Com um trabalho sério e dedicado, Aline alçou altos voos (foto: Breno Banu) |
De Aline Duran pode-se dizer muitas palavras. É uma linda
mulher, tem uma voz gostosa de se ouvir, suas composições e melodias são de
fácil assimilação e o som que ela e sua banda levam agrada muito aos ouvidos.
Mas, tão importante quanto tudo isso, é a paz e a tranquilidade que ela passa
para a gente.
A quase meia hora que conversamos para esta entrevista
transcorreu na mais perfeita harmonia, com respostas precisas, uma convicção
total de suas propostas, e uma carga de otimismo e alto astral que faz a gente
acreditar que somos capazes de tudo alcançar, se houver fé e muito trabalho, além
de um plano bem traçado sobre aonde se quer chegar.
Ela conseguiu. Chegou aonde se propôs, mas, com humildade,
diz que ainda está em crescimento, há muito a fazer, a aperfeiçoar... Fico
imaginando onde esta menina estará daqui a algum tempo.
Em pouco mais de dez anos de carreira, Aline alcançou o
respeito e a admiração do público e de músicos de peso. Cantou com Bunny Rugs,
falecido em fevereiro de 2014, da lendária banda jamaicana Third World – uma das
quatro mais importantes da cena reggae à época de Bob Marley; dividiu os
microfones também com Andrew Tosh, filho do igualmente célebre Peter Tosh.
Já em seu primeiro álbum (Novo Dia), contou com a
participação de Bi Ribeiro e João Fera, do Paralamas do Sucesso; do DJ
Marcelinho da Lua, produtor e muitas outras coisas, da prestigiada galera
carioca Bossacucanova; do rapper fluminense Black Alien, que tocou no PlanetHemp e com muitos outros feras.
Antes de lançar esse primeiro CD, já se apresentara na
Argentina, representando o Brasil no Dynamic Reggae Soundclash; com um disco
demo nas mãos, participou de diversos festivais de reggae pelo país, como o
Grito de Carnaval Reggae, em São Paulo, teve seu trabalho difundido por rádios
importantes.
Com o primeiro disco lançado, pela Deckdisc, e em seguida o
single “Sorrir pra Mim”, produzido por Alberto Vaz, segue uma trajetória
meteórica que a coloca em palcos importantes, como a Virada Cultural de São
Paulo, o Festival de Inverno de Campos do Jordão, mais apresentações em Buenos
Aires, sai em turnê com os jamaicanos Don Carlos e Apple Gabriel, toca com a
banda americana S.O.J.A (Soldiers of Jah Army).
Em 2012, a convite do portal Uol, grava “Love is Strong”,
música do disco Voodoo Lounge, em comemoração dos 50 anos da banda britânica
Rolling Stones promovida pelo portal. Em 2013, faz o dueto com Andrew Tosh na
música “Can’t Buy me Love”, para um álbum-tributo aos também britânicos
Beatles.
Lança o segundo trabalho, Sente o Som, em 2014, colabora com
a banda porto-riquenha La Quilombera e participa das filmagens do longa “Um
Salve Doutor”, dirigido por Rodrigo Sousa & Sousa e produzido em forma
colaborativa, lançado em novembro de 2014. Ufa! Um currículo de responsa.
Um Salve Doutor - Teaser from mundoemfoco on Vimeo.
O trabalho de Aline é baseado no reggae, com o qual se identifica e vê como o ritmo mais adequado ao recado de positividade que quer transmitir. Mas não se enclausura no estilo, acrescentando a suas composições pegadas dos outros universos sonoros que ouve e frequenta, como o hip hop, o blues e, mais recentemente, o jazz.
Blog por Bloga: Vamos
começar falando um pouco de sua história, como você começou, de onde você é,
como é que você chegou até a música?
