O Barquinho Cultural

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domingo, 22 de junho de 2025

A solidão é fera



 "Vitória" (Andrucha Waddington), no GloboPlay, e "A Baleia" (Darren Aronofsky), na Netflix, a que assisti neste feriado, são, à primeira vista, filmes distintos. Mas, para mim, o que os conecta é que tratam de pessoas solitárias, às voltas com seus fantasmas e traumas com relação à sua descendência.

No primeiro, Fernanda Montenegro, do alto de seus 95 anos, dá um show de interpretação, como não podia ser diferente, vivendo a história real de uma mulher que se arriscou para fazer as autoridades cumprirem seu dever.

No segundo, o galã Brendan Fraser, vencedor do Oscar®  de melhor ator em 2023 por essa atuação, sentindo a proximidade da morte, busca se redimir de erros do passado, e, nesse processo, conclui que "as pessoas são incríveis" (talvez até ele...).

Apesar de o personagem Charlie pesar mais de 300 quilos, a Baleia do título não se refere à sua obesidade mórbida, mas ao clássico da literatura norte-americana "Moby Dick", de Herman Melville (1851) - e a revelação disso é um dos pontos altos do filme.

São filmes que abordam a solidão, a procura pelo sossego de estar bem consigo mesmo, mas que a necessidade de mexer algo no tabuleiro social e existencial leva a mudanças radicais e imprevistas.

Também revi "Tubarão" (Steven Spielberg), no Telecine, para comemorar os 50 anos de seu lançamento.

Um filme que impactou significativamente o conceito de cinema para multidões, inovou a linguagem e a arquitetura do suspense.

Nele, temos um tubarão-branco solitário que surge na fictícia cidade balneária de Amity Island, na costa de Nova York.

Após devorar a primeira banhista, acende o alerta no xerife Brody (Roy Scheider), um sujeito da cidade grande que não gosta de água nem de barco...

Mas que acaba sucumbindo à pressão do prefeito Vaughn (Murray Hamilton), temeroso da perda de receita do turismo com a interdição da praia por segurança.

Após mais uma morte, desta vez de uma criança, a comunidade se une no afã de capturar o bicho e receber a recompensa de 3 mil dólares.

O xerife, solitário em suas apreensões, chama um especialista, Hooper (Richard Dreyfuss), que consegue convencer todos de que a missão não será moleza.

Aí é que entra o pescador, ou melhor, caçador de tubarões Quint (Robert Shaw), que, por 10 mil dólares, uma caixa de conhaque e uma TV em cores (não é piada!) promete trazer o monstro esticado como sardinha...

Só que o veterano quer enfrentar a fera sozinho, no que é desencorajado pelo delegado e pelo acadêmico.

E lá vão os 3 mar adentro, a bordo do Orca (baleia predadora natural dos tubarões... olha a cetáceo aí de novo), exterminar a ameaçadora criatura de dentes e mandíbula (daí a opção do diretor por 'Jaws' no título em vez de 'Shark').

Enfim: 3 filmes em princípio tão díspares, mas que trazem em suas entrelinhas a comovente e divina comédia humana, onde nada é eterno.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

O garoto de praia Brian Wilson agora vai ver Deus

Foto: Reprodução

Morreu nesta quarta-feira, 11/06/25, Brian Wilson, músico, cantor e compositor americano, fundador e líder da banda Beach Boys. Nascido em 20 de junho de 1942, em Inglewood, Califórnia, Brian é considerado um dos maiores músicos do século XX. A causa da morte não foi divulgada até este momento.

Brian cresceu em uma família musical. Seu pai, Murry Wilson, era um compositor frustrado que incentivou o aprendizado musical de seus filhos, mas também abusava física e emocionalmente deles. Apesar disso, Brian aprendeu a tocar piano sozinho e desenvolveu suas habilidades como compositor estudando música clássica, jazz e R&B.

Em 1961, Brian formou o grupo The Pendletones com seus irmãos Carl e Dennis, seu primo Mike Love e Al Jardine, que mais tarde se tornariam os Beach Boys. Com hits como "I Get Around" e "California Girls", a banda alcançou sucesso estrondoso.

Brian se tornou uma presença exclusivamente de estúdio após um colapso nervoso em 1964, o que permitiu que seu gênio musical desabrochasse.

O álbum "Pet Sounds", de 1966, é considerado um marco na história da música pop contemporânea. Inovador e à frente de seu tempo, o álbum foi um precursor do trabalho dos Beatles. Brian também trabalhou no projeto "Smile", que foi cancelado devido à sua saúde mental e ao comportamento errático.

Brian Wilson foi reconhecido como um dos compositores mais importantes do século XX. Ele foi incluído no Grammy Hall of Fame e na Library of Congress por sua relevância histórica e cultural.

Em 2004, lançou "Brian Wilson Presents Smile", uma versão reimaginada de sua obra-prima perdida, que ganhou um Grammy. Veja o vídeo abaixo:


terça-feira, 10 de junho de 2025

Morre Sly Stone, lenda da black music

Divulgação

O músico, compositor e produtor americano Sly Stone, nascido Sylvester Stewart em 15 de março de 1943, em Dallas, Texas, morreu nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, aos 82 anos, vítima de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Ele é mais conhecido por liderar a banda Sly & the Family Stone, uma das principais forças por trás do desenvolvimento do funk nos anos 1960 e 1970.

