Atriz, cantora, compositora, contadora de histórias (foto: Divulgação) |
Essa bela morena de 26 anos, natural de Aracaju, está
surpreendendo o Nordeste com seu primeiro trabalho, o EP “Solta”, lançado em 2013, e, quando esteve em terras bandeirantes, não passou despercebida. Sua
música é igualmente surpreendente. Tem lá uma sonoridade contemporânea,
guitarras potentes, uma eletrônica bem colocada, mas, de repente, a música pega
um atalho e nos remete a uns tempos que ficaram registrados na memória de quem
tem uns anos a mais que ela.
Ouço um órgão típico do rock setentão, aí entra uma guitarra
com efeitos que os chamados bregas adoravam... Um trompete irrequieto. Outra
mudança de caminho e lá estão ritmos latinos, jamaicanos, entram coisas do
Norte, carimbó, sonoridades diversas que são harmonizadas perfeitamente, sem
soar como aquelas misturebas sem noção que muitos fazem para parecer ecléticos.
Aí você ouve a voz...
A voz de Héloa merece um parágrafo à parte. Afinadíssima,
quente, sem arroubos de virtuosismo. Mas com alcances perfeitos. Ela navega com
tranquilidade nos momentos de romantismo, quando se exige aquela tonalidade
mais intimista; mas arrebenta nos lances mais agitados, sem perder a pose nem o
fôlego. Uma menina que leva um forró tão na boa quanto o mais doido rock.
As letras das músicas de seu EP parecem um recado a... quem
sabe... Ela diz que suas composições se inspiraram em fatos de sua vida, em
amores e desamores. Mas se há bronca, ela é feita com delicadeza, com aquele
tom de “quem perdeu foi você, playboy”. Justo. A fila vai andar, como diz em “Sai
deste corpo” (que tem a participação de sua ídola Andrea Dias), que termina com umas risadas que, acredito, o infeliz que se
identificar com a canção terá muita unha para roer.
“Entra na dividida” me lembra aquelas músicas de Diana,
Nalva Aguiar, aquele orgãozinho tão típico da época, mas mesclado com uma
guitarra distorcida modernosa. Palmas... Um luxo. Aí vem a frase falada em
timbre de radinho de pilha. Pobre do cara. Nunca mais unir as meias.
“Nós dois” é um diálogo de um casal, também em rádio, na
certa remetendo às radionovelas, das quais ela é fã – apesar de ter nascido muitos
anos depois de essa modalidade de entretenimento sair do ar.
“Solta” começa com uma voz que lembra um pouco Vanessa da
Mata, mas na segunda parte entra outra modalidade, mais ácida, na onda da
letra. Que desamores essa menina andou vivendo? Solta porque ninguém a segura. “Me
deixou? Agora segura... Não quero mais voltar... Ainda bem que foi assim”. Não
tem como não se apaixonar...
Héloa Rocha é filha do músico e folclorista Jorge Ducci, que
a incentivou a estudar canto aos 14
Héloa faz teatro desde os 17 anos (foto: Divulgação) |
Atualmente, além de
cantar, leva uma oficina de teatro para treinar a desinibição e melhorar a
performance de quem tem que lidar com o público e ainda faz um trabalho de
contação de histórias para crianças.
Nesta semana, seguia em turnê de dez dias por cinco cidades
dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, em evento que faz parte do
Circuito Cultural Banco do Nordeste e do projeto Arte Retirante, que leva shows de
artistas nacionais para cidades do sertão nordestino.
No segundo semestre deste ano, entra com tudo na produção de
seu CD. E, notícia das mais alvissareiras: fará a produção aqui em São Paulo, e
com a promessa de nos brindar com algumas apresentações.
Na sexta-feira 13, depois de contar histórias a crianças em
Sousa, na Paraíba, Héloa concedeu, por telefone, uma entrevista ao Blog por Bloga. Seguem
trechos desse bate-papo:
Bloga: Conte um pouco sobre você, sua formação, sua vida...
Héloa: Sou formada em Artes Visuais pela Universidade
Federal de Sergipe e trabalho com teatro já há 13 anos, e tenho o trabalho
paralelo em música, um trabalho autoral. Lancei o EP “Solta” em 2012 e estamos
circulando. Já estivemos em São Paulo, pelo Nordeste, e no segundo semestre
deste ano vamos parar para gravar o disco. Ao lado disso tenho esse trabalho
com crianças, de contação de histórias, e tenho também um trabalho de oficinas
de teatro, no qual trabalho com crianças e adultos, que é o Teatro Funcional,
que trabalha a postura, um pouco de psicologia. Mas a música é o que tenho focado mais nesses últimos tempos, e
tento conciliar com as outras atividades.
EP "Solta" é de 2012 (foto: Reprodução) |
Bloga: Você tem formação em teatro. Como acabou entrando no
meio musical, como cantora e compositora? Quem é seu pai?