Aline Duran: Vou começar a falar da parte profissional. Com 19 anos mais ou menos eu decidi que ia deixar o diploma de Turismo e investir na música, e acabei entrando e fiquei um ano em uma banda de reggae na zona leste e saí e fui montar meu projeto. Já era 2004, mais ou menos, para 2005, quando eu comecei a produzir minha primeira demo, com o Wagner Bagão, que tinha trabalhado com a Tribo de Jah. A gente começou a trabalhar e acho que em um ano e meio chamamos a atenção da gravadora, a Deckdisc e a gente gravou o disco de estreia [Novo Dia], a gente trabalhou por uns anos com a gravadora e quando eu saí e continuei, já estava com planos para o segundo disco; levou um tempo a mais do que eu gostaria, tentei trabalhar com um produtor e não deu certo, não ficou bom, aquela coisa toda. Então encontrei o Francys [Silva], que é um amigo de longa data, e ele me ajudou a produzir, os arranjos e tudo e aí agora em 2014 a gente lançou em formato digital e voltando agora para poder continuar... shows...
Bloga: Você diz o Novo Dia, que foi o primeiro...
Aline: Isso, Novo Dia, o primeiro, que eu fiz pela Deckdisc. Eu fiz a demo em 2006...
Aline: Isso, a demo em 2006. Aquela banda da
zona lesta era em 2004; em 2006 eu já lancei a demo e, em 2008, lancei pela
Deckdisc e, em 2010, 2011, mais ou menos, eu lancei um single ["Sorrir Pra Mim"] que
produzi com um produtor da Som Livre [Alberto Vaz] e a gente fez essa música, que
entrou nesse disco agora [Sente o Som]. Fora outros convites que tive a
oportunidade de fazer; gravei com Andrew Tosh ["Can't Buy Me Love", de Lennon/McCartney];
no próprio disco novo a gente gravou com Bunny Rugs, que é um cara do nível de
Bob Marley, do nível de importância no reggae do Bob Marley. Na real, na época
do Bob eram quatro bandas: Burning Spear, Wailers, Third World e o Peter Tosh,
que já estava solo. Então eram os quatro grandes artista. O Bunny Rigs, que era
do Third World, era um desses grandes cantores da época e eu tive a
oportunidade de gravar, acabei colocando, é a última faixa do disco. A música é
em parceria com ele[“I Believe in You”, de Kwame Heshimu]. A gente acabou colocando, foi uma coisa meio de surpresa,
não estava nem nos planos.
Bloga: Quer dizer,
você conseguiu se projetar nesse meio, até internacionalmente... A que você
atribui isso? É a galera que está envolvida, ou é mesmo uma questão de
oportunidade, de sorte...
Bloga: Como é que está
o espaço para você tocar, se apresentar? Está bom, acessível, ou tem que
batalhar muito, como é que está o cenário hoje para vocês apresentarem o que
estão fazendo, além da internet, para tocar mesmo, shows...
Aline: Eu acho que cada um fala do ponto de vista, acho que, em meio ao caos a gente pode escolher tanto uma visão pessimista quanto uma otimista e não é porque a gente tem uma visão otimista que a gente deixa de lutar pelos direitos, se aliena... Jamais. Inclusive tem muita gente que acha que faz uma música de protesto e está se alienando, não está com profundidade naquilo que diz. Mas eu sou terminantemente contra qualquer discurso de ódio, começa por aí. Estou dizendo isso em relação a toda essa situação política que a gente está vivendo. Nunca acho que o discurso de ódio vai levar a alguma coisa boa, definitivamente. Acho que a gente tem que encarar, sim, a realidade, modificar o que está ruim, mas sempre com essa visão otimista, sempre com respeito, sempre com amor, é uma resistência pacífica, jamais algo agressivo; não acredito nessas coisas de ódio que alguns estão pregando, seja em entrevista, seja em música, não é, definitivamente, a minha posição. Talvez hoje, especificamente, com esse disco, eu não queira comprometê-lo com nenhuma situação neste momento, quero deixar a obra livre para ser o que ela é, mas nada me impede, inclusive, eu estou vivendo isso, é possível que isso ecoe dentro de mim a ponto que, criativamente eu vá falar sobre, como eu falei no primeiro disco; esse clima de revolta já previ no primeiro disco. Vai ter uma hora que as pessoas vão se mobilizar diante de tanta impunidade, de tanta desonestidade, eu já falei isso em “Bem-vindo à Selva”, primeira música do primeiro disco, cinco, seis anos atrás. E agora eu defini... passei por um momento que quis deixar isso um pouco livre. Mas eu estou vivendo isso, estou vendo tudo isso, é muito possível, uma vez que eu falo da minha vida, das minhas experiências nas minhas músicas, eu não estou de olhos fechados a tudo isso que está acontecendo, então é possível que no próximo disco a gente tenha alguma coisa um pouco mais politizada, talvez. Mas não como regra, eu posso me expressar de ‘n’ formas, mesmo que não seja através da minha música, talvez seja mais efetivo eu ir numa manifestação atrás daqueles direitos. A música tem um poder, é claro, mas talvez em não tenha que a usar nesse momento.