Sly Stone cresceu em uma família profundamente religiosa em Vallejo, Califórnia, onde começou a desenvolver suas habilidades musicais desde cedo. Ele tocava vários instrumentos, incluindo guitarra, baixo e bateria, e formou sua primeira banda, The Stewart Four, com seus irmãos e irmãs, cantando música gospel.

A banda Sly & the Family Stone foi formada em San Francisco e se tornou conhecida por sua mistura única de funk, soul, rock e psicodelia.

Com membros de diferentes raças e sexos, a banda foi uma das primeiras a alcançar sucesso mainstream com uma formação multirracial.

Alguns de seus sucessos mais famosos incluem "Dance to the Music", "Everyday People" e "Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin)".

Sly Stone foi uma figura influente na música popular, e seu trabalho teve um impacto duradouro no desenvolvimento do funk e do rock. Ele foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame em 1993 e ocupou o 43º lugar na lista dos 100 Maiores Artistas da Revista Rolling Stone.

Abaixo, apresentação da banda no programa Midnight Special em 9 de agosto de 1974

quarta-feira, 28 de maio de 2025

"A Reserva" (Reservatet), minissérie dinamarquesa em 6 capítulos, escrita por Ingeborg Topsøe e dirigida por Per Fly, é um suspense dramático (existe essa categoria?) para se assistir sem muitas expectativas... e sem pressa, porque o ritmo é lento, arrastado, como devem ser os que vivem em temperaturas glaciais.

Aborda famílias abastadas da maior ilha do país, a Zelândia do Norte, e seus relacionamentos com moças filipinas que lá migram para trabalhar como "au pair", mas, na verdade, acabam fazendo todo tipo de tarefa do lar, longe do caráter de intercâmbio cultural que o programa pressupõe.
A trama engrena quando uma dessas meninas, de 22 anos, desaparece, após um jantar na família vizinha de sua anfitriã (patrões, no caso). Antes de sumir, a garota pedira ajuda à vizinha, sem explicar por quê, mas demonstrando pavor. A mulher tira o seu da reta...
Cecilie (Marie Bach Hansen) - a tal vizinha -, talvez tomada por um sentimento de culpa, se importa com o sumiço da garota, de nome Ruby (Donna Levkovski). Seus patrões, Rasmus (Lars Ranthe) e Katarina (Danica Curcic), com todo o preconceito de classe que podem exalar, acreditam que a menina foi se prostituir em outras freguesias, usando-os apenas para poder ingressar no país.
A partir daí, entra em cena uma policial negra, Aicha (Sara Fanta Traore), novata no distrito. Apesar do ceticismo de seus superiores, cisma que a história tem mais rolos do que uma simples escapada. Aí as coisas começam a ganhar contornos de "quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra..." (obrigado, Pitty).
Mas o corpo aparece. Afogado. Sem sinais aparentes de violência (pelo menos é o que a médica legista, pouco interessada no caso, dá a entender, em princípio). Com um feto no ventre. Razão de seu desespero do início da história.
Quem será o pai? Sim, há de se descobrir o genitor para saber se foi o autor do crime. Mas há crime? Tudo leva a crer que fora suicídio. Mas Cecilie acredita que, mesmo indiretamente, este ser a levou a tal medida drástica.
As coisas complicam ainda mais quando se descobre que Ruby fora vítima de estupro. O padre da comunidade quebra o segredo de confessionário para revelar o fato à obstinada policial. Ele que a demovera da ideia de abortar - opção que ela, noiva em sua terra natal, aventara, pois certamente seria rejeitada ao voltar com um filho nos braços.
Ruby, religiosa a ponto de descartar a interrupção da gravidez, resolveria dar cabo da própria vida, pecado igualmente terrível aos olhos de sua fé? Eis o mistério a ser revelado.
Os homens mais próximos e mais evidentes de terem cometido tal atrocidade são postos à prova. A contragosto. DNA. E quem são? O marido de Cecilie, Mike (Simon Sears), condenado anos antes por estupro, e o patrão da filipina, Rasmus, sujeito escroto o suficiente para tanto. Mas...
Para a história ficar ainda mais complexa, há dois adolescentes na parada, há telefones celulares, grupos de whatsapp, câmeras escondidas, drones... Vai vendo...
Já no primeiro episódio o autor dá pistas do que aconteceu. Mas consegue nos enrolar o suficiente para acreditar que qualquer um ali pode ter sido o facínora.
E, ao fim e ao cabo, há alguma surpresa, só se você realmente não se atentar aos detalhes. O célebre truque do mágico: ele te distrai para que não veja onde esconde o coelho.
Levanta questões sérias sobre preconceito, abuso de poder, racismo, arrogância e o abismo que existe entre culturas tão diversas que, por força das circunstâncias, têm de conviver no mesmo espaço.
Na Netflix..


sexta-feira, 23 de maio de 2025

Morre Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos do mundo

O fotógrafo Sebastião Salgado morreu nesta sexta-feira, 23/05/25, aos 81 anos, vítima de complicações de uma malária.

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em Vila de Conceição do Capim, distrito do município de Aimoré (MG), no Vale do Rio Doce, em 8 de fevereiro de 1944. Mas vivia em Paris desde o fim da década de 1960.

Em 1969, a partir do endurecimento do regime militar, ele e a esposa, Lélia Wanick Salgado, decidiram deixar o Brasil e se exilar na França.

Antes de ser fotógrafo, ele obteve o mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo, em 1968, e se tornou doutor pela Université de Paris, em 1971.

