O Barquinho Cultural

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Amor e sexo (não é Jabor)

Assisti ontem (terça, feriado de Tiradentes) ao filme Divã, de José Alavarenga Jr. baseado em peça homônima, ambos interpretados pela global Lilia Cabral. Diverti-me bastante, dei boas risadas, e até derrubei umas lágrimas, pois como todo filme que se preze tem comédia e drama. Não é um grande texto, um argumento um tanto confuso, mas a Lilia salva o filme, ela é muito boa atriz, e tem pleno domínio de sua arte. Foi um filme descompromissado para se ver em um feriado um tanto frio. Mas tem uma frase na boca da atriz - cuja personagem se chama Mercedes - que me intrigou. Ela diz em certo momento, depois de dar a primeira pulada de cerca de sua vida, que sexo com amor é bom, mas sem amor é muito melhor... É um tema que dá um bom pano pra manga, principalmente se a discussão for rasteira, baseada em conceitos preestabelecidos. O machista pode concordar com isso e deixar as moças furiosas, principalmente se considerarmos as mulheres aquelas donzelas casadoiras de antanho. Eu não sei, as coisas mudaram muito, os conceitos são outros. As relações estão muito diferentes das que eram quando comecei minha vida romântica. Hoje há coisas como ficantes, beijantes, peguetes, acho que alguns até namoram. Agora, noivar, duvido que ainda haja. E casamentos duram pouco, e muitos estão no terceiro, quarto. Eu por enquanto só me casei, oficialmente, uma vez. Mas gostaria, como disse outro dia, de celebrar bodas de prata com uma mulher. Sim, porque bodas de ouro creio ser difícil, mas não impossível. Mas a discussão é sobre o sexo sem amor ou com. Eu ainda prefiro amar uma mulher, porque o amor deixa a gente mais livre para se entregar e ser o que realmente somos, e é muito melhor você dar e receber amor, porque o sexo cru, apenas o prazer, é impessoal, não deixa marcas, dia seguinte se esquece. Enquanto quando se ama se vive eternamente nas nuvens, e a sensação é de que nada pode nos destruir porque estamos amando. Eu acho que a personagem estava se referindo ao descompromisso do sexo sem amor, da aventura que é a entrega apenas ao prazer, uma vez que ela, no filme, tem um casamento sem empolgação, e o sexo é aquela obrigação, aquele bater o ponto, tipo 20 anos depois do casamento o amor ter virado algo insosso. Acho que deixa o casamento virar isso quem quer, quem não se esforça em tornar cada dia único. Já ouvi uma vez que uma mulher deve ser conquistada todos os dias (nós homens também, viu mulheres!). E penso que esse é mesmo o segredo. E, acima de tudo, respeitar e tratar muito bem seu amor. Como diz aquela canção dos Doces Bárbaros: O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar/ ir aonde quiser/ brincar/ correr/ cansar/ dormir em paz/ ser o que ele é...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Minha alma canta...

No fim de semana de 17 a 19 de abril voltei ao Rio. Comecei a epopéia etílico-gastronômica pela cacharia Mangue Seco, na rua do Lavradio. Lá matei a sede da viagem com uma Original e uma dose de Corisco Branco, aguardente de Minas bem ardida mesmo. Depois que Ilana saiu do trabalho, voltamos a esse lugar e comemos uma bela caldeirada de frutos do mar de lamber os beiços. No andar de cima rolava um samba dos antigos. Subimos antes de chegar a comida e ainda deu para ensaiar uns passos tímidos. Ilana disse que sou duro. Claro, falta o gingado, mas um dia aprendo, viu? A foto tá escura, mas o samba estava bem iluminado. Bem alimentados, fomos à Lapa. Isso já era bem depois de meia-noite. O bairro fervia. Lotado. Gente para todos os lados e cantos. Todas as tribos. Confesso que esperava outra coisa da famosa e afamada Lapa. Acho que é como disse o Chico mesmo, a tal malandragem não existe mais. O que vi ali foi muita bagunça, sujeira, marreteiros de todo tipo, gente vendendo todo tipo de petisco e bebida, um som em cada birosca, uma zona total. Acho que é um mundo que de repente até tem a ver para quem é de lá, mas para mim não funciona. Detesto multidão, gosto de lugares calmos e monotemáticos. Acabamos em um bar chamado Borracha para o último drink da noite. Estava já meio caído o lugar, afinal eram 4 da madruga. Tomamos e saímos logo. Para fechar a noite, acabei me estressando com a hostess ou segurança da casa, que me viu com a piña colada da Ilana em um copo descartável, que ela pediu pq não tomou toda, e achou que eu trouxera de fora. Essa moça disse que eu não poderia beber drinks de fora da casa lá e eu respondi que tinha comprado lá. Mas ela muito má educadamente duvidou. Aí engrossei, porque detesto que digam que estou mentindo.Pedi para ela perguntar para o garçon que nos atendeu se não era verdade. Se ela duvidasse, que perguntasse. Mas preferiu bater boca comigo. Pois não me fiz de rogado e discuti mesmo, até ela sair fora. Bem, isso não estragou minha noite, ainda bem.

