O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abaixo o preconceito

Circulou no Twitter e no Facebook logo após a vitória de Dilma posts de uma estudante de Direito chamada Mayara Petruso com ofensas ao povo nordestino, por causa da expressiva votação que a petista teve naquela região. É de lascar, viu. Na foto não dá para ver direito, mas quem se interessar pode visitar o blog de meu amigo Renato Rovai (http://www.blogdorovai.com.br/) que tem farto material, inclusive um vídeo com a "repercussão" dessa iniciativa ridícula.

Ela sugere, entre outras coisas, que se mate um nordestino afogado em favor de São Paulo. Temerário. Esse país realmente tem coisas que mostram que de evoluído e desenvolvido tem muito pouco. Eu adoro o Nordeste, tenho muitos amigos de lá, meu avô era baiano, tinha tio pernambucano, já namorei com nordestinas, os avós de minha filha eram baianos, amo músicas de gente de lá e a contribuição desse povo ao progresso paulista e de todo o Brasil é imensurável. O preconceito e a xenofobia são realmente pragas difíceis de exterminar, precisa-se de anos de boa formação educacional e cultural e de civilidade, que ainda não começou a ser efetivada, nem sei se haverá. De toda forma, fica aqui meu protesto e, acrescento, não basta ela pedir desculpas. Precisa meter-lhe um belo processo para ela deixar de ser besta. E se não quer engolir a Dilma na presidência, que se mande dessa terra. Não vai fazer falta.

DOIS FILMES - Assisti nesse fim de semana a dois filmes da 34ª Mostra Internacional de cinema, que rola até amanhã, 4, em São Paulo. Sábado, 30, vi Uma Família, de Pernille Fischer Christensen, um filme dinamarquês sobre uma família dona de uma padaria há três gerações, os Rheinwalds. O enredo é em volta da filha, Ditte, uma galerista que recebe um convite irrecusável de trabalho em Nova York. Só que ela está grávida e um filho pode inviabilizar o trabalho, já que terá de viajar muito. Então ela e o namorado, Petter, resolvem interromper a gravidez. Quando ela está se preparando para viajar, seu pai, Rikard, descobre que tem câncer no cérebro. Ela decide então - sem consultar o namorado - desistir do emprego para ficar ao lado do pai. O filme trabalha bem as emoções que se irrompem em momentos como esse. O pai é casado em segundas núpcias e há um momento de conflito com essa mulher, mãe de dois filhos com Rikard, que tem, além de Ditte, outra filha do primeiro casamento. O pai, percebendo que seu fim está próximo, quer que a filha assuma a padaria, coisa que ela não quer, pois tem sua carreira. Enfim, um filme delicado, sobre um assunto delicado. Não tem grandes viradas de mesa, apenas lida com o assunto como é cotidiano.

No domingo, assisti a Quebradeiras, documentário brasileiro de Evaldo Mocarzel. Um filme denominado etno-poético sobre mulheres que extraem amêndoas de coco de babaçu na região do Bico do Papagaio, na fronteira entre Maranhão, Tocantins e Pará. Mostra o dia a dia delas, o trabalho de quebrar o coco na floresta de babaçu, as casas em que moram, as cantorias durante o trabalho e nas festas religiosas, os banhos de rio. Um filme quase sem homens e crianças, focado nas quebradeiras mesmo. O interessante do filme é que ele é rodado inteiro com a câmera parada. Assim, o diretor liga a câmera num tripé e a cena acontece no quadro focado por ela. Se a pessoa está caminhando na floresta, aparece ela chegando, indo e sumindo. Aí corta para outra cena. Tem enquadramentos bem inusitados, com muitos closes, detalhes... E não há nenhum diálogo, nem narração. Os únicos sons que se ouve são a música, muito bem elaborada (de Thiago Cury e Marcus Siqueira) e adequada, e as cantorias, como, por exemplo, as que as quebradeiras entoam quando vão ao trabalho, quando quebram o coco (colocam-no em uma machadinha e quebram com um pau) e nas cerimônias religiosas.

É um filme realmente poético, sobre uma realidade que é pouco conhecida. Vi que há uma organização, chamada de Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, que luta contra a tentativa, de empresas estrangeiras que compram terras no Maranhão, de explorar essa força de trabalho de forma quase escrava. Acredito que esse filme seja integrante desse movimento, apesar de em nenhum momento ele colocar a questão. Mas a forma como mostra o trabalho delas, de forma totalmente livre, dá a entender que qualquer interferência capitalista sobre ele só pode ser maléfico. Um belo filme.


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