"Apocalipse nos Trópicos", mais recente documentário de Petra Costa (de 'Democracia em Vertigem', indicado ao Oscar em 2020), busca responder à questão: como uma Democracia se converte em Teocracia? No caso, ela fixa o olhar no Brasil dos últimos anos, a ascensão das ditas igrejas neopentecostais no país, sua crescente influência na sociedade, culminando em seu imiscuir nos poderes da República.
Para tanto, cola na figura do pastor Silas Malafaia, acompanhando parte de sua rotina e ouvindo sua pregação de conquista de mentes e corações em todos os aspectos cruciais da vida: o espírito (claro), a cultura, a educação, a economia, a política...
É aí, em suas próprias palavras, que Malafaia e sua congregação se diferenciam de outras denominações evangélicas (quiçá cristãs): enquanto as outras se ocupam da vida celestial pós-morte de seus fieis, ele também acena para uma vida melhor aqui na Terra.
A ocupação de todas as esferas de interesse da vida, em sua pregação, visa. no fundo, a aniquilação do que ele identifica como o Mal: a Esquerda, o PT, o Comunismo e seu discurso para eles (os crentes) distorcido sobre aborto, liberalização das drogas, direitos de casais homoafetivos etc.
O projeto é claro: depois de a tal bancada evangélica triplicar em pouco tempo, conquistar a Presidência da República e uma cadeira no STF (ou seja, estar presente nos Três Poderes), é impor sua narrativa, seu alcance tentacular em todos os campos possíveis e instaurar aqui (quem sabe no Planeta?) o tal regime Teocrático.
O resultado todos vimos há pouco tempo.
Portanto, antes de o filme desenhar o avanço desse segmento evangélico (sim, porque há outros, menos ambiciosos em questões materiais, eu diria), cuida mais de explicar como uma determinada ideologia e seus ideólogos se valeram de uma tema caro ao ser humano, o Sagrado, para alcançar seus objetivos.
Nos cinemas até 9 de julho e, após 14 de julho, na Netflix.