No sábado, após o café, fomos à rua da Uruguaiana, no centro, onde tem uma feira popular que lembra o Promocenter da Paulista misturado com 25 de Março. Comprei lá uns CDs de funk irados e um Match 3 que espero não me prejudicar a cútis (rs). Em seguida, fomos na rua do Ouvidor, de tanta importância na epoca do Império e da República Velha. Hoje está lotada de lojas do tipo Casas Bahia, Insinuante. Mas tomamos um chá e comemos madrilenãs na Confeitaria Manon, uma casa dos anos 1940 bem charmosa e que deu para sentir-me um pouquinho no Rio antigo. De lá rumamos para o estação dos bondes que fica atrás da sede da Petrobras. É onde se pega o bondinho que leva a Santa Teresa. Que viagem incrível! Ver a Lapa de cima é uma visão magnifíca. O bairro de Santa Teresa é um charme também. Um grande morro cheio de barzinhos e restaurantes e construções antigas que dá gosto de ver. E o bondinho é, claro, uma grande atração. E o curioso é que é uma condução mesmo para os moradores do lugar. Não é só para turista não. A passagem é 60 centavos. Voltamos e almoçamos uma carnuda feijoada no Cantinho do Senado, na Lavradio com a rua do Senado.

No domingo, após fechar a conta do Ibis, pegamos a ponte e rumamos para Niterói. A primeira parada foi no Museu de Arte Contemporânea (MAC). Uma construção bem interessante, projetada por Niemeyer. Parece um disco voador, como bem lembrou Ilana. Pena que não havia nenhuma exposição no dia. Mas entramos na galeria e a visão de lá é muito legal. Toda envidraçada em 360 graus de vista. O interior é bem legal também, onde se vê a paixão de Niemeyer pelas curvas e linhas sinuosas. Dia 26 agora começa uma exposição lá, quem sabe não estarei lá de novo para ver. Saindo de lá, seguimos rumo à praia de São Francisco, onde há vários restaurantes. Queria um peixe e entramos no Botequim Informal. Uma Original para refrescar, bolinhos de aipim com carne seca para abrir o apetite e esperar a tilápia com arroz de açafrão, que veio divina, se bem que muito puxado na manteigza, o arroz, mas tudo bem, o peixe veio crocante e farto. Vimos um pouco da final da Taça Rio entre Flamengo e Botafogo mas, antes do gol contra do Fogão, saímos e subimos o morro da Viração, em cima do qual se encontra o Parque da Cidade. Vista magnífica da cidade e do Rio de lá, onde há duas rampas para saltos de asa delta e para-pente. Assistimos ao pôr do sol, que se esconde na baía ao longe em mil cores. Depois desse espetáculo, hora de terminar a visita e pegar a Dutra, porque a noite é de trabalho. E, mais uma vez, vou embora com vontade de ficar. E voltar. Rio você foi feito pra mim.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

"É sol, é sal, é sul"



Esse verso da canção Rio, de Menescal e Bôscoli, não me saía da cabeça, além de tantos outros trechos de tantas canções, nesta minha quarta visita à cidade maravilhosa. A diferença é que desta vez fui mesmo a passeio e pude conhecer alguns pontos muito lindos e com um astral para lá de alto. Fui no fim de semana de 27 a 29 de março e no de 4 e 5 de abril e fiquei no Formule 1, uma opção econômica no centro sem frescura. Fica ao lado da praça Tiradentes, por sua vez cercada de sebos onde vi muito livro esotérico e de autoajuda. Infelizmente. A rua da Carioca sai da praça e termina no largo da Carioca, onde há estação do metrô (e onde havia uma roleta para se jogar, conforme Pelo Telefone, de Donga, que Eduardo disse que não é dele, mas o malandro se apropriou de um samba de rua). A rua é cheia de lojas de instrumentos musicais, o que remete de imediato à Teodoro Sampaio lá de Pinheiros. Aliás, o centro do Rio lembra bastante o centro velho de São Paulo, parecem ter sido traçados pelo mesmo arquiteto. Deve ser por causa dos prédios antigos. Após uma boa caminhada por esses arredores, onde acabei adentrando locais não muito recomendáveis, pausa para uma cerveja no café Thalia, onde a Skol gelada veio em uma charmosa garrafa de 630 ml (até onde sei essa embalagem não chegou a SP ainda; o litrão de 1l que tomei na Ilha do Mel, sim, vi no Carrefour de São Bernardo e agora está tendo comercial na TV).


