Festa 'Água de Meninos' começa hoje e prossegue em abril, maio e junho, no Centro Cultural Rio Verde (Divulgação) |
“Água de
Meninos chorou
Quem
ficou foi a saudade
Da noiva
dentro da moça
Vinda de
Taperoá
Vestida
de rendas,ô
Abre a
roda pra passar.”
('Água de Meninos', de Capinam e Gilberto Gil)
Começa
hoje, 20 de março, às 23h, com show de Ordep, a festa “Água de Meninos”, um evento multicultural com apresentações
musicais, teatrais e de dança e exposição de artes plásticas. O evento prossegue
nos dias 9 de abril, 14 de maio e 11 de junho, sempre às 22h30, no Centro Cultural Rio Verde - Rua
Belmiro Braga, 119, Pinheiros, tel: (11) 3459-5321, com ingressos a R$ 30.
Ordep é um
músico e multiinstrumentista de Salvador, radicado em São Paulo desde 2006, que
lançou recentemente seu primeiro disco solo, batizado com seu nome. Começou a
aprender a tocar aos 11 anos, iniciando pelo bandolim. Integrou várias bandas
da cena alternativa de Salvador, como Treblinka, Saci Tric, Cumbuca, Utopia e
Orelha de Van Vogh.
Em 1998, foi
um dos fundadores da banda Lampirônicos, de Salvador, uma das expoentes do que
se convencionou chamar de afrobeat regional. Com a Lampirônicos, na qual tocava
bateria, gravou dois CDs, “Que Luz é Essa” e “Toda Prece”.
O disco “Que
Luz é Essa” projetou a banda mundialmente. A Lampirônicos concorreu na
categoria “Revelação”, em 2002, ao prêmio Multishow de Música Brasileira. Participou
de alguns festivais no exterior, como o Brazilian Summer, em Londres; Sfinks
Festival, na Bélgica; o Festival Afro-Brasil, em Tübingen (Alemanha), e o
Montreaux Jazz Festival, na Suíça.
Ordep : diversidade cultural e religiosa |
Depois da
dissolução da Lampirônicos, Ordep atuou como instrumentista, tendo tocado com Elza
Soares, Davi Moraes, Lucas Santana, Luiz Melodia, Baby do Brasil, entre outros.
Juntou-se ao cantor e compositor Kiko Zambianchi, com quem excursionou pelo
país. Atualmente, também integra e equipe da produtora musical Comando S.
O seu
primeiro trabalho solo traz influências regionais e africanas, pitadas de punk
rock, de música latina e de sonoridades afrobrasileiras, com um som mais pesado
e muita guitarra e eletrônica. O álbum tem 12 faixas e conta com a participação
de Kiko Zambianchi, Artur Ribeiro e dos rappers Rodrigo Tuchê e TiagoRedniggaz.
A festa “Água
de Meninos” terá quatro horas de duração e participação especial de Serginho Rezende (instrumentista, compositor e produtor musical), dos rappers Rodrigo
Tuchê & Grupo Motim, do DJ Ian Nunes, performance do Azenha de Teatro - calcada
na poesia concreta e no teatro do absurdo - e o humorista Márcio Reiff como
mestre de cerimônia.
Ordep canta
e toca guitarra no show de hoje e estará acompanhado de Anderson Costa
(bateria, backing vocal e programações), Adson Gaspar (contrabaixo) e RaphaelCoelho (percussão).
A maior feira ao ar livre do Brasil
O nome do
show é uma referência à maior feira ao ar livre do país e que hoje se chama São
Joaquim, em Salvador; muito conhecida por vender produtos de candomblé. “O
espetáculo é também uma festa, uma manifestação artística, tendo meu show como
atração principal, onde recebo convidados das mais diversas expressões”,
comenta Ordep. “O cenário também reflete um pouco dessa diversidade cultural e
religiosa do Brasil para receber com reverência um pouco da arte feita no
Brasil”, finaliza.
Feira Água de Meninos na visão de Carybé |
A Água de
Meninos, a maior feira ao ar livre de Salvador, que existia desde os anos 30,
foi incendiada em 1964, em circunstâncias nunca esclarecidas, mas, conforme
depoimentos colhidos por Fabíola Aquino para o documentário “Água de Meninos – Feira do Cinema Novo”, de 2012, há suspeitas de ter sido obra da recém-instalada
ditadura militar.
Além da
letra de Capinam, musicada e cantada por Gilberto Gil em seu segundo LP, “Louvação”,
o local foi cenário e tema de diversos filmes e documentários. Um dos filmes
mais importantes tem a feira como palco para retratar as condições de vida de
Salvador nos anos 60. “A Grande Feira” - foi dirigido pelo cinema-novista
Roberto Pires em 1962, com produção executiva de Glauber Rocha.
Assista ao
filme “A Grande Feira”, de Roberto Pires (1962)
Sobre
a feira escreveu Vitor, no “Obvious”: “Água de Meninos era uma feira que reunia
toda a produção do Recôncavo Baiano, que chegava a Salvador em pequenas
embarcações, como saveiros; era um local habitado não só pelo comércio, mas
pela vida cultural, pelo sincretismo e pela naturalidade das relações humanas.
Ao lado da feira existia, por exemplo, o famoso areal que inspirou aquele de
Jorge Amado e seus Capitães da Areia. Muitos anos antes, o local foi palco dos
últimos minutos da Revolta Malé, a mais importante rebelião de escravos no
Brasil. E dentro da feira, nada mais que o essencial para se entender o que é o
espaço inconsciente do baiano, seja por aquilo que era vendido, seja pela forma
como se vendia, seja pelos cantadores e cordelistas que rodeavam o local:
confluência de vida em cultura e de cultura em vida.”
Confira
um vídeo de Ordep – “Crer pra Ver”
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