O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Anos de ouro do rádio

Estou me deliciando com a leitura de Minhas Duas Estrelas, de Pery Ribeiro e Ana Duarte, que comecei a ler neste feriado da Padroeira e dia das crianças.

O livro trata da vida de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, pais do autor, um cantor em quem nunca prestei muita atenção. Soube, pela leitura, o motivo: ele fez uma carreira mais internacional, morando dez anos em Miami.

Já sobre seus pais não sou totalmente ignorante, conhecendo um punhado de músicas de Herivelto e canções interpretadas pela Estrela Dalva, rainha do rádio de 1951. O que mais me está surpreendendo é conhecer a força do rádio nas décadas de 30 a 50. Como não havia TV no período, o rádio era mesmo o principal veículo de divulgação dos artistas e arregimentava multidões.

Claro que eu sabia disso, afinal estudei rádio na faculdade, mas esse relato do Pery e Ana, com pormenores de como funcionava essa indústria, é muito oportuno. Depois a TV veio ocupar esse papel, e é interessante observar como ela, de certa forma, copiou muito os sucessos do rádio. Novelas e programas humorísticos estão aí para comprovar. O livro de Ruy Castro sobre Carmem Miranda também é prolixo em retratar esse assunto, assim como o Café na Cama, de Marcos Rey, que li ainda adolescente e que me encantou.

Mas a história desse casal é por si só muito interessante. Abordada em minissérie recentemente na Globo, a vida de Herivelto e Dalva é destrinchada sem meias palavras pelo filho e sua esposa. Claro que ele aproveita para falar também de si, o que é inevitável.

Eu me lembro de que, quando bem pequeno, 5 ou 6 anos, minha mãe gostava de passar roupa na edícula de nossa casa com o rádio ligado. Membro do coral da igreja, onde meu pai era tocador de bombardino e escrevia as partituras da banda, minha mãe era fascinada por música e vivia com o rádio ligado. E essas músicas abundavam, e bem mais tarde, ao ouvi-las, me lembrava de conhecê-las do radinho da mãe.

Lendo o livro, agora, que traz várias letras das músicas que o Trio de Ouro (Nilo Chagas, Herivelto e Dalva, na foto) cantava, essas imagens me vêm  à lembrança, e fico chateado por não ter prestado atenção nelas antes, talvez por ser criado em um ambiente em que proliferaram outros estilos.

Revendo-as agora, não posso negar que são belíssimas canções, de gente do quilate, além de Herivelto, de Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Pixinguinha, Davi Nasser (um escroto como jornalista, mas letrista de respeito, apesar da campanha sórdida contra Dalva), e outros que até hoje são consagrados.

E as desavenças do casal, que se separou em um tempo em que isso era objeto de férreo preconceito, são muito tristes. É uma bela história mesmo, em um livro muito bem escrito e prazeroso de ler.

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