Héloa - Meu pai é músico, Jorge Ducci, tem o projeto
Sulanca, em Sergipe, que é uma banda que trabalha com o folclore sergipano, e
minha formação tem muito a ver com ele. Comecei a estudar canto por influência
dele, aos 14 anos, e também por conta de minha mãe, minha avó, todos muito
ligados à música, todos lá em casa gostam muito de cantar, então a minha
formação foi muito dentro de minha casa.
Bloga - O que você ouvia em sua infância, juventude?
Héloa - Ouvia muito Dalva de Oliveira, as cantoras do rádio
com minha avó, sempre gostei muito de MPB, ouvia muito rock dos anos 70, e
também outros ritmos regionais, porque sempre viajei muito com meu pai em seu
trabalho com o folclore, além dos ritmos africanos, porque minha mãe é
ialorixá, é do candomblé há mais de 15 anos, e os ritmos afro também
influenciaram muito nosso projeto. Então é basicamente este mistura de ritmos
regionais com os universais e faz essa referência do antigo, a garotada da
década de 60 e também da década de 20, fazemos a referência das radionovelas. No CD a gente talvez vá em outra vertente,
explorar mais o amadurecimento que veio de nossa caminhada, mas dando
continuidade ao que a gente já fez até agora.
Bloga - Você disse que ouve muito as novas cantoras. Quem você admira delas?
Héloa
- Eu ouço muito, admiro muito a Andreia Dias. Quando comecei, eu a ouvia muito, e foi uma das primeiras
cantoras com quem fiz amizade, foi uma grande inspiração para mim. A gente se
conheceu, ela fez um show comigo em Aracaju. Gosto também da Céu, da Tulipa Ruiz, e essa nova MPB é uma das grandes influências para mim. E tenho trocado
bastante figurinhas com elas e com os novos cantores e esses contatos todos
servem de inspiração para o nosso trabalho.
Bloga - Como é a cena musical em Sergipe, no Nordeste: há
um público cativo para as novas experiências? Há espaços que valorizam, chamam
para tocar?
Bloga - Qual é a ideia por trás de toda essa mistura dos
ritmos tradicionais com os novos, tem bossa nova também, rock...
Héloa - A gente costuma dizer que é uma música sem
fronteiras. Eu busco construir muito em cima de minha experiência de vida, do
meu teatro, de minha família, essas referências são muito ligadas à minha
construção pessoal, não é à toa que é um disco autobiográfico, que reflete
histórias que eu vivi, problemas de amores, coisas que passaram na minha
construção. Então esse primeiro EP é baseado muito na minha construção pessoal e
mostra um pouco quem é Héloa. O CD já virá com todo esse amadurecimento, trará
as vivências das turnês que a gente fez, já vem com outra cara. A gente busca não
rotular nosso trabalho. No show a gente leva um repertório todo autoral, de 15
canções, outras que não estão no EP. A gente trabalha com muitos ritmos, como o
forró, que é uma referência muito grande, e a gente mistura o forró com o
reggae.
Com a nova banda, começa a gravar em agosto o 1º CD (foto: Divulgação) |
Bloga - E sua banda: quem são, o que cada um toca? É sua
banda de apoio ou sua banda mesmo?
Héloa - Estamos juntos desde o ano passado, e é uma banda
com quem tenho realmente me firmado, são cinco pessoas comigo, a formação é
baixo, guitarra, bateria e teclados. Vinicius Bigjohn, que é o produtor e toca sanfona
e teclados; Alexandre Marreta, na guitarra; Rodrigo Antônio, na bateria, e
Iolanda Cristina, no baixo. É uma formação pequena para poder viajar e a gente
usa um pouco de samplers, umas bases eletrônicas nos shows. Mas as canções
nos shows a gente já mudou algumas coisas, fazemos releituras de nossas
próprias músicas.
Bloga - Seu figurino é você que desenha? Qual é a inspiração
para sua roupa, os adereços? Tem uma coisa bem folclórica, remete até a
espiritualidade...
Héloa - Esse figurino a gente usou mais no lançamento do EP,
no show. E a ideia era justamente me deixar mais solta e a cor branca é porque
no show a gente fazia umas projeções, que tem a ver com a capa do disco, que
também foi feita com projeções. O artista visual Bruno Sousa, que fez a capa,
ouviu cada canção e a cada uma ele fez um mosaico de figuras, e essas figuras,
essas montagens, foram projetadas no meu corpo, e aí o fotógrafo Arthur Soares registrou
as imagens e foi para o encarte do disco. E a foto da capa, com turbante,
flores, aqueles elementos todos, foi justamente para representar essa mistura,
as referências que a gente tem no Nordeste, então eu quis trazer isso para a
minha cabeça, e acaba também fazendo essa referência religiosa, e é também
misturada, em algum momento remete ao candomblé, aos orixás, em outros a Santo
Antônio, algo da mística católica, então não tem a ver com uma religião
específica.
Espetáculo também visual (Foto: Melissa Warwick) |
Bloga - Você já se apresentou em São Paulo, cantou com Otto,
como foi aqui, como você sentiu a receptividade aqui na cidade?
Abaixo, alguns videoclipes da Héloa:
Com Otto, no Festival Cultura Livre de São Paulo
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