O Barquinho Cultural

O Barquinho Cultural
Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens
dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A volta dos bons e velhos LPs



Muitos artistas têm lançado seus discos também em vinil. Em algumas lojas, é comum encontrar uma seção com as bolachonas - a preços exorbitantes, registre-se. Numa dela, vi o Yellow Submarine, dos Beatles, a mais de R$ 120! Eu acho, porém, ótima a redescoberta do vinil. E principalmente porque os lançamentos são em 180 gramas, o que dá uma densidade de som bem melhor.

Geralmente o vinil comum já tem uma profundidade maior que os CDs. Mesmo em um aparelho simples como o meu, já dá para perceber. Os graves são bem mais musculosos, dá para sentir as paredes tremendo.

Não sei por que se dá tanto valor aos agudos. É incrível, mas eu gosto dos sons bem equilibrados, para sentir o timbre perfeito de cada instrumento. Se se privilegia um timbre mais que os outros, fica um som artificial. E é essa a maior queixa que se tem contra o som dos CDs. Claro que o disquinho a laser tem suas vantagens. Por exemplo, não tem chiados, não precisa virar, cabem muito mais músicas (e agora com mp3 então dá para pôr a discografia de um artista inteira), ocupa menos espaço...

Mas o vinil tem um charme especial. Sei lá, deve ser porque cresci com eles, então a gente cria mesmo uma relação com as coisas de nossa infância. Os discos de vinil requerem um ritual todo especial, pelo menos eu sou assim: tirar o envelope plástico, que eu sempre deixei para conservar a capa; olhar atentamente as fotos da capa, ou desenhos, ler tudo que está escrito nela, aí tirar o outro envelope plástico com o disco e pegá-lo cuidadosamente, evitando meter os dedos, pegando pela borda; olhar os nomes das músicas, os compositores, o tempo de duração da canção, e outras informações que houver; ligar o toca-discos, pôr o disco com carinho no prato, descer bem devagar a tampa do aparelho e ligar o automático; ver o braço subir verticalmente, caminhar até o início da primeira faixa, descer e aí ouvir aquele barulhinho de coisa sendo delicadamente riscada que eu adoro. Depois começa a sair a música das caixas.

Eu sempre gostei de ouvir a música sentado no chão, em frente às caixas acústicas, para perceber detalhadamente cada instrumento, a voz, as pausas (quando o barulhinho aparece de novo). Se houver encarte com as letras, acompanho, para não perder uma palavra. Vejo quem toca o quê (desde que haja a informação, é claro), procuro me lembrar onde vi aquele nome novamente, que outras músicas ele tocou e de quais participou, aí vou formando minha memória musical. Já quis ser mais metódico nisso, fazer anotações, para ter um catálogo, algo assim. Mas sempre esqueço, tenho preguiça, deixo para depois e nunca fiz. Tudo fica no que a memória registra.

Eu não me desfiz de meus discos de vinil quando comprei meu primeiro aparelho de som com toca-CD. Não, fui à Santa Ifigênia (rua no centro de São Paulo com lojas só de eletroeletrônicos e suprimentos de informática) e procurei uma pick-up (não o carro, mas é como a gente também chamava os toca-discos antes). Achei uma por um bom preço (porque havia diversas para DJs profissionais muito, mas muito caras mesmo) e levei.

Em seguida, como estava no centro mesmo, fui à Discomania, na rua Augusta, procurar uns discos usados. Acabei trazendo, se não me engano, um da Grace Jones, um do Muddy Waters e outro da Nara Leão. Bem baratos e conservados. Talvez agora, com esse revival, possam estar bem mais caros. Qualquer dia passo lá e verifico.

Mas também quero comprar um desses novos vinis para ver se o som é mais bojudo mesmo. Como são caros, terei de escolher bem. E ainda tem o problema da conservação; precisarei rever o local onde deixo meus cento e poucos (apenas) discos. Eles ficam meio inclinados, o que não é recomendável, porque podem empenar. Um dia, quem sabe, criarei coragem e limparei um por um, porque estão meio esquecidos, já que quase nunca os ouço.

Gosto de tê-los, mas quando quero ouvir música pego um CD, ou ouço as que tenho gravadas no computador, ou no iPod. E eu ainda tenho muitas fitas K7 gravadas, do tempo em que CD era caro e então alugava na locadora de videocassete no centro de Santo André e gravava em casa, o que fazia também com empréstimos de amigos e programas de rádio. Essas fitas estão sofríveis, péssima qualidade de som, mas de vez em quando ouço alguma para matar a saudade.

Isso me faz lembrar os discos de 45 e 78 rotações que meu pai tinha. Eram a maioria de músicas instrumentais, de bandas marciais e de igreja, uma vez que ele tocava bombardino (ou baixo tuba) na banda da sua igreja. Ele colocava os discos na horizontal no guarda-roupas, e uma vez eu sentei-me em cima. Resultado: vários discos quebrados e uma bronca que felizmente esqueci como foi.

Hoje temos muitas opções para ouvir música, e até mesmo sem necessidade de pagar por elas, o que provoca muita polêmica. Não se sabe o futuro das mídias e formatos de se produzir e ouvir música, mas com certeza ela sempre haverá, mas, pela facilidade que há para se fazer canções hoje, o filtro terá de ser bem mais forte.

Nenhum comentário: