Quartabê: Ana Karina Sebastião, Mariá Portugal, Maria Beraldo Bastos, Joana Queiroz e Chicão (esq. p/ dir) |
O jovem quinteto Quartabê faz nesta quinta-feira, 17
de setembro, show de lançamento do CD Lição #1: Moacir. Será no Centro Cultural São Paulo - rua Vergueiro, 1.000, às 20h30, com entrada
franca. O disco traz releituras da obra do mestre Moacir Santos, importante
instrumentista, compositor e arranjador brasileiro, morto nos EUA (para onde se
mudou em 1967) em 2006.
O Quartabê (nome que faz
alusão à quarta série do ensino fundamental, época em que se aprende brincando,
ou vice-versa) é: Ana Karina Sebastião (baixo), Joana Queiroz, (sax, clarinete e
clarone), Maria Beraldo Bastos (clarinete e clarone), Mariá Portugal (bateria) e Rafael Montorfano, o Chicão (piano e teclados). O grupo foi montado por convite da flautista Andrea Ernst Dias para
a segunda edição do Festival Moacir Santos, ano passado, no Rio.
Andrea – a Deda – é a idealizadora
do festival, e vem pesquisando e divulgando há anos a obra de Moacir, sobre
quem escreveu, a partir de sua tese de doutorado em Interpretação Musical na
Universidade Federal da Bahia, a biografia do músico - “Moacir Santos — Ou os
caminhos de um músico brasileiro” (Folha Seca). Ela também integra o Trio 3-63,
com o percussionista Marcos Suzano e o pianista Paulo Braga.
Em busca de um grupo com uma
pegada mais moderna para se apresentar no festival, Deda assistiu a uma
apresentação do espetáculo “Claras e Crocodilos”, de Arrigo Barnabé e banda, no Áudio Rebel, no
Rio. Na apresentação, Arrigo dava nova roupagem ao clássico “Clara Crocodilo”,
álbum de 1980 e era acompanhado pelas quatro meninas do Quartabê, mais Mario
Manga na guitarra e Paulo Braga no piano. O projeto nasceu de um convite para
um festival no Chile, 2013.
Encontrando o que buscava no
vigor, energia e alegria que as meninas emanavam tocando com Arrigo, Deda “encomendou”
a elas uma banda para tocar Moacir no festival. “Ela queria um grupo mais
irreverente, mais pop, feminino, jovem”, explica Joana. Elas então chamaram
Chicão e o Quartabê estava formado.
A apresentação no festival, que
elas esperavam que ia ficar por ali, rendeu a ideia de seguir adiante com o
projeto. Inscreveram-no no Programa de Ação Cultural (ProAC), por meio do qual
a Secretaria de Cultura do governo do Estado de São Paulo procura promover e
incentivar a produção artística. Os recursos foram para a produção do CD e a
realização de workshops para músicos e não músicos sobre o trabalho de Moacir.
Não foi, contudo, a primeira
vez que as meninas do Quartabê tiveram contato com Arrigo. Três delas (menos
Joana) integram com o músico paranaense, mais a guitarrista Anna Tréa,
o grupo Neurótico e as Histéricas,
formado em 2013 para o espetáculo “Pô, Amar é Importante”, com composições de
Hermelino Neder, um dos
expoentes da chamada Vanguarda Paulistana surgida no início dos anos 1980.
Agora, o trabalho integra o
resgate da obra de Moacir Santos, iniciada com o lançamento do projeto “Ouro Negro”, em 2001, idealizado pelo maestro
Mario Adnet e o saxofonista Zé
Nogueira. O projeto, do qual Moacir fez parte, rendeu um CD duplo, em 2001, e
um DVD, de 2005. O Trio 3-63, de Deda, Marcos Suzano e Paulo Braga, gravou dois
CDs com a obra do mestre e, desde então, diversos eventos buscam mostrar às
novas (e velhas gerações) o trabalho e a importância de Moacir.
Moacir Santos
Considerado, nas palavras
das meninas do Quartabê, “um dos compositores que ajudou a formar o que a gente
chama de música instrumental brasileira”, o pernambucano Moacir Santos causou
espanto já em seu primeiro trabalho autoral, o LP “Coisas”, lançado em 1965.
Citado no “Samba da Bênção”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell (“A benção,
maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos, tantos como meu Brasil de
todos os santos”), o mestre partiu para os Estados Unidos em 1967, onde gravou
quatro álbuns e estabeleceu uma carreira sólida, convivendo e tocando com os
grandes nomes do jazz americano.
Abaixo, a íntegra do álbum “Coisas”, de Moacir Santos (1965):
Antes, ainda no Brasil, após
uma infância e adolescência pontuada de grandes privações e descobertas,
aprimorou o inato talento musical, despertado ao ter contato com bandas no
interior de Pernambuco e circos pelo Nordeste afora, onde aprendeu a tocar
vários instrumentos. Estudou com o maestro Guerra-Peixe e, mais tarde, com o
maestro alemão Hans-Joachim Koellreuter.
No começo dos anos 1960,
dedicou-se a dar aulas. Entre seus discípulos, Nara Leão, João Donato, Paulo
Moura, Baden Powell, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Dom Um Romão, Flora
Purim, Airto Moreira, Maurício Einhorn, Raul de Souza e Sergio Mendes – a fina
flor da bossa-nova. Compôs trilhas para filmes de Cacá Diegues, Ruy Guerra, Sacha
Gordine, Flávio Tambellini e Alberto D’Aversa.
Sobre a importância dele
para a música brasileira, diz Joana: “Ele tem uma concepção que é muito
sofisticada harmonicamente e, ao mesmo tempo, muito brasileira. Ele teve muita
influência de compositores que estavam trazendo uma concepção harmônica muito
arrojada, tanto do pessoal mais erudito como do jazz, e fez uma grande mistura,
mas sendo muito brasileiro, trazendo coisas afro-brasileiras, muita percussão,
e tem uma escrita que é muito especial, cheia de contrapontos, e ao mesmo tempo
as melodias são muito fortes, elas parecem simples, muito comunicativas, mas
são sempre diferentes, especiais, sofisticadas, sem parecerem difíceis”.
Agenda
Além da apresentação desta
quinta no Centro Cultural Vergueiro, o Quartabê se apresenta dia 29 de
setembro, à meia-noite, no Mundo Pensante,
após um workshop sobre contrabaixo com o camaronês Richard Bona, idealizado pela revista Cover Baixo, com entrada franca (para o show).
Em 30 de setembro, eles
tocam no Sesc Santos, às 20h, também com entrada franca e, em 18 de outubro, se
apresentam no festival Ilhabela In Jazz, às 21h, igualmente com entrada gratuita. Ainda
está em produção em videoclipe, que estará no ar em breve.
Para saber mais a respeito de Moacir, além do livro de Deda, sugiro a leitura desses dois artigos de Marcelo Pinheiro que saíram na revista “Brasileiros”: aqui e aqui.
Fontes de pesquisa para esta reportagem: revista Brasileiros, jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e diversos sites, entre os quais o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
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