Aline: Eu acredito muito nos sonhos, em torná-los realidade, acredito muito nisso, e foi no momento em que eu acreditei que eu poderia ter o Black Alien cantando uma música minha [“Pra Quem Jah Olha”], na demo! E eu fiz o que estava ao meu alcance para conquistar aquilo e chegou que ele participou mesmo de meu disco e ainda de quebra ainda Paralamas e um monte de gente maneira. Acho que é você acreditar no teu sonho e ter um plano e uma estratégia para isso. Fé, você tem uma estratégia, mas acima de tudo é fé, em você e em Deus, as duas coisas que acho que são primordiais e eu sempre tive isso, talvez eu sempre soubesse que eu fosse chegar aonde eu queria chegar. Fé no meu trabalho, nas pessoas que estavam ao meu lado, porque sempre procuro trabalhar com as melhores pessoas, os melhores músicos, procuro ser o meu melhor. Sempre acreditei em mim, em minha equipe e, acima de tudo, em Deus. Então tive meu sonho, segui em frente e as coisas aconteceram até um pouco mais do que eu tinha previsto, mas aconteceram porque em algum momento eu as concebi em minha mente.
Links
Bloga: Aí ele acabou
falecendo...
Aline: Sim, infelizmente ele estava numa luta contra o
câncer e acabou perdendo. E, imagina, a gente ia fazer clipe com ele e tudo,
mas infelizmente aconteceu isso. A gente vai fazer uns lançamentos paralelos
dessa música. Tem um cara chamado Ranking Joe, que acho que é o DJ mais
importante da Jamaica, da história do reggae, ele fez uma versão e a gente vai
fazer isso logo mais. O cara que produziu [Ziggy Coltrane], em Nova York, vai
trabalhar a música lá fora, e enquanto isso aqui no Brasil a gente vai fazer um
clipe da música e vai seguir a carreira mesmo, seguir com os shows.
Novo Dia saiu em 2008, pela Deckdisc |
Aline: Não sei se eu acredito muito em sorte, acredito no
trabalho sério e sonho, quando você tem assim determinação para realizar alguma
coisa; não acho que a questão seja sorte, não. O que eu fiz, acho que qualquer
um poderia ter feito, é só você traçar um plano, ver aonde quer chegar, traçar
um plano e ser persistente. Graças a Deus eu tive reconhecimento desse esforço,
desse trabalho, ao ponto de as pessoas gostarem, então foi algo sincero, nunca
tive que pagar jabá para rádio, demo... Quando a gravadora chegou para gravar o
disco com a gente, já tínhamos a música na cena underground trabalhada, até na
Argentina, eu fui pra fora antes de ter gravadora e tudo. A projeção maior se
deu aqui no Brasil por conta da gravadora porque teve assessoria de imprensa, é
óbvio, tem todo um respaldo, os caras que ajudam, foi importante, eu acho, mas
o trabalho de base já estava feito. Com a gravadora ficou melhor ainda. Mas
assim, por exemplo, eu saí da gravadora e agora a gente fez um disco de
qualidade tão boa quanto e estamos saindo agora, voltando para a estrada para
trabalhar ele.
Bloga: Esse Sente o Som
então é independente?
Aline: Sim, esse é 100% independente.
