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Imagens: Carlos Mercuri (01/02/25) |
O goiano Odair José, 76 anos completados em 16 de agosto, apresentou na Comedoria (antes, Choperia) do Sesc Pompeia, em São Paulo, dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 2025, a ópera-rock "O Filho de José e Maria", com a íntegra de seu polêmico álbum homônimo de 1977 (RCA Victor), além de canções de outros álbuns dele.
Incompreendido em seu lançamento, o LP foi redescoberto e hoje é cultuado, tanto que teve relançamento em vinil 180 gramas e é dissecado no livro "O Evangelho Segundo Odair: Censura, Igreja e O Filho de José e Maria", de Leonardo Vinhas (Editora Barbante, 2024) - ambos à venda no local.
Odair também vem sendo celebrado pelas novas gerações - estou falando desde do fim dos anos 1990 e início dos 2000 até hoje, o que pode ser percebido pela plateia diversa que o estava assistindo na Choperia (!): jovens, hipsteres, terceira idade, LGBTQIAPN+... todes...
Citado no livro de Paulo César de Araújo "Eu Não Sou Cachorro Não" (Ed. Record, 2002) como um dos compositores populares alvos da censura tais como - ou até mais - que os Chicos, Vandrés e Taiguaras da vida, Odair passa a ser reconhecido e valorizado, em um revés às vaias recebidas ao subir ao palco convidado de Caetano Veloso no show Phono 73.
A, digamos, consagração vem em 2005, com o CD "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar: Tributo a Odair José", com algumas de suas obras sendo relidas e interpretadas por gente como Paulo Miklos, Pato Fu, Mombojó, Suzana Flag, Zeca Baleiro e outros.
O maranhense Baleiro, aliás, em 2012, produz o CD "Praça Tiradentes", uma referência ao lugar no Rio de Janeiro em que veio morar aos 17, 18 anos em busca de um lugar ao sol fonográfico. O disco tem participação de Miklos na faixa "Sob Controle" e Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes lhe entregam "Vou Sair do Interior". Baleiro ainda assina com ele "E Depois Volte Pra Mim" e sozinho "Como Um Filme" e Chico César compõe "Você Tem Me Ensinado". Ou seja: ele agora é da "tchurma".
Para Odair, conforme ele relatou em fartas entrevistas, é um período como de renascimento. "O que fiz depois de 1977 é uma merda", disse em uma delas. Ao jornalista André Barcinski, em "Pavões Misteriosos: A Explosão da Música Pop no Brasil - 1974-1983" (Edição do Autor, 2022), Odair afirma que viu muita incompetência nas gravadoras nas décadas de 1980-1990; mas também faz seu mea-culpa: "... em 1979, eu comecei a ficar muito boêmio, eu bebia muito, eu fumava muita maconha, ficava muito no Baixo Leblon, eu deixei de me interessar pelas coisas como elas deviam ser".
Depois vieram "Dia 16" (Saravá Discos) em 2015, "Gatos e Ratos" (Independente) em 2016 - este indicado em 2017 para o Prêmio da Música Brasileira, que lhe conferiu a láurea de melhor cantor e a revista "Rolling Stone Brasil" o elegeu como o 20º melhor álbum brasileiro de 2016; em 2019, veio "Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio", eleito pela Associação Paulista de Críticos de Arte um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre de 2019.
Em 2021, Odair compôs seis canções com Arnaldo Antunes para a trilha sonora do filme “Meu Álbum de Amores”, dirigido por Rafael Gomes, com Gabriel Leone, Felipe Frazão, Carla Salle e outros (disponível no Prime Vídeo).
Em 2024, lançou "Seres Humanos e a Inteligência Artificial", pela Monstro Discos, com utilização da IA na criação de vozes femininas e instrumentos. O disco traz uma única parceria, com Bárbara Eugênia, na faixa "No Ponto". Eugênia, aliás, que, em 2014, regravou "Por que Brigamos", sucesso de 1972 de Diana, com quem Odair foi casado.
A apresentação de "O Filho de José e Maria" se deu como uma obra em três atos, em ordem diversa à do álbum (seguindo sua ideia original, disse ele), em que as partes abordam os momentos da vida de um casal - o flerte, namoro, casamento, concepção do filho, desentendimentos, briga, separação e, depois, a sina do filho, inseguro com fim do relacionamento e em conflitos próprios quanto à sua sexualidade e lugar no mundo.
À época, a temática do LP chocou Igreja, governo militar e sociedade pela abordagem, digamos, "herege" sobre a história de Jesus, apesar de o nome do Cristo não ser mencionado em nenhuma estrofe. No show, Odair ataca a hipocrisia da sociedade e prega a liberdade de amar, lembrando que em sua carreira ele sempre foi atacado por defender, por exemplo, prostitutas, trabalhadoras domésticas e o direito a fazer do corpo o que quiser.
"Formas de Amar"
Segue o roteiro do show:
1º Ato
1) Fora da realidade * (Odair José/David Lima)
2) O casamento *
3) Não me venda grilos (Por direito) *
4) Só pra mim, pra mais ninguém *
5) O filho de José e Maria *
2º Ato
6) Agora eu sei (Coisas Simples, 1978)
7) Forma de sentir (Coisas Simples, 1978) [José Messias e Donizete]
8) O sonho terminou *
9) Desejo (Seres Humanos e Inteligência Artificial, 2024)
10) É assim * (Odair José/Maxine)
Ato final
11) Viagem (Odair, 1975)
12) De volta às verdadeiras origens *
13) Que loucura *
Bis
14) A noite mais linda do mundo (Lembranças, 1975) [Donizette]
15) Vou tirar você desse lugar (single, 1972)
16) Cadê você (Odair José, 1973)
Obs.: As músicas com asteriscos (*) referem-se às do álbum "O Filho de José e Maria"; as demais citam entre parêntesis o LP original e ano de lançamento. Todas as composições de Odair José, exceto as indicadas.
Músicos que tocam no LP original:
Odair José: voz, violão e guirarras
Don Charley: arranjos de cordas e metais
Jaime Alem: guitarra e violão
Hyldon: guitarra
José Lanforge: voice-box e harmônica
Robson Jorge: piano Fender Rhodes
Ivan Conti "Mamão": bateria (Azimuth)
Alex Malheiros: baixo (Azimuth)
José Roberto Bertrami: órgão, clarinete e Arp. String (Azimuth)
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