Sebastião Salgado trabalhou como secretário da Organização Internacional do Café, em Londres, entre 1971 e 1973, antes de retornar a Paris e passar a fotografar profissionalmente para a agência Sygma, em 1974.

Transferiu-se no ano seguinte para a agência Gamma, iniciando a documentação sobre as condições de vida dos camponeses e índios latino-americanos. Esse trabalho o tornaria mundialmente conhecido.

Em 1979, deixou a Gamma pela agência Magnum, que chegou a presidir e onde permaneceu até 1994. No mesmo ano, criou a Amazonas Imagens com sua esposa.

Era especializado na cobertura dos deslocamentos humanos, da degradação tanto dos seres humanos como dos ambientes, de olhar único e estilo inconfundível, com suas imagens em preto e branco captadas em sua indefectível Laika analógica (só recentemente aderiu ao digital, por praticidade).

Em 30 de março de 1981, enviado da Magnum, trabalhava em uma reportagem do "New York Times" sobre os 100 dias de governo do presidente americano Ronald Reagan. Ele se preparava para fotografar Reagan saindo de um hotel em Washington quando ouviu tiros: o presidente fora baleado e Salgado registrou tudo com suas objetivas.

O fotógrafo documentou o caos que se seguiu ao ataque, desferido por John Warnock Hinckley Jr., um rapaz de 25 anos que disse ter atirado no presidente para chamar atenção da atriz Jodie Foster. 


Em abril de 1997, ele lança o livro "Terra", com 137 fotografias retratando gentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

O livro trazia ainda um CD com 4 músicas de Chico Buarque ('Assentamento', 'Brejo da Cruz', 'Levantados do Chão' - com Milton Nascimento -, e 'Fantasia'). O prefácio do livro é do escritor português José Saramago (1922-2010).


Os três estiveram no lançamento da obra na sede do MST em São Paulo e eu estava lá.

Vi algumas exposições de Salgado e não há como negar: suas fotografias falam por si e, mais do que a beleza técnica que expõem, perturbam nossa zona de conforto ao revelar as entranhas deste mundo em que vivemos.

Veja os vídeos de "Assentamento", "Levantados do Chão", "Brejo da Cruz" e "Fantasia":





(Com informações de Agência Brasil, O Globo e ptnotícias)

terça-feira, 13 de maio de 2025

Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai


O ex-presidente da República Oriental do Uruguai José Alberto “Pepe” Mujica morreu nesta terça-feira, 13/05/2025, aos 89 anos, em Montevidéu. "Don" Pepe, que completaria 90 anos no próximo dia 20, havia anunciado, em abril do ano passado, ter recebido diagnóstico de câncer no esôfago. Desde então, passou a ter uma vida mais reclusa, com raras aparições. Ele vivia em uma chácara nos arredores de Montevidéu. O tumor acabou se espalhando para outras partes do corpo, e Mujica vinha fazendo tratamento paliativo nos últimos tempos, segundo declarou sua esposa, Lucia Topolanksy, ao jornal uruguaio "La Diária". De acordo com ela, o ex-presidente estava em estágio terminal e recebendo conforto por parte da equipe médica.

Mujica presidiu o Uruguai de 2010 a 2015. Ele era conhecido como o “presidente mais pobre do mundo”, por seu estilo de vida simples. Dirigia um fusca dos anos 1970 e doava parte do salário para projetos sociais. Também ficou marcado pelas reflexões políticas com forte teor filosófico.

Nascido em 1935 em uma família de origem humilde, nos arredores de Montevidéu, Mujica entrou para política ao fundar o Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, grupo guerrilheiro urbano que operou nos anos 1960 e 1970 e enfrentou a ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985).

Sua atividade no Tupamaro lhe custou cerca de 14 anos de prisão, tendo sido preso quatro vezes, ferido por seis tiros e escapado da prisão em duas ocasiões.

Com o fim da ditadura, Mujica foi libertado e participou da criação do Movimento de Participação Popular, que compõe a chamada Frente Ampla, grupo de organizações de esquerda e centro-esquerda que levou Mujica à Presidência da República. Antes, foi deputado federal, ministro da Agricultura e senador.

Na Presidência, Pepe Mujica chamou atenção por promover uma legislação considerada progressista com a descriminalização do aborto, a lei do casamento igualitário, que permitiu casais homossexuais adotarem filhos; além da legalização da maconha.

Em 2019, Mujica foi novamente eleito senador, mas renunciou ao cargo em 2020 para evitar o contágio durante a pandemia de covid-19.

Em 5 de dezembro de 2024, durante visita a Montevidéu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou “Pepe” Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração oferecida pelo Brasil a cidadãos estrangeiros. Na ocasião, o presidente da República referiu-se ao ex-presidente Mujica como “a pessoa mais extraordinária” entre os presidentes com quem conviveu. (Adaptado de Agência Brasil)

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Os 55 anos de "Let It Be"

Em 8 de maio de 1970, as lojas recebiam "Let It Be", penúltimo álbum dos britânicos de Liverpool The Beatles, porém o último a ser lançado, dada uma série de contratempos e insatisfações com o resultado do trabalho. Ao chegar às prateleiras, o quarteto não existia mais como grupo: quase um mês antes, em 10 de abril, Paul McCartney anunciava sua saída da banda. Era o fim.