No dia seguinte, conheci a famosa Lapa, de tantos sambas e tantas histórias. Ao contrário do Chico, não perdi a viagem, porque pude conhecer todo o charme daquele local, pena que durante o dia, pois se sabe que é à noite que ela fervilha. Dei uma circulada por ela para ver suas coisas, como os Arcos, por cima dos quais vi circular o bondinho de Santa Tereza, o Circo Voador, a Fundição Progresso, e tantas outras casas que nem dá pra lembrar (mas se quiser ver, tem um site excelente: http://www.lanalapa.com.br/, onde há ligeira descrição dos bares, restaurantes e outros estabelecimentos do bairro e sua extensa programação cultural). Neste dia não almoçamos, fomos ao restaurante Manoel e Juaquim na intenção de traçar uma feijoada, mas o bolinho de bacalhau que pedimos de entrada para acompanhar o chope estava divino. Completamos com a batata à moda do Manoel da Lapa: com quadradinhos de calabresa e mozarela derretida por cima. Para finalizar, uma cachacinha de fabricação própria com a devida canequinha levada de lembrança (antes que pense que foi roubada, não, paga-se mais 2,60 e leva-se a simpática peça). O chope estava realmente um espetáculo: uma temperatura excelente e um colarinho perfeito, em uma tulipa cristalina.


O almoço de domingo foi no restaurante Nova Capela, onde comemos um belo cabrito com arroz de brócolis e uma Original bem gelada. Esse prato me parece que é meio tradicional no Rio, talvez nem tanto quanto a feijoada, mas a se considerar a canção Cabritada Mal Sucedida, de Geraldo Pereira e Jorge Gebara, dos anos 1950, acho que é isso mesmo. É um prato saboroso e farto, e nesse restaurante, que tem quase 80 anos, ainda tem gosto de reverência. De estômago devidamente forrado, fomos fazer um tour básico pelas praias. Parada na Praia Vermelha para ver o bondinho do Pão de Açúcar (está R$ 44 para turista e metade para os cariocas), depois de ver a bela enseada do Flamengo do Mirante do Pasmado (dá realmente pra ficar pasmado com a visão - é a da foto aí em cima). Termino o passeio, porque precisava subir para trabalhar, em Copacabana, um último chope no quiosque (ou barraca, como queira) do Bar Luiz (cuja matriz é na rua da Carioca). Copa é realmente incrível: uma aura inexplicável, um clima de boa vida que acho seja típico do carioca. Mas não dá, realmente, para se queixar da vida com um cenário daquele, e a princesinha do mar pude perceber o que significa ao ver duas pequeniníssimas crianças brincando na areia pertinho da nossa mesa. Uma singela alegria que manifesta na gente uma vontade danada de fazer o mesmo: cair com tudo na maciez das areias e tomar um abraço das águas do mar como se a vida se resumisse a isso. E assim ficar pelo tempo que o desejo quiser, todo sorriso, todo felicidade.


Semana seguinte voltei, desta vez vim pela Rio-Santos. Uma beleza de viagem, que passa por paisagens deslumbrantes, mas muito demorada, porque entra em várias cidades e os trechos urbanos atrasam a corrida. Levei oito horas para chegar ao centro, ao passo que pela Dutra gasta-se de quatro a seis, dependendo do trânsito na zona leste de Sampa e na avenida Brasil, no Rio. Ao chegar, suado, outra cerveja no café Thalia. Mas desta vez só havia Itaipava. Paciência. Estava gelada o suficiente para eu manter meu humor, apesar do desgaste de tantas horas para uma viagem que se faz pela metade do tempo. Meu objetivo era ir no sábado ao show do Jorge Ben Jor no Circo Voador, mas o cansaço me impediu de acordar e dormi até a hora do café. Antes, porém, passada na rua do Lavradio, onde estava sendo realizada a Feira Rio Antigo, com peças as mais variadas. Comprei uma escultura das máscaras de teatro para minha filha e um perfil feminino para Joana. O local estava apinhado e rolavam performance teatral e roda de samba. O almoço foi novamente no Nova Capela e mais uma vez o cabrito com arroz de brócolis. Coisa boa é para se repetir mesmo. Em seguida um passeio pela Lapa, onde conheci a Escadaria Selarón, obra de um chileno radicado no Brasil desde 1983. O sujeito arranjou azulejos de diversas partes do mundo e montou na escadaria que liga os bairros da Lapa e Santa Tereza diversos mosaicos, com desenhos singulares, que, inclusive, chegam a revestir também as paredes dessa passagem, também conhecida como Escadaria do Convento de Santa Tereza. Curioso que nos mosaicos das paredes e floreiras predomina o vermelho e, na escada, o verde e amarelo. O artista estava lá, pintando algo, mas na hora não sabia que era ele, imaginei alguém aproveitando o local para se inspirar. Assim como um sujeito sentou-se na escada e começou a verborrar uma falatório político para uma câmera de vídeo operada por um rapaz.


