Há 21 anos, por volta das cinco e meia da manhã, vinha ao
mundo nossa filha Isabela. Veio um pouquinho antes do combinado, o que já
prenunciava seu caráter de não deixar para amanhã o que pode ser feito ontem. Pegou-nos,
eu e à mãe, de surpresa. Correndo para a maternidade Neo Mater, de São
Bernardo, nem combustível havia no tanque do velho Monza preto. Até hoje rimos
nos lembrando da cara do frentista abastecendo o carro e vendo a mãe agonizando
no banco de trás. Coisas do Boga, diriam muitas vezes até hoje.
No hospital, o doutor Gilberto Palma chamado às pressas, nem
deu para preparar a filmagem planejada.
E a malinha! Não estava pronta também. Corro eu à casa pegar as primeiras
roupinhas. Cato a esmo o que me vem primeiro na gaveta. E o resultado é esse
pijaminha o dobro de seu tamanho, mas era o que havia para a foto do berçário. “Esse
Boga, viu!”, é o que dizem... Até hoje.
Isabela nasce. A moça vem até o vidro nos mostrar – a mim e
à tia Dega, sempre presente. Ao ver pela primeira vez aquele rostinho, aqueles
olhinhos, aquela boquinha, foi amor à primeira vista. Senti naquele momento que
minha vida mudava para sempre. Era pai. Voltemos ao tempo. A notícia da
gravidez de Joana me foi dada em um evento da Prefeitura de Santo André do qual
participávamos. Fiquei besta, feliz demais. E foram nove meses de curtição da
gestação, montagem do enxoval, do quarto, o primeiro presentinho, da saudosa
Bete, mamãe e filhinho hipopótamo amarelos. Meu primeiro presente foi um perfuminho,
creio que Giovanna Baby.
O primeiro dia em casa. Cuidados extremos, os dois sem muita
experiência, a ajuda preciosa das tias, o primeiro banho, dado pela mais
experiente prima Nanci. Eu ainda tinha algum traquejo, obtido pela presença da
primeira sobrinha, Shirley, que morou em casa de meus pais até os 4 anos.
Ensaio de paternidade. Mas sem problemas. O amor nos instrui, e acho que
fizemos tudo direitinho. Vide a linda e saudável moça que temos hoje, se
virando sozinha em outro país, longe dos olhos, mas sempre tão perto dos nossos
corações (é um clichê, sei, mas muito adequado).
Nesta data, em que nossa filha chega à maioridade, quantas
cenas vêm à mente... Quantas imagens, sons, cheiros, cores... Como a vida foi
carinhosa conosco ao nos trazer esse ser tão lindo, tão meigo, tão carinhoso. A
gente fica assim meio estupefata ao notar que o tempo passa tão rápido, mas
acredito que todos os momentos foram apreciados com intensidade, cada sorriso,
choro, conquista, frustração, tudo foi vivido em plenitude, mesmo que nem
sempre totalmente presente.
Poucas horas depois de Isa vir à luz, chega sua prima-irmã-melhor
amiga-etc Mariana. No mesmo dia do nascimento de minha mãe Hirde, que não ficou
aqui para conhecer a filha de seu único menino sobrevivente (o primeiro filho
de meus pais, do sexo masculino, não resistiu e teve poucas horas de vida). Tampouco
a vó Alice teve oportunidade de conhecer a filha de sua penúltima cria.
Os avôs Almindo e Francisco, contudo, puderam dar-lhe
carinho e sentir o gosto de renovação da vida que um recém-nascido sempre traz.
Mas, para conhecê-los, Isa teve que viajar. Primeiro à Praia Grande, depois a
Cáceres (MT). E nossa filha nunca mais parou de viajar. Espírito itinerante,
senso de independência e uma enorme curiosidade pela vida e vontade de tudo
conhecer. É uma viajante nata, mesmo que a saudade muitas vezes a persiga, o
que é também um estímulo para voltar aos amados.
Uma menina vocacionada para as artes. Como qualquer criança,
praticou dança, pintou, cantou, mas foi na arte dramática que se encontrou, e
nela atuou até resolver, surpreendentemente, seguir a profissão do pai. Sem
esquecer, contudo, do viés herdado da mãe. Enfim, um resumo de nós dois,
aperfeiçoado pelo vigor da juventude, da vontade de realizar, de conhecer, de fazer.
Porque tem metas, objetivos, coragem e
atitude. Eu a mãe lhe demos a vida, e ela faz dela o melhor que pode.
Nesta data, minha filha, eu e sua mãe deixamos testemunhado,
de público, todo o grande amor que temos por você, a saudade que sentimos, você
tão longe, mas algo importante para que prossiga enfrentando a vida sem temor e
com o preparo necessário para brilhar, como temos certeza de que o fará. Siga
seu destino com calma e tranquilidade, com a certeza de que você é muito amada
por todos nós e que, quaisquer que sejam as decisões que for tomar na vida,
terá sempre nosso apoio e confiança.