Tudo começara em janeiro de 1969, um dia após o Réveillon, quando foram a um estúdio de som em Twickenham, distrito na região de Londres, para serem filmados pelo diretor Michael Lindsay-Hogg preparando seu próximo projeto. A ideia era recuperar o espírito de banda tocando cruamente, o que resultaria em uma espécie de documentário e um novo álbum, seguinte ao chamado "Álbum Branco", lançado dois meses antes e que mais parecia uma coletânea de trabalhos individuais sem  coesão de banda.

Nas sessões, além de se concentrarem em novas músicas, os Beatles improvisaram e tocaram uma série de covers, muitos dos quais datavam de seus dias pré-fama em Liverpool e Hamburgo. Mas as tensões das sessões do "Álbum Branco" do ano anterior voltaram à tona e, se antes o baterista Ringo Starr se estressara e havia saído, agora era o guitarrista George Harrison que, pouco antes do almoço de sexta-feira, 10 de janeiro, largava os ensaios e se declarava ex-Beatle.

Convencido a voltar, Harrison impusera algumas condições - entre as quais a de não se fazer nenhuma apresentação ao vivo e poder levar amigos Hare Krishna e o tecladista Billy Preston para melhorar o clima.

Como não havia equipamento de gravação de som em Twickenham adequado para gravar um álbum, em 20 de janeiro todos se reuniram novamente no porão do prédio da Apple em Savile Row, no centro de Londres, devidamente abastecido por equipamentos portáteis dos estúdios da EMI em Abbey Road.

O resto de janeiro foi passado no porão da Savile Row, polindo músicas de Twickenham e trabalhando em novas. "Get Back" havia sido improvisada em Twickenham, mas quando retornaram à música em 23 de janeiro, ela já estava mais completa. Outras músicas que estavam quase prontas incluíam "For You Blue", de George, "Let It Be" e "The Long And Winding Road", de Paul, e "Dig A Pony", de John.

Descartada a proposta inicial de encerrar o filme com uma apresentação ao vivo, foi tomada a decisão de última hora de fazer um show sem aviso prévio no terraço do prédio da Apple, logo atrás da movimentada Regent Street, em Londres. O grupo tocou por pouco menos de 45 minutos naquela quinta-feira, na hora do almoço, antes que a polícia pedisse que encerrassem o show, devido a reclamações de comerciantes vizinhos sobre o barulho e o trânsito cada vez mais congestionado devido ao aumento da multidão. 

O dia seguinte seria histórico, já que as cenas encenadas em que o grupo tocou "Let It Be", "The Long And Winding Road" e "Two Of Us" seriam a última vez que os Beatles seriam capturados juntos em filme. As sessões de um mês que produziram o álbum e o filme "Let It Be" terminaram. Mas mais de um ano se passou até que o álbum visse a luz do dia.

As gravações foram entregues a Glyn Johns, que foi encarregado de compilar um álbum a partir das muitas horas de música gravada, com a intenção de que fosse dos Beatles, com todos os defeitos. Uma sessão de fotos foi realizada para uma capa que imitasse a de seu álbum de estreia de 1963, "Please Please Me", e a ideia inicial, de lançar um álbum chamado "Get Back" naquele verão, acabou sendo abandonada.

O lendário produtor americano Phil Spector foi contratado para finalizar o projeto. Sua decisão de adicionar overdubs, corais e orquestrais a três das músicas irritou Paul McCartney.

Após a apresentação no telhado, os Beatles voltaram ao estúdio poucas semanas depois e continuaram gravando esporadicamente durante toda a primavera, antes de dedicarem quase todo o mês de julho e agosto à finalização de outro álbum, "Abbey Road", lançado muitos meses antes de "Let It Be".

O documentário original restaurado "Let It Be", de 1970, e uma versão mais completa, com bastidores das sessões, chamada "Get Back", de 2021, em três episódios, dirigida e produzida por Peter Jackson, podem ser vistas na plataforma Disney Plus.



(Texto adaptado do site 'DiscoverMusic')


domingo, 13 de abril de 2025

Hyldon lança "Jazz is Dead 23"



O cantor, compositor, guitarrista e produtor baiano Hyldon (1951) lançou no último 4 de abril de 2025 o álbum "Hyldon JID023" - ou "Jazz Is Dead 023".

Traduzindo: O trabalho é o 23º lançamento do projeto/selo "Jazz is Dead", do compositor, arranjador e músico Adrian Younge (1978) e do DJ Ali Shaheed Muhammad (1970).

Ao contrário do que o nome indica, o projeto se propõe a celebrar e revitalizar o jazz clássico, e mostrar como ele tem influenciado e vem sendo relido na música contemporânea.

Para tal, os dois convidam lendas vivas do jazz para colaborar com eles em estúdio, em gravações totalmente analógicas em Los Angeles (EUA). E os brasileiros não ficam de fora. Já participaram da epopeia Marcos Valle (JID003), Azymuth (JID004) e João Donato (JID007).

Fã confesso de Hyldon, Adrian o chamou para participar do projeto após ter feito a lição de casa, qual seja, ouvir todo o catálogo do criador de "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda", "As Dores do Mundo", "Acontecimento", "Na Sombra de Uma Árvore" etc.

O baiano topou e, aproveitando que o parceiro de longa data Ivan "Mamão" Conti (1946-2023), baterista do Azymuth, estava por lá, o convidou para trabalharem juntos nas bases que o estadounidense lhe mandou gravadas logo depois.

Hyldon, então, criou melodias e letras e o resultado é este 14º álbum solo da sua carreira. Mamão veio a morrer pouco depois, em 17 de abril de 2023 (aniversário de Hyldon), sem chance de ouvir o trabalho pronto.

