O Barquinho Cultural

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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Maioridade

Não me lembro muito bem de quando completei 18 anos. Recordo-me vagamente de que me alistei, tirei documentos (título de eleitor, identidade, CPF) e estava procurando emprego, inutilmente. Era 1979. Época da discoteca, e eu era frequentador de algumas pistas, onde tentava dançar à la Travolta (ridículo, eu). Não tirei carteira de motorista de imediato, sonho de todo moleque que atingia a maioridade. Não tinha grana para isso, nem carro. Eu era um cara muito diferente do que viria a me tornar depois. Meio vagabundo, apesar de ralar os parcos músculos carregando carrocerias de caminhões na transportadora São Thomé para descolar uns trocados que garantiam a balada, o cigarro e a calça Levi's comprada na loja de fábrica, na longínqua Vila Leopoldina, zona oeste da capital, onde o preço era inferior porque havia um defeito ou outro que tirava a peça das lojas. Meu pai vivia me cobrando uma ocupação, mas idade de serviço militar era ruim para conseguir emprego, só esses bicos na transportadora. Também não ia bem na escola; fiquei em recuperação em Matemática Aplicada, no terceiro colegial, dois anos seguidos, o que, somado à reprovação da 6ª série, iria me atrasar e fazer entrar na faculdade somente aos 21 anos. Minha filha entrou com 17! Tinha uma turma de amigos ótima, mas pouco chegada a estudos. A maioria pensava em cursar Senai e ser operária. Eu mesmo cheguei a fazer o curso de aprendizagem industrial, de desenho mecânico, mas abandonei quase no final, porque não tinha como comprar o caro material. Eu queria fazer faculdade - e, claro, fiz. No 1º colegial, quando completei 18 anos, me encantei com as aulas de Química e pensei em seguir essa profissão. No ano seguinte a matéria complicou e já fiquei motivado a ser desenhista de plantas, por causa das aulas de Edificações. O problema é que essa matéria deixou de existir no ano seguinte porque o governo mudou o plano educacional e tirou a ênfase na profissionalização para manter o foco anterior na formação intelectual. E o material caríssimo todo que meu pai teve de comprar a muito custo? O mesmo material que me fez desistir do Senai, ironia do destino (pelo jeito, não era para eu ser desenhista mesmo, apesar de adorar rabiscar umas coisas...) No último ano já não sabia mais o que gostaria de ser, mas me apaixonei pela professora de PIP (Programas de Informação Profissional), uma loira que ia à escola de moto com roupas justas de couro preto que me deixava louco, eu com todos meus hormônios dos 20 anos... Em conversas vocacionais com ela, chegamos à conclusão que meu condão era para a escrita, pois ia bem em Português e Redação e adorava ler e escrever. E também já estava metido com a observação da realidade por um prisma um pouco mais político, devido às novas atividades de que comecei a participar em 1980 e que foram uma reviravolta em minha vida e no meu modo de pensar. Pois então as opções principais seriam Letras ou Jornalismo. Havia ainda Arte Dramática, pois na época fazia teatro amador. E acabei fazendo isso mesmo,  me inscrevi na Metodista de São Bernardo para Comunicação e na Fatea, de Santo André, para Educação Artística, que nem cheguei a terminar as provas porque o resultado da Metô saiu antes. Nem tentei USP porque estava afastado dos estudos havia dois anos por conta das reprovações em Matemática Aplicada (detesto matrizes até hoje). Bem, para quê estou dizendo (escrevendo) tudo isso? Porque ontem, 8 de abril, minha filha completou 18 anos, uma data importante e marcante para qualquer pessoa. Ela chega na maioridade em um contexto completamente diferente do meu. Morando em outro Estado, dividindo apartamento com uma prima, cursando uma universidade federal, em breve terá seu carrinho, mas estudando o mesmo que eu, o que eu jamais poderia imaginar que fosse acontecer, mas do que me orgulho muito, porque, apesar de tudo adoro minha profissão e acho que ela leva muito jeito para isso sim. A sensação, claro, é de que ela continua uma garotinha e morro de medo de vê-la solta nesse mundo, como já descrevi aqui. Mas a realidade é que ela está maior de idade e cada vez mais construindo sua própria vida, pavimentando seu próprio caminho nesse mundo. E precisa disso. E eu tenho mais é que ficar quieto e dar todo apoio de que ela precisar, pois assim ela vai longe, tenho certeza disso.
Ah, uma coisa engraçada: apesar de eu ter título de eleitor desde os 18 anos, só aos 21 fui usá-lo. Isabela participou de sua primeira eleição aos 16.

Um comentário:

isabela disse...

UHUUUUUUUUUUUUL, 18 FINALMENTE! hihihihi