O Barquinho Cultural

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segunda-feira, 4 de março de 2013

Duelo verbal

“Improvável”: Thaianne Cavalcanti e Juan Guimarães. Foto: Marcelo Lyra
Não.  Desta vez a culpa não era dele... Não fez nada. Não moveu uma palha do celeiro que costumava levantar antes... Estava inocente. Fora, sim, vítima. Mas ela não entendeu, ou não quis entender. Preferiu (ela) o conforto de botar nas costas daquele paranoico a responsabilidade por ter sido atormentada justo em um momento em que a paz reinava, finalmente, embora paz essa abalada por outros problemas fortuitos que sempre a assombram.

Ela,  hábil em reverter uma situação desfavorável, imputou-lhe a culpa, baseada no retrospecto de tantas situações em que ele fora o protagonista de tantas desavenças. Ele, tranquilo, pôs-se a fazer o que tinha aprendido nesse tempo todo: questioná-la, apontar as contradições, ler nas entrelinhas, levantar os pontos obscuros daquele discurso sem fundamento.

Não havia jeito. Era um duelo de dois seres humanos calejados pelas batalhas retóricas, pelo caminhar nas trilhas estreitas das verdades ocultas em busca de atalhos que revelassem as mentiras. Ele manteve a calma, ouvindo atentamente, frisando detalhes que mostravam o quanto o dito agora contradizia o falado pouco antes. Não havia saída para ela. Seu recurso: alterar-se, levantar a voz, recorrer à honra, ameaçando levar tudo às últimas consequências.

Ele, cansado de tanto debater, resolve levar a questão a um árbitro isento. Tensão. Ela demonstra ter se ofendido. O fato de sua palavra estar sendo posta em dúvida já põe por terra qualquer tentativa de conciliação. O que ela ganharia ao final? Perdas e ganhos... Mente aritmética, calculista. Acostumado, ele responde que ganhará ela a sua honra e dignidade restauradas. A mácula, porém, ficaria. Ela aceita.

No dia seguinte, ela recua. Tomou outras providências, sem o consultar. A honra lavada não lhe bastaria. A verdade seria um privilégio dela; a ele, restaria alimentar a dúvida. Ele não aceitou o acordo. Não abriu mão de suas incertezas nem a solução unilateral que ela empreendeu. Ficaria por isso mesmo. Sem chance. Não mais romance, sem sofrimento. A fissura aberta era irreversível.

Dias se passaram. Ela o procurou, inocente, necessitada de algo. Ele, prestativo, atendeu-a. Era sempre assim. Mais um episódio mal explicado, mais um contorno estranho, um baile na coerência. Deixou estar. Nunca a entenderá. Aceita a realidade. Nem espera mais nada, extinguiu em sua alma a expectativa de que um dia saberá viver sem ela. Apenas vive, aceita o que lhe oferece, a assiste no que lhe é possível. Até a próxima. Quem sabe nessa tudo será diferente.

2 comentários:

Unknown disse...

Bem que eu lembrava de ter visto essa palavra - improvável - em um blog seu. Mas não se referia à peça Improvável.

Carlos Mercuri disse...

Ah, sim.. Eu usei a imagem para ilustrar, não assisti à peça; na verdade, ela é adaptção do livro "Um copo de cólera", de Raduam Nassar, cujo filme eu assisti.. Valeu, beijos..