Sobre os brasileiros, escreveu Adrian: "Produzir um álbum do Hyldon foi a realização de um sonho. Estudei o catálogo dele por muitos anos e admiro profundamente a forma como ele misturava o som dos Beatles com Marvin Gaye e Tim Maia. Ainda fico impressionado com o fato de ele cantar até melhor hoje do que em sua fase considerada ‘áurea’. E sentimos muita falta do nosso querido amigo e colaborador Mamão, o saudoso baterista do Azymuth. Dedicamos este álbum à sua memória, e gostaríamos que ele tivesse tido a chance de ouvir o resultado final”.

O disco é inspirado na obra de Hyldon nos anos 60 e 70, busca resgatar o espírito daquela era em uma linguagem contemporânea. Hyldon é um dos pioneiros da soul music brasileira, ao lado de Tim Maia, Cassiano, Carlos Dafé, Banda Black Rio, entre outros.

Hyldon iniciou a carreira como instrumentista e depois produtor na Polydor (Universal). Lá, produziu discos de altas vendagens de Erasmo Carlos, Diana, Wanderléa e Odair José. Trabalhou com Tony Tornado e recusou convites de Elis Regina e Gal Costa para se dedicar mais as suas composições.

Em 1973, sai seu 1º compacto, com “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)" e "Meu Patuá”. Em 1974, lança o segundo single com “As Dores do Mundo" e "Sábado e Domingo”.

O estouro nas paradas dos dois compactos permite o investimento em seu primeiro LP, "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda", em 1975 (ler a respeito aqui). Reverenciado e regravado por Kid Abelha e Jota Quest, entre outros, suas músicas também são aproveitadas no cinema, integrando, por exemplo, a trilha de "Cidade de Deus", "Carandiru", "Durval Discos", "O Homem do Ano". 


Adrian Younge no Brasil


Adrian Younge estará no Brasil nos próximos dias para a turnê do disco "Something About April III" (SAAIII)- que será lançado nas plataformas digitais em 18 de abril. Em 30 de abril, ele toca em Belo Horizonte, no Autêntica, e, em 7 de maio, no Cultura Artística, em São Paulo, com a participação especial de Hyldon, Carlos Dafé, Céu, Luiza Lian, Marcos Valle e Samantha Schmütz.

O SAAIII completa a trilogia de soul psicodélico — em suas palavras, "uma deslumbrante aventura sonora que redefine o gênero para novas gerações". "O disco funde a alma cinematográfica da Black America com os vibrantes sons psicodélicos do passado do Brasil, servindo como uma homenagem visionária às tradições musicais".

O álbum é resultado de seu trabalho com músicos brasileiros no projeto Jazz Is Dead, tanto que Younge aprendeu português o suficiente para escrever as letras do álbum no idioma e aprofundar seu vínculo com a cultura brasileira. O disco tem a participação dos brasileiros Céu, Luiza Lian, Miguel Lian Leite (da banda Celacanto), Antonio Pinto, Manu Julian e Sthe Araujo.


quinta-feira, 10 de abril de 2025

The Shirelles

Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

The Shirelles é um grupo feminino americano de rhythm and blues, doo-wop e soul music que ganhou popularidade no início dos anos 1960.

Formado inicialmente pelas colegas de escola Shirley Owens (1941-), Doris Coley (1941-2000), Addie "Micki" Harris (1940-1982) e Beverly Lee (1941-) em 1957 para um show de talentos em sua escola, elas assinaram com a Tiara Records e gravaram seu primeiro single, "I Met Him On A Sunday", depois licenciado pela Decca Records em 1958.

Foram depois para a Scepter Records, onde o compositor Luther Dixon, que já havia composto para Perry Como (1912-2001), Nat King Cole (1919-1965) e Pat Boone (1934-), aceitou escrever músicas para o quarteto.

O primeiro single da lavra de Dixon foi "Tonight's the Night", que deu visibilidade para as meninas, alcançando o 39º lugar nas paradas em 1960.

Em seguida veio "Will You Love Me Tomorrow", de Gerry Goffin e Carole King, o primeiro hit número um da Billboard alcançado por um grupo de garotas negras.

Em 1961, fizeram sucesso com "Baby It's You", escrita por Burt Bacharach, Luther Dixon e Mack David, canção gravada pelos Beatles - fãs confessos desse tipo de grupo vocal - em seu primeiro LP, "Please Please Me", de 1963, que trazia também "Boys" (Luther Dixon e Wes Farrell), gravado por elas em 1960.

Após um período de sucesso, The Shirelles deixaram o Scepter em 1966. Depois disso, não conseguiram manter a popularidade anterior, em parte devido à chamada Invasão Britânica nos EUA e à forte competição de outros grupos femininos, como The Chiffons, The Supremes, The Ronettes, Martha & The Vandellas e The Crystal.

Em 1968, Coley sai do grupo e o agora trio gravou canções para vários selos, como Bell Records, RCA e United Artists até 1971. Depois, fizeram turnê cantando suas canções mais antigas e participaram das filmagens do documentário "Let the Good Times", de 1973.

Coley voltou como vocalista em 1975, substituindo Owens, que seguiu carreira solo.

Addie "Micki" Harris morreu de ataque cardíaco em 10 de junho de 1982, após duas apresentações com o grupo. No ano seguinte, as três restantes cantaram "Will You Love Me Tomorrow" com Dionne Warwick (1940-) em seu álbum "How Many Times Can We Say Goodbye."