Com amor,
Seus pais
Our Pupu
major
"My dear Pupu, in moonlight night, in Neomater
appeared, along with the little birds"
Twenty one
years ago, around half past five, our daughter Isabela came to us. She arrived
a little before agreed, which was a harbinger of her character: never leave for
tomorrow what can be done yesterday. This took us, me and her mother, by
surprise. We rushed to NeoMater, the maternity hospital in São Bernardo,
running out of fuel in the old black Monza. Even nowadays, we laugh when we
remember the face of the employee of the gas station, fueling the car while her
mother “agonized” in the back seat. Boga’s stuff, as people say even nowadays.
In the
hospital, Dr. Gilberto Palma was recruited hastily and it was not possible to run
the planned shooting. And the little suitcase! This wasn’t ready either and I
run home to pick up the first little clothes. I picked at random the things
which first appeared in the drawer. And the result is these little pajamas,
twice as big as you, but that was what we had for the nursery picture. Oh,
Boga… this is what people say, up to now.
Isabela is
born. The woman comes to the glass window to show us – to me and to her aunt
Dega, always present. The first time I saw that little face, those little eyes,
that little mouth... it was love at first sight. At that moment, I felt my life
was changing forever. I was a father. Let’s come back in time. The news of
Joana’s pregnancy was broken to me in an event of Santo André City Hall in
which we were taking part. I was dizzy, really happy. Then, nine months tanning
the gestation, preparing the outfit, the bedroom, the first gift - from the
dear Bete, mom and son yellow hypo. My first gift was a little perfume,
Giovanna Baby I guess.
First day
at home. Extreme care, both naive, the precious help of the aunts, the first
bath was given by Nancy, the most experienced cousin. I had some ability,
developed with my niece, Shirley, who lived at my parent’s place until she was
four. Paternity rehearsal. But, no problem. Love instructs us, and I think
we’ve done everything properly. The proof is the healthy, pretty girl we have
today, finding her way on her own in another country, out of sight, but always
so close to our heart (I know this is a cliche, but very adequate).
Today, when
our daughter reaches adulthood, so many scenes come to mind… So many images,
sounds, smells, colors… Life was lovely to us, bringing us this being so
beautiful, so sweet, so affectionate. We feel a bit thunderstruck when we
notice the time passes so fast, but I believe all the moments were enjoyed
intensely, each smile, cry, achievement, frustration, everything was lived
fully, even if not always present.
Few hours
after Isa coming, Mariana - her cousin-sister-best friend-etc. - arrives. In
the same day my mother Hirde had been born, but she couldn’t stay to meet the
daughter of her only boy who survived (the first son of my parents didn’t
resist and lived only a few hours). Neither her grandma Alice had the
opportunity to meet the daughter of her penultimate child.
The
grandfathers Almindo and Francisco, however, could give her affection and feel the
taste of life renovation a newborn always brings. But, to meet them, Isa had to
travel. First to Praia Grande, afterwards to Cáceres (MT). After that, our
daughter never stopped travelling. Itinerant spirit, sense of independence, a
huge curiosity about life and a desire to know everything. She’s a native
traveler. Sometimes the nostalgia pursues her; however, this is a stimulus to
come back to her beloved.
A girl with
a way with the arts. As any kid, she danced, painted, sang, but it was with
acting that she identified, and acted up to deciding, unexpectedly, to follow
her father’s footsteps. Without forgetting, however, the bias inherited from
her mother. Ultimately, an abstract of both of us, perfected by the vigor of
the youth, the willingness to perform, to know, to do. For she has aims,
objectives, courage and attitude. Her mother and I gave her life, and she has
made of this life the best she could.
On this
date, my daughter, your mother and I testimony, publicly, the enormous love we
feel for you, how much we miss you. You’re so far away, but it is important
that you keep facing life fearlessly and preparing yourself to shine, as we are
sure you’ll do. Follow your destiny calm and quietly, being sure that you’re
truly loved by all of us and that no matter the decisions you have to take in
life, you’ll always have our support and trust.
Love,
Your
parents
4 comentários:
Podem ter ceerteza de que vocês fizeram tudo perfeitamente! Muuuito obrigada por essa homenagem! Sinto MUITO orgulho de ser filha de vocês dois, e de ter puxado um pouco de cada um!! Tô morrendo de saudades. AMO VOCÊS!!!!!!!!!!!!!!!!
Comovente. O melhor presente que ela poderia ganhar.
Adorei "O amor instrui". Talvez se eu tivesse ouvido isso antes, teria superado o medo de ter filhos.
Parabéns à Isabela. Parabéns aos pais.
"Quem sai aos seus não degeneera."
Forte abraço.
Marta
Vc merece muito mais, filhinha querida... Gostaria de dizer tudo isso pessoalmente, mas vamos ter oportunidade logo.. Beijos...
Valeu, Marta... Obrigado pelo carinho do comentário.. Isa também agradece. Bjs
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