O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 28 de maio de 2025

"A Reserva" (Reservatet), minissérie dinamarquesa em 6 capítulos, escrita por Ingeborg Topsøe e dirigida por Per Fly, é um suspense dramático (existe essa categoria?) para se assistir sem muitas expectativas... e sem pressa, porque o ritmo é lento, arrastado, como devem ser os que vivem em temperaturas glaciais.

Aborda famílias abastadas da maior ilha do país, a Zelândia do Norte, e seus relacionamentos com moças filipinas que lá migram para trabalhar como "au pair", mas, na verdade, acabam fazendo todo tipo de tarefa do lar, longe do caráter de intercâmbio cultural que o programa pressupõe.
A trama engrena quando uma dessas meninas, de 22 anos, desaparece, após um jantar na família vizinha de sua anfitriã (patrões, no caso). Antes de sumir, a garota pedira ajuda à vizinha, sem explicar por quê, mas demonstrando pavor. A mulher tira o seu da reta...
Cecilie (Marie Bach Hansen) - a tal vizinha -, talvez tomada por um sentimento de culpa, se importa com o sumiço da garota, de nome Ruby (Donna Levkovski). Seus patrões, Rasmus (Lars Ranthe) e Katarina (Danica Curcic), com todo o preconceito de classe que podem exalar, acreditam que a menina foi se prostituir em outras freguesias, usando-os apenas para poder ingressar no país.
A partir daí, entra em cena uma policial negra, Aicha (Sara Fanta Traore), novata no distrito. Apesar do ceticismo de seus superiores, cisma que a história tem mais rolos do que uma simples escapada. Aí as coisas começam a ganhar contornos de "quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra..." (obrigado, Pitty).
Mas o corpo aparece. Afogado. Sem sinais aparentes de violência (pelo menos é o que a médica legista, pouco interessada no caso, dá a entender, em princípio). Com um feto no ventre. Razão de seu desespero do início da história.
Quem será o pai? Sim, há de se descobrir o genitor para saber se foi o autor do crime. Mas há crime? Tudo leva a crer que fora suicídio. Mas Cecilie acredita que, mesmo indiretamente, este ser a levou a tal medida drástica.
As coisas complicam ainda mais quando se descobre que Ruby fora vítima de estupro. O padre da comunidade quebra o segredo de confessionário para revelar o fato à obstinada policial. Ele que a demovera da ideia de abortar - opção que ela, noiva em sua terra natal, aventara, pois certamente seria rejeitada ao voltar com um filho nos braços.
Ruby, religiosa a ponto de descartar a interrupção da gravidez, resolveria dar cabo da própria vida, pecado igualmente terrível aos olhos de sua fé? Eis o mistério a ser revelado.
Os homens mais próximos e mais evidentes de terem cometido tal atrocidade são postos à prova. A contragosto. DNA. E quem são? O marido de Cecilie, Mike (Simon Sears), condenado anos antes por estupro, e o patrão da filipina, Rasmus, sujeito escroto o suficiente para tanto. Mas...
Para a história ficar ainda mais complexa, há dois adolescentes na parada, há telefones celulares, grupos de whatsapp, câmeras escondidas, drones... Vai vendo...
Já no primeiro episódio o autor dá pistas do que aconteceu. Mas consegue nos enrolar o suficiente para acreditar que qualquer um ali pode ter sido o facínora.
E, ao fim e ao cabo, há alguma surpresa, só se você realmente não se atentar aos detalhes. O célebre truque do mágico: ele te distrai para que não veja onde esconde o coelho.
Levanta questões sérias sobre preconceito, abuso de poder, racismo, arrogância e o abismo que existe entre culturas tão diversas que, por força das circunstâncias, têm de conviver no mesmo espaço.
Na Netflix..


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