Hoje, as meninas remanescentes do quarteto original fazem shows em grupos diferentes e separadas, embora a marca registrada do nome Shirelles tenha sido adquirida por Lee.

Shirley Owens se apresentou no especial Doo Wop 51 PBS em 2000, e continua a turnê com o nome de "Shirley Alston Reeves e suas Shirelles".

Lee atualmente faz turnês com novos membros, anunciados como "The Shirelles".

Doris Coley morreu em 4 de fevereiro de 2000, de câncer de mama.


terça-feira, 8 de abril de 2025

Bob Marley


Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

Em 1961, Bob Marley - morto há quase 44 anos -, escreveu aquela que seria sua primeira canção gravada, "Judge Not", impressa em vinil no ano seguinte.

Robert Nesta Marley, nascido em 6 de fevereiro de 1945, tinha então 16 anos, e havia dois estava em Kingston para seguir carreira musical.

Em 1963, Marley se juntou a Peter Tosh, Bunny Livingston, Junior Braithwaite, Beverly Kelso e Cherry Smith para formar o grupo vocal Teenagers; mais tarde rebatizado de Wailing Wailers e depois simplesmente Wailers.

Eles tocavam o principal ritmo do país, o ska, de onde se originou o reggae, que se baseia em uma mistura de sons africanos com o rhythm & blues (R&B).

O primeiro single da banda, “Simmer Down”, foi a música mais executada nas rádios jamaicanas durante dois meses seguidos. Na época, o grupo já contava com mais três integrantes: Junior Braithwaite e os backing-vocal Beverly Kelso e Cherry Smith.

Em 1966, Bob Marley se casa com Rita Anderson e viaja para os Estados Unidos, onde permanece durante oito meses ao lado da mãe e do padrasto.

De volta à Jamaica, Marley se reúne com Bunny e Peter, retoma o grupo.

O sucesso dos Wailers começou quando eles se uniram ao produtor Lee Perry e gravaram “Soul Rebel”, “400 Years” e “Small Axe”, já com influência da crença “Rastafar” – de origem africana, mas de grande apelo na Jamaica.

Em 1970, o baixista Aston Barret e o baterista Carton Barret se uniram à banda.

Em 1971, o grupo assinou com a Island Records e em 1973 gravaram o álbum “Catch a Fire”, o primeiro do grupo e com grande destaque para a música da Jamaica.

A gravadora promoveu uma turnê da banda pela Inglaterra e Estados Unidos. Nesse mesmo ano, lançam o álbum “Burnin”, que trouxe duas canções de Bob e de Peter, “Get Up, Stand Up” e “I Shot the Sheriff”, que foi gravada por Eric Clapton, em 1974, e virou o hit n.º 1 nos Estados Unidos.

O terceiro álbum, “Natty Dread” (1974), lançou a música “No Woman, No Cry”. Nesse mesmo ano, Peter e Bunny deixam a banda, e Rita, sua esposa, se une ao grupo, junto com Judy Mowatt e Marcia Griffiths, e ficam conhecidas como “I'Threes”.

Em 1976, o grupo lança o quarto disco de estúdio, “Rastaman Vibrations”. Nessa época, a banda começa a ser reconhecida como “Bob Marley & The Wailers”. Logo, o disco atinge as primeiras posições das paradas musicais nos Estados Unidos.

Nessa época, a Jamaica passava por uma grave crise político social. O músico resolve fazer um show gratuito no Parque dos Heróis Nacionais em Kingston, com o objetivo de pedir o fim dos conflitos ocorridos entre as diversas gangues.

No dia 3 de dezembro de 1976, dois dias antes do show, Bob Marley sofreu um atentado quando homens armados entraram em sua casa em Hope Road. Os tiros feriram gravemente sua esposa Rita Marley e seu empresário Dom Taylor, enquanto Marley sofreu ferimentos leves no peito e no braço.

Após o ocorrido, Marley resolve ir morar em Londres. Em 1977, grava o álbum “Exodus”, que permaneceu por mais de 50 semanas nas primeiras posições na Inglaterra. A faixa “One Love” fez grande sucesso. Kaya foi outro sucesso, com destaque para "Is This Love" e "Satisfy My Soul".

De volta à Jamaica, Marley organiza o “One Love Peace Concert”.

Em 1979, Marley lança o disco “Survival”, no qual revela em algumas músicas a dor e o ódio com relação às injustiças sociais, como nas faixas “So Much Trouble in the World” e “Ambush in the Night”. No álbum, foi lançada também a música “Africa Unite”.

Foi então convidado para as comemorações pela independência do Zimbabwe em 17 de abril de 1980.

Em 1977 foi diagnosticado com um câncer de pele do tipo agressivo, recusou-se a tratá-lo por questões religiosas, mas no fim de sua vida aderiu à Igreja Ortodoxa, porém já era tarde demais.

Bob Marley morreu aos 36 anos em Miami, no dia 11 de maio de 1981, vítima do câncer. Seu funeral teve honras de chefe de Estado e a data de seu nascimento é feriado nacional na Jamaica. (Fontes: Biografia, All Music)



segunda-feira, 7 de abril de 2025

Djalma Ferreira


Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

Djalma Ferreira (Djalma Neves Ferreira - 1914-2004) começou a estudar música aos 12 anos. Seguiu para a Itália, onde aprendeu piano e violino. Voltou para o Rio de Janeiro com 18 anos.

