O Barquinho Cultural

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Vampiros, tambores e reis

Fim de semana chuvoso em São Paulo. E mais ainda em São Bernardo. Na sexta-feira, fui ao Teatro das Artes, no shopping Eldorado, comprar ingresso para o show de Bruna Caram, uma pré-estreia de seu novo disco, Feriado Pessoal. Será dia 10 de junho, uma quarta, véspera de feriado. Em casa, assisti ao primeiro DVD da minissérie Agosto, baseada em livro de Rubem Fonseca. Quando passou na TV gostei muito, pois gosto de obras policiais. Na juventude, era leitor voraz de livros de bolso de espionagem e policiais. E desde sempre adorei ouvir Gil Gomes no rádio. Cheguei a pensar em fazer meu mestrado sobre esse programa, que está até hoje no ar. Histórias policiais, de espionagem, suspense, terror, mistério, adoro. Acho que é por isso que não criei um hábito de ler poesias. A prosa sempre me cativou mais. Não sei explicar por quê. E, afinal, nem tudo tem que ser explicado, não é? No sábado, decidimos, eu e Ilana, continuar quietinhos em casa, vendo DVD e fazendo comidinhas gostosas. Peguei-a na rodoviária do Tietê às 7h e fomos direto para Santo André, para compras no supermercado. Finalizamos os suprimentos na padaria que fica em frente ao conjunto habitacional em que moro, e finalmente chegamos em casa. Foi um sábado diferente dos últimos que tenho tido, sem rua, sem viagens, sem conhecer nada novo. Apenas os filmes que assistimos: Crepúsculo e O Tambor. O primeiro, uma estória de vampiros moderninha, está muito bem cotado por aí, ganhou 5 prêmios do MTV Movie Awards ontem. A fotografia é muito boa, assim como as locações, aparentemente no Estado de Washington. O filme é baseado em livro de mesmo nome que está causando furor no mundo. Leio que já foram vendidos 5 milhões de exemplares em todo o globo. Bem, não entendo por que, uma vez que a história é velha, apenas "adolescentizada", ambientada em um colégio americano, com teens nos papéis principais. De resto, tudo que se pode esperar de um filme desse gênero. Quanto ao segundo, também baseado em um romance de mesmo nome, tem uma proposta um pouco mais séria, que é discutir a sociedade alemã dos anos 20 a 40 e o florescimento do nacional-socialismo ali. É uma crítica mordaz à dita burguesia e seus valores, no olhar de um menino que se recusa a crescer ao perceber tanta iniquidade ao seu redor. É um filme muito interessante, que mescla tragédia e comédia em doses equilibradas. Este filme me foi emprestado há tempos por uma tia de minha filha e estava para o ver, o que fiz, creio, em hora bem adequada.
E o fim de semana foi assim. Filmes, pipoca, hot dog, salmão ao molho de maracujá com arroz de brócolis, cocada, cerveja, vitamina, guaraná. Uma passada rápida de olhos nos jornais, recolher o lixo, a cama do quarto da filha que quebrou. Vida doméstica. Fazia tempos que não vivia isso. E o mais incrível: um fim de semana inteiro sem internet (apenas uma conectada rápida para ver a receita do peixe). É possível, sim. Agora, se fosse depender apenas da TV para me divertir, ia sofrer. Nem vale a pena comentar as "atrações" que procuram nos cooptar aos sábados e domingos. Basta dizer que valeu mais a pena dormir ou ouvir uma música. Falar em música, acabei de ouvir uma coleção de mais de 180 músicas do Chico Buarque que meu colega de trabalho Beto me cedeu. Foram três ou quatro dias ouvindo, ao ir para a agência e voltar dela. Puro prazer. Cada canção traz a lembrança de uma época, uma ocasião, às vezes uma pessoa, uma história vivida. É incrível como o compositor sabe transformar em letras sentimentos e sensações que são tão caros à gente. É impressionante como ele lida com temas de alta complexidade com uma simplicidade desconcertante. A minha preferida, de sempre, é Construção, mas Roda Viva também me cativa e, se for lembrando, daqui a pouco vou acabar elencando toda sua obra. Mas essas duas dão a dimensão de seu pensar, de sua poética e de seu modo de fazer canções. Chico é um músico que não mudou, não serviu ao clima de então, não desbundou nem destoou. Está há 40 anos fazendo o que quer e deixando uma grande parcela de seu repertório na galeria das canções eternas. Tenho o Carioca, seu último CD, e confesso que só o ouvi uma vez, e nem apreendi nada dele, a não ser que me parece uma obra despreocupada, relaxada, mais interessado em contemplar o horizonte ao seu redor que meter uma lente de aumento em seus olhos e enxergar algo além. Não sei. Vou ouvir novamente e prestar mais atenção. De repente algo se revela.
Não podia deixar de falar de Roberto. A apresentação do show Elas cantam Roberto, gravação do espetáculo levado ao palco do Teatro Municipal de São Paulo terça-feira, exibida pela Globo neste domingo, não me agradou totalmente. Além das imperdoáveis ausências de Maria Bethânia e Gal Costa, julgo ter havido rasgação de seda demais e um glamour chato, com as ditas divas exibindo modelos feitos talvez para a ocasião. Entraram as poderosas do momento, caso das baianas axezentas Cláudia Leitte e Ivete Sangalo, além da Daniela Mercury, mas essa está em outro patamar. Já quer era pra botar as topo das paradas, deveriam chamar a Joelma, do Calypso. Ah, mas esta não se apresenta sem o Chimbinho, deve ser. Não é o caso de Sandy, que já botou seu mano na cozinha dos Nove Mil Anjos e pode seguir solo. Maríla Pêra e Nana Caymmi, claro, arrasaram, e gostei de estarem lá Wanderlea (imperdoável se não estivesse) e Rosemary, esta deslumbrante. Hebe eu achei esquisito, mas me parece que a proposta do show era mesmo esta: reunir 20 cantoras de diversas épocas, para abraçar um tiquinho da longa carreira de 50 anos do Rei. Eu asseguro uma coisa: eu vou no show dele, ou em São Paulo ou no Rio. Será a primeira vez que verei um espetáculo ao vivo desse cantor que eu curtia muito na minha infância e que gostei até o disco de 1971 - o que tem Detalhes. Depois, ouvia, até porque, como vendia discos na loja de meu pai no Ipiranga, era um dever de ofício, já que o cara era um dos que mais vendiam LPs na época (os outros campeões de venda no começo dos anos 70 eram Martinho da Vila e Clara Nunes). Vou porque ele é, afinal, nosso Rei, influenciou quase todo mundo (se não influenciou, ao menos quase todo mundo o ouviu). E, bem, se Bethânia e até Marisa Monte gravam músicas dele, não podemos desprezar. Eu vou. Podem esperar o post.

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