O Barquinho Cultural

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O filho do Brasil


Invade-me grande curiosidade de assistir ao filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, que conta a história do líder sindical Luiz Inácio da Silva, o Baiano, desde sua infância em Pernambuco até a primeira prisão nos anos 70/80, com cenas adicionais de sua posse como presidente da República em 2003. O filme foi exibido no Festival de Cinema de Brasília na noite do dia 17 com bastante repercussão e grande número de presentes. Deve ser projetado no conjunto Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, no dia 28, com a presença do próprio biografado. Estreia em circuito comercial (fala-se em 500 salas) em janeiro de 2010. Por que a curiosidade? Porque, além de Lula ser uma figura singular na política brasileira, e que por isso mesmo a exposição de sua história, ainda que com forte carga dramática, como o próprio diretor admite, suscite curiosidade, há aspectos de minha própria vida que têm correlação se não com a trajetória dele, pelo menos com um certo espírito de época, pois em certos momentos bebemos da mesma fonte. Filho de operário do setor automobilístico no ABC paulista, em 1980 eu estava servindo o Exército no Tiro de Guerra de Santo André. Fazíamos treino de tiro em São Bernardo. O clima na época era quente: greves, manifestações, assembleias, piquetes... Eu não entendia daquilo e não me importava muito com o assunto não. Minhas preocupações eram outras: garotas, bailes, roupas de grife, tênis incrementados. Meu pai não era do movimento sindical, e não ia muito com a cara do Lula. Mas havia outros metalúrgicos em minha família, tios, primos, e alguns deles iam às assembleias. E um dia, indo de caminhão ao campo de tiro, passamos pelo Paço Municipal de São Bernarndo bem no momento em que havia uma assembleia. Quando o caminhão passou ao lado da peãozada, a tensão podia ser sentida no ar. E eu pensei: e se tivesse que enfrentar esses trabalhadores? Sim, porque no quartel se falava que a situação estava ficando perigosa e podíamos ser convocados a agir. Imagina eu tendo que atirar em um parente meu que ali porventura pudesse estar? Esta foi a primeira centelha de consciência social de que me lembro ser invadido. Pouco depois já estava totalmente envolvido com o que se denominava então "movimento", por meio de grupo de jovens, depois de teatro, em seguida militando em um partido político e, após muita luta, atuando em um governo municipal, senão como formulador de políticas, ao menos como um trabalhador de comunicação tentando difundir a uma população ainda desacostumada com a democracia o significado de uma gestão cidadã. Hoje não tenho mais nenhuma forma de militância, mas a semente germinou e minha cabeça funciona no sentido de defender a liberdadade e os direitos fundamentais, coisas que nos foram negadas por muito tempo, apesar de eu não ter vivido essa época para testemunhar, mas que, depois de muitas leituras e outras formas de obtenção de informação, sei que não podem retornar. Então ver esse filme será reconstituir a trajetória de quem foi um dia desligado dessas coisas, não por vontade própria, mas porque o regime militar soube ser eficiente, e despertou para a vida democrática e a luta por ela, com a diferença de que o Luiz Inácio fez da luta a sua razão de viver, enquanto eu apenas tomei essa como uma visão de mundo, da qual não me arrependo.

3 comentários:

Sandra Evangelista disse...

Oi Carlos, lendo seu texto, fiquei curiosa pra assistir o filme.
Bjo. Flor

Isabela disse...

Queria ter vivido nessa época.. mas acho que tenho muito pelo que lutar nos dias de hoje! Vou assistir ao filme hoje, gostaria de ver com você mas não dá, né.. Depois você me conta mais histórias como essas, que são muito interessantes e você nunca contou... beijos pai

Carlos Mercuri disse...

É uma falha minha mesmo não te contar essas histórias. É que eu achei que vc não se interessaria. Vejo que errei. Vou contar, sim. Têm muita coisa legal para você saber.. E, claro, sempre há por que se lutar. Beijos