“Improvável”: Thaianne Cavalcanti e Juan Guimarães. Foto: Marcelo Lyra |
Não. Desta vez a
culpa não era dele... Não fez nada. Não moveu uma palha do celeiro que
costumava levantar antes... Estava inocente. Fora, sim, vítima. Mas ela não
entendeu, ou não quis entender. Preferiu (ela) o conforto de botar nas costas
daquele paranoico a responsabilidade por ter sido atormentada justo em um
momento em que a paz reinava, finalmente, embora paz essa abalada por outros
problemas fortuitos que sempre a assombram.
Ela, hábil em
reverter uma situação desfavorável, imputou-lhe a culpa, baseada no retrospecto
de tantas situações em que ele fora o protagonista de tantas desavenças. Ele,
tranquilo, pôs-se a fazer o que tinha aprendido nesse tempo todo: questioná-la,
apontar as contradições, ler nas entrelinhas, levantar os pontos obscuros
daquele discurso sem fundamento.
Não havia jeito. Era um duelo de dois seres humanos
calejados pelas batalhas retóricas, pelo caminhar nas trilhas estreitas das
verdades ocultas em busca de atalhos que revelassem as mentiras. Ele manteve a
calma, ouvindo atentamente, frisando detalhes que mostravam o quanto o dito
agora contradizia o falado pouco antes. Não havia saída para ela. Seu recurso:
alterar-se, levantar a voz, recorrer à honra, ameaçando levar tudo às últimas
consequências.
Ele, cansado de tanto debater, resolve levar a questão a um
árbitro isento. Tensão. Ela demonstra ter se ofendido. O fato de sua palavra
estar sendo posta em dúvida já põe por terra qualquer tentativa de conciliação.
O que ela ganharia ao final? Perdas e ganhos... Mente aritmética, calculista.
Acostumado, ele responde que ganhará ela a sua honra e dignidade restauradas. A
mácula, porém, ficaria. Ela aceita.
No dia seguinte, ela recua. Tomou outras providências, sem o
consultar. A honra lavada não lhe bastaria. A verdade seria um privilégio dela;
a ele, restaria alimentar a dúvida. Ele não aceitou o acordo. Não abriu mão de
suas incertezas nem a solução unilateral que ela empreendeu. Ficaria por isso
mesmo. Sem chance. Não mais romance, sem sofrimento. A fissura aberta era
irreversível.
Dias se passaram. Ela o procurou, inocente, necessitada de
algo. Ele, prestativo, atendeu-a. Era sempre assim. Mais um episódio mal
explicado, mais um contorno estranho, um baile na coerência. Deixou estar.
Nunca a entenderá. Aceita a realidade. Nem espera mais nada, extinguiu em sua
alma a expectativa de que um dia saberá viver sem ela. Apenas vive, aceita o
que lhe oferece, a assiste no que lhe é possível. Até a próxima. Quem sabe
nessa tudo será diferente.
2 comentários:
Bem que eu lembrava de ter visto essa palavra - improvável - em um blog seu. Mas não se referia à peça Improvável.
Ah, sim.. Eu usei a imagem para ilustrar, não assisti à peça; na verdade, ela é adaptção do livro "Um copo de cólera", de Raduam Nassar, cujo filme eu assisti.. Valeu, beijos..
Postar um comentário