"A Reserva" (Reservatet), minissérie dinamarquesa em 6 capítulos, escrita por Ingeborg Topsøe e dirigida por Per Fly, é um suspense dramático (existe essa categoria?) para se assistir sem muitas expectativas... e sem pressa, porque o ritmo é lento, arrastado, como devem ser os que vivem em temperaturas glaciais.
A trama engrena quando uma dessas meninas, de 22 anos, desaparece, após um jantar na família vizinha de sua anfitriã (patrões, no caso). Antes de sumir, a garota pedira ajuda à vizinha, sem explicar por quê, mas demonstrando pavor. A mulher tira o seu da reta...
Cecilie (Marie Bach Hansen) - a tal vizinha -, talvez tomada por um sentimento de culpa, se importa com o sumiço da garota, de nome Ruby (Donna Levkovski). Seus patrões, Rasmus (Lars Ranthe) e Katarina (Danica Curcic), com todo o preconceito de classe que podem exalar, acreditam que a menina foi se prostituir em outras freguesias, usando-os apenas para poder ingressar no país.
A partir daí, entra em cena uma policial negra, Aicha (Sara Fanta Traore), novata no distrito. Apesar do ceticismo de seus superiores, cisma que a história tem mais rolos do que uma simples escapada. Aí as coisas começam a ganhar contornos de "quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra..." (obrigado, Pitty).
Mas o corpo aparece. Afogado. Sem sinais aparentes de violência (pelo menos é o que a médica legista, pouco interessada no caso, dá a entender, em princípio). Com um feto no ventre. Razão de seu desespero do início da história.
Quem será o pai? Sim, há de se descobrir o genitor para saber se foi o autor do crime. Mas há crime? Tudo leva a crer que fora suicídio. Mas Cecilie acredita que, mesmo indiretamente, este ser a levou a tal medida drástica.
As coisas complicam ainda mais quando se descobre que Ruby fora vítima de estupro. O padre da comunidade quebra o segredo de confessionário para revelar o fato à obstinada policial. Ele que a demovera da ideia de abortar - opção que ela, noiva em sua terra natal, aventara, pois certamente seria rejeitada ao voltar com um filho nos braços.
Ruby, religiosa a ponto de descartar a interrupção da gravidez, resolveria dar cabo da própria vida, pecado igualmente terrível aos olhos de sua fé? Eis o mistério a ser revelado.
Os homens mais próximos e mais evidentes de terem cometido tal atrocidade são postos à prova. A contragosto. DNA. E quem são? O marido de Cecilie, Mike (Simon Sears), condenado anos antes por estupro, e o patrão da filipina, Rasmus, sujeito escroto o suficiente para tanto. Mas...
Para a história ficar ainda mais complexa, há dois adolescentes na parada, há telefones celulares, grupos de whatsapp, câmeras escondidas, drones... Vai vendo...
Já no primeiro episódio o autor dá pistas do que aconteceu. Mas consegue nos enrolar o suficiente para acreditar que qualquer um ali pode ter sido o facínora.
E, ao fim e ao cabo, há alguma surpresa, só se você realmente não se atentar aos detalhes. O célebre truque do mágico: ele te distrai para que não veja onde esconde o coelho.
Levanta questões sérias sobre preconceito, abuso de poder, racismo, arrogância e o abismo que existe entre culturas tão diversas que, por força das circunstâncias, têm de conviver no mesmo espaço.
Na Netflix..
Nenhum comentário:
Postar um comentário