Em 1938 fez sua primeira composição, "Longe dos Olhos" (com Cristóvão de Alencar), gravada por Francisco Alves e Sílvio Caldas.

A partir de 1940, foi pianista do Cassino da Urca e de várias outras casas de jogo do Rio.

Por intermédio de Henrique Batista estreou no rádio no programa "Samba e Outras Coisas", ao lado de Henrique e Marília Batista.

Em 1945 organizou o conjunto Os Milionários do Ritmo e gravou seu primeiro disco como executante, "Bicharada", um 78 rpm em que tocava solovox, imitando sons de animais.

Em 1946, com o fechamento dos cassinos, excursionou durante quatro anos pela América do Sul, acompanhado de seu conjunto, e chegou a abrir a boate Embassy, em Lima, Peru.

De volta ao Brasil, abriu a boate Drink, que lançou Miltinho, Ed Lincoln, Helena de Lima e Sílvio César.

Dessa época são seus maiores sucessos como compositor: "Lamento", "Murmúrio", "Devaneio" (todos com Luís Antônio) e "Volta" (com Luís Bandeira).

Em 1960 abriu em São Paulo a boate Djalma, onde tocou com Rubinho (bateria) e Luís Chaves (contrabaixo), e lançou Jair Rodrigues como crooner.

Em 1963 vendeu a boate e fixou residência nos EUA, apresentando-se em hotéis e cassinos em Las Vegas e na Califórnia.

Esteve no Rio de Janeiro por um ano em 1965, só voltando em 1973 para uma temporada na boate carioca Le Roi.

Em 1981, apresentou-se com muito sucesso, durante alguns meses, no Um Deux Trois, no Leblon, novamente com Miltinho integrando o conjunto Milionários do Ritmo.

Morreu em Las Vegas aos 91 anos.



sábado, 5 de abril de 2025

Jamelão


Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

O carioca José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão (1913-2008), nascido em São Cristóvão, fez contato com o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira no início da década de 1930, como tamborinista.

No início dos anos 1940, começa a cantar em gafieiras e em programas de calouro. Vence o concurso da Rádio Clube do Brasil e trabalha com a rádio por um ano.

Após esse período, conhece o maestro Severino Araújo, da Orquestra Tabajara, que o contrata como crooner e com quem excursionou pela Europa.

Em 1949, grava seu primeiro disco 78 rpm na Odeon, que traz "A Jiboia Comeu" (João Corrêa da Silva e Antenogenes Silva) e "Pensando Nela" (Antenogenes Silva e Irani de Oliveira).

No mesmo ano, torna-se intérprete da Mangueira, mas só assume o posto principal em 1952, quando substitui Xangô da Mangueira (1923-2009), ficando no posto até 2006.

Como intérprete, tornou-se bicampeão logo em seus dois primeiros desfiles, faturando ao todo 13 títulos, sendo quatro bicampeonatos, em 57 anos como intérprete.

Deu voz a várias composições de Lupicínio Rodrigues, Ari Barroso, Zé Kéti.

Em 1968, Jamelão entrou para a ala de compositores da Mangueira, enquanto seguia gravando sambas românticos que o tornaram conhecido como cantor dos assim chamados sambas “dor de cotovelo”.

No carnaval de 1990, chegou a anunciar que deixaria de cantar os sambas-enredo de sua escola, mas no ano seguinte voltou à avenida, participando também, em São Paulo, da escola de samba Unidos do Peruche, onde interpretou de 1991 a 1993.

Em 2001, foi eleito presidente de honra da Mangueira - cargo máximo da escola. Em 2006, sofre um AVC que o impediu de cantar profissionalmente até seu falecimento, em 2008, no Rio de Janeiro.

Em 1961, gravou um 78 rpm com duas músicas dedicadas às mães: "Amor de Mãe" (Cícero Nunes) e "Valsinha da Mamãe" (Vilobaldo Teles). Em homenagem ao dia delas. (Fontes: Museu Afro Brasil, Dicionário Cravo Albin da MPB, Enciclopédia Itaú Cultural, IMMuB, Instituto Moreira Salles.)





sexta-feira, 4 de abril de 2025

Caco Velho

Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

O porto-alegrense Mateus Nunes, o Caco Velho (1920-1971), conhecido como "o sambista infernal", foi um dos principais nomes das casas de show nas décadas de 1950 e 1960 no país, além de levar a cultura brasileira para países como França e Estados Unidos.

Contemporâneo de Lupicínio Rodrigues (1914-1974) e Túlio Piva (1915-1993), começou a carreira em 1932 tocando nas rádios gaúchas e logo se mudou para São Paulo.

O apelido foi-lhe dado por sempre cantar a canção "Caco Velho", de Ary Barroso (1903-1964) em suas apresentações.

Em São Paulo, tocou no Cassino OK. Em 1941, compôs com Mutt (Péricles Simões Pires, 1912-1954) o samba "Olá Como Vai o Senhor", gravado pelo grupo Os Pinguins na Odeon.

Em 1943, sua toada "Mãe Preta", dele e Antônio Amábile, o Piratini (1906-1953), foi gravada pelo Conjunto Tocantins na Continental.

Essa música acabou indo parar na Europa, sendo gravada em meados dos anos 1950 pelas portuguesas Maria da Conceição - com letra censurada, diz-se devido à censura da ditadura salazarista (1933-1974) - e Amália Rodrigues (1920-1999), com a letra e o título modificados, para "Barco Negro", de autoria de David Mourão-Ferreira (1927-1996), falando da separação de dois amantes, em vez de narrar o sofrimento de uma mãe escrava original.

