O Barquinho Cultural

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domingo, 28 de junho de 2009

Cês tão pensando que ele é loki?

Neste sábado assisti ao filme "Loki", documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, produção do Canal Brasil, que conta a vida, a obra e as loucuras do mutante Arnaldo Dias Baptista, cérebro e líder do Mutantes, para mim o primeiro grupo autêntico de rock brasileiro. Tive contato com o grupo em 1971, quando eles lançaram o ótimo A Divina Comédia ou... Ando Meio Desligado. Foi um disco que me pegou na jugular. Acho que ali eu dei os primeiros passos para o gosto musical que tenho hoje. Adorava jovem guarda e músicas que hoje seriam tachadas de populares ou bregas. Mas foi ouvir Mutantes, mais até do que Beatles, que também conheci à época, se bem que já os singles de cada um dos quatro individualmente, que me levou a gostar de um som mais elaborado, cheio de detalhes, de interpretações alucinadas, de distorções, de instrumentações inusitadas e, principalmente, harmonias nada óbvias. Enfim, esse disco fez minha cabeça. Tanto que ele desgastou de tanto que ouvimos - ou tão pouco cuidados tivemos com ele. Aí quando pude comprei outro vinil. Depois com o tempo fui revê-los no festival da Record de 1967 cantando Domingo no Parque, de Gilberto Gil, e comprei outros discos deles. Tinha uma idéia da vida do Arnaldo, coisas pescadas aqui e ali nos jornais, revistas especializadas, mas o filme mostra a história dele com muitos detalhes, e a incrível recuperação dele. Coisa que só iríamos ver novamente com o Herbert Viana. O cara pulou do quarto andar de um hospital psiquiátrico e sobreviveu, com sequelas, claro, mas incrivelmente recuperou sua capacidade cognitiva, tanto que pinta, voltou a tocar e hoje, apesar de ter pulado fora do revival dos Mutantes (com Zélia Duncan), segundo ele porque o pessoal não usa guitarras Gibson nem amplificadores valvulados (o que mostra que está, sim, lúcido), deve estar em plena atividade. Antes disso, em 2004, gravou, com produção do John Ulhoa (Patu Fu) e distribuição pela revista Outracoisa, de Lobão, o ótimo Let It Bed. O filme é excelente, mesmo, com imagens de arquivo surpreendentes, depoimentos sinceros - só faltou o de Rita Lee, o que é incompreensível, passado tanto tempo, mas nos créditos vê-se que ela deu sua contribuição, talvez com material de arquivo que tenha, não sei. Mas a separação da ruivinha, somada ao consumo contumaz de LSD, conforme depreende-se do filme, levou o cara à destruição. Há um trecho muito engraçado em que o artista plástico Antonio Peticov diz que estava na Europa e o Arnaldo o encontra lá, não se sabe como, e vai visitá-lo. Lá, diz que queria contratá-lo como motorista da nave espacial que ele estava construindo... Isso foi antes da primeira internação. Agora, depoimento incrível é do Sean Lennon, filho do beatle John, com quem, aliás, ele tocou num Free Jazz. O garoto é tão fã dele e dos Mutantes que participou da produção de Technicolor, que eles gravaram em Paris nos anos 70 e só foi lançado 20 anos depois. Eu fico imaginando a cabeça do cara: ele, que é fá dos Beatles, ser admirado pelo filho de um deles. E ainda tem Kurt Cobain, do Nirvana, que quando esteve no Brasil quis porque quis se encontrar com Arnaldo. É um filme que realmente emociona, mesmo se o espectador nunca ouviu falar de Mutantes ou Arnaldo. À medida que o filme transcorre, Arnaldo vai pintando um quadro, um mosaico de trechos da história que vai sendo contada. E pode-se perceber ali uma honestidade e um sofrimento comoventes. Acho que o filme vem confirmar que o Mutantes foi realmente a maior banda de rock brasileira de todos os tempos. E esse revival, sinto muito, não tinha porque acontecer, principalmente, e não apenas, pela ausência de Rita Lee, que, compreende-se, com a carreira consolidada, não teria muito o que fazer ali.

Um comentário:

Clara disse...

Concordo plenamente com a proposta feito no meu blog...rs...
Engraçado q eu não sou da época dos mutantes, mas assim que eles cismaram em fazer o revival...teve um show no Vivo Rio.
Na época namorava um cara q era da época dos Mutantes...rs...e ele ficou eufórico pra ir, mas depois do show ele mesmo se convenceu q não era a mesma coisa sem a Rita...
Mas,fiquei curiosa e vou querer ver esse documentário!
Abraços.