Mandei minha bicicleta ao conserto ontem, hoje deve ficar pronta e já vou iniciar meu mais novo projeto: 10 quilômetros diários de pedaladas. Acho que bastam, vamos ver meu tempo. Se for muito fraco, aumento. É a maneira de fazer exercício e manter meu colesterol em níveis de segurança, conforme recomendação médica. Cansei de academia. Se é para fazer tudo sozinho, não preciso pagar por isso. Espero manter a disciplina e, se não chover, fazer todo dia o trajeto que escrevi. Eu gosto muito de bicicleta. Tive, se não me engano, quatro, contando o primeiro triciclo Bandeirante. Aos 10, ganhei uma berlineta dobrável, da Caloi, comprada na então Eletroradiobrás, hoje incorporada ao grupo Pão de Açúcar. Fiz o diabo com aquela magrela pelas ruas movimentadas do Ipiranga. Uma vez, passei em frente a um ônibus a milhão. Meu pai trancou a bicicleta com corrente e cadeado. Ah, nem titubeei: arranjei uma serra e libertei meu brinquedo, agora um pouco mais atento. Com ela fiz a primeira grande merda de minha vida. Quebrou o cabo do freio e a besta aqui, seguindo os conselhos imbecis dos colegas, tirou o conjunto todo (manoplas, acionador, sapatas) e jogou no bueiro. Lógico que meu pai não o repôs e fiquei o resto da vida com um freio só. Minha irmãzinha Sônia aprendeu a andar (a Vilma, mais velha, nunca se interessou) e não a largava. Eu tinha escandalosos pitis quando a via na bicicleta. Tadinha. Não sei o destino que teve aquela minha segunda magrela - na verdade, a primeira de duas rodas. Aliás, vale lembrar como aprendi a andar. Tinha um amigo a quem chamávamos de Carioca, apesar de ser natural da Bahia. Ele tinha uma bicicleta bem veloz e cismou de me ensinar a pedalar. Eu não conseguia de jeito nenhum me equilibrar. Até que um dia o baiano/carioca me empurra ladeira abaixo. Desci feito louco, atravei um cruzamento perigosíssimo e logo depois tomei um homérico tombo, de arrancar cabelos e tudo. Levantei-me, sacudi a poeira e, sabe-se lá por quê, montei na magrela e saí andando na boa... Vai entender... Ah, agora me lembro, meu pai reformou e deu (ou vendeu) para um primo meu um pouco mais novo, de quem eu viria a ser padrinho de casamento anos depois, o Dagoberto.
Mais tarde, eu viria a comprar minha Caloi 10. Eu tinha uns 22 ou 23 anos e trabalhava no banco Noroeste do Ipiranga (olha o destino aí). Mas morava em Santo André (11 km de distância) e todos os dias praticamente eu chegava atrasado, porque perdia a hora e não pegava o ônibus no horário que me permitia chegar as 9h. E aí outro ônibus só depois de 40 minutos. Aquilo começou a me chatear e resolvi comprar uma bicicleta para ir trabalhar. Não me lembro em que loja foi, mas fiz em prestações na certeza de que pagaria as parcelas apenas com o que economizaria de passagens. E dito e feito. Causou um certo espanto eu chegar em cima de uma bicicleta para trabalhar, mas não me importava. Na agência havia um armário onde eu deixava camisas sociais para a semana toda; a calça eu trazia na mochila. Chegava, me limpava e trocava de roupa. Depois do trabalho, ia para a faculdade com ela, deixava amarrada na grade de frente do prédio e pronto. Foram momentos mágicos também, pois andar de bicicleta dá uma sensação de liberdade indescritível. E fui juntando grana ainda, até que tive o suficiente para dar entrada em uma moto e aí abandonei a Caloi 10 num canto do banco. Ficou lá esquecida até que eu resolvi levar para casa. Um amigo meu do banco com carro me ajudou. E ela também teve como destino final algum outro parente. Depois disso tive outras duas motos, as duas primeiras igualmente roubadas, e a terceira que me proporcionou belos tombos, que me levaram a fazer vendê-la, até porque estávamos agora grávidos e eu tinha que preservar minha vida. Depois comecei a comprar e andar de automóvel até que, há cerca de dois anos, comprei esta bicicleta que deixei ontem na oficina. Comprei e andei se muito cinco vezes nela. Preguiça pura. Mas desta vez eis-me retornando a ela, não por lazer, como na juventude, ou economia, razão da mocidade. Mas por saúde! Pois é, cada idade sua necessidade!
Um comentário:
Que legal Carlos! Você fez uma verdadeira viagem, no túnel do tempo,com as histórias das suas bicicletas. Boa memória heim?
Se bem que estas histórias sempre ficam guardadas e são lembradas com muito carinho e saudades.
Realmente é indescritível a liberdade que sentimos ao andar de bicicleta ou moto.
Espero que curta suas pedaladas, não só pela saúde, mas também pelo puro prazer.
Bjo
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