O Barquinho Cultural

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segunda-feira, 22 de março de 2010

Um reencontro emocionante

Sábado, 20/03, fui a um encontro com ex-jornalistas do antigo Diário Popular, hoje Diário de São Paulo, meu segundo emprego como jornalista (o primeiro foi na revisão do Estadão, por três meses, em 1988). Foi uma reunião emocionante. Revi pessoas que há 14 anos não tinha mais contato, já que saí desse jornal em 1996, depois de sete anos atuando como revisor e copidesque. Aliás, a reflexão que faço desse encontro é no sentido de como a tecnologia mudou a forma como se faz jornal. Revisão, que foi por onde comecei, nem existe mais. Como comentei com alguns colegas lá, creio que fomos a última geração de jornalistas que usou lauda e máquina de escrever para elaborar os textos (matérias, se preferirem). Lá no Dipo (apelido pelo qual o Diário era conhecido), fazíamos as matérias em três laudas, com papel carbono (isso ainda existe?). Porque uma cópia ia para o diretor de redação, outra para o secretário e outra para o chefe de reportagem (imagino que eram esses os destinatários, esqueci mesmo). Se o texto voltava com correções a fazer, a emenda era feita a caneta mesmo, em cima do que estava escrito, nada de reescrever... o ritmo alucinante não permitia esse capricho. Quando se tinha de juntar duas ou mais matérias, apelava-se para a cola. E se torcia para que o pessoal da linotipia (que montava as páginas com os tipos de chumbo) entendesse os garranchos da gente. Imagino que minha filha, ao ler isso, nem faça ideia do que eu estou falando. Bem, máquina de escrever ela conhece porque a minha velha Lettera eu dei para ela, que escreve às vezes nela. Um dos colegas lá na festa, o Luizinho, disse que certa vez uma repórter recém-formada (foca, como se diz) foi orientada a escrever uma lauda de determinada matéria. A pobre ficou boiando, até que o amigo a socorreu, informando que isso significava que ela deveria escrever 20 linhas. As redações daquela época eram muito diferentes das que conheci depois. Uma diferença é que hoje ninguém mais fuma na mesa enquanto escreve. Uma cena como aquelas que se vê em fotos de Nelson Rodrigues seria impensável nos dias atuais: o jornalista e dramaturgo em frente à máquina de escrever, cigarro na boca, cinzeiro lotado ao lado. O Dipo foi a última redação de jornal em que fumei enquanto trabalhava; nas seguintes, já havia um fumódromo bem longe do ambiente de trabalho, e hoje ainda está pior, os fumantes precisam ir pitar na área externa. Bem, isso não me serve para nada, já que parei de fumar há um bom tempo. Aliás, cada dia vê-se menos jornalistas fumantes, o que é muito bom. Reza a lenda que uma das garrafas térmicas da redação, em tempos passados, trazia algo bem diferente de café, uma vez que a chefia proibiu o pessoal de descer toda hora para o boteco (Estadão, Dipo ou Mutamba). Mas as coisas evoluem mesmo, e sou muito orgulhoso e feliz de ter compartilhado experiências no velho Dipo, onde fiz amigos e mantive excelentes relacionamentos, pessoas que, se não as vejo com frequência, pelo menos estão na memória e sei que representaram muito na época que dividimos o mesmo teto profissional, com quem aprendi muito. Esse encontro de sábado talvez tenha sido o primeiro de outros, que se estabeleça uma rotina, porque mais do que uma rede de relacionamentos, expressão tão em voga e do gosto dos experts em recursos humanos, temos de cultivar as boas amizades que vamos criando ao longo de nossa trajetória. E, pelo que senti nesse reencontro, a chama do companheirismo ainda está viva. Basta mantê-la acesa. Em breve, haverá o encontro de 25 anos de formatura de minha turma de faculdade, momento em que também poderemos rever amigos, contar boas histórias, dar risadas e comparar o jornalismo que se faz hoje com o que fizemos no início de nossa carreira e aquele que imaginávamos que íamos fazer, quando ainda nos bancos escolares.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Tempos de estudante

Caramba, aqui na redação está um calor de 26,4 graus (sei porque tem um termômetro bem à minha frente). Não sei por que desligam o ar-condicionado bem na hora que estamos trabalhando. Falei com minha filha três vezes esta semana e ela está muito contente em sua nova vida. Já está às voltas com livros, xerox de partes dos mesmos, seminários, aquilo tudo que um universitário enfrenta e está achando um barato. O que é ótimo. Quer dizer, até o momento só curtição: cuidar de casa, pegar ônibus pra facu, conhecer gente nova... claro, lembrar-me de quando estava nesse tempo é inevitável. O curioso é ela entrar na faculdade (de jornalismo) no mesmo ano que minha turma completa 25 anos de formatura (eu só fui me formar três anos depois, por conta de reprovações em algumas matérias, mas sou da turma e vou comemorar também, ora!). O bom é que muitos dessa turma estão perto, alguns até trabalhando no mesmo grupo que eu. Agora parece que universidade que cursamos se interessou pela nossa festa e andou fazendo umas perguntas... quem sabe o que pode rolar, um patrocínio? Um livro? Espero que algo saia. Quando a faculdade de Comunicação de lá completou 30 anos houve festa e foi editado um livro, com depoimentos de ex-alunos. Uma boa idéia. Afinal, fomos de uma época boa, a da redemocratização, e a faculdade fervilhava. Foi a primeira eleição da qual Lula participou, como candidato a governador, em 1982, vencida por Franco Montoro. Lembro que houve debates entre os candidatos no salão nobre da instituição. O espírito da época era contestador, fazíamos muita agitação, greve, conseguimos até substituir o reitor, depois da ocupação da reitoria por vários dias, o que suscitou até mesmo envolvimento da polícia. Eu participava daquilo tudo, mas na manha (como se dizia na época), quer dizer, eu não era do diretório acadêmico, nem de nenhum tipo de movimento estudantil organizado, legal ou ilegal. Nesse período ainda estava nos estertores do grupo de teatro Tupi e começávamos a fazer campanha política, pois militávamos em um núcleo do PT em meu bairro e nosso esforço era para eleger os candidatos de uma chapa ampla, que ia de vereador a governador. Emplacamos apenas o vereador, pelo que me lembro. Mas o agito estudantil foi importante, acabamos criando uma cumplicidade entre a turma e outras de outros cursos na instituição e as turmas de 1982 com certeza têm um registro nos anais da universidade. Brigávamos por tudo: reclamamos do diretor da faculdade de Comunicação, queixamo-nos do valor da mensalidade, protestávamos contra a proibição do filme "Je Vous Salue, Marie", de Godard, que foi exibido em uma das salas da faculdade, à revelia (acho que foi esse, mas pode ter sido outro, não me lembro mais), o que provocou uma grande celeuma, pois a instituição é ligada a uma igreja - ah, tô evitando dizer, mas é besteira, é a Metodista, ora, todo mundo sabe onde fiz faculdade. Ah, relatar aqui tudo o que vivi nos tempos de estudante de jornalismo é trabalho para vários posts. Não sei como são os estudantes hoje, mas conhecendo minha filha sei que logo ela estará em alguma aí, pois é pessoa que não se cala ante alguma injustiça ou coisa errada.