Esse fim de semana foi agitado. Fiz um monte de coisas. Tirando as férias, havia tempo não tinha um fds com tanta programação. Acho que gostei da experiência e pretendo repeti-la: não mais ficar trancado no apartamento, se bem que vez em quando é bom um resguardo, para ler, tocar o violão, ouvir discos novos e antigos, escrever, ou ficar com minha filha contando a ela as histórias que ela quer conhecer. Bem, mas esse fim de semana eu saí com a Ana Isabela. Fomos na sexta-feira ao show do Del Rey no Studio SP, na Augusta. É um pessoal de Pernambuco que toca músicas do Roberto Carlos de uma maneira muito legal, uma pegada bem rock e um ritmo mais frenético. Fica muito bom. A casa estava lotada, difícil de se movimentar lá, mas com jeitinho dava para ir ao banheiro e ao bar pegar uma cerveja (muito cara, aliás, como é nesses locais). Os caras tocaram por mais ou menos duas horas, tendo começado por volta de 2h, apesar de estar programado para a 1h. A baiana Pitty deu o ar da graça e cantou uma música com o China, o vocalista da banda. Muita gente jovem, mas eu não me senti tiozão não, apesar de o ambiente ser meio fora do que eu costumo frequentar. Mas gostei; se rolassem uns eletrônicos sem cérebro eu chiaria, mas a picape soltava só MPB de boa qualidade, coisa interessante pra caramba!
No sábado, uma chuva torrencial desabou sobre São Bernardo (acho que por todo o Estado também) bem na hora que íamos ao cinema. Bom que assim que estacionamos o temporal parou, e só ficou uma chuvinha fina. Depois de degustar um festival de carne em um restaurante rodízio, fomos ver o Lula, O Filho do Brasil. Há algumas coisas a se falar dessa obra de Fábio Barreto. Como cinema, é excelente. Tem uma boa história, personagens marcantes, intérpretes de altíssima qualidade, ótima carga dramática, ou seja, uma história para se assistir e sair de alma lavada. Mas não se pode resumir à discussão cinematográfica. Sem entrar no mérito das críticas que o acham eleitoreiro (só digo uma coisa, não acho; ora, desde quando Lula precisaria de um filme para se eleger para qualquer coisa, e tem ainda que ele não é candidato a nada no momento), pois bem, sem entrar nesse mérito, eu penso que o filme romanceou demais a vida do homem que se tornou o presidente do Brasil e deixou a política um pouco de lado. Eu, sinceramente, preferiria que se fizesse um bom documentário sobre o fenônemo Lula, porque justificaria, afinal, raros são os homens que tiveram ou têm a trajetória dele. As gerações atuais, pessoal na casa dos 20 a 30 anos, talvez não compreendam bem o que significa essa figura, e um bom documentário ajudaria a entender não só o homem, mas também o país. Não é o momento certo? Ora, para cinema, o momento é o da vontade e da oportunidade de seu realizador. Acho que nesse ano final de mandato, quando o correto seria se fazer um bom balanço dos dois mandatos de Lula, o filme vem a calhar, mas, insisto, seria muito melhor um documentário, não uma ficção "baseada em fatos e personagens reais". Mas gostei do filme, porque ele dá uma mostra pequena dos fatos que forjaram esse homem singular. Como não poderia deixar de acontecer, emocionei-me muito com as cenas de fábrica, de greve, as assembléias, passeatas. Lembrei-me, inevitavelmente, das coisas que já mencionei quando falei pela primeira vez do filme: meu tempo de milico, o medo de ter de enfrentar a peãozada, considerando minha família ser constituída por operários, muitos de montadoras e outras metalúrgicas. Aí depois veio à lembrança o período posterior, quando eu já estava metido nesses movimentos, apesar de não ser metalúrgico, mas bancário. Mas participávamos do fundo de greve, que visava arrecadar grana para o pessoal poder comer enquanto estava em greve e o salário não era depositado. Até aprendi, porque quando chegou minha vez, fiz greve com convicção no banco, aliás, uma greve de nove dias vitoriosa, que ganhou até apoio da população, que não imaginava que nós éramos tão explorados (vai ver o pessoal via a gente lá de gravatinha e as meninas todas pintadinhas e bem-vestidas e achava que ganhávamos muito bem!). O chato foi que na segunda greve eu já era cargo de confiança e dancei, mas esta é outra história. Eu vi diversas vezes o Lula nas assembléias da Vila Euclides, e o ator Rui Ricardo Diaz representa direitinho a voz e os trejeitos do líder sindical. Só ficou mal aquela mão meio virada para simular o mindinho decepado. Agora o Lula marido eu sei lá, não posso acreditar em um Lula tão romântico daquele jeito, tão doce com as esposas... Sei lá, a impressão que tenho, das vezes que tive contado pessoal com ele, é de que ele é não grosso, mas um machão como muitos homens de sua geração. E há ainda a omissão de seu envolvimento com a Miriam Cordeiro, aquela usada por Collor em 1989 para desacreditá-lo. Miriam é mãe de Lurian e disse que Lula sugeriu que abortasse, depoimento dado em horário eleitoral que abalou muito a candidatura do Lula. É mesmo incompreensível essa omissão. Quanto ao Lula doce, bem, acho que quiseram mostrar que, diante de um pai como o dele, decidiu ter um comportamento diametralmente oposto com as mulheres. Faz sentido, mas não vejo verosimilhança. Mas faltou explorar mais o lado político, expor a formação política do Lula, porque lá limitou-se a apontar cenas de injustiça que ele presenciou e a gente tem que supor que foi isso que trouxe-lhe a consciência política. Ora, todos sabem que ele era um quase alienado antes de assumir uma diretoria no sindicato, que seu ingresso nesse mundo foi por meio de seu irmão Frei Chico. Ou seja, o filme não explica o fenômeno. Será que é porque não há explicação? Mas é um bom filme, repito, que vale a pena ver e que valeu a pena ter sido feito.
No domingo, novamente no cinema, para ver Avatar, de James Cameron. Vimos a versão em 3D. Uma perfeição, diversão garantida. Um roteiro convencional, a eterna luta dos fracos contra os poderosos gananciosos que querem explorar as riquezas minerais de um planetinha perdido no espaço. Mas os efeitos visuais são de tirar o fôlego. O filme mistura atores com animação e o resultado é de cair o queixo. É diversão pura, cinema hollywoodiano na essência, e um campeão de arrecadação, conforme dizem os jornais. Os efeitos de terceira dimensão também são perfeitos. Ele lembra um pouco do Era do Gelo 3, ao misturar dois mundos, no caso deste, a selva é habitada por seres vindos diretos da nossa (da Terra) pré-história e ETs e seres estranhos, como cavalos com cabeça de tamanduá e seis patas. Aves com quatro olhos.. É engraçado. Valeu o preço do ingresso, e também é altamente recomendável.