Bloga: A opção de ser
independente foi uma escolha fundamentada em quê? Tem mais espaço, a coisa dá
mais liberdade, por que a escolha da independência? Como é que está o acesso
hoje às grandes gravadoras?
Aline: Acho que o artista não depende da gravadora, ela que
depende da gente hoje em dia. Então, na real, já vem de uma crise fonográfica,
de, sei lá, uns anos pra cá, ao ponto de, hoje em dia, a maioria das gravadoras
chegou num nível que elas próprias assinam contrato com um artista que já chega
com um trabalho pronto, produz lá... Alanis Morissette está gravando um disco
na casa dela... Ela deve ter uma gravadora que vai fazer o quê? Possivelmente a
distribuição. Então, hoje em dia essa independência que democratizou a música
se dá primeiro pelo acesso ao conhecimento, à informação, aos softwares que você
vai lá e resolve, faz, não precisa ter um puta de um estúdio para fazer uma
coisa. Você tem o conhecimento, vai num estúdio bom e faz um trabalho bom,
vendável. Isso e a questão da internet, para download, tudo, isso quebrou onde
eles mais ganhavam que era na venda do disco, mas o artista sempre ganhou com
show. Então, mesmo antes, o artista ganhava com show. Então eu acho que a
questão ser ou não independente... A gravadora que eu estava, a Deckdisc, é
uma gravadora independente, é a maior independente do Brasil, mas é
independente também, foi um selo que me ajudou muito, que investiu no meu
trabalho, num nível que talvez eu sozinha não conseguiria na época, mas assim,
tudo bem, fez o trabalho, deu o prazo do contrato. Se tivesse uma outra
gravadora, uma Sony, os caras investem nervoso também. Isso não é a garantia de
nada, seu trabalho tem que ser sincero, bem feito e as pessoas que vão dizer se
gostam ou não. O reconhecimento que eu tive foi sincero desde o início, desde
antes de tudo. E agora é manter, investir para crescer cada vez mais. Isso não
depende de gravadora.
Sente o Som, de 2014: independente |
Aline: Eu tenho sentido até uma coisa de todos, todos os
artistas que eu conheço, não só do reggae, eles têm falado que agora o apoio à
cultura está muito mais nessa coisa de [Lei] Rouanet, as oportunidades estão
vindo muito mais a partir dessa forma, de governo...
Bloga: Incentivo
cultural...
Aline: Isso, desses incentivos culturais, muito mais do que
da iniciativa privada, talvez porque ela esteja necessitando de um apoio nesse
aspecto. Os caras de casas também estão investindo menos, eu acho. Não sei se
isso é uma questão de imposto, enfim, falta de incentivo para eles, mas o que eu
vejo são grandes artistas atrás da Lei Rouanet, por exemplo, a Vanessa da Mata,
você vê gente que é nome de peso mesmo, Bebel Gilberto, é um pessoal que não
está atrás de fazer o próprio disco em casa, não. Estão atrás de incentivo
cultural. Eu, no caso, não tive nada disso, a gente fez independente
mesmo, por uma questão de não ter outra opção também: é isso ou isso, então vamos. O importante é fazer, nunca
parar.
Bloga: Você já
frequentava esse meio? Por que você optou pelo reggae, quais são as suas
influências. Quando você se tocou que queria ser cantora foi pelo reggae mesmo,
direto?
Aline: Quando eu comecei
a escrever minhas músicas, eu percebia que elas tinham sempre essa característica
mais positiva, toda uma linguagem que cabia, eu já estava curtindo [o estilo],
sempre ouvia desde 13, 14 anos reggae, hip hop, ouvia muito blues também, mas,
por exemplo, o blues precisa, para ser bom, tem que ter uma dor verdadeira e eu
não tinha, eu tinha mais alegria a passar e a dizer às pessoas...
Bloga: Uma coisa mais
iluminada...
