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domingo, 23 de fevereiro de 2014

PM age com truculência contra manifestantes que, para Alckmin, são vândalos

Um efetivo aparentemente superior ao de manifestantes; mais de um quarto de participantes detidos; agressões e cerceamento à imprensa e a advogados. Esse o saldo do ato contra a Copa deste sábado

Por Carlos Mercuri

Jornalistas novamente foram reprimidos (foto: Joca Duarte/DCM)
Desta vez, a polícia militar de São Paulo, comandada pelo governador  Geraldo Alckmin (PSDB), agiu flagrantemente com o intuito de melar a manifestação (um direito constitucional) neste sábado (22) na capital  contra a Copa, . Além de convocar para depoimentos 40 participantes do primeiro ato, realizado em 25 de janeiro, na mesma hora desse segundo protesto – o que o próprio diretor do Deic, Wagner Giudice, admitiu  neste domingo que visou esvaziar o movimento -, o comando da PM mandou um efetivo de soldados aparentemente superior ao de manifestantes. A edição brasileira do espanhol “El País” falou em 2,3 mil. O Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), consultado às 18h, informou que havia cerca de mil manifestantes naquele momento, que o ato estava pacífico, mas não divulgou o efetivo enviado. Uma sonegação de informação estranha.

PMs cercam manifestantes (foto: Mídia Ninja)
Mas o pior veio depois. Cerca de duas horas depois de iniciado o ato – ou menos -, a PM cercou manifestantes que, para a corporação, era adepta da tática black bloc. Segundo o “El País”, a Polícia Militar  justificou aquele cerco para “impedir uma injusta e iminente agressão, retendo pessoas que se preparavam para cometer atos criminosos durante apenas o tempo necessário para identificá-las”. Alguns dos presentes relataram como os policiais levantaram uma bandeira azul e disseram: “A gente ganhou. Essa Copa é nossa”. Foram levados para delegacias 260 deles (mais de um quarto dos participantes), uma atitude criticada por advogados e pela própria OAB de São Paulo.

Marcos da Costa, presidente da OAB-SP, disse que a polícia não tem o direito de prender manifestantes e levá-los para prestar depoimentos se nesse momento não estavam cometendo um crime. “O papel da polícia é proteger a manifestação, atuar no caso de serem cometidos crimes que ameacem o direito do manifestante. Neste caso, até os profissionais da imprensa tiveram seu direito de exercer a profissão violado”, lamenta da Costa. Cinco jornalistas foram detidos e há relatos de que a polícia impediu que imagens da ação fossem registradas.

Membros do grupo Advogados Ativistas, que representa gratuitamente os detidos durante os protestos, também denunciaram agressões por parte dos policiais. Eles disseram que os PMs cercearam seu trabalho ao impedir que acompanhassem as revistas pessoais, que acabaram sendo feitas “longe dos olhos dos cidadãos, advogados e imprensa” com o risco de que os agentes cometessem abusos. “Eles não deixaram ninguém ficar, inclusive nós”, relata Igor Leone, do Advogados Ativista, à repórter Anna Beatriz Anjos, que cobriu a manifestação para o SPressoSP. Outro advogado ativista, André Zanardo, confirmou: ”Na hora em que filmávamos um garoto sendo agredido por um policial, fomos colocados para fora do cordão de isolamento. Fomos expulsos a pontapés”, afirmou ao portal “Uol Esporte”.

Efetivo policial era superior ao de manifestantes (foto: Anna Beatriz Anjos)
Declaração de um dos responsáveis pela operação ao mesmo portal é um primor: ”A ação policial foi necessária porque notamos que os black blocs começaram um procedimento que sempre fazem antes de partir para o vandalismo”, afirmou o major Larry Saraiva. “Eles dão os braços, gritam palavras de ordem e saem correndo quebrando tudo. Os policiais, então, separaram esse grupo. Todo mundo sentou no chão e teve as mochilas revistadas.” Segundo ele, “99% dos detidos eram black blocs.”

Não houve, como se vê, razão para a ação bruta da polícia, que novamente lançou bombas de gás na multidão, apesar de a corporação ter treinado um grupo praticante de artes marciais para evitar o confronto armado. Não houve depredação, ataque a soldados – além de alguns impropérios, próprios em uma manifestação. Participantes relataram agressões de policiais com a identificação coberta pelo colete, impedindo que fosse apresentada queixa formal. “A quem vou denunciar? A maioria não tinha identificação, e foi uma ação conjunta, ordenada”, reclama Mauro Donato, colunista do Diário Centro do Mundo, que afirma ter sido cercado por um grupo de PMs que o agrediram com cassetetes e chutes durante 30 segundos.

Zanardo aponta a ilegalidade da operação policial: ”A ação toda foi um absurdo. Gritar não é crime. Dizer que vai correr e quebrar alguma coisa também não é crime. A intenção de fazer alguma coisa não pode fazer alguém ser detido”, declarou o advogado. “A polícia não pode pegar as pessoas aleatoriamente. A Constituição diz que alguém não pode nem ser revistado se não houver uma fundada suspeita.”

E o governador, o que tem a dizer? Em sua conta no Twitter, Geraldo Alckmin foi, como sempre, lacônico: ”A população de São Paulo entende a diferença entre manifestações legítimas e vandalismo organizado”. E acrescentou: “Protegeremos o direito à livre manifestação; combateremos a violência e o quebra-quebra”. Foi o mesmo que se viu no último dia 4, na Linha 3-Vermelha do Metrô: as autoridades do Estado chamando de “vandalismo” um ato legítimo de protesto contra o que a população considera errado.

(Publicado no SPressoSP em 23/02/2014)

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