O Barquinho Cultural

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Teatros em shoppings



Ontem, indo para casa, ouvi no rádio o anúncio da inauguração de um shopping center na Vila Olímpia, e me chamou a atenção a informação de que em breve o centro de compras contaria com um teatro. Aí me lembrei de outro shopping recém-inaugurado, o Bourbon, no bairro da Pompéia. Lá tem o Teatro Bradesco; no Frei Caneca, na rua de igual nome, também tem teatro - foi onde assisti ao espetáculo O Mistério de Irma Vap. Aí pensei: será uma tendência? Fui pesquisar e o bom e velho Google deu-me outros endereços: Teatro das Artes, no Eldorado; Teatro Folha, no Pátio Higienópolis; Teatro do Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas. Deve haver mais por aí, mas fiquei com preguiça de passar da página 1. O importante é que parece mesmo se tratar de uma tendência. Como os cinemas, que invadiram os templos de consumo há pouco mais de 10 anos, espero que não pereçam os teatros de rua, como os cinemas definharam impossibilitados de competir com a praticidade do shopping. Já imaginaram o Teatro Municipal de São Paulo (foto), do Rio, o Amazonas, de Manaus, o José de Alencar, de Fortaleza, virando templos da Universal ou da Renascer? Ou passarem a exibir peças pornográficas ao vivo? Seria o fim da cultura. Eu não sei se a intenção dos empresários que constroem esses empreendimentos é difundir a cultura, apostando em montagens importantes. Ou se nesses teatros reina o besteirol (nem me preocupei em pesquisar o que está em cartaz, porque não saberia que tipo de peças são antes de assistir ou buscar referências). Um teatro costuma até se tornar uma referência, seja do local onde está seja do tipo de espetáculo que apresenta. É impossível que alguém não saiba onde é o Municipal de São Paulo, ou que não se refira a algum endereço no Centro sem falar: "Ah, é perto do Municipal". A outra referência, a do repertório, aponta a fama que a sala ganha ao longo do tempo baseada no tipo de peça que se assenta em seu palco. Durante os anos 50 e 60, o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), Major Diogo, era sinônimo de sofisticação, de textos clássicos; nos 60, queria espetáculos contundentes, revolucionários, ia-se ao Teatro Oficina, na rua Jaceguai; hoje, peças de vanguarda, humorísticas têm lugar nas salas da Praça Roosevelt, musicais da Broadway têm sempre vez no Teatro Abril, na Brigadeiro Luiz Antônio. Como será que vamos nos referir aos novos teatros nos shoppings no futuro? Será que vamos ao teatro ou fazer umas comprinhas, jantar e, se der tempo, ver a peça que estiver passando, caso a fila do cinema esteja grande demais? Nada contra, em princípio, afinal, a modernidade é assim mesmo e, com tanta violência por aí, estar protegido naqueles oásis pode até fazer o gosto pelo teatro renascer, ou aumentar. Mas eu fico pensando que teatro Zé Celso (diretor do Oficina) faria dentro de um shopping, lembrando de encenações do grupo que extrapolavam o teatro e iam à rua! E, curiosamente, há anos ele vem brigando com o grupo Silvio Santos, que quer derrubar o teatro (pois parece que a empresa é dona do quarteirão em que está o Oficina) e construir um... shopping.

2 comentários:

Isabela disse...

Realmente é algo bom de se pensar.. TALVEZ essa tendência aproxima a cultura (?) da população.. mas a gente sabe que os preços dos teatros dentro de shoppings são extremamente altos. Ou seja, seria mais uma forma de separar a população? Com peças que custam 150, 200 reais sempre em cartaz e com platéias cheias (talvez seja chique ir ao teatro?) e peças que tenham um objetivo, um enredo interessante (e mais do que o estilo 'sai de baixo') e preços baixos com a platéia vazia. É uma pena..

Carlos Mercuri disse...

Vc tem razão, filha. Aliás, teatro, seja na rua, seja em shopping, anda mesmo muito caro, e temos que esperar o fim do ano para essas campanhas de popularização. Mas o importante é ter o espaço, nem que seja dentro de um ônibus, como eu já vi..Beijão.