A parada seguinte foi o bairro de Santa Tereza, mas subimos de carro mesmo, e não deu para ver o bondinho, apenas uma de suas paradas, a de Curvelo. Conhecemos o Parque das Ruínas, que foi outrora o Palacete Murtinho Nobre, onde morava Laurinda Santos Lobo, uma espécie de agitadora cultural da Santa Tereza do início do século XX. O local abriga sala de exposições, auditório e café, mas no domingo estava fechado, restando subir ao mirante de onde se tem uma visão deslumbrante da orla carioca, avistando-se o centro, a catedral metropolitana, o aeroporto Santos Dumont, os Arcos da Lapa, a marina da Glória, a Urca e até o Cristo Redentor, se apurando a vista. Com o céu anil e o sol que fazia naquele domingo, a visão era realmente de perder o fôlego.


Almoçamos no Dom Galeto, no bairro de Fátima, aos pés de Santa Tereza, onde comemos um galeto com batatas divino. E, claro, com uma bela acompanhante loira e gelada. De sobremesa, um Chicabon! Desde que li Nelson Rodrigues pela primeira vez tenho vontade de chupar um Chicabon no Rio. Pronto! Vontade satisfeita. Rumamos para Ipanema, onde fui conhecer o famoso prédio na Nascimento Silva 107, onde Tom Jobim morou nos anos 1950/60 e onde ele e Vinícius ensinaram a Elizete Cardoso as canções da Canção do Amor Demais. Dizem que Garota de Ipanema também foi escrita lá. Corcovado foi composta lá, devido a paisagem que se via da janela do apartamento, visão que pouco depois da gravação deixou de existir, com as construções que se ergueram. Olhando o prédio não se pode imaginar o que ele já abrigou e que foi cenário de tanta maravilha. É um edificiozinho bem simples, adequado ao padrão de vida do maestro naquela época, creio. A foto que ilustra aqui eu peguei da internet, porque não consegui achar lugar para estacionar e fazer o meu registro, mas é só para mostrar o quão simples é esse prédio que abrigou nosso Antônio Brasileiro. A Lagoa Rodrigo de Freitas foi a próxima parada, onde tomei água de coco. Não tão boa como as de Salvador, mas valeu.

Depois, passada pelo Jardim Botânico, onde fomos tomar uma Brahma Black no Boteco Belmonte, que tem seis filiais espalhadas pelo Rio, com matriz no Flamengo. O chope escuro da Brahma realmente é muito gostoso. Acompanhou-o uns pasteizinhos bem apetitosos, se bem que pequenos demais para o preço cobrado. Lugar aconchegante, sofisticado, mas com um clima de botequim mesmo que deixa a gente bem à vontade. Detalhe interessante: eu deixei o carro estacionado em um canal um pouco afastado do bar, mas não o travei nem liguei alarme, por esquecimento. Ao voltar, o veículo estava intacto. Depois dizem que o Rio é perigoso.

Bem, claro que há muito a se conhecer no Rio, e essa minha aventura de dois fins de semana não contemplou quase nada. Mas foi o suficiente para eu entendesse por que tantas músicas cantam tanto a beleza dessa cidade verdadeiramente maravilhosa. E acho que eleger um verso dessa música para titular esse post foi realmente uma excelente escolha, dado que o Rio

"É sol, é sal, é sul
São mãos se descobrindo em tanto azul
Por isso é que meu Rio da mulher beleza
Acaba num instante com qualquer tristeza
Meu Rio que não dorme porque não se cansa
Meu Rio que balança
sorrio, sorrio, sorrio, sorrio, sorrio"