôs trilhas para filmes de Cacá Diegues, Ruy Guerra, Sacha Gordine, Flávio Tambellini e Alberto D’Aversa.

Sobre a importância dele para a música brasileira, diz Joana: “Ele tem uma concepção que é muito sofisticada harmonicamente e, ao mesmo tempo, muito brasileira. Ele teve muita influência de compositores que estavam trazendo uma concepção harmônica muito arrojada, tanto do pessoal mais erudito como do jazz, e fez uma grande mistura, mas sendo muito brasileiro, trazendo coisas afro-brasileiras, muita percussão, e tem uma escrita que é muito especial, cheia de contrapontos, e ao mesmo tempo as melodias são muito fortes, elas parecem simples, muito comunicativas, mas são sempre diferentes, especiais, sofisticadas, sem parecerem difíceis”.

Agenda

Além da apresentação desta quinta no Centro Cultural Vergueiro, o Quartabê se apresenta dia 29 de setembro, à meia-noite, no Mundo Pensante, após um workshop sobre contrabaixo com o camaronês Richard Bona, idealizado pela revista Cover Baixo, com entrada franca (para o show).

Em 30 de setembro, eles tocam no Sesc Santos, às 20h, também com entrada franca e, em 18 de outubro, se apresentam no festival Ilhabela In Jazz, às 21h, igualmente com entrada gratuita. Ainda está em produção em videoclipe, que estará no ar em breve.

O primeiro single do CD “Lição #1: Moacir”, a faixa “Oduduá”, está abaixo:

 


Para saber mais a respeito de Moacir, além do livro de Deda, sugiro a leitura desses dois artigos de Marcelo Pinheiro que saíram na revista “Brasileiros”: aqui e aqui.

O áudio da entrevista com as meninas do Quartabê (Chicão chegou depois) está abaixo: 





Fontes de pesquisa para esta reportagem: revista Brasileiros, jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e diversos sites, entre os quais o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

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