A versão entrou no filme francês “Les Amants du Tâge” ('Os Amantes do Tejo'), de Henri Verneuil, lançado em 1955. De qualquer maneira, o crédito não lhe foi atribuído, levando-o a tomar satisfações e um acordo foi feito, chegando o gaúcho até a se apresentar posteriormente com a fadista em Portugal.

Em 1959, outra vez a música era-lhe roubada: o músico britânico George Melachrino (1909-1965) gravou uma versão instrumental de "Mãe Preta", com o nome "Barco Negro", no LP "Lisbon at Twilight", pela RCA, sem também lhe dar o crédito.

Em 1975, em seu primeiro LP solo, "Água do Céu - Pássaro", Ney Matogrosso grava a música, porém com a letra do português. (Resenha na coluna à direita.)

Em 1944, Caco Velho estreou em disco pela Odeon com os sambas "Briga de Gato", de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins (1904-1980), e "Maria Caiu do Céu", de sua parceria com Nilo Silva (1910-1990).

Gravou nos anos seguintes diversos discos e, em 1955, foi com a orquestra de Georges Henri (1919-2017) para Paris, onde permaneceu até 1957 no cabaré La Macumba.

Quando retornou ao Brasil, abriu sua própria casa de shows em São Paulo, a Brazilian’s.

Em 1961, formou seu próprio conjunto e com ele gravou os sambas "Tem Que Ter Mulata" e "A Voz do Sangue", do compositor gaúcho Túlio Piva, pela Copacabana.

Por volta de 1966, foi para São Francisco (EUA), com o conjunto Brazilian's Bar, onde ficou até 1968, quando seguiu para Lisboa, apresentando-se em teatros, rádios e televisão.

De volta a São Paulo em 1970, abriu a casa noturna "Sem Nome Drink's".

O músico morreu aos 52 anos, em 1971, vítima de câncer no intestino. No mesmo ano, foi homenageado por Elis Regina (1945-1982) no programa Som Livre Exportação, da TV Globo. (Fontes: Nonada, Dicionário Cravo Albin da MPB, IMMuB, Jornal do Comércio.)



quinta-feira, 3 de abril de 2025

Monsueto


Nasci em 1961: Esta série de publicações apresenta músicas lançadas ou que tiveram destaque no ano de meu nascimento.

Monsueto Campos de Menezes (1924-1973), que teve composições suas gravadas por bambas como Caetano Veloso, Martinho da Vila, MPB-4, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Alaíde Costa e, mais recentemente, Marisa Monte, teve em vida lançados apenas dois LPs, além de seis discos em 78 rotações e quatro compactos simples.

Nascido na favela do Morro do Pinto, na Gávea, Monsueto perdeu os pais aos três anos de idade e ficou sob a guarda da avó materna e depois de uma tia.

Aos 12 anos, teve de trabalhar na tinturaria de Francisco, o irmão mais velho. Depois que a pequena firma faliu, passou a fazer pequenos biscates.

Aos 15 anos, passou a frequentar quadras de escolas de samba para integrar a bateria de algumas delas; aos 17, torna-se baterista profissional em bailes de gafieira, cabarés e clubes de dança.

Após cumprir o serviço militar, se casa e monta sua própria tinturaria.

No fim dos anos 1940, ele continua a tocar bateria e divulga seus sambas junto à boemia que se reunia no entorno do Teatro João Caetano.

Deixa o negócio sob a administração da mulher e fez circular nas rodas de bambas sua primeira composição, "A Fonte Secou", escrita em parceria com Tufi Lauar e Marcléo, gravada em 1953 por Raul Moreno.

Caiu nas graças do produtor José Caribé da Rocha, que o apresentou a emissoras de rádio e de TV e intermediou sua contratação como baterista da orquestra de Nicolino Copia, o maestro Copinha, regente do Copacabana Palace.

Copinha, aliás, foi o responsável por traduzir em partituras as ideias e letras de Monsueto.

No carnaval de 1952, Linda Batista emplaca o primeiro grande sucesso de Monsueto, "Me Deixe em Paz", escrito em parceria com Aírton Amorim.

Em 1955, Marlene grava o clássico "Mora na Filosofia". Depois de um período de trabalhos para Herivelto Martins, liderando conjunto formado por batuqueiros, cantoras e cabrochas, Monsueto lança em 1962, pela Odeon, seu primeiro LP, "Mora na Filosofia dos Sambas de Monsueto".

O cantor e compositor também atuou em humorísticos da TV - como o "Noites Cariocas", na TV Rio, em 1959, e ainda se tornou pintor, chegando a pintar quase mil telas.

Monsueto também atuou como ator em 14 filmes – dez brasileiros, três argentinos e um italiano. O último, "O Forte", de Olney São Paulo, não chegou a concluir as filmagens, rodadas na Bahia.

Com câncer no fígado, Monsueto sofreu um mal-súbito em 17 de fevereiro de 1973, quando estava no set de filmagens, em Salvador. Teve, com três diferentes parceiras, seis filhos.

"Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo", dele e José Batista, saiu no lado B de um 78 rpm pela Odeon, com "Ajudai O Próximo" (só dele) no lado A.

O samba também seria gravado no ano seguinte, fechando seu primeiro LP. (Fontes: Show Livre, Dicionário Cravo Albin da MPB, IMMuB.)