Aline: Né? De superar, encarar os desafios e vencer, esse
tipo de mensagem positiva. Eu achei que era muito mais cabível a minha música
dentro desse universo que sempre foi minha paixão também. O reggae me escolheu,
eu escolhi o reggae. Foi uma escolha mútua na parte criativa, mas eu não me
restringi a isso. Como eu sempre ouvi muitas outras coisas, desde pequena, não me
limitei a fazer só isso aqui. Imagina, a música é rica e a liberdade criativa é
o mais importante. Eu sempre deixei o reggae se misturar com outras influências
que eu tinha, de R&B, de hip hop, jazz...
Mas agora o jazz é algo relativamente novo na minha vida musical. Tem
acho que cinco anos que eu esteja ouvindo e consumindo mesmo [o jazz]. Até
então era muito mais reggae, hip hop, R&B e blues muito. Agora tenho essa
nova informação que acaba caindo um pouquinho, aí eu fui lá e temperei um
pouquinho o segundo disco.
Bloga: Você está
fazendo então uma mescla, você quer criar a sua própria linguagem...
Aline: Eu acho importante a gente se desenvolver, crescer,
porque eu não faço música de forma mecânica, industrial... Realmente tem minha
alma, meu coração ali, tem que ser sincero, vai partir da minha vida, das
minhas experiências, do que eu estou consumindo de verdade.
Bloga: E nessa linha
mesmo: você é compositora, que recado você quer dar com a sua arte, com suas
músicas, o que você quer transmitir com as suas letras?
Aline: Emocionar as pessoas. Acho que tem música que é para
dançar, tem música que é para pensar, mas acima de qualquer coisa acho que é
emocionar as pessoas para que elas sintam a própria dimensão... Eu sinto a
minha dimensão enquanto um ser humano, eu sinto ela profunda e, se através da
minha vivência, da minha música eu puder fazer com que as pessoas se aprofundem
nela, nos sentimentos, nas emoções que elas cresçam, ganhem alguma coisa, levem
alguma coisa de positivo com isso... Sempre positivo, jamais faria uma música
para deixar uma pessoa mal, que passasse uma mensagem negativa qualquer, em relação
a ela ou ao mundo. Não, sempre com o olhar otimista, eu acho. Otimista,
profundo e que as pessoas levem alguma coisa de emocionante para elas na vida.
Bloga: Como é que você
está vendo o momento atual, a gente está aí numa situação política e econômica
um pouco conturbada, tiveram os vários protestos em 2013, a coisa que está se
dando na sequência... Você acha que está tendo um espaço para você vir com esse
recado mais positivo, de sensibilizar as pessoas. Acha que é possível você
esquecer um pouco a vida comum e pensar em coisas mais positivas?
Aline: Eu acho que cada um fala do ponto de vista, acho que, em meio ao caos a gente pode escolher tanto uma visão pessimista quanto uma otimista e não é porque a gente tem uma visão otimista que a gente deixa de lutar pelos direitos, se aliena... Jamais. Inclusive tem muita gente que acha que faz uma música de protesto e está se alienando, não está com profundidade naquilo que diz. Mas eu sou terminantemente contra qualquer discurso de ódio, começa por aí. Estou dizendo isso em relação a toda essa situação política que a gente está vivendo. Nunca acho que o discurso de ódio vai levar a alguma coisa boa, definitivamente. Acho que a gente tem que encarar, sim, a realidade, modificar o que está ruim, mas sempre com essa visão otimista, sempre com respeito, sempre com amor, é uma resistência pacífica, jamais algo agressivo; não acredito nessas coisas de ódio que alguns estão pregando, seja em entrevista, seja em música, não é, definitivamente, a minha posição. Talvez hoje, especificamente, com esse disco, eu não queira comprometê-lo com nenhuma situação neste momento, quero deixar a obra livre para ser o que ela é, mas nada me impede, inclusive, eu estou vivendo isso, é possível que isso ecoe dentro de mim a ponto que, criativamente eu vá falar sobre, como eu falei no primeiro disco; esse clima de revolta já previ no primeiro disco. Vai ter uma hora que as pessoas vão se mobilizar diante de tanta impunidade, de tanta desonestidade, eu já falei isso em “Bem-vindo à Selva”, primeira música do primeiro disco, cinco, seis anos atrás. E agora eu defini... passei por um momento que quis deixar isso um pouco livre. Mas eu estou vivendo isso, estou vendo tudo isso, é muito possível, uma vez que eu falo da minha vida, das minhas experiências nas minhas músicas, eu não estou de olhos fechados a tudo isso que está acontecendo, então é possível que no próximo disco a gente tenha alguma coisa um pouco mais politizada, talvez. Mas não como regra, eu posso me expressar de ‘n’ formas, mesmo que não seja através da minha música, talvez seja mais efetivo eu ir numa manifestação atrás daqueles direitos. A música tem um poder, é claro, mas talvez em não tenha que a usar nesse momento.
Bloga: Há poucas
mulheres nessa cena de reggae. Como é que você se vê, teve alguma dificuldade
de se colocar. Acha que isso aí pesou ou foi tranquilo, não sentiu nada de
preconceito, resistência do meio?
Aline: Preconceito sempre há. Acho que a forma como a gente
lida com ele, se você se vitimizar diante do preconceito que você for receber...
Você viu que passa a vida toda sofrendo preconceitos. Na hora que você ignora
ele e simplesmente continua focada no crescimento, no que você acredita, isso não te afeta mais;
não que não te afete... Não te segura, pode até te atingir, mas não vai te
impedir de crescimento algum. Eu acredito nisso. Em alguns momentos acho que
isso foi um grande diferencial – o fato de ter poucas mulheres – e, em alguns
momentos, só no começo, acho que as pessoas não estavam acostumadas. Acho que
tem muitas artistas mulheres em todos os estilos de música. Então não teria por
que ter uma restrição do publico. No reggae talvez os mais ortodoxos possam ter
alguma restrição, mas nem é meu foco, nem é meu público alvo, então não
precisei me preocupar com isso, não me intimidei. Acho que para mim, na
verdade, foi muito mais positivo o fato de ter poucas mulheres porque isso foi
um diferencial, mas é porque a minha visão é otimista.
Bloga: Fazendo um
balanço de sua carreira, desse tempo todo, os discos, como é que você avalia
sua trajetória até agora e o que está projetando daqui para a frente?
Aline: A minha visão é de que eu sou uma artista em
crescimento. Eu tenho pelo menos o respeito e o reconhecimento do meu trabalho
no meio em que eu atuo, graças a Deus eu tenho. Então é continuar trabalhando
para manter isso e cada vez mais ampliar
o meu trabalho, ampliar o reconhecimento das pessoas diante dele, enfim, conquistar
cada vez mais fãs, acho que até fora do meu meio... Eu me vejo como uma artista
em crescimento.
Bloga: Você imaginava
que teria essa projeção, porque você está cercada de pessoas de peso, até o
pessoal do Paralamas, o Bunny...
Aline: Eu acredito muito nos sonhos, em torná-los realidade, acredito muito nisso, e foi no momento em que eu acreditei que eu poderia ter o Black Alien cantando uma música minha [“Pra Quem Jah Olha”], na demo! E eu fiz o que estava ao meu alcance para conquistar aquilo e chegou que ele participou mesmo de meu disco e ainda de quebra ainda Paralamas e um monte de gente maneira. Acho que é você acreditar no teu sonho e ter um plano e uma estratégia para isso. Fé, você tem uma estratégia, mas acima de tudo é fé, em você e em Deus, as duas coisas que acho que são primordiais e eu sempre tive isso, talvez eu sempre soubesse que eu fosse chegar aonde eu queria chegar. Fé no meu trabalho, nas pessoas que estavam ao meu lado, porque sempre procuro trabalhar com as melhores pessoas, os melhores músicos, procuro ser o meu melhor. Sempre acreditei em mim, em minha equipe e, acima de tudo, em Deus. Então tive meu sonho, segui em frente e as coisas aconteceram até um pouco mais do que eu tinha previsto, mas aconteceram porque em algum momento eu as concebi em minha mente.
Bloga: Jah está
olhando para você, fazendo um trocadilho com a sua música, “Pra Quem Jah Olha